Between Lovers escrita por SaaChan


Capítulo 11
Capítulo X




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A semana havia sido corrida para Ga Yeong. Com o prazo apertado para a realização do projeto, as provas do semestre chegando e a pesquisa para comprar as coisas necessárias para morar sozinha, não havia tido muito tempo para se aprontar para a mudança. Para So Ra, isso até era uma vantagem, já que pôde desfrutar da companhia da amiga por um pouco mais de tempo, mas Ga Yeong já havia se planejado para mudar naquele fim de semana. Contratou uma empresa de mudanças para ajudá-la a descarregar as poucas coisas que tinha na casa de sua amiga – alguns móveis que havia comprado e alojado no apartamento de So Ra temporariamente. O restante das coisas compraria assim que se mudasse.

Assim que os funcionários da mudança chegaram, carregaram o caminhão com seus pertences em pouco menos de meia hora. Cerca de quarenta minutos mais tarde, já estavam em frente à sua nova moradia descarregando suas coisas e levando-a para dentro de seu apartamento. Não demoraram muito para terminar de descarregar tudo devido à quantidade de coisas que tinha. Os móveis mais pesados eram apenas a geladeira e a cama de solteiro um pouco mais larga que o tradicional que havia comprado. Além disso, tinha comprado um fogão elétrico que era mais barato e ocupava menos espaço, alguns pufes que eram fáceis e leves para se deslocar para qualquer canto do quarto e uma escrivaninha simples para poder trabalhar e estudar.

— Já terminamos aqui, senhora. – Um dos funcionários avisou. A mulher agradeceu aos rapazes e dispôs de uma gorjeta pela eficiência.

Assim que os homens saíram, um carro bastante familiar parou em frente ao portão de entrada. Quando Lee Seung Ri desceu do veículo, trajado de forma confortável em seus jeans esfarrapados e blusão verde, da forma despojada como havia o encontrado alguns dias atrás quando descobriram por acaso que seriam locador e locatário, Ga Yeong sentiu falhar uma batida. Por um momento pensou que talvez fosse seu nervosismo pelo homem à sua frente ser alguém com um status muito superior ao seu, além de seu cliente. A garota pisava em ovos com o rapaz, mesmo que em nenhum momento ele houvesse lhe dado sinais de que precisava fazê-lo. Seung Ri tinha uma personalidade bastante calma e centrada, mesmo que fosse extremamente exigente quanto aos seus projetos. Era gentil e bastante conhecido pelos seus feitos em nome da caridade. Não parecia ser realmente alguém que pudesse ameaçar sua carreira apenas por não estar satisfeito com alguma coisa.

— Bom dia, senhorita Cha. – O rapaz a cumprimentou, tirando-a de seus pensamentos. A garota piscou algumas vezes até entender que o mesmo falava com ela.

— Ah, sim... Bom dia. – A garota abraçou o próprio corpo um tanto tímida.

— Trouxe suas coisas da mudança hoje?

— Sim, foi o único tempo livre que consegui. Essa semana foi bem corrida para mim.

— Acredito que esteja sendo estressante para você por conta do comercial. – A forma como Seung Ri havia falado tinha soado um pouco preocupada para Ga Yeong. A menina logo negou com a cabeça, tranquilizando-o.

— Não, imagina. É que eu estou em semana de provas na faculdade, então é natural que eu esteja um pouco sobrecarregada com o estágio e os estudos ao mesmo tempo. – A mulher explicou – Mas a partir da semana que vem eu vou estar um pouco mais livre e a minha rotina vai voltar ao normal.

— Bem, se logo estaria livre, porque decidiu se mudar agora? Ou tinha algum problema com sua antiga casa? – Os dois começaram a caminha pelo quintal do terreno em direção à oficina.

— Não, não tinha nada de errado. Eu estava ficando um tempo na casa de uma amiga minha. Ela até disse que eu poderia ficar mais tempo, mas eu achei que era mais cômodo pra mim me mudar logo. Gosto de ter minha privacidade e ela pode ter a privacidade dela também.

— Você deve ter morado sozinha por muito tempo. É o tipo de pensamento de quem desacostumou a dividir o teto com outras pessoas. – Seung Ri falava como se tivesse experiência no assunto. O rapaz devia estar na casa dos trinta anos, o que fez Ga Yeong se perguntar se ele nunca havia se casado ou estado em um relacionamento firme para dividir sua moradia com outra pessoa.

— Na verdade, eu nunca morei sozinha. É a minha primeira casa, mas eu sei bem a sensação de como é viver sozinha. – A fala de Ga Yeong havia chamado a atenção Seung Ri que se perguntou que tipo de convivência familiar ela teria tido para falar de maneira tão melancólica.

Durante os anos que viveu na mansão da família Hwa, Ga Yeong nunca teve problemas quanto à sua privacidade depois do falecimento de sua mãe. Quando Min Young ainda estava viva, a menina dividia o pequeno quartinho das empregadas com sua mãe. O cômodo ficava na área externa da casa, em um ponto mais afastado da mansão, e muito dificilmente alguém teria interesse em fuxicar aquele espaço. Era grande o suficiente para três ou quatro pessoas dormirem juntas, mas não era exatamente um lar. Por tal motivo não se incomodava com o tamanho do quartinho que havia alugado para si, achava até mais cômodo do que a casa de sua amiga que era bastante espaçosa. Depois que Min Young faleceu, Ga Yeong passou a viver naquele quarto sozinha. Cozinhava para si mesma, cuidava de si mesma quando adoecia, limpava tudo sozinha e trabalhava e estudava por conta própria. Tirando as despesas do espaço, já lidava com as próprias despesas de alimentação, transporte e escola sozinha, portanto confiava que viver sozinha naquela quitinete não seria muito diferente da forma que já vivia.

— Acho que eu fui um pouco intrometido, você parece não ter boas lembranças sobre esse assunto. – A intuição de Seung Ri fez com que Ga Yeong se surpreendesse. Não era como se fosse um livro aberto, mas ele havia aprendido a lê-la nas entrelinhas.

— Não exatamente. – Ga Yeong confessou. – Minha mãe era empregada doméstica e a gente vivia num anexo da casa dos patrões dela. Ela faleceu quando eu tinha quinze anos, então eu acabei vivendo lá por bastante tempo "sozinha", por assim dizer. Não era como se alguém tivesse interesse em visitar o quartinho da empregada.

— Eu sinto muito pela sua mãe. – Como se tivesse num déjà vu, Ga Yeong se viu na pele do rapaz quando ela disse as mesmas palavras ao saber da perda de seu pai. Sorriu com nostalgia.

— Tudo bem, a minha mãe também criou as filhas dela para serem fortes quando ela se fosse.

Seung Ri não pôde deixar de sorrir quando ouviu suas palavras saírem da boca da mulher. O rapaz se aproximou da porta da oficina de seu pai e digitou a senha da fechadura eletrônica.

— A sua mãe fez um ótimo trabalho, então. – Disse antes de se despedir com um aceno e sumir dentro da sala.

Ga Yeong só percebeu o que havia acontecido quando entrou em sua quitinete. Havia conversado por mais de dez minutos com o cliente mais exigente de sua empresa sem gaguejar, se sentir tímida, dar uma de louca ou qualquer coisa do gênero. Na realidade, havia se sentido tão confortável na presença do rapaz que até mesmo havia falado de sua vida pessoal, algo que sempre tentou ser discreta sobre. Ninguém tinha uma boa opinião sobre uma mulher que fosse mãe solteira, muito menos sobre uma criança que fora criada sem uma figura paterna, mas Seung Ri simplesmente a ouviu sem julgamentos, o que apenas a fez falar ainda mais sobre si mesma. Era como se estivesse descarregando boa parte de suas mágoas assim como um pecador confessa seus pecados num confessionário.

Murmurou um "Oh, Céus!" devido as paredes serem tão finas que podia até mesmo ouvir os passos de Seung Ri na oficina ao lado. A garota sentiu o rosto esquentar pela vergonha de ter se exposto tanto para a última pessoa que deveria na face da terra. Apressou-se para pegar um copo de água a fim de se acalmar, levantando o puxador da torneira com mais força que o necessário. A peça foi lançada para cima com a pressão da água que parecia um pequeno chafariz. A primeira reação da garota foi gritar pelo susto e tentar tampar a fonte com as mãos. Péssima ideia, apenas fez com que a água mudasse de direção. Ao invés de atirar para cima, na vertical, a água atingia todos os pontos na horizontal deixando a garota ensopada em questão de segundos.

Como um cavaleiro surgido do nada, Seung Ri abriu a porta que dividia a quitinete e a oficina que ainda não havia sido fechada. Aproximou-se apressado tentando ajudar a parar o vazamento e acabou tendo o mesmo fim que a garota, completamente ensopado. Apenas conseguiram interromper o fluxo de água quando o rapaz teve a brilhante ideia de fechar o registro. Mesmo assim, o estrago estava feito. Boa parte da casa estava inundada e algumas de suas coisas que ainda não havia desempacotado estavam molhadas.

— Eu mereço mesmo... – Ga Yeong suspirou, cansada.

Seung Ri retirou uma das caixas do chão, colocando-a com cuidado sobre a cama caso houvesse algo frágil que pudesse quebrar dentro. Deixou-a de cabeça para baixo para que a parte molhada não tocasse o colchão.

— Aparentemente suas coisas não estão muito molhadas, acho que não deve ter estragado nada. – O rapaz quis tranquiliza-la. – Se quiser, eu te ajuda a secar as coisas.

— Não precisa, você já fez demais. – Ga Yeong se sentia em dívida pela ajuda de Seung Ri. Se estivesse sozinha, provavelmente sua casa agora estaria totalmente embaixo d'água. – Está todo molhado... Eu vou ver se tenho alguma roupa seca para você.

A mulher se apressou e colocou algumas caixas sobre a cama, logo abrindo uma que havia algumas de suas roupas antigas. Antes de sua transformação, Ga Yeong usava tamanho GG ou então comprava na sessão masculina. Dificilmente encontrava roupas que coubessem em seu corpo. Ainda não entendia o porquê não havia jogado tais roupas fora, era como se estivesse tentando se livrar de algo que era parte de si. Entregou uma blusa com a imagem de um personagem japonês ao rapaz que logo franziu o cenho.

— Naruto? – Questionou com uma sobrancelha arqueada.

— Era de uma amiga minha... Ela me deu de presente... – Não entendeu o porquê sentiu a necessidade de explicar ao rapaz a origem de uma blusa que era masculina.

— A sua amiga tinha um péssimo gosto... – O rapaz desdenhou balançando a cabeça de forma descrente enquanto se direcionava para o banheiro. Ga Yeong se sentiu envergonhada e chateada pelo rapaz ter caçoado de seus gostos por animes até que ficou surpresa quando ouviu o mesmo comentar de dentro do banheiro. – Dragon Ball é mil vezes melhor!

 

.

 

Son Oh Joon estava bastante inquieto, até mais do que estava acostumado. Com a sua suspensão do time, estava impossibilitado de jogar e isso o estressava. Era em campo que colocava o estresse para fora, que colocava a raiva para fora e naquele momento não tinha um escape para isso. A questão com Ga In era o que mais rondava em sua mente. A menina havia dito que iria responder o seu pedido para sair com ele quando tivesse certeza, MAS CERTEZA DE QUE? Ele era Son Oh Joon, o melhor rebatedor do time, capitão do time de baseball, o cara mais popular do colégio, o que diabos ela tinha que ficar pensando para aceitar a proposta? Não era como se ele fosse simplesmente puxar uma faca e a ameaçar de morte caso não o namorasse. Em contrapartida, sua relação com Mun Seo parecia mais perturbada do que nunca. O garoto ignorava suas mensagens e ligações e evitava encontra-lo no colégio. Não queria ouvir suas explicações ou suas motivações, simplesmente estava irritado consigo por ter aderido à aposta e continuar seguindo em frente com a mesma.

Oh Joon pensou se valia realmente a pena perder a confiança e o afeto de Mun Seo por conta de uma aposta idiota feita por um cara idiota, mas era difícil se desprender da ideia de que se fracasse com isso iria apenas fomentar a imagem de que era um perdedor e um fracassado para seus colegas de time. Isso o fazia titubear nas suas decisões, não estava disposto a se desligar da forma como os outros o viam tão fácil assim. O rapaz despertou de seus pensamentos quando uma silhueta feminina se aproximou, sentando-se na carteira à sua frente. Ga In retirou seus cadernos e os colocou sobre a mesa que compartilhava com o rapaz.

— Desculpe o atraso, não costumo me enganar com os horários. – A garota respondeu. Oh Joon olhou o relógio na parede atrás de si. Era 14:04, ela só havia se atrasado por quatro minutos, não era como se fosse um grande atraso. Franziu o cenho quanto à sua mania de ser extremamente correta. – Enfim, antes de começarmos a aula, eu decidi que podemos sair juntos.

Os olhos de Oh Joon se arregalaram diante da resposta tão direta da garota. Na verdade, não sabia se a surpresa era de fato por ser tão direta ou se era pela mesma ter aceitado sua proposta, já que a garota parecia rejeitá-lo tanto durante a semana todas as vezes que tentava investir em uma aproximação mais direta. Antes que pudesse comemorar por estar mais próximo de concluir a aposta, a garota continuou sua fala, jogando um balde de água fria sobre a sua cabeça.

— Mas como pessoas que estão se conhecendo para se tornarem amigos. – Concluiu a garota.

Oh Joon abriu e fechou a boca algumas vezes tentando formular alguma coisa em sua cabeça.

— Mas... Eu não disse que queria ser seu amigo, eu quero namorar você. – O tom de voz do rapaz pareceu um tanto desdenhoso, mas Ga In não pareceu perceber isso.

— Eu sei. – Ga In respondeu – Mas para tudo existe uma ordem, e pelo para mim acontece dessa forma. Eu não me sinto confortável em me relacionar, de maneira ampla, com alguém que eu não conheço ou não possui algo em comum comigo. Para que eu possa ter uma amizade, primeiro eu preciso conhecer você.

Oh Joon fechou os olhos e suspirou frustrado. Essa garota era de dar nos nervos. Porque ela estava jogando toda aquela baboseira para cima dele? Conhecer? Ser amigo? Aquele não era seu objetivo, ele não tinha qualquer interesse naquilo, ele apenas queria ficar com ela por um dia e espalhar pro seu time que pegado a garota que ninguém nunca tinha conseguido pegar antes. Passou uma mão pelos cabelos, se segurando para não estragar o plano.

— Mas eu já disse que gosto de você! E o que eu faço com esse sentimento?

— É sobre esse sentimento seu que não tenho certeza. – A fala da garota fez com que Oh Joon ficasse surpreso. Será que ela desconfiava de suas intenções? – Não consigo entender como alguém pode gostar de uma pessoa que sequer conhece.

— Ah... Gostando... Eu sei lá...

— Você poderia me dizer qual é o sabor de leite que eu mais gosto?

Oh Joon piscou algumas vezes sem entender onde a garota queria chegar com aquele assunto. Ele não fazia a mínima ideia de qual era o sabor do leite que ela gostava e nem tinha vontade de saber, então porque ela gostava tanto de complicar as coisas?

— Morango? – Chutou sem muita certeza.

— Eu não tomo leite. – A garota confessou deixando o rapaz sem expressão. – É essa a diferença para mim. Eu gosto de pessoas que conheçam o que eu gosto, as minhas manias, minhas falhas, minhas limitações e que, acima disso, ainda continuam do meu lado.

A resposta da menina fez com que Oh Joon refletisse sobre suas palavras. Mesmo depois de finalizarem a aula de reforço daquele dia, o rapaz não conseguiu deixar de pensar sobre o significado daquilo que a garota havia dito para ele. Era como se aquelas palavras houvessem o atingido diretamente nas feridas que tentava esconder, algo que trazia consigo sob a imagem do astro do esporte e pegador que queria tanto continuar sustentando. 


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