Pokémon - Odisséia escrita por Golden Boy


Capítulo 8
Cuide-se criança, porque alguém realmente se importa com você.


Notas iniciais do capítulo

Eu não sei o que escrever aqui.
Perdão pela demora para postar esse capítulo, e prometo que vou responder os comentários ainda essa semana. O último mês não foi dos melhores pra mim, mas consegui passar por ele. Obrigado pra quem lê, e espero que o clima melancólico da minha vida não tenha passado para o texto



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O tempo escorreu e a lua logo se espremeu no horizonte. A eletricidade de Icirrus caiu uma vez mais, e Will acordou de sobressalto. Ele checou o relógio ao lado do abajur quebrado e constatou que eram cinco da manhã.

Talvez Asher estivesse num hotel. Ele não sabia coisa alguma sobre os Ryumaru, mas sabia da moda crescente de cartas formais: a comemoração de seu aniversário de treze anos fora comunicada aos parentes por cartas como aquela.

Ele pegou o celular e tentou ligar mais uma vez para o amigo, mas havia algo diferente agora. Ao invés de chamar algumas vezes e parar, agora a mensagem eletrônica dizia que o celular de Asher estava fora de área.

O garoto loiro conteve o próprio desespero e foi ao banheiro. Ele não percebeu aquele lugar como o ponto exato de sua má decisão de deixar Asher para trás.

Will se olhou no espelho do banheiro, mas não se viu.

Ele viu seu cabelo loiro despenteado, os olhos verdes e o nariz pequeno e pontudo. Reconheceu seus lábios mordidos, e as olheiras quase roxas, e cada pequena parte de seu torso, mas a imagem completa não lhe representava.

Viu apenas o que lhe faltava; não era beleza, nem inteligência. Era algo mais profundo e solene que seu corpo jamais transpareceria: uma necessidade gigante de ser querido. E essa carência já lhe causara problemas demais.

Ele bufou, mergulhou a cabeça sob a torneira e deixou que a água gelada aquecesse a pele de seu rosto. Se arrepiou por inteiro e chorou pela primeira vez desde que seu pai lhe expulsou de casa.

—O-O-O-   

— Você venceu. — disse N. Ele brincou com o cubo mágico preso ao cinto, e ergueu os olhos rapidamente para seu príncipe. — Faça as perguntas que quiser. Espero que faça as certas.

— Porque você mandou aquela carta? — Asher não pensou muito. A adrenalina de vencer a batalha, e de toda a situação, lhe drogou naquele momento.

— Pergunta errada. — N bufou. Não queria passar o resto da noite explicando seus motivos: precisava que Asher concordasse em ir com ele até a cidade. E então eles encontrariam Colress, e sua parte no plano estaria completa.

— Você tem que responder mesmo assim. — Asher cruzou os braços. Enquanto isso, Daichi mordia e quebrava as pedras soltas na base da Torre Dragonspiral, se acostumando com o novo corpo esguio e seus braços mais longos.

— Eu mandei a carta porque precisava de você aqui. — N respondeu, sincero. — Para ver suas memórias. Na verdade, uma única memória específica.

— Que memória?

— A de quando a Chama Alva passou pra você. Você deve ter visto, não viu? O ritual.

    Asher tentou se lembrar. Não tentou muito, com medo de tirar os olhos de N e ele fugir, e talvez por isso não tenha conseguido. Ele se lembrou, sim, da Chama Alva e da montanha sob o céu estrelado. Só de pensar naquele lugar ele sentiu a força de todas aquelas estrelas.

— Que ritual? 

N bufou mais uma vez. Ele não queria se irritar, mas o príncipe estava fazendo as perguntas erradas! Era muito mais fácil levá-lo e depois pedir a cooperação dele. N pensou no outro pokémon que trouxera: um Mandibuzz. Talvez ele conseguisse carregar Asher. Seria trabalhoso demais? Talvez o garoto continuasse lutando, e ele não queria perder MAIS tempo com uma batalha pokémon.

— Você é um Ryumaru, vossa alteza. — N falou rápido, gesticulando e andando de um lado para o outro. — E o seu povo tem um dom de se conectar com pokémon dragões. E um dos líderes da tribo Ryumaru, muitos anos atrás, se conectou com um pokémon dragão mais forte do que o corpo dele conseguia comportar. 尺乇丂んノ尺ムᄊ. — Completou, em um idioma gutural e antigo.

— Reshiram. — Asher traduziu em voz alta. — Calma, quê? 

N ergueu um ombro.

— É a língua de vosso povo. Mas continuando: esse homem, Tazqrin, se conectou com Reshiram. E isso deu poder para que ele dominasse os outros povos e tribos e construísse grandes monumentos, como o Relic Castle. — N parou de andar e olhou nos olhos de Asher. — E a Torre. Mas Tazqrin queria mais poder. Ele queria ser um dragão, como Reshiram. E ele pediu para que um feiticeiro criasse uma esfera, a Orbe Branca. E ele tentou prender Reshiram lá.

— E ele conseguiu?

— Sim e não. Nessa torre — N deu um tapinha na estrutura — ele selou o destino de seu povo. A Orbe não pode conter a essência de Reshiram, e o poder remanescente passou para o corpo de Tazqrin. Mas ele foi consumido no processo, e se tornou a Chama Alva. O povo Ryumaru também foi conectado aos dragões, e suas almas sempre se desenvolvem junto com a de um pokémon dragão. 

N olhou para Asher, e então apontou para o pokémon dragão que tentava devorar os tijolos da torre.

— E as histórias acabam aí. Mas tem mais detalhes. O povo Ryumaru pereceu sem Tazqrin e o poder de Reshiram, mas o filho dele, que estava presente, recebeu a Chama Alva, e com ela o poder de dominar todos os dragões. Se unir a todos eles, além de Reshiram em si. 

— E… a Chama Alva…

— Ela chegou em você, Asher. Nessa torre, nove anos atrás, seu pai morreu passando ela para você. É por isso que seu irmão guarda tanto rancor de você. Ele nasceu primeiro, mas seu pai escolheu não passá-la para ele. Ele esperou você nascer.

Asher desabou. Seu corpo continuou de pé, mas seu coração não parecia querer continuar batendo e se espremeu em seu peito.

— Nós precisamos das suas memórias para descobrir onde está a Orbe, o objeto físico dela, para te livrar desse fardo. Acabar com essa maldição Ryumaru.

Houve um silêncio. Era informação demais. Mas Asher ainda tinha uma pergunta:

— E porque você me chama de príncipe?

— Porque Reshiram é o único que pode purificar Unova. E nesse momento, ele está dentro de você. 

Asher se afastou um único passo e chamou Daichi.

— O que você quer de mim? — Asher tremeu. 

“Te matar e arrancar a maldita Chama de você” pensou N, com um sorriso no rosto. Ele passou a língua no lábio e sentiu a aproximação de um pokémon. É uma boa habilidade para se ter, ainda mais em seu ramo de trabalho. 

Um brilho púrpura se materializou à esquerda de N, e ele logo preparou a pokébola de seu Mandibuzz. Ele podia lançá-la e mandar o pokémon voador carregar Asher até o QG. Era arriscado.

Uma Gothitelle surgiu, e ao lado dela uma mulher morena com um tablet na mão. A mulher checou as informações no tablet e ergueu os olhos por cima da armação dos óculos para ter certeza de que era, realmente, N diante dela.

— Faz tempo, não é? — indagou a mulher.

N arregalou os olhos. Ele tinha se escondido bem. A carta estava sem nenhum vestígio dele, e a única pessoa que sabia de sua presença em Icirrus era Colress. Não havia forma de…

 

WAZZZZZZZZZ

 

Gothitelle agiu. Ela ergueu N no ar e cruzou os braços, prendendo-o em uma jaula feita de energia psíquica. Era a técnica Imprison.

— Marta, sua mãe não vai gostar de saber que você manda os seus pokémon fazerem seu trabalho sujo… — brincou N. Ele precisava ganhar tempo para pensar numa forma de fugir. Ele não podia mover seus braços e pernas, e isso tornava impossível a estratégia de mandar Mandibuzz levar Asher.

O garoto e seu dragão recuaram para longe da torre, e Asher não tinha certeza se deveria ou não correr. Por um lado, era a melhor chance dele. Por outro, N era a única pessoa que fora sincera com ele nos últimos tempos. Talvez na vida inteira.

— Cale-se. — A mulher deu um passo a frente, e olhou para Asher. — E você, quem é? Está com a Plasma?

Asher empertigou-se e dobrou os braços na frente do corpo com as palmas abertas.

— N-não, senhora… — Asher gaguejou. Uma onda de medo o atingiu no estômago, e espalhou-se pelo corpo. Ele queria chorar. Ter sua mente vasculhada como um livro não era agradável. — Ele me trouxe aqui e usou um pokémon para ver minhas memórias, mas eu consegui fugir.

A mulher ergueu uma sobrancelha, e sem tirar os olhos do garoto, falou:

— Gothitelle, ele está mentindo? — A pokémon negou com a cabeça, sem se desconcentrar do Imprison. — Pois bem. Não se preocupe, a polícia já está vindo.  — A mulher deu um sorriso falso, e voltou-se para N.

— O que diabos vocês querem com uma criança? 

— Pergunta errada, Athena. — N balançou a cabeça. A pokébola de Mandibuzz estava quase caindo de seu bolso. Se caísse, ele estava livre. Era só torcer para que Athena e Gothitelle não percebessem. — A correta seria “O que diabos vocês querem com uma criança Ryumaru”.

— E qual seria a resposta?

Feint Attack

O Mandibuzz voou para fora de sua pokébola caída e aberta e acertou seu corpo em Gothitelle com uma velocidade imensa. N caiu no chão, e enquanto seu pokémon manobrava no ar, ele pegou seu Zorua no colo.

Asher apressou-se para comandar Daichi, mas Athena ergueu a mão em sua direção enquanto ajudava seu pokémon a se levantar, e ele parou. Mandibuzz pegou N e saiu voando, sem nenhuma interferência dos treinadores.

— É mais fácil deixá-lo ir. Gothitelle acabou de ter contato com ele, portanto podemos encontrá-lo não importa onde ele se esconda.

— E a polícia?

Athena olhou para o chão por meio segundo antes de responder.

— A polícia não vem. Eles são pagos para não interferir. — A mulher encolheu os ombros. — Você está bem?

— Sim, acho que sim. — Asher então percebeu que tremia. Suas pernas estavam exaustas e todo o seu corpo pedia para que ele se deitasse. E essa fadiga não era só física, era também mental, e talvez até mesmo espiritual. — Quem é você, se não é da polícia?

— Eu sou Athena. — A mulher estendeu a mão e Asher a apertou com o resto de força que ainda tinha. — Você já deve ter ouvido falar da minha mãe. Caitlyn, da Elite dos Quatro.


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