Pokémon - Odisséia escrita por Golden Boy


Capítulo 7
Príncipe Dragão pt. 2


Notas iniciais do capítulo

Esse foi um capítulo difícil.
Reescrevi ele pelo menos quatro vezes, e admito que ele ainda não está do meu agrado. Posto ele com um pedido de desculpas, porque sei que ele não está no nível de excelência que eu tenho certeza que consigo atingir, e peço que relevem isso. Ainda é um bom capítulo, e move a história um pouco mais adiante.
Como sempre, obrigado pra quem chegou até aqui e boa leitura.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/798623/chapter/7

Era um corpo pequeno e apertado, e Asher não cabia mais nele.

Sua alma já era grande demais para ser comportada no corpo de um recém nascido.

E sua mente, confusa, não conseguia separar as duas imagens que tinha que processar.

Me mostre a orbe — N encarou a cabeça de Asher como se ela fosse uma bola de cristal. O Musharna ao seu lado continuava expelindo seu gás do sono, e seus olhos brilhavam enquanto ele vasculhava as memórias do garoto e as expunha para N por telepatia.

Asher se tornou um espectador da própria mente. Seus olhos se voltaram para a branquidão atrás de si, onde a visão de seu eu-recém nascido mudava. 

Ele estava nos braços de seu pai, e agora estava dentro da torre Dragonspiral. Ele viu sua avó, muito mais jovem, entoando o mesmo canto que entoava nas noites em que ele não conseguia dormir.

Asher tentou se mover, mas não havia um corpo para mover. Seu corpo real estava adormecido, e seu corpo de bebê era apenas uma memória.

Ele assistiu seu pai engolindo a chama de um braseiro como se estivesse sendo sugada por um canudo, e então soltando-a nele. Sua pele não ardeu como ele pensou que arderia. Mal foi um incômodo, na verdade. O fogo se uniu à sua tez, e mesmo sendo uma memória distante e adormecida por muito tempo, ele sentiu o poder daquele fogo branco.

Houveram trovões.

Seu pai então foi consumido pelos resquícios da chama que engoliu, e se tornou cinzas diante de sua mãe e seu filho. Asher sentiu um aperto muito leve, em parte porque ele nunca havia conhecido seu pai para ligar para sua morte, e em parte por não saber se era realmente uma memória ou não.

Ele sentia que era uma memória, mas poderia muito bem ser um sonho.

 

A chama alva deve arder, entoou sua avó.

   

Ele não era mais um recém nascido. Ele estava deitado na cama de seu quarto em Opelucid, numa noite chuvosa, e sua avó acariciava sua testa. Outra memória. 

N grunhiu baixinho.

— Não tenho interesse nisso. — reclamou. Musharna fez seu melhor para voltar para a memória anterior, direcionando seu poder psíquico para o cérebro adormecido de Asher.

Por mais experiente que Musharna fosse em vasculhar memórias, ela não tinha domínio completo dessa habilidade, e também não podia ocupar todo o cérebro de um humano: por isso, falhas como essa aconteciam. A mente humana sempre diverge, e focá-la é um trabalho oneroso.

Asher se viu novamente no seu corpo de recém nascido, e as cinzas de seu pai jaziam no chão de pedra.

Havia uma outra criança com ele, um pouco mais velha e muito mais calma. Era Amin, e disso Asher tinha certeza: já tinha visto fotos do irmão quando criança, e o cabelo castanho jogado por cima do olho era uma característica marcante dele até os dias de hoje.

Seu peito apertou e a saudade, o medo e a dúvida se transformaram num sentimento quimérico e insosso.

Seu corpo não estava mais pegando fogo, e sua avó o tomou no colo. Amin então colocou a mão na cabeça do irmão mais novo e disse:

— O nome vai ser Asher.

Ao ouvir a voz de seu irmão dizendo aquilo, Asher quis lutar. Ele queria entender. Ele queria saber o que estava vendo.

Porque era real demais para ser um sonho.

E porque ele conseguia ver os olhos espiões de N olhando para ele.

E o sentimento quimérico tomou a forma de um dragão branco: Reshiram.

Não demorou para que o garoto o aceitasse, porque a sensação veio como o frescor de um vento gélido pela manhã, ou como o abraço de um velho amigo.

O dragão branco encheu o peito de Asher e ele sentiu seus olhos brilhando. Seu corpo de bebê se transformou em seu corpo atual, e ele se afastou da memória da torre uma vez mais. 

Reshiram não se anunciou como Reshiram para Asher, entretanto. Ele reconheceria mais tarde que havia sido a influência de Reshiram que o tirou do torpor de Musharna, e também que impediu parte dos poderes psíquicos dela, mas naquele momento ele tinha plena certeza que estava agindo por conta própria.

Ele voltou ao quarto de infância. Não estava mais deitado na cama, e sua avó não estava mais ali. Estava sozinho, com sua cama, seu corpo e seus brinquedos. Pela janela, ele pôde ver N. 

— Me tira daqui! — gritou Asher. 

Musharna fez força para voltar às memórias da torre, mas Asher/Reshiram não deixou. Não importava a curiosidade que ele tinha para saber o que havia acontecido lá, ele encontraria outra forma de saber.

Asher mergulhou em sua cabeça como Daichi afundava na terra todos os dias para se sentir seguro. E ele usou a Orbe para chegar mais fundo.

Seu quarto se distorceu e se esticou na vertical, e então as paredes espiralaram para fora. Seus pés perderam o chão, e ele flutuou no quarto disforme por alguns instantes antes de continuar caindo.

E ele passou por toda a sua vida de uma vez só, sem prestar atenção em nenhum momento específico. Era isso que Musharna via quando vasculhava suas memórias?

A voz que ele ouvira antes de adormecer completamente soou novamente, maternal e antiga, e disse “Bem vindo à Chama Alva”

Pouco antes de atingir a montanha, ele olhou para o céu e viu algo maior, mais forte e muito mais antigo que sua carne: viu constelações se encontrando e girando. Ele não sabia o significado daquilo, mas sabia que era lindo.

Supôs que fosse uma alucinação ou uma tentativa de Musharna para mantê-lo dormindo, mas quando olhou para uma estrela específica, se reconheceu. E logo ao lado, ele reconheceu Daichi.

Esse reconhecimento foi uma associação instantânea, e ele conseguiu usá-la para se conectar com Daichi; e ele pediu por ajuda. 

 

—O-O-O-

 

Daichi saiu da pokébola como um gancho de um lutador profissional. N desviou da bocarra do pokémon dragão num movimento sortudo, mas Musharna estava concentrado demais para desviar a tempo.

O Gible de Asher abocanhou o pokémon psíquico com Crunch, e o gás se dissipou quase que imediatamente. Aquele Musharna não era um pokémon de batalhas, e por isso não conseguiu resistir ao golpe.

Antes que N pudesse fazer algo, Asher acordou. Ele encheu os pulmões com ar assim que abriu os olhos, e ficou de pé o mais rápido que pode.  

A lua parecia fixa no céu noturno, e Asher nunca se sentira tão forte. Como se a visão de todas aquelas estrelas tivesse lhe dado força para seguir em frente. Ele não sabia como, mas daquela montanha ele havia visto estrelas, e uma daquelas estrelas era Daichi. Graças a isso, ele conseguira acordar.

— Meu príncipe, eu… — N se apressou a fazer uma reverência, mas foi interrompido.

— Quando os olhos de dois treinadores se encontram eles devem batalhar. — declarou o garoto Ryumaru. Ele não somente podia pedir respostas. Precisava mostrar que era mais forte, e exigi-las. Se Unova agora implorava por uma demonstração de poder, ele a daria. 

N se calou. Ele cerrou os dentes e bufou. Se era necessário derrotar o garoto para fazê-lo escutar, ele o faria. Não podia perder a chance de convencê-lo.

— E se eu vencer você vai me explicar o que você quer! — continuou Asher. — E o que você sabe sobre os Ryumaru.

   

—O-O-O-

 

N retornou Musharna e pegou uma pokébola no bolso traseiro. Seu Zorua se acomodou ao seu lado, e ele liberou um Golett. O pokémon fantasma esticou os braços e entrou em posição de combate.

Asher estava mais calmo. Ele só precisava vencer essa batalha, e então teria todas as respostas que quisesse. Uma inocência de sua parte, é claro.

— Daichi, nós vamos acabar com eles. — disse. 

— Pode começar, vossa alteza. 

— Para de me chamar assim! Meu nome é Asher. — N parecia surpreso. Ele havia ouvido Amin nomeando o irmão, mas pensou que tinha ouvido errado.

— Asher… — N saboreou a palavra por alguns instantes. — Esse era o nome do meu avô. 

— Se apresenta também. — Asher, apesar de tudo, não queria soar rude. O homem de cabelo verde era um completo babaca por tê-lo colocado para dormir e vasculhado suas memórias, mas talvez ele tivesse realmente seus motivos.

— Mas, meu príncipe, você já sabe meu nome…

Asher parou e franziu o cenho.

— Seu nome é N?

N encolheu os ombros.

— É.

Asher piscou duas vezes e chacoalhou a cabeça para dispersar os pensamentos. Então, ele respirou fundo e se concentrou na batalha. Derrotar o Golett.

— Vamos começar. Daichi, Slash!

O Gible saltou adiante e sua garra brilhou e cresceu. Ele achou que seria fácil, mas não era. O Golett era rápido, e desviou com um passo para o lado.

Hammer Arm. — N comandou, e seu pokémon girou o braço para acertar Daichi nas costas. O pokémon dragão voou alguns metros antes de recuperar seu equilíbrio. Asher sabia que seu pokémon já era forte o suficiente para aguentar alguns golpes, e não se preocupou com o estado dele após aquela técnica.

Crunch

E Daichi saltou para abocanhar o pokémon fantasma, que se moveu com graça e deu um mortal para trás. Mas Daichi não parou de avançar, e Asher indicou a direção que o pokémon iria para ajudar seu parceiro a acertar.

A perna do Golett foi ferida pela boca do Gible, que se afastou assim que acertou o golpe para não ser atingido por outro Hammer Arm. O golpe havia sido muito efetivo, e a marca dos dentes de Daichi ficou na perna do pokémon, mesmo ela sendo feita de pedra.

— Você é muito bom, vossa alteza. — N passou a língua nos lábios com um sorriso malicioso. — Mas eu não posso perder essa batalha. Golett, Iron Defense.    

Imediatamente, o Golett parou e seu corpo se endureceu num brilho metálico de um único instante. Ele parecia mais resistente.

— Daichi, Crunch de novo!

Daichi acertou a técnica graças à perna machucada do Golett, mas não pareceu ter causado muito dano dessa vez. Asher estranhou o resultado do golpe, e começou a bolar outro plano.

Hammer Arm!

Antes que Daichi pudesse se afastar, o Golett o derrubou no chão com uma braçada. Por algum motivo irracional, Asher achou que o Iron Defense também tinha tornado o Hammer Arm mais forte.

Asher começou a se desesperar. Se o Crunch fez menos efeito dessa vez, quer dizer que na próxima pode fazer menos ainda. Ele não podia usar o Slash, porque era um golpe muito fácil de desviar; nem Dig, porque o Golett resistiria com facilidade ou talvez até usasse o momento que Daichi saísse da terra para atacar com força total… O único golpe que sobrava era Dragon Breath. Seria arriscado demais. Talvez fosse melhor sair dali. Não é? Ele tinha sido estúpido por desafiar N. Ele só tinha uma insígnia, e o homem de cabelo verde parecia bem mais forte.

A cabeça do jovem treinador se encheu de dúvidas e afastou ainda mais a coragem conseguida após ver a Chama Alva. 

— Daichi, recue! — Mas Daichi não se moveu. Ele sentiu o medo na voz de seu treinador, e se recusou a perder essa batalha. Ele não iria recuar. Ficou de pé diante do Golett e olhou para cima para fitar os olhos de seu oponente.

— Derrube-o. — N disse, e Golett colocou seu pé na cabeça do Gible para empurrá-lo para trás, mas foi inefetivo. Daichi se manteve equilibrado, segurando a perna e o peso do corpo inteiro do Golett. — Heavy Slam. Desculpe, vossa alteza.

— SAIA DAÍ! — Asher gritou. Daichi não resistiria a um golpe daqueles. Ele precisava se desvencilhar e atacar com Dragon Breath! Por que diabos ele não obedecia?

O corpo do Golett se envolveu numa aura amarelada, e todo o seu peso aumentou para que ele chutasse Daichi para longe. O chão abaixo do pokémon dragão se quebrou e ele afundou no solo alguns centímetros, se mantendo de pé e resistindo ao peso do Golett sem perder o contato visual.

— Daichi! — Asher clamou. Ele não estava entendendo o propósito daquilo. Ele tentou se conectar com Daichi, como fez antes para comandá-lo a sair da pokébola, mas assim que sentiu o poder vindo, uma onda de exaustão tomou seu corpo e ele teve que tomar cuidado para não cair no chão. Estava claro que ele não podia fazer isso duas vezes num intervalo tão curto de tempo.

E mesmo que conseguisse, de que serviria? Não havia comando possível num momento como aquele. Asher não podia fazer nada, senão observar e confiar que Daichi sobreviveria.  

   

Daichi respirou fundo. Ele precisava ficar mais forte para ajudar Asher. Para derrotar esse inimigo, e muitos outros depois. Ele grunhiu, sem conseguir abrir muito a boca por causa do pé do Golett, e desejou que seus braços fossem maiores.

Ele canalizou toda a energia que tinha e sentiu seu corpo aceitá-la. Sua pele brilhou por inteiro, um brilho ofuscante que obrigou a todos os outros presentes a cobrir os olhos. 

E sua forma mudou. Seu corpo cresceu, seus braços e seus dentes. Ele derrubou o Golett tirando o seu equilíbrio por ficar mais alto do que antes, e rugiu para o ar.

Então, Daichi, agora um Gabite, olhou para Asher e assentiu esperando novos comandos.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado, apesar de tudo. Se tiver um comentário, deixe-o aí embaixo ^-^



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Pokémon - Odisséia" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.