Pokémon - Odisséia escrita por Golden Boy


Capítulo 9
Queridos companheiros


Notas iniciais do capítulo

Sobre as coisas que realmente importam. Sobre os amigos que fazemos no meio do caminho, e sobre como a dor não é nada perto disso.



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A primeira coisa que Asher notou ao acordar foi o peso que faltava em sua cintura. Ele tateou o corpo em busca de suas pokébolas, e seu coração pulou quando ele se deu conta de que não estava com elas. Só então percebeu seus arredores: estava deitado num sofá no que parecia a sala de um apartamento. 

Diante dele, portas de vidro mostravam a varanda e a paisagem matinal de Icirrus. 

— Achei que você fosse dormir até o meio-dia. — disse Athena. Ela tinha uma xícara na mão, e o vapor quente do café embaçou seus óculos. 

— Onde estão minhas pokébolas? 

— Eu liberei seus pokémon ainda agora para alimentá-los. Sua Flaaffy estava faminta.

— Por quanto tempo eu dormi? — Asher se sentiu podre por dentro. Seu estômago parecia completamente revirado, cada músculo de seu corpo estava exausto e sua cabeça doía como se tivesse levado um soco de um Machoke. 

Athena checou o relógio de pulso digital.

— Você desmaiou perto da Dragonspiral Tower no meio da nossa conversa, deviam ser umas três da manhã. Aí eu te trouxe pra cá porque… bem, parecia uma péssima ideia deixar você lá. 

— Obrigado, eu acho… — Asher se sentou. Sua cabeça caiu para trás e ele tentou se lembrar da madrugada passada. Os olhos de N vasculhando sua mente. Um calafrio subiu sua espinha, e ele afastou essa lembrança. — Onde eles estão agora?

Antes que Athena pudesse responder, dois pokémon correram pra fora da cozinha e quase atropelaram a mulher. Na frente, um Gabite corria com uma expressão brincalhona e carregava um objeto verde nas patas. Atrás dele, uma Flaaffy furiosa. Daichi e Sophie. 

Daichi subiu na mesa de centro e pulou para o sofá, mas tropeçou numa almofada roxa e caiu em cima de Asher. Sophie estava prestes a soltar um relâmpago nele, mas Athena a impediu.

— Sem bagunça! — gritou a mulher, erguendo uma mão na direção do pokémon. Sohpie, percebendo que não deveria usar sua eletricidade, saltou no sofá junto ao seu treinador e seu companheiro de time e começou a lutar com suas patas pela posse da pedra verde. O móvel não era grande o suficiente para os três, e eventualmente a briga dos dois pokémon causou a queda dos três.

— Eu vou deixar vocês três a sós. Quando quiser comer, me avisa.

Assim que Athena saiu, Daichi percebeu que Asher estava há tempo demais sem se mexer, e saltou para longe do corpo do treinador o mais rápido que pôde, enquanto olhou preocupado em busca de sinais vitais. 

Sophie estava preocupada com a pedra que ainda estava na posse do pokémon dragão, e levou algum tempo para tomar para si a preocupação de Daichi. 

Então, ela girou nos calcanhares e se abaixou até o rosto de Asher. Ele estava deitado numa posição esquisita, com uma perna ainda em cima do sofá, e sua boca estava aberta formando um arco para baixo, embora seus olhos estivessem fechados.

Sophie e Daichi se aproximaram, temendo que ele tivesse desmaiado (ou até pior!) e quando os rostos dos pokémon chegaram perto o suficiente, Asher gritou:

— Bu!

E os dois pokémon se assustaram.

—O-O-O-

— Você cresceu bastante, hein Daichi? — apontou Asher, depois de resolver a briga dos dois pokémon. Aparentemente, Sophie havia encontrado uma Leaf Stone há algum tempo e tinha guardado no meio de sua lã. E Daichi, assim que descobriu isso, roubou ela pra tentar comer. Depois de um longo sermão sobre roubo e propriedade alheia, o pokémon dragão finalmente desistiu do plano.

O que se seguiu foi uma cena de Sophie lambendo o rosto de Asher enquanto esfregava sua lã cheia de estática em sua roupa, enquanto o Gabite tentava ficar da altura de Asher na ponta dos pés. Faltavam poucos centímetros, e Asher se sentiu aliviado por isso. Ele era baixinho, mas pelo menos seus pokémon eram menores que ele.  

—O-O-O-

— Então você só tem uma insígnia? — Athena perguntou. Ela vestia um avental rosa e tinha seu cabelo preto preso num coque. Gothitelle estava na sala, espanando os móveis e Asher estava sentado à mesa com Daichi do lado. Asher já tinha se apresentado, e contado (parte de) sua história. 

— É. Mas eu vou conseguir outras, assim que eu descobrir o que aconteceu com meu irmão. 

Athena parou por um segundo. 

— Entendi. — Ela tirou os olhos da panela que mexia e olhou para Asher. — Espero que ele esteja bem. 

— Eu também…

Eles almoçaram juntos na mesa com quatro lugares, e Asher lhe contou sobre Will. Athena achou o garoto extremamente chato por ser tão grudento, apesar dos comentários de Asher insistindo que ele não era tão ruim assim.

— Pra onde você vai agora? — perguntou a mulher, quando eles se sentaram na varanda para jogar Uno. 

— Meu irmão, ele pediu para que eu não saísse de Icirrus.

Athena ergueu uma sobrancelha. 

— Como você pretende encontrá-lo sem sair daqui? Ainda mais com N atrás de você.

Um sentimento ruim atravessou Asher. Ele não tinha pensado que N continuaria procurando por ele.

— Você sabe o que ele quer comigo?

— Se ele não te disse… — Athena deu de ombros. — Ele é só um doido manipulado por pessoas mais inteligentes do que ele. — interpôs.

— Que pessoas?

— A Plasma…? — falou, como se fosse óbvio. — Se você nem ao menos sabe da existência deles, por que diabos eles estão atrás de você? 

Asher colocou um +4 na mesa, e Athena deixou a cabeça cair pra trás enquanto batia com suas próprias cartas na mesa. Com essa carta, Athena ficaria com nove cartas na mão e Asher com apenas duas.

— Desiste?

— Desisto. Pra um pirralho, você até que é bem espertinho.

E com mais essa, eram cinco vitórias seguidas de Asher.

—O-O-O-

— Aí, garoto. — Athena jogou uma toalha em Asher, que escovava a lã de Sophie. A pokémon elétrica não queria ficar parada, e Asher precisava constantemente fazê-la sentar de novo. — Pro seu banho. 

— Ah, ok — respondeu, depois de mais uma vez puxar Sophie para perto. 

— Você pode dormir aqui essa noite, se não quiser voltar pro Centro Pokémon. — disse a mulher. — Mas amanhã eu e Gothitelle vamos pra Nimbasa desafiar a líder de ginásio, e eu não sei quanto tempo vamos passar lá.

— Você também é treinadora?! — Os olhos de Asher brilharam.

— É. Eu posso ter pintado o cabelo pra não parecer minha mãe, mas herdei a habilidade dela pra batalhar. 

— E quantas insígnias você tem? 

— Cinco. Humilau, Icirrus, Driftveil, Castelia e Opelucid. 

Asher estranhou.

— Opelucid? Você lutou contra o Drayden?

— Sim, ué. 

Asher resolveu não questionar. Se fosse verdade, Amin teria mentido para ele. Uma vez mais. 

— Você disse sobre rastrear o N… você não pode fazer isso? — perguntou, antes que o silêncio tomasse a sala. Essa pergunta pairava em sua cabeça desde a menção dele mais cedo.

— É. Gothitelle pode achar ele, contanto que ele esteja vivo e… minimamente perto.

— E porque você não faz isso?

— Eu encontro ele, e ai? Sequestro ele? Imploro pra ele me contar os planos dele? Eu não pretendo torturar ninguém, e a polícia não vai fazer nada. Como eu disse, eles são pagos pra não interferir. 

— Athena… — Asher começou a responder, mas não sabia como continuar. Ele deixou Sophie ir dançar, e se ajeitou na cadeira. 

— Asher? — Athena fez um gesto para que ele continuasse falando, mas ele não tinha nada a dizer. A mulher já havia feito muito salvando ele na madrugada e ainda deixando ele passar um dia inteiro em sua casa para se recuperar. Ele não podia pedir mais nada. 

— Esquece. 

Athena deu as costas e saiu, e nesse momento Asher percebeu que Sophie havia sumido do cômodo também. Ele olhou de um lado para o outro e saiu à procura de sua pokémon, apenas para encontrá-la na varanda mexendo em alguma coisa.

— Sophie? Tá tudo bem?

A pokémon olhou por cima do ombro, e então voltou-se novamente para sua tarefa. Ela mexeu as patas um pouco mais, e então ficou de pé e se virou para Asher.

— Flaaaaa — baliu. Ela tinha algo escondido nas costas. 

— O que é isso? Um presente pra mim?

A pokémon de lã rosa assentiu, e entregou o objeto escondido. Era a Leaf Stone, com um laço vermelho em cima. O laço era claramente improvisado e era feito de fita adesiva colorida, mas isso não tirava o amor que Asher sentiu ao receber aquilo.

Ele abraçou sua pokémon, e chorou um pouquinho.

—O-O-O-

Era madrugada quando uma dúvida atingiu o peito de Asher como uma flecha: e agora?

Sua única pista era a carta de N, e mesmo que ele tenha tido algumas respostas a partir dela, não era nem de longe o suficiente. Amin ainda estava desaparecido, e ele começou a ponderar falar com a polícia. Ele pensou também em ligar para Will e dizer que estava tudo bem, mas não fez isso. Ele ignorou o que agora já eram dezoito ligações perdidas e ligou para Amin.

O mesmo de sempre: ligação perdida. Ele tentava não se desesperar, mas cada minuto desde aquela mensagem de voz era um aumento crescente de agonia. Ele não sentia vontade de treinar, ou de comer. Comia porque precisava de alimento, e bebia água porque já era um hábito.

Ele poderia ignorar o pedido do irmão e voltar para Opelucid, contar para avó sobre tudo e torcer para que tudo ficasse bem. Poderia também voltar para o Centro Pokémon e implorar para que Will ficasse com ele, mas essa não parecia uma boa ideia. 

E havia uma terceira opção, adormecida em sua cabeça como a Chama Alva um dia esteve: seguir em frente. Ir para Nimbasa com Athena e desafiar o ginásio de lá. Treinar Daichi e Sophie até eles estarem em suas últimas evoluções, e talvez até capturar um terceiro pokémon. Seguir em frente e ficar forte.

As sombras no teto pareciam com uma garra pontuda, e algumas semanas antes ele teria medo de dormir naquele sofá. Mas agora, como um treinador oficial com UMA INSÍGNIA e dois pokémon, ele não tinha medo. Não de monstros.

—O-O-O-

O telefone de Asher tocou enquanto ele dormia. Ele atendeu sem ver quem era, e estremeceu ao ouvir a voz de seu irmão.

— Baixinho, — disse o mais velho — eu tô bem. Desculpa o susto.


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Notas finais do capítulo

Obrigado por ler! Até o próximo!

P.S: Davi eu prometo que vou ler Break assim que a preguiça sair de mim T.T



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