Pokémon - Odisséia escrita por Golden Boy


Capítulo 6
Príncipe Dragão pt. 1


Notas iniciais do capítulo

Oi! Dividi esse capítulo em duas partes. Deveria ter lançado ele na terça, mas só consegui postá-lo hoje. Peço perdão por isso. A parte dois sai ainda hoje.



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— Você já... enxergou pelos olhos de um pokémon?

— Tipo, imaginar como seria ser um pokémon? Empatia? — Will perguntou.

— Não, tipo enxergar mesmo. Na batalha, teve uma hora que eu consegui ver pelos olhos do Daichi. Logo antes dele derrotar o Cryogonal.

— Nunca aconteceu comigo. Mas... se você consegue fazer isso, quer dizer que você tem um super poder. Né?

— É, acho que sim. Só que eu não faço ideia de como fazer isso de novo.

— Depois a gente descobre. Será que isso tem a ver com os Ryumaru e tal? Talvez seja baboseira mística.

— Deve ser...

Asher lutou para se lembrar das histórias de sua avó, mais especificamente uma sobre Reshiram, A Chama Alva, e sobre como um humano Ryumaru se conectou com ele para derrotar o Trovão Negro Zekrom. Mas no fim, os dois se resolveram e fundaram juntos a vila Ryumaru, que deu origem a linhagem de Amin e Asher. Talvez ele estivesse se conectando com Daichi da mesma forma que os humanos fundadores se conectaram com os dragões de Unova?

—O-O-O-

Eles jantaram no Le Pomme Verte, um restaurante Kalosiano no centro da cidade, e a conversa foi confortável. Asher se forçou a esquecer tudo o que lhe afligia, e todas as vezes que os pensamentos intrusos surgiam, ele apertava a insígnia na mão e sentia a ponta dela furando de leve o dorso da palma, e isso o trazia de volta ao presente.

Will brincou com as batatas fritas com o garfo, e remexeu sua salada sem terminá-la. Os olhos de Asher brilharam com a sobremesa, e Will sorriu quando percebeu a felicidade do amigo devorando o doce.

Assim que chegaram ao centro pokémon, por volta das dez da noite, houve um apagão quase idêntico ao do dia anterior, com a única diferença sendo que não havia chuva lá fora.

— Um jovem deixou essa carta para você. — disse Grant, assim que as luzes de emergência se acenderam. Ele estava atrás do balcão.

— E como ele era? — Asher teve uma faísca de esperança. Será que era uma carta de Amin? Talvez ele tivesse pedido para algum amigo entregá-la, ou tivesse vindo voando em Ferris…  

— Ele tinha cabelo verde e um Zorua. 

— Um treinador? — Will perguntou, e Grant levantou um ombro em descaso.

— Não tenho certeza.

Asher estava encarando a carta. Estava com um selo vermelho cujo símbolo mal era iluminado pelas luzes de LED de emergência. Eles subiram para o quarto depois de Asher dar boa noite para o enfermeiro, e Will pegou Daichi no colo para subir as escadas.

— Você não quer deixar pra ler essa carta depois? — Will perguntou. Estava escuro, e ele deixou que Asher subisse as escadas primeiro para ter certeza de que ele não iria tropeçar e cair. Mesmo com Daichi no colo, ele conseguiria segurar Asher com o corpo se estivesse bem equilibrado.

— Por quê? — Asher não se virou para perguntar. Will digeriu a pergunta, mas não teve vontade de responder.

Will foi direto ao banheiro, onde escovou seus dentes no escuro. Asher, por sua vez, liberou Sophie e pediu para que ela usasse sua cauda para iluminar a carta enquanto ele a abria. O selo de cera vermelha tinha um símbolo de um dragão ao redor de um “P” estilizado.

E em letras formais, aquela carta convidava o garoto Ryumaru. O autor da carta se referia a ele como o “pequeno príncipe dragão”, e o chamava para um encontro na torre Dragonspiral.

Asher nunca consideraria algo assim, ir encontrar uma pessoa desconhecida do nada; e ele provavelmente não teria considerado, se não fosse a última linha:

“PS: Tenho notícias sobre seu irmão”.

 

—O-O-O-

 

Will saiu do banheiro bufando. A luz ainda não tinha voltado, e seu rosto só era visível graças à Sophie, que dormia na cama ao lado de Asher enquanto ele relia a carta mais uma vez. Quando ele viu que Will tinha terminado de usar o banheiro, ele abriu um sorriso; mas foi interrompido antes de poder contar sobre a carta.

— Asher, eu acho que a gente não deveria ir pra Nimbasa junto. — Will falou de uma vez só, e deu um passo para trás para que sua expressão ficasse escondida na escuridão. Ele estava calmo.

— Mas… foi você quem me convidou… — Asher balançou a cabeça e suas sobrancelhas se apertaram. — Por que isso do nada?

— Você não é forte o suficiente ainda, ok? É por isso. — Will passou a mão pelo cabelo loiro e limpou os olhos úmidos com os dedos. Ele estava feliz com a vitória de Asher, feliz pela baboseira mística dele, mas havia algo errado. Ele não deveria gostar tanto dele. Ele... não podia. — Eu não quero ter que ficar te protegendo. O caminho deve ser perigoso.

— Eu… — Asher sentiu seu pulso acelerar. Ele não estava triste. Ele cerrou o punho e pulou da cama, acordando Sophie no processo. Daichi, que estava escondido, olhou para cima para ver a discussão. — Eu nunca pedi pra você me proteger! Foi você quem resolveu vir comigo, em primeiro lugar!

— Asher... desculpa. Eu só mudei de ideia. Eu vou ficar em Icirrus com você até seu irmão deixar você voltar para Opelucid, e depois vou te deixar em casa. Vai ficar tudo bem.

— Por que você age assim? Você não é meu pai, você não é meu irmão. Não sei nem se você é meu amigo mais. — Asher falou mais alto do que gostaria. Ele bateu na mesa de cabeceira com força demais, e o abajur se quebrou no chão. 

Will estava prestes a falar sobre como ele gostava da companhia de Asher, e como eles podiam conversar para chegar num meio termo, mas aquela demonstração de violência era a gota d'água. Se Asher queria agir daquele jeito, ele precisaria ouvir.

— Eu vim até aqui por você, e sem mim você teria perdido seus pokémon naquela ponte estúpida. — Will não engoliu a ingratidão de Asher. Ele estava sendo o melhor amigo que poderia ser, protegendo ele. — Eu te tirei da cama quando você não queria nem comer. — Will apontou para a cama. 

— E fez tudo isso por quê? Pra que eu te devesse um favor ou algo assim? — Asher amassou a carta e enfiou no bolso do casaco vermelho. Ele colocou Sophie na pokébola e Daichi também.

Will não soube responder. Ele não sabia o motivo.

— Onde você vai? Você não pode ir assim, é perigoso sair de noite. Você pode encontrar um bandido ou...

— Cala a boca. — Asher passou por Will e colocou a mão na maçaneta da porta. O garoto loiro, agora no escuro, se colocou na frente da porta.

— Dorme aqui. Eu saio. 

Aquilo aumentou a raiva do garoto, que empurrou Will para o lado e saiu frustrado.

Ele estava cansado. Estava cansado de ser visto como inferior. Amin, Will, todos viam ele como uma criança. Ele acharia respostas sozinho, e provaria que não precisava ser protegido.

 

—O-O-O-

 

Assim que Asher descobriu como usar o GPS, um trovão retumbou no céu. A torre Dragonspiral ficava a dois quilômetros para o norte, e a carta dizia para ele ir até lá a qualquer momento entre as seis da noite e às seis da manhã nos próximos sete dias. 

De toda forma, ele tinha Daichi e Sophie caso as intenções do autor da carta, que assinou apenas com um N, não fossem das melhores.

Asher viu a torre pela primeira vez assim que pisou fora dos limites de Icirrus. Havia uma estrada de pedrinhas desniveladas que seguia por dentro da floresta, e ele usou a lanterna do celular para iluminar o caminho. Ele pensou em usar Sophie, mas sabia que ela iria fazer perguntas sobre Will, ou talvez até tentar convencê-lo a voltar para o Centro Pokémon. Esse também era o motivo dele ter mantido Daichi na pokébola, mesmo que isso quebrasse o acordo que eles haviam feito em Opelucid.

Seria fácil para ele contar essa história ocultando o medo que ele estava sentindo. Ele poderia dizer: “Segui até a torre sem nenhum temor, porque eu tinha meus pokémon e sabia que eles eram fortes!”, mas seria mentira. Ele sentiu pavor por todo o corpo, durante todo o caminho.

A maior parte de suas preocupações eram sobre treinadores. Talvez houvesse um treinador treinando por ali até agora, e ele fosse um veterano que mataria os pokémon de Asher. 

Ou talvez esse tal de “N” fosse um treinador que por algum motivo sabia sobre as histórias dos Ryumaru e queria ver se eram verdade.

Ou até mesmo que um pokémon selvagem atacasse ele, um forte demais para seus pokémon. 

Mas nada disso aconteceu. Quando ele chegou na frente da torre e iluminou a porta de pedra selada, percebeu que estava sozinho. Percebeu também que as nuvens tinham aberto passagem para a luz da lua, e por isso desligou a lanterna. Seu celular tinha cinco ligações perdidas de Will. Por mais raiva que ele estivesse sentindo, saber que Will se importava confortou seu coração. Ele tinha, apesar de todos os apesares, feito um amigo.

 

—O-O-O-

 

— Você veio cedo. — disse o jovem de cabelo verde. Ele tinha um boné na cabeça e um Zorua ao seu lado. — Meu príncipe dragão. — e N procedeu para beijar a mão de Asher. O garoto estranhou o gesto, mas não era tão estranho quanto tudo que já havia acontecido naquele dia.

— Você escreveu a carta? — Asher perguntou, depois de limpar o dorso da mão no casaco. N percebeu aquilo, e mordeu a bochecha.

— Sim. 

— Então você sabe sobre meu irmão?

— Algo do tipo. Você é mesmo Ryumaru, não é?

— Sim… 

   

— Posso ver seu dragão? O que saiu do ovo que você ganhou. — N perguntou. A luz da lua iluminava o local onde eles estavam. Asher pegou a pokébola de Daichi e um sorriso cínico surgiu na boca de N quando ele o viu.

— Desculpe, meu príncipe. Mas isso é para o bem de nosso povo. 

O medo atravessou o rosto de Asher, e ele sentiu algo se movendo ao redor de N. Um pokémon rosa surgiu atrás dele, e antes que o garoto pudesse apertar o botão da pokébola e liberar Daichi, seu corpo parou de respondê-lo.

Ele entrou numa onda de torpor semelhante ao sono, e N o segurou para que ele não caísse bruscamente contra a torre. 

Mas antes de perder a consciência, Asher ouviu uma voz diferente da de N dizer: “ele já é grande, deveria saber que sair sozinho essa hora da noite não é legal”.

 


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Notas finais do capítulo

Espero que tenha gostado. Aqui o angst começa a tomar forma.



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