Água-Viva escrita por 4ever Happy


Capítulo 3
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Dias atuais = Austin Moon com 24 anos
☆☆☆

Lara, muito obrigada pelo carinho que você me deu nos capítulos anteriores ♡



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Dias atuais

Merda!

O som estridente do metal abafa o barulho da minha mente quando fecho a porta do meu carro com força. Decido ignorar os gritos raivosos do meu treinador que corria pelo estacionamento atrás de mim. Vai pro inferno, velho.

Engato a ré e então piso bruscamente no freio quando vejo o seu corpo a poucos centímetros do meu porta-malas. Pelo retrovisor vejo Michael cruzar os braços para mim. Ora, ele não estava tão bravo afinal.

— Você não pode correr todas as vezes que perder a cabeça, Mônica.

Eu não posso acreditar nisso. Como ele se atreve a usar o meu nome do meio? Filho da mãe.

— Ah, eu posso. – Volto a pisar no acelerador. Sou capaz de vê-lo bater o pé no asfalto quando o meu carro se afasta dele. Idiota. – Estou fazendo isso agora mesmo, Michael! – Grito pela janela e então passo pela saída do estacionamento.

Quando o meu treinador – tendo uma crise de nervos – não é mais um problema para mim, permito-me respirar profundamente. Trago lentamente o ar aos meus pulmões numa tentativa inútil de permanecer calmo. Ah, como se algum exercício de respiração funcionasse.

Retiro o meu celular do bolso do jeans e então aperto o botão lateral. Meus olhos se alteram entre a avenida movimentada e o e-mail que brilhava na tela inicial. As letras da mensagem saltavam sob a minha visão. Essa merda não podia estar acontecendo. Não de novo.

Prezado senhor Moon,
Seu currículo esportivo foi criteriosamente analisado pela nossa equipe, assim como as suas redes sociais.
Nossa empresa preza pelo profissionalismo e pela ética moral do atleta, atributos que acreditamos serem essenciais para o cargo em questão. Acima das conquistas, buscamos alguém responsável para representar a empresa em suas competições.
Nós acreditamos que o senhor Moon não é o candidato que procuramos para patrocinar, visto o seu passado conturbado.
Atenciosamente,
Coca-Cola.

Era a sétima vez que aquelas palavras eram lidas por mim - eu já as conhecia de cor -, mas elas ainda me atingiam com força. Ainda faziam o meu sangue borbulhar dentro das minhas veias, como se estivesse prestes a explodir a qualquer momento.

Num impulso irracional jogo o meu celular com força no banco do passageiro, fazendo-o cair no chão. Ele faz um barulho ao cair no tapete, mas eu ao menos sou capaz de estremecer. Eu não queria ler aquela merda de e-mail de novo.

Nós acreditamos que o senhor Moon não é o candidato que procuramos.

Idiotas.

Um grito estridente escapa dos meus pulmões e atinge a minha garganta seca. Não sou capaz de segurar todos os palavrões que saem dos meus lábios juntamente com os socos violentos no volante do meu carro. Que merda!

É somente uma empresa que... É a droga da Coca-Cola! Coca-Cola! As dobras entre os meus dedos adquirem um tom avermelhado quando as minhas mãos atingem o coro gasto do volante. Um gemido involuntário é arrancado dos meus lábios. Respira, Austin.

Visto o seu passado conturbado. A droga da clínica de recuperação ainda faz morada em minha sombra. A verdade é que ela sempre estará ao meu lado, sempre manchará o meu currículo, sempre me impedirá de conseguir algum patrocínio. A verdade é que ela sempre marcará com brasas a minha reputação.

Um riso infeliz escapou da minha boca. Todos acham que eu sou um drogadinho-de-merda, afinal, é assim que os meus próprios pais se referem a mim. Não é o que todos pensam? Pensam que eu sou um viciado. Ora, eles sempre pensarão isso, Austin.

Meu pé escorrega no acelerador, apertando-o fundo.
90 Km/h. Posso ver o velocímetro dançar rapidamente entre os números.
100 km/h. O vento sopra fortemente contra o meu rosto e a paisagem corria diante dos meus olhos.
110 km/h. Gosto disso.

120 km/h. Quer saber? Vai pro inferno.

— Vai pro inferno, Coca-Cola! – Direciono o meu grito para o celular caído no chão, como se, de alguma forma, algum CEO dessa empresa maldita pudesse me ouvir. Ah, como eu adoraria que eles me escutassem nesse momento.

Um sorriso nasce em meu rosto quando avisto um sinal vermelho, ultrapasso-o sabendo que não conseguiria frear a tempo. Acredito que essas buzinas insistentes sejam para mim. O que foi? Ninguém pode ter um dia ruim na Flórida?

Ao adentrar no estacionamento do Aquário de Miami, o meu pé drasticamente pressiona o freio, o que causa um barulho estridente e irritante. Ah, nada como o clássico aviso sonoro de que Austin Moon havia chegado. Eu estava com saudade disso.

Estaciono na primeira vaga que encontro naquele lugar. Eu não perderia tempo encontrando por uma boa vaga, não estou com cabeça – ou tempo – para isso. Só queria sair o mais rápido daquele carro, e assim o fiz.

Um murmuro escapa dos meus lábios quando vejo o carro balançar com a força que imprimi sobre as portas. Tanto faz. Mas, então, antes mesmo que eu pudesse me afastar do carro, escuto o toque insistente do meu celular. Mordo o canto da bochecha. Alguém estava me ligando.

Coloco as mãos no bolso da blusa que eu estava usando e então caminho em direção à entrada. Ora, eu não voltaria para pegá-lo. Sinto muito, qualquer-pessoa-que-esteja-me-ligando. Não estou com cabeça para conversar agora, só quero entrar neste maldito Aquário.

Minhas pernas percorrem os conhecidos corredores do lugar sem ao menos fazer uma pausa para observar os peixes-palhaços ou raias expostas atrás das paredes de vidro. Diminuo o passo ao encontrar a tão famosa Área 8.

Ali estavam as Águas-Vivas.

Respiro profundamente e só então me aproximo do seu enorme aquário. Céus, elas são incrivelmente belas. Não sou capaz de conter o sorriso que nasce em meu rosto ao vê-las tão próximas do lugar onde eu estava. Eu seria capaz de passar horas admirando o jeito com que elas sobem e descem pela água escura, o jeito com que deslizam tão facilmente pelo aquário vazio e o jeito com que elas não parecem ter qualquer preocupação – e elas de fato não têm.

Minha mão toca a gélida borda de vidro que nos separava e por um curto espaço de tempo sou capaz de esquecer a merda do e-mail que insistia em perturbar os meus pensamentos. Era apenas eu e a água. Apenas eu e algumas dúzias de Águas-Vivas.

Permito-me fechar os meus olhos e aproximar o meu rosto do Aquário a minha frente, onde apoio a minha cabeça. Apenas eu e a água. Apenas eu e algumas dúzias de animais que não tem nenhuma preocupação. Apenas eu e meus pensamentos vazios.

Respiro fundo mais uma vez.

Apenas eu e a calmaria. Apenas eu e as minúsculas perturbações que as Medusas faziam na água. Céus, elas são tão lindas.

— E aqui estão as Águas-Vivas! – Sou capaz de ouvir o coral perfeito dos suspiros surpresos dos visitantes. – Eu sei, elas são lindas, certo? – Abro os meus olhos a tempo de ver um grupo de idosos concordar com o guia. – Elas ocupam o segundo lugar dos animais na escala evolutiva. Ficam a frente apenas das Esponjas-do-Mar.

Aperto os meus olhos em direção às Medusas. Se pensarmos bem, o Bob-Esponja caça animais mais evoluídos que ele. Meu Deus, que pensamento idiota, Austin.

— Alguém sabe me dizer a porcentagem de água que constitui o corpo de uma Água-Viva? – O guia pressionou a prancheta contra o próprio peito e então aguardou a resposta. Oh, céus, é sério que nenhum velho do grupo sabe a resposta?

— 95% - Murmuro para mim mesmo. Os meus olhos continuam fixos no grande aquário a minha frente.

Aperto as chaves do carro em meu bolso ao notar que o guia havia me escutado. Ele não poderia estar bravo comigo, certo? Não tenho culpa se o grupo dele é horrível. Tecnicamente eu o salvei.

Viro-me a tempo de encontrar o guia olhando para mim. Somente quando os meus olhos encontram os seus, percebo se tratar de uma garota. Ora, ela parecia um homem com o uniforme largo cobrindo o seu corpo e com o boné azul marinho do Aquário.

Ela sustentava um discreto sorriso em seu rosto enquanto lentamente se aproximava de mim. Aperto os meus olhos, o seu rosto parecia estranhamente familiar. Ok, eu não havia transado com ela, eu me lembraria. Quer dizer, eu acho que lembraria.

— Boa resposta, peixinho. – Ela gentilmente apoia a mão em meu ombro.

Num ato involuntário, os meus pés cambaleiam para trás, afastando-me dela. Meus lábios perduram no ar com o turbilhão de sentimentos que atravessavam a minha cabeça. Eu não ouvia isso a anos. Como ela conhecia o meu apelido da infância?

Antes mesmo que eu pudesse dizer algo a ela, a garota chama pelo seu grupo e então todos caminham em direção à Área 9.

Com as mãos apertando fortemente as chaves de metal em meu bolso, vejo-a se afastar de mim. Seus cachos insistiam em escapar do boné azul.

Oh. Meu. Deus. Aquela era a Allicia Dawson.


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Notas finais do capítulo

Estou tendo uma relação de amor e ódio com este capitulo.
Mas eu particularmente adorei escrever a transição do Austin com raiva para o Austin calmo/surpreso.

☆☆☆



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