Água-Viva escrita por 4ever Happy


Capítulo 2
Prólogo


Notas iniciais do capítulo

☆ Há um fluxo de narradores durante o capítulo
• Normal: narrado por Austin Moon
• Itálico: narrado em terceira pessoa (Austin inconsciente)



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Meus dedos correm sob o nariz, removendo qualquer vestígio do pó branco que acaba de ser aspirado por mim. Qualquer mísero floco poderia me denunciar, e eu não posso ferrar com tudo. Não agora. Há muito a perder aqui.

Fecho os meus olhos e lentamente apoio a cabeça no ladrilho frio do vestiário masculino. Aprecio a estranha sensação dos meus últimos minutos consciente.

Quanto tempo essa merda demoraria para fazer algum efeito, afinal? Será que durante a competição essa droga ainda estaria em meu sangue, será que ela realmente me ajudaria na corrida? Ou será que eu deveria tê-la diluído e aplicado diretamente na minha veia?

Que ideia estúpida, Austin. Os juízes poderiam facilmente ver a marca da agulha em meus braços e me desclassificar.

 Vê se não ferra com tudo. Concentre-se, Austin.

Os milhares de cristais brancos percorrem cada centímetro das artérias, veias e capilares de Austin e, em poucos minutos, conhecem cada misero canto do seu corpo. A droga estava diluída por todo o seu sangue. A droga agora fazia parte do seu plasma, do seu metabolismo acelerado. Ela fundiu-se em cada parte do garoto sentado no chão úmido e desconfortável daquele vestiário.

A vasoconstrição causada pela cocaína lentamente aumentava a sua pressão arterial. O seu sangue parecia correr mais rápido que o normal, e irrigava cada membro do seu corpo com uma violência tremenda. O sangue parecia querer saltar para fora da sua pele, e Austin gostava daquela sensação.

Incontáveis sinais elétricos atravessavam dendritos, corpos celulares e axônios a cada segundo. Seus pensamentos estavam acelerados e bagunçados, era difícil controlá-los. Austin, então, respirou fundo e deixou que eles o controlassem.

Bom, seja como for, Austin não estaria no controle de qualquer maneira. Os resíduos da folha de coca assumiriam as suas ações pelos próximos minutos. Essa é a regra do jogo. E Austin escolheu jogar.

O chão do banheiro deixou de ser um incômodo para o garoto. Um efêmero sorriso cresceu em seus lábios. Ora, não se engane, não era Austin sorrindo, era apenas um efeito da substância química que estava dentro de si.

Pelas glândulas suprarrenais uma grande quantidade de Adrenalina é liberada. O hormônio viajava de neurônio a neurônio e pulava bainhas de mielina numa velocidade extraordinariamente impressionante.

Como num piscar de olhos, seu coração acelera num ritmo frenético e assustador. Seu sangue estava mais quente. Seu sangue corria com força pelas minúsculas veias. Seu pulmão cobrava-lhe uma quantidade generosa de oxigênio para alimentar todas as hemácias do seu corpo.

O sorriso volta a nascer em seus lábios, mas dessa vez não o deixou morrer. Oh, a sensação era boa. Realmente boa.

Ao abrir os olhos, o profundo e intenso preto das suas pupilas tomam posse de cada canto da sua íris castanha. Seus olhos poderiam ser assustadores para qualquer pessoa que o visse naquele momento, mas era lindo para Austin. Aquela ‘merda de droga’ – como gostava de se referir à cocaína – está fazendo o efeito esperado por ele.

O garoto apoiou as mãos no ladrilho escorregadio, buscando o impulso necessário para se erguer. O treinador o chamara.

Era chegada a hora.

Agora é tudo ou nada, Austin. Vê se não ferra.

Ao adentrar o espaçoso ginásio da Marino School, seus ouvidos são bombardeados com os gritos eufóricos dos adolescentes que estudavam com ele. Todos clamavam pelo seu nome em níveis ensurdecedores. A luz refletida na piscina era forte, e seus olhos custaram a se acostumar.

Era tudo ou nada, Austin. Tudo ou nada.

O garoto balançava os seus braços e as suas pernas como aquecimento final antes da grande competição. Todos contavam com a sua vitória, ele podia sentir o peso da responsabilidade em seus ombros.

Austin dá pequenos pulos e bate em seu peito, aquecendo-se. Preparando-se. Acalmando-se. Inspirando e expirando profundamente. Sentindo o sangue quente e furioso atravessar o seu corpo. Sentindo a rigidez de cada um dos seus músculos.

Era tudo ou nada, garoto.

Austin sentia-se intocável. Sentia-se implacável. Sentia-se invencível. Sentia-se digno de todas as palmas e gritos que simbolizaram a sua chegada ali. Nada o faria parar.

E, por um curto segundo, um sorriso escapou dos seus lábios. Ele sabia que venceria aquela competição antes mesmo de entrar naquela piscina olímpica. Ah, a autoconfiança proporcionada pela cocaína prestava para alguma coisa, então.

Ao se posicionar em frente a piscina, todos os gritos foram abafados. Todos os barulhos e distrações a sua volta desapareceram. Era somente ele e a água, velhos amigos.

Tudo o que chegava aos seus ouvidos eram as intensas vibrações do coração que saltava fortemente em seu peito, e o ar que ora adentrava ora fugia do seu corpo.

Podia sentir a Dopamina invadir cada neurônio em sua mente, deixando-o anestesiado em sua própria felicidade e excitação. Céus, a sensação era maravilhosa.

O tiro foi dado. E antes mesmo que o som pudesse chegar nos ouvidos dos alunos que o assistiam com expectativa, Austin pulou na água fria da piscina. Mas ele ao menos se deu conta da mudança brusca de temperatura. Seu corpo estava mergulhado em chamas proporcionadas pela cocaína que brilhava em seu sangue.

Cada célula muscular era alimentada pela substância branca que ele havia aspirado minutos atrás. Ela dava a força necessária para que Austin deixasse cada pessoa naquela arquibancada impressionada com o modo com que ele deslizava sobre a água.

Sua consciência estava perdida em algum canto obscuro da sua mente. Mas, bom, isso não tinha qualquer relevância naquele momento. Afinal, Austin abriu mão do controle do seu corpo para que a droga o fizesse ganhar – custe o que custar.

Era assustador e ao mesmo tempo impressionante a velocidade com que Austin se deslocava pelos vários metros da piscina. Oh, meu Deus, parecia até mesmo injusto com os outros competidores dos 100m rasos.

Seus dedos, então, tocam a borda gélida da piscina segundos antes dos outros garotos que nadavam contra ele. A diferença de tempo era gritante, era ensurdecedora. Ele havia ganhado com louvor e com honra.

Seu braço bate com força na água e um grito de comemoração subitamente alcança os seus lábios, rasgando toda a extensão da sua garganta seca.

Ao subir no pódio carregando a medalha dourada em seu peito nu, os gritos voltam a serem ecoados em sua mente. O chão ao seu redor tremia com as explosões de euforia do público que o assistia. Até mesmo os olheiros das faculdades mais prestigiadas do país e os treinadores de clubes famosos o aplaudiam.

Hm, eles estavam impressionados. Sei que estavam.

Um sorriso convencido escapa dos seus lábios. Ele sabia que ganharia antes mesmo da água da piscina cobrir o seu corpo. Ter aquela medalha sobre o seu peito não era uma surpresa.

Eu ganhei essa merda!

Levanto a minha medalha de ouro para o alto e todos os alunos da Marino School parecem explodir numa felicidade pura e genuína comigo. É inevitável conter o riso que insistia em permanecer no meu rosto.

A sensação é maravilhosa.

Eu nasci para isso. Nasci para estar em primeiro lugar. Nasci para ocupar o mais alto espaço no pódio. Nasci para carregar a medalha dourada em meu peito. Nasci para ganhar cada competição.

Eu nasci para ser o melhor.

Eu sou intocável. Eu sou implacável. Eu sou invencível.

Senhoras e senhores, eu sou Austin Moon.


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Notas finais do capítulo

Até que ficou legalzinho né



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