Água-Viva escrita por 4ever Happy


Capítulo 4
Capítulo 2


Notas iniciais do capítulo

Perdão pela demora! O capítulo estava pronto a tanto tempo mas, por alguma questão, decidi reescrevê-lo paragrafo por paragrafo.

Muito obrigada por cada comentário e por cada incentivo, vocês fizeram a minha semana!
Vocês são incríveis!
★★★



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— Quantas vezes eu tenho que dizer que você não deve correr todas as vezes que fica bravinho, Austin?

Oh, Dez havia me chamado pelo nome e não pelo apelido estúpido que ele deu a mim anos atrás, isso não é um bom sinal. Mordo a lateral da minha bochecha, apreensivo. Ele estava bravo comigo, ele realmente estava bravo comigo.

— Bom dia pra você também. – Sorrio de canto. Sento-me na cadeira a sua frente e então observo atentamente os itens do cardápio. Ok, eu estava fazendo isso para irritá-lo, conheço todas as opções da lanchonete e, aliás, já sei o que vou pedir.

— Austin. – Escuto-o bufar alto. Não é preciso olhar para o seu rosto para saber que Dez estava com a sobrancelha arqueada para mim. – Eu estou falando sério. – Ora, como se eu não soubesse.

— Por favor, eu adoraria comer as panquecas. E... – Passo os olhos pelo menu mais uma vez. Olha, eles adicionaram macarronada com queijo na parte do almoço! Ok, isso é novidade. Penso em comentar sobre isso com a garçonete, mas escuto Dez murmurar algo. Certo, ele já estava impaciente o bastante. – Quais são as opções de sucos hoje?

Não custa ver qual é o limite da paciência do ruivo, não é mesmo?

— Você só pode estar de brincadeira comigo, cara. – Ele revira os olhos e em seguida retira o cardápio da minha mão. Parece que encontramos o seu limite, não é mesmo? – Ele quer um suco de laranja. E, para mim, um capuccino, por favor.

— Certo. – A moça faz uma última anotação em seu bloco de notas e então se retira em silêncio.

Conheço Dezmond a seis anos.

Quando estava prestes a me formar no colégio, eu recebia inúmeras propostas de clubes de renome para me treinar. Havia olheiros em meus treinos na escola e em todas as minhas competições, analisando todos os meus desempenhos. As faculdades estavam oferecendo-me bolsas de estudo caso eu mantivesse o ritmo. Mas, depois que saí da clínica de reabilitação, as propostas evaporaram, e eu me vi sozinho.

E Michael foi o único que aceitou ser o meu treinador. Ele foi o único que me deu a oportunidade de continuar nadando, de continuar fazendo aquilo que mais amo.

Por ser filho de Michael, Dez e eu nos tornamos amigos. E, por conhecê-lo tão bem, eu sabia que o ruivo sentado a minha frente me daria um sermão, como sempre faz. Então, tomei a liberdade de me antecipar e mudar o rumo da conversa, como sempre faço:

— Você não vai acreditar no que aconteceu ontem no Aquário...

— Austin, não desvie do assunto principal. – E é claro que ele me cortaria, como sempre faz. – Eu liguei pra você! Liguei várias vezes e você ao menos atendeu.

— Eu deixei o celular no carro. Sabe que não gosto de conversar quando...

— Pare de agir como um adolescente imaturo e irresponsável, droga! – Dez aumenta o seu tom de voz. O barulho do seu punho indo de encontro à mesa me faz estremecer. Odiava quando ele ficava nervoso dessa forma. – Você tem 24 anos, Mônica.

— Não use o meu nome do meio. – Murmuro entre os dentes. Ele sabe o quanto detesto esse nome. Ele sabe e faz de propósito, céus!

— Você não pode ir embora no meio do treino só porque recebeu uma notícia ruim. – Ele levanta o dedo para mim. Meu Deus, odeio quando ele faz isso. – Não pode ir ao Aquário de Miami toda semana só porque é o único lugar que acalma esse seu estresse! E você não pode sair dirigindo feito louco pelas avenidas da cidade só porque teve um dia ruim! Cresce, Austin.

— Dia ruim? – Rio, irônico. Eu não podia estar realmente ouvindo aquilo. – Eu fui rejeitado de novo, Dez! E sabe por quê? Porque eles acham que eu sou um viciado, acham que eu...

— Aja como um adulto, inferno. E eu não me refiro a sair e a transar com qualquer uma. – Dez apoia as suas mãos sobre a mesa, aproximando o seu rosto do meu. Oh, então ele sabia ser intimidador. Cruzo os braços e me encosto no assento para ouvi-lo. – Ou você acha que conseguirá algum patrocínio se continuar agindo dessa forma? Olhe para mim, Austin. Você realmente acha que alguém te patrocinará se você dirigir acima de 100km/h todas as vezes que fica bravo? Isso não é exatamente a atitude que eles procuram.

— Eu acho que...

— Eu sei que é frustrante, ainda mais quando toda a confusão da clínica aconteceu seis anos atrás, mas você tem que parar de agir como o Austin de dezoito anos, cara. Tem que parar de agir como um estudante do colegial. Eu tive que desmarcar algumas consultas com os meus pacientes por causa de um adulto de 24 anos que não atende a merda do telefone! Eu tenho um emprego, Austin, tenho que sustentar a minha família e tenho que pagar as contas. Não posso parar o meu trabalho toda vez que você surtar desse jeito, que droga!

Ele tinha razão. Ele sempre tem razão, o que é uma droga. Dez não mente quando diz que faz sacrifícios por mim, eu mesmo sei do quanto ele abre mão ao deixar de atender como psicólogo para correr ao meu encontro.

E, por mais egoísta que isto possa parecer, eu gostava disso. Gostava de vê-lo bravo por minhas atitudes dessa maneira. Porque mostra que alguém ainda se importa comigo.

Alguém ainda se importava.

Fico em silêncio por um momento, apenas digerindo as suas palavras duras e – por mais difícil que seja admitir – verdadeiras. Mesmo sendo contra a minha vontade, eu merecia cada letra e cada vírgula do seu pequeno sermão.

Dez ainda massageava a sua testa quando os nossos pedidos chegaram. Agradeço às garçonete e então divido as quatros panquecas em dois pratos. Sei que o ruivo não havia tomado café da manhã hoje – ele tinha esse péssimo hábito de deixar de comer quando se sentia ansioso ou nervoso.

— Você não vai acreditar no que aconteceu ontem no Aquário. – Sorrio de canto ao vê-lo revirar os olhos com a minha insistência no assunto. Empurro um dos pratos em sua direção e lhe ofereço os garfos.

— Você é inacreditável. – Ele diz pausadamente. O ruivo respira profundamente e então encosta na poltrona, visivelmente derrotado. Ele sabe que eu não desistiria enquanto eu não lhe contasse. – O que aconteceu, D4?

Por mais que eu não gostasse do apelido que ele havia escolhido para mim anos atrás, permito-me sorrir. Isso significava que ele não estava tão bravo como antes.

— Bom... – Dou uma garfada na minha panqueca. Céus, é deliciosa. – Encontrei uma garota que estudou comigo na escola. – Estico o meu braço sobre a mesa e alcanço o molho doce. Despejo-o pela panqueca e volto a comê-la.

— Uau, que interessante. – Sua risada é acompanhada por uma longa revirada de olhos. Para um psicólogo, Dez costuma ser irônico demais.

— Ela me chamou por um antigo apelido de infância. Foi estranho de ouvir, quer dizer, eu me senti estranho ao ouvi-lo.

— Que apelido?

Mordo os lábios com a sua pergunta. Eu não queria contar a ele. Suspiro profundamente e me encosto de volta na poltrona.

— Peixinho. – Murmuro.

Ok, devo admitir que foi desconfortável vê-lo rir tão alto com a minha resposta. Sei que é um apelido infantil e inocente, mas éramos crianças na época.

— Certo. – Dez bebe um gole do seu capuccino. – E você se sentiu estranho por quê?

— Porque me fez lembrar da época em que tudo era bom para mim, entende? – Mordo o canto da bochecha mais uma vez. Sinto levemente o gosto do sangue metálico em minha boca e então paro. – Me fez lembrar da época em que eu acreditava que tudo era possível. Sinto falta de ser esse Austin.

— Vocês tinham quantos anos?

— Uns doze, por aí. – Deixo um sorriso alcançar os meus lábios ao me lembrar do fundamental. Ally e eu mal conversávamos na escola, mas ela costumava ser divertida. – É engraçado encontrar alguém que conheceu o meu melhor lado e que foi embora a tempo o suficiente para não ver quem eu me tornei. - Brinco com o canudo em meu suco de laranja, ainda tomado pelas lembranças do colégio.

— E quem você se tornou? – Dez arqueou as sobrancelhas para mim.

Abro os meus lábios e então os fecho em seguida. Eu sabia o que o ruivo estava fazendo, e eu não cairia em seu jogo. Não dessa vez.

— Você não é o meu psicólogo, Dez. – Bebo uma quantidade generosa do meu suco e então vejo-o murmurar algo. – Não faça de mim um dos seus pacientes.

— Desculpa, desculpa. – Ele levantou os braços em rendição. – Força do hábito. – Dez ri, sozinho. – Então ela foi embora no último ano?

— Não. – Suspiro. – Ela ao menos chegou a fazer o ensino médio comigo. Ela não me viu nas grandes competições... talvez nem saiba o que aconteceu comigo quando eu me formei.

— E qual é a do apelido fofinho? – Ele morde o lábio inferior, fazendo uma careta estranha para disfarçar o riso preso em sua garganta.

— Cala boca. – Reviro os olhos e sorrio.

— Não, eu estou falando sério. – Dez se ajusta na poltrona da lanchonete. – Tem alguma história por trás? Foi por isso que você se sentiu estranho em relação a ele?

— Bom, tem. – Dou uma última garfada na minha panqueca. Sinto o celular vibrar em meu bolso e então o olho. Céus, eu precisava ir. – Eu adoraria contar a história – Não adoraria coisa nenhuma. – mas tenho treino agora.

— Eu odeio quando você faz isso, cara. – Dez cruza os braços e respira fundo.

— Sabe, eu poderia ficar aqui e conversar sobre isso... – Sorrio de canto ao vê-lo bufar impacientemente. Eu sabia que ele era extremamente curioso e que pensaria sobre a história não contada pelo resto do dia. – Mas hoje eu ouvi um sermão sobre como preciso ser mais responsável. Não posso chegar atrasado no treino, entende?

— Você é particularmente irritante, Austin. – Ele aperta os olhos para mim. Dez finalmente segura os garfos em mãos e corta um pequeno pedaço da sua panqueca. É, ele estava bem, apesar de tudo.

Alcanço a carteira em minha calça jeans e deixo uma nota de vinte dólares sobre a mesa.

— Não deixe o meu pai na mão de novo, D4. – Dez fecha os olhos e suspira pausadamente. – Ele também tem contas a pagar.

Assento positivamente, sério. Eu faria o possível, é verdade, mas não o prometeria nada. Levanto-me da poltrona e caminho em direção à saída.

— Ei, D4. – Viro-me ao ouvir a sua voz e então encontro Dez sorrindo para mim. – Amo você, sabe disso, certo?

— Certo, certo. – Não faço a mínima questão de esconder a revirada de olhos.

— E atenda a merda do seu telefone! – Ouço-o gritar assim que empurro a porta para ir ao estacionamento. Ele é tão irritante, céus.

Antes de deixar a lanchonete por completo, levanto o dedo do meio para o ruivo sentado perto da janela, fazendo-o rir alto.


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Notas finais do capítulo

Já começo as notas finais pedindo desculpas porque provavelmente vou demorar para postar o próximo capítulo ksksksks
O cursinho integral voltou e eu estou usando o tempo livre para terminar de editar uma outra história que iniciei ano passado.

Enfim, espero que tenham gostado!
★★★



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