The Chosen Ones — Chapter One. escrita por Beatriz


Capítulo 7
Sasuke: o verdadeiro rosto do Tigre da Névoa.




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Tenho que admitir que Akemi junto de Gaara formaram uma dupla perfeita contra a águia. Akemi é muito habilidosa e com a ajuda de Gaara eles conseguiram ser rápidos e precisos em seus ataques. Ficou bem claro para muitas pessoas que viram quando ele a salvou de ter uma morte bem feia o clima que teve entre os dois, me pergunto o que Neji, namorado dela, deve ter pensado sobre isso caso ele tenha visto. E ainda continuo me indagando sobre o que existe entre o garoto da areia e a líder Anbu da Folha. Deve ser uma história e tanto.

Contudo, não tenho tempo para pensar em Akemi e em seus supostos namorados. Estou com problemas bem grandes para me distrair com bobagens. Meu primeiro grande problema é ter que trabalhar com a Tigre da Névoa. Não sei onde Kakashi estava com a cabeça quando nos colocou como uma dupla, porém, ao longo dos anos, aprendi que tudo o que ele faz tem um motivo, então sei que devo confiar em sua decisão apesar de não gostar nem um pouco.

Logo depois que o pássaro foi derrotado por Akemi e Gaara, a Anbu da Névoa fez algo que me surpreendeu bastante. Algo que me mostrou que, diferente de muitos shinobis da névoa, ela é uma daquelas que ainda tem um coração. O que ela fez foi algo simples, que qualquer um faria, mas, ainda assim, me pegou de surpresa. O dragão solta fogo novamente pela boca, desta vez na direção de uma criança, um menino de no máximo cinco anos, que, provavelmente, se perdeu dos pais. As pessoas correm de um lado para o outro tentando salvar suas vidas e simplesmente ignoram a criança. Eu estou muito longe para fazer alguma coisa e ela morreria queimada se não fosse pela Caçadora Anbu. A mulher simplesmente se joga em cima da criança no momento exato em que o fogo vem em sua direção. Os dois caem no chão e felizmente nada de grave acontece com o menino. O dragão entra em meu campo de visão, me impedindo de ver o que acontece depois, mas continuo com aquela imagem na cabeça. Até onde sei, os shinobis da Névoa são conhecidos por serem frios e não se importarem muito com nada. Então, por que ela correu o risco de morrer queimada apenas para salvá-lo?

Balanço a cabeça, tentando afastar esses pensamentos. Eu não posso me distrair agora, muitas pessoas estão dependendo de mim. Desembainho minha espada e corro na direção do dragão. Ativo meu sharingan, mas antes que eu consiga sequer chegar perto do animal, algo chama minha atenção. É um movimento. Olho para cima e vejo que a Caçadora Anbu deve ter pulado em algum momento e foi parar em cima do bicho. Com o meu sharingan posso ver claramente todos os seus movimentos, posso até mesmo premeditá-los. Ela se move de uma forma ágil e veloz, acertando o dragão repetidas vezes com kunais. Se eu fosse um shinobi novato ela teria me deixado impressionado.

Desvio o olhar da Caçadora e me concentro no que eu estava fazendo. Faço a minha chidori se fundir com minha espada e sinto a eletricidade correndo de meu braço para a lâmina. Eu tento acertar o animal, mas ele joga sua cauda para cima de mim. Desvio segundos antes de ser atingido e invisto novamente contra ele. Não estou olhando para a Caçadora Anbu, mas sei que ela deve estar fazendo um bom trabalho já que o dragão ainda continua entretido na mesma posição. Eu subo em cima da cauda do animal e enfio minha espada na base de sua costa. O dragão se debate e se eu não tivesse um controle muito bom de chakra teria sido jogado longe.

— SASUKE!

O grito chega até o meu ouvido, tirando minha atenção por alguns segundos. É a Caçadora Anbu. Cometo o erro terrível de olhar para cima e sou arremessado longe pelo dragão. Dou de contra com o muro de uma casa, quebrando o mesmo. Sinto todos os ossos do meu corpo estalarem e solto um gemido de dor. Ela estava tentando me avisar sobre isso? Obrigo meu corpo a ficar de pé e corro novamente para o dragão. Entretanto, a cena que vejo no meio de toda a confusão me faz parar subitamente.

 A Caçadora Anbu está de pé na frente do dragão. Sangue escorre por seu braço, mas ela não parece sentir dor. O braço ferido está esticado na direção do dragão e seu corpo inteiro está retesado. Nem ela e nem o dragão se mechem. Eles estão a apenas alguns passos de distância. Os dois estão cara a cara e vapor sai das narinas do dragão, atingindo-a, mas ela não parece se incomodar. Franzo o cenho. O que será que ela está tentando fazer e como diabos ela está fazendo isso? Os shinobi ao redor dos dois param por um momento e apenas observam, eles parecem tão confusos quanto eu. A líder Anbu dá apenas dois passos para frente e encosta na cabeça do animal. Este movimento é mais do que suficiente para mim. Ela deve ser algum tipo de louca suicida e não vou deixar que morra bem debaixo do meu nariz. Embainho minha espada novamente e vou correndo até ela e o dragão. Quando já estou perto o suficiente uso o meu jutsu mais famoso.

— Estilo fogo: — grito. — jutsu bola de fogo. 

Antes que o fogo atinja a caçadora Anbu eu a empurro para o lado com um braço e o meu jutsu apenas atinge a cabeça do dragão que levanta rugindo tão alto que sinto meus tímpanos vibrarem. Pelo canto do olho posso ver o Tigre da Névoa atordoada no chão com o empurrão que lhe dei. Ela ajeita sua máscara no rosto e se levanta mais rápido do que eu esperava. Ela passa correndo por mim, mas antes que se afaste completamente eu a escuto sussurrar:

— Seu imbecil.

Cerro meus punhos. Ela acabou de me chamar de imbecil? Até onde sei eu acabei de salvar sua vida e é assim que ela me agradece? Mal agradecida, penso e corro para o lado dela. Nós dois estamos bem machucados, mas o dragão não está em um estado melhor que o nosso. A Caçadora Anbu e eu ficamos lado a lado e me surpreendo quando ela me chama novamente pelo nome.

— Sasuke — ela diz e eu viro o rosto para encará-la. Seus olhos verdes encontram os meus e novamente a sensação de conhecê-la toma conta de mim. Tento ignorar isso e focar no que quer que ela tenha para me dizer. —, eu acho que sei como acabar com essa coisa, mas realmente preciso da sua ajuda. Será que pode seguir minha liderança?

Fico um pouco hesitante, mas concordo com a cabeça mesmo assim. Em momentos como este não posso me dar o luxo de escolher quem vai ser meu aliado, então concordo em fazer o que ela pede. A garota assente também e enquanto o dragão está distraído com outros shinobi ela me conta o que tem em mente o mais rápido que consegue. Entendo tudo rapidamente e tenho que admitir que é um bom plano. Lado a lado, nós dois corremos na direção do animal e eu torço para isto dá certo.

A primeira parte do plano é bem fácil de fazer. Quando estamos a alguns metros de distância do animal, nós seguramos a mão um do outro. Quando nossas palmas se tocam percebo que ela nem treme, não está nervosa como uma novata estaria e admiro sua concentração. Depois que estamos de mãos dadas, continuo seguindo com o plano. Eu aperto um pouco sua mão para que eu não a deixe cair e a puxo para mim. A Caçadora Anbu vem para a minha frente e nós dois pulamos. Vamos tão alto que ficamos cara a cara com o dragão. Nós nos afastamos e, usando toda a força que eu consigo encontrar dentro de mim, eu a lanço no ar. Ela voar por cima da cabeça do animal e durante o processo tira um pergaminho de algum lugar dentro de sua capa Anbu. Ela o abre e com rapidez faz surgir dele uma shuriken de cinco pontas imensa, tão grande que me pergunto se ela realmente é capaz de segurar isso. Ela me prova que é mais do que capaz.

Ainda no ar, ela segura a shuriken com as duas mãos e seus olhos encontram os meus. Entendo exatamente o que tenho eu fazer. Pego minha espada novamente e faço a minha chidori se fundir à lâmina. Assentimos um para o outro e, antes que o dragão tenha tempo de soltar fogo pela boca, nós dois o atingimos com nossas armas. As coisas acontecem tão rápido que mal tenho tempo de assimilar tudo. Porém, antes que o animal desapareça, um de seus braços acerta a Caçadora Anbu em cheio e ela sai voando pelos ares. Arregalo os olhos e ponho minha cabeça para funcionar. Com a velocidade que ela está, não importa no que ela irá atingir, seu destino será apena um: a morte.

Impulsionado por algo que não faço ideia do que seja, uso todo meu treinamento ninja para chegar até ela antes que ela acerte o chão. E quando ela está a poucos metros do local de impacto eu consigo pegá-la. Seu corpo vem de encontra aos meus braços com tanta força que perco o ar por alguns segundos. Eu e a levo em segurança até o chão e posso sentir que seu corpo inteiro está tremendo.

No momento em que meus pés encostam no chão, olho para o rosto dela. A máscara, que já está trincada, se quebra no exato momento em que nossos olhos se encontram. Por um momento tudo parece ficar em câmera lenta. Quando meus olhos encontram os dela, vejo que, assim como eu, ela também está com o sharingan — porém o mais evoluído: o mangekyou. E assim que sua máscara cai em pedacinhos no chão, a visão do rosto dela me faz perder o fôlego. Não posso acreditar em meus próprios olhos. Depois de tantos anos... Eu pensei que ela estivesse morta e agora ela está aqui, em meus braços. Como isso é possível?

— Sayuri... — digo baixinho, sem acreditar no que meus olhos veem.

Seus olhos estão tão arregalados quanto os meus. Ela segura com força o tecido de minha camisa e, no momento que sinto o toque dela, meu mundo inteiro desaba. Nós ficamos nos encarando por apenas alguns segundos, mas juro que parecem horas. E teríamos ficado mais tempo assim se não fosse por Naruto. Ele nos surpreende quando se joga em cima da gente e nos envolve em um abraço. Quando ele se afasta, deixo Sayuri no chão. Ela desvia o olhar do meu, mas não consigo tirar meus olhos dela. Ainda não consigo acreditar no que estou vendo.

— Ah, cara, nem acredito que é você mesmo, Sayuri — Naruto diz, quebrando o silêncio. — Eu quase não acreditei no que eu vi ali de longe!  Pensei que você estivesse morta e... Uau! É você mesmo. Como pode? — ele coloca as mãos na cintura, admirando-a. — Eu nem reconheci você quando chegou aqui na vila. Você cresceu! E está bonita. Nossa. O que aconteceu com você?

— Err... — ela dá um sorrisinho sem graça. — E aí, Naruto. Quanto tempo, não?

— Nem acredito que o Time 7 está junto de novo — Naruto a envolve em um abraço novamente. — É tão bom te ver, Sayuri. Devíamos ir comer lámen para comemorar. O que acha, Sasuke?

Alguns segundos se passam até que eu perceba que Naruto está falando comigo. Desvio o olhar de Sayuri para encarar Naruto, ele está com um sorriso enorme no rosto, nem parece que a vila acabou de ser atacada por dois monstros, e espera minha resposta com expectativa. Até Sayuri me encara também. Será que ela está esperando que eu aceite o convite?

— Não posso — digo, agradecendo mentalmente por não ter gaguejado. — Eu tenho... — tento pensar em uma desculpa. Nada me vem à mente. — coisas para resolver. A gente se vê por aí, Naruto.

Embainho minha espada que estava caída ao meu lado e meu olhar encontra o de Sayuri novamente. O verde voltou e o sharingan sumiu, mas não consigo esquecer aquela imagem. Ela estava exatamente igual como era anos atrás quando éramos mais novos. Assim como Naruto disse, ela realmente cresceu alguns centímetros a mais, mas foi apenas isso que mudou. Apesar de ter feições de mulher adulta agora, ela ainda continua exatamente igual. Não suportando mais o peso de seu olhar, desvio o meu e dou as costas para o meu antigo time.

Quando já estou longe o suficiente deles dou uma olhada em minhas mãos, vejo que estão trêmulas. Continuo andando e passo perto de Kakashi que está ajudando com alguns feridos. Eu trinco o maxilar e vou até ele. Sem esperar que ele perceba minha presença, eu o seguro pela gola de seu colete de jounnin e o levanto bruscamente. Ele se assusta, mas não parece surpreso. Lembro de horas atrás quando entrei em seu quarto e ele estava com uma mulher. Na hora eu não a reconheci por causa da pressa em que eu estava, mas agora sei que era Sayuri, nua, em sua cama.

— Por que você não me disse que ela tinha voltado? — pergunto, jogando-o contra um muro.

Eu cerro o punho e tento dar-lhe um soco, mas Kakashi segura meu braço, parando meu movimento.

— Não tive tempo, Sasuke — ele diz. — E, pra ser sincero, a identidade dela não era da sua conta.

— Eu tinha o direito de saber que ela estava viva! — quase grito, mas consigo controlar minha voz. — Você sabia que ela estava viva todos esses anos? — ele não responde e percebo o "sim" estampado em sua cara. Minha raiva apenas arde mais intensa dentro mim. — POR QUE NÃO ME DISSE NADA?

— Para que, Sasuke? — ele franze o cenho. — Para você atacá-la como está fazendo comigo agora?

— Argh! — eu me afasto dele. Estou com tanta raiva que enxergo tudo vermelho. Neste exato momento eu seria capaz de matar alguém. Dou as costas para Kakashi, mas antes que eu dê um passo sua voz me faz parar.

— Vá até o meu escritório às oito da noite, tem umas coisas que preciso falar.

Não respondo nada, apenas saio andando a mais rápido que posso. Caminho entre as pessoas, esbarrando em umas e desviando de outras. Não escuto quando falam comigo e me parabenizam por ter acabado com o dragão. Essas pessoas pouco me importam agora. De alguma forma chego em meu apartamento e quando tranco a porta atrás de mim, escorrego até o chão, sentando-me no mesmo. Estou com alguns machucados pelo corpo, mas nada que seja realmente preocupante e mal sinto a dor. A única coisa na qual consigo pensar é em Sayuri e no fato de que ela está viva.  

Levanto-me do chão e começo a tirar minha roupa. Jogo tudo em cima da minha cama e quando estou completamente nu vou para o meu banheiro e entro na banheira cheia. A água morna em contato com minha pele serve como um anestésico e todas as dores que sinto parecem bem longe agora, menos uma. Levo uma mão até meu peito e sinto meu coração bater. A dor neste local não desapareceria nem com morfina. Fecho os olhos, afundo na banheira e fico submerso debaixo d’água. Deixo o silêncio tomar conta de mim e tento afastar Sayuri de meus pensamentos, mas é em vão. A primeira coisa que me vem à mente são os olhos dela fitando os meus, seu rosto corado pelo esforço. Ainda posso sentir seu corpo tremendo em meus braços e seu toque em minha camisa. Ela cresceu, se tornou uma mulher e ficou tão linda que mal consegui desviar o olhar dela. Algo dentro de mim queria poder continuar tocando-a, mas eu sabia que não podia, que não era certo. Sayuri, sussurro o nome dela em meus pensamentos.

 A falta de ar começa a me incomodar e sem qualquer aviso o rosto de Sayuri some da minha mente. O que vejo agora é ela na cama de Kakashi. Os dois deitados ali e ele acariciando-a, passando as mãos pelo corpo dela e possuindo-a da maneira mais íntima que alguém possa pensar. Eu visualizo o rosto corado dela, a boca aberta e os olhos fechados, seus dedos puxando os lençóis e seu copo se contorcendo de prazer... A falta de ar chega ao limite e levanto com tanta rapidez que espalho água por todos os cantos. Ofegante, saio da banheira e me encaro no espelho do banheiro. A água de meus cabelos pinga em meus ombros e deslizam pelo abdômen. Sinto frio instantaneamente, mas não me importo. Ainda posso ver Sayuri na cama de Kakashi e isso me enche de ódio. Antes que eu possa me conter, soco o espelho na minha frene, quebrando o mesmo e enchendo meu punho de cacos. Não ligo para a dor. Na verdade, não consigo nem senti-la. Solto um suspiro, fecho os olhos e abaixo a cabeça.

— Droga, Sasuke — sussurro para mim mesmo no silêncio do banheiro. — O que você vai fazer agora?

—x—

  Passo o resto do dia trancado em meu apartamento. Não faço ideia do que aconteceu depois que os animais foram derrotados. Mas imagino que a aldeia tenha mergulhado em um alerta nível máximo e que Kakashi, junto de outros shinobis, ainda estariam fazendo o possível para descobrir quem invocou aqueles bichos. O que quer que tenha acontecido não me diz respeito. Durante a tarde tento me distrair com alguma coisa, mas tudo parece sem graça para mim e a minha paciência está por um fio agora. 

Às oito horas da noite me lembro do que Kakashi disse e me pergunto se é uma boa ideia ir até o escritório dele. Será que Sayuri estará lá também? E o que ele poderia ter para falar? Decido que só terei essas respostas se for até lá. Visto minha roupa ninja e saio do apartamento.

Como eu imaginava, a aldeia está vazia. Todas as pessoas estão trancadas dentro de casa com medo demais para sair nas ruas. Não as culpo, eu também ficaria com medo se não tivesse acostumado com esse tipo de coisa. As ruas estão desertas e escuras, as casas estão com as luzes apagas e único barulho que posso ouvir é o do vento. A única coisa que parece cheio de vida é o prédio do Hokage. As luzes estão ligadas e posso ver, pelas janelas, pessoas andando para lá e para cá dentro da construção.

Subo as escadas sem pressa alguma e quando adentro o prédio quase dou de contra com Shizune. Ela passa por mim como um furacão, carregando papéis e quando percebe que quase esbarrou em mim grita um pedido de desculpas e segue seu caminho. Sem me importar com ela continuo o meu próprio. Paro de frente para a porta do escritório de Kakashi e demoro alguns segundos para abrir a porta. Que ela não esteja aqui, por favor, peço mentalmente. Como de costume, meu pedido não é entendido. E o primeiro rosto que vejo dentro da sala é o de Sayuri.

Enquanto fecho a porta atrás de mim dou uma boa olhada nela. Ela está com curativos no braço e seus cabelos estão presos em um rabo de cavalo. Quando seus olhos encontram os meus, desvio o olhar e observo as outras pessoas na sala. Além de Kakashi, Sayuri e eu, vejo que estamos acompanhados por Akemi e Gaara também. A líder Anbu da Folha está tentando se manter tão longe do ruivo que está quase subindo na mesa do Hokage, enquanto o menino está parado perto da parede, de braços cruzados e com uma cara de poucos amigos. Diferente de Sayuri que só tem um curativo no braço, Akemi está cheia de deles. Tem um na cabeça, um no pulso, na bochecha e nos dedos das mãos. Seus cabelos escuros estão úmidos e é a única que não está usando roupa ninja. Está usando uma roupa comum, provavelmente tomou um banho no hospital enquanto tratavam dela. Pelo canto do olho percebo que Gaara não tira os olhos dela, parece que se ele desviar o olhar por um segundo ela pode desaparecer. Sei que Akemi já percebeu isso, mas ela não parece nem um pouco interessada em encarar o garoto de volta.

— Já que estamos todos aqui podemos começar — Kakashi diz. Ele está usando a roupa de Hokage e está sentado em sua cadeira. No momento em que escuto sua voz sinto uma raiva crescer dentro de mim, mas digo a mim mesmo para me controlar. — Eu chamei vocês quatro aqui para comunicar sobre uma decisão que tomei — ele continua.

— Que decisão? — Sayuri pergunta, do outro lado da sala.

— Bem, hoje seria o dia em que todos que vieram de outras aldeias, como Gaara e Sayuri, voltariam para casa. Entretanto, tivemos este contratempo e as coisas ficaram bem complicadas. Então, eu tomei a liberdade de mandar uma carta para os outros Kages explicando a situação — Kakashi faz contato visual com todos nós. — E juntos achamos que, diante disso tudo, a melhor opção seria os shinobis das outras aldeias ficarem aqui para ajudar no que for preciso.

Por alguns minutos ninguém fala nada. Tento não olhar para Sayuri então olho para Akemi. Seus olhos estão tão arregalados que poderiam pular para fora a qualquer momento. Sei que ela não está nem um pouco feliz em saber que Gaara ficará na mesma vila que ela. Cruzo os braços na frente do peito, se eu não soubesse esconder minhas emoções estaria do mesmo jeito que ela. Sayuri aqui? Isso é impensável.

— Por quanto tempo ficaríamos? — a voz de Gaara quebra o silêncio. Todos nós olhamos para ele, pois como não é um cara de muitas palavras não esperávamos que ele fosse falar alguma coisa.

— O tempo que eu achar necessário — Kakashi responde. Percebo um pouco de hostilidade em sua voz, me pergunto o motivo. — E Gaara, enquanto você estiver por aqui, aconselho você andar na linha ou não vai gostar das consequências.

Meus olhos se arregalam um pouco. Andar na linha? Será que em apenas um dia ele tinha aprontado alguma coisa? Viro a cabeça para encarar o garoto da areia. Ele ainda está de braços cruzados e com uma cara fechada, mas agora está com o cenho franzido. Gaara segura o tecido de sua roupa com força, amassando-o entre os dedos. Eu sei exatamente o que está acontecendo com ele, está cheio de raiva.

— O Mizukage concordou com isso? — Sayuri pergunta, posso escutar algo parecido com surpresa em sua voz. Kakashi assente, concordando. — Não é possível — ela sussurra.

— Hokage-sama — é a vez de Akemi falar. Ela sempre o tratava com mais respeito na frente de outras pessoas. —, é realmente necessário que todos eles fiquem aqui? Quer dizer, tenho quase certeza de que eles têm seus próprios afazeres em suas vilas.

— Entendo o que quer dizer, senhorita Senju — Kakashi a encara. — Mas depois do que aconteceu precisaremos de toda a ajuda que conseguirmos encontrar caso outro ataque venha acontecer novamente. Não podemos arriscar.

— Mas aqui na Vila da Folha já tem muitos shinobis que são bons, por que precisaríamos de mais? — ela pergunta. Parece impaciente e cheia de vontade de fazer Kakashi mudar de ideia.

— Akemi, por acaso você tem alguma coisa contra a estadia deles aqui? — Kakashi semicerra os olhos.

— Não, mas... — ele a interrompe.

— Então assunto encerrado.

A boca de Akemi forma um O, depois ela cruza os braços e parece um pouco irritada, mas não diz mais nada. Ela vira o rosto por um momento e acaba devolvendo o olhar que Gaara está lançando para ela. Quando seus olhos se encontram, ela o desvia rapidamente e abaixa a cabeça. Posso ver que suas bochechas coram. Será que eles são os únicos que não percebem que a tensão entre eles é quase palpável?

— Bom, isso é tudo — Kakashi diz, recostando-se em sua cadeira. — Ainda estou finalizando algumas coisas, mas assim que tiver mais novidades comunico à vocês. Akemi, Sasuke — ele nos chama. — Como vocês moram aqui, por favor, façam nossos convidados se sentirem a vontade. Os ajudem no que for preciso. Reunião encerrada. Podem ir agora.

Akemi é a primeira a se dirigir na direção da porta. Vejo claramente a raiva estampada em seus olhos, mas também posso ver que está triste. Ela e Gaara se encontram na frente da porta e os dois levam a mão até a maçaneta, as duas se tocam, mas Akemi afasta a dela como se tivesse levado um choque. Gaara olha para ela por alguns segundos, mas logo desvia o olhar e abre a porta. Sayuri e eu ficamos observando a interação dos dois com a mesma expressão de tédio no rosto.

Nós quatro saímos e olho para Sayuri pelo canto do olho. Ela passa a mão no rosto e caminha para longe sendo seguida por Gaara. Porém, antes que eles sumam de vista, Sayuri faz algo que me pega de surpresa. Ela avança para cima do garoto ruivo e o prensa contra a parede. Segundos depois ela o acerta com um soco. Me pergunto porque a areia não o protegeu e imagino que é porque a cabaça em suas costa ainda está fechada com uma rolha. Bem, de qualquer forma, ela tem muita coragem de atacá-lo assim sem nenhum motivo. Qualquer pessoa sensata sabe que não é bom mexer com alguém como ele.

— Isso é pelo o que você fez no baile de máscara — Sayuri diz. — Se você me tocar daquele jeito de novo eu juro que um soco não vai ser a única coisa que você vai ganhar.

Ela o solta bruscamente e começa a se afastar. Desvio meu olhar de Sayuri para Gaara. O garoto está com uma expressão demoníaca no rosto. Ao meu lado, Akemi, assustada, cobre a boca com a mão. O garoto da areia se desencosta da parede e começa a andar na direção de Sayuri. Não entendo o que está acontecendo até Akemi deixar um gritinho escapar por entre seus dedos. Ela começa a correr antes mesmo que eu tenha tempo de impedi-la. Gaara leva uma mão até a rolha que mantém sua cabeça fechada, ele está de costas para mim, mas posso imaginar claramente como está seu rosto. Akemi chega até ele rapidamente, ela vai para a frente do garoto e coloca suas mãos nos ombros dele. Neste momento Sayuri percebe o que está acontecendo e vira-se de frente para a confusão. Nós dois observamos Akemi e Gaara agora. A garota aperta os dedos nos ombros de Gaara, o que o faz parar sua mão no meio do caminho. O corpo dele se enrijece e imagino que ele está tão assustado quanto eu. Akemi levanta a cabeça e encara o ruivo.

— Não faça isso — ela sussurra, mas não estou tão longe assim deles então consigo ouvi-la. — Por favor, Gaara. Não faça isso.

Passam-se alguns segundos antes do braço de Gaara que estava indo até a rolha cair ao lado de seu corpo. O garoto levanta uma mão e tenta tocar o rosto de Akemi, mas ela simplesmente se afasta dele. Ela o contorna e volta andando para o meu lado. Imagino que eu seja a última pessoa na face da terra que Akemi gostaria de estar ao lado agora, mas entendo que sou a única pessoa aqui que mora na mesma aldeia que ela então, de certa forma, ela ainda confia mais em mim do que em nos outros dois presentes. Sinto que estou sendo observado por alguém e tiro meus olhos da líder Anbu da Folha apenas para encontrar os olhos verdes de Sayuri me observando. Ela parece tão confuso quanto eu com o que acabou de acontecer, mas desvia o olhar rapidamente e vai embora. Gaara vai logo atrás, mas acredito que não tentará mais nada demais. Deixo um suspiro escapar.

Ao meu lado, vejo Akemi tremer um pouquinho. O que quer que tenha acontecido entre ela e Gaara, deve ter sido algo bem horrível para que ela não o deixe nem chegar perto. Eu a entendo: passado difícil com pessoas que simplesmente ressurgiram do nada. Não tinha como nossa vida estar mais parecida. 

— Você está bem? — pergunto.

— Eu queria que ele fosse embora — ela diz, sem olhar para mim. Nem hesita com as palavras. Ela definitivamente não quer ficar perto de Gaara. Entendo como se sente, afinal não é como se eu quisesse ficar perto de Sayuri. — Por que o Hokage está fazendo isso? Não é justo!

— Bem, Akemi, a vida não é justa — digo, colocando uma mão em seu ombro. Ela levanta o rosto para me olhar. — Mas a gente tem que viver mesmo assim. Você só precisa... Sabe, fingir que ele não existe.  

— Não sei se isso é possível, Sasuke. Ele simplesmente parece estar em todos os lugares.

Suspiro novamente e tiro a mão do ombro dela. Meu deus, como as coisas podiam ser tão iguais para nós dois? Eu me sinto exatamente do mesmo jeito com Sayuri. 

    Passam-se alguns segundos depois que Sayuri e Gaara deixaram o prédio do Hokage. É um intervalo curto de tempo, mas é o suficiente para que Akemi se acalme. Por educação pergunto se ela quer que eu a acompanhe até sua casa, ela agradece, mas diz que ainda precisa conversar sobre algo com Kakashi. Não insisto mais, ela se despede de mim e volta para o escritório do Hokage.

Sem ter mais o que fazer nesse prédio, começo a caminhar para a saída. No meio do caminho alguns jounnis me cumprimentam e eu os respondo de volta cordialmente. Do lado de fora sou recebido pelo vento frio da noite, bagunçando meus cabelos. Caminho na direção aposta do meu apartamento, pois não sinto vontade nenhuma de dormir e acredito que eu ainda tenha que pensar em algumas coisas.

O primeiro pensamento que toma conta de minha mente é mais uma lembrança que um pensamento propriamente dito. Lembro-me do momento em que Sayuri socou Gaara no rosto. Ele não hesitou em revidar e, quem sabe, até matá-la. Ele não teria tido piedade. Mas então Akemi se envolveu. Deu para ver claramente que no momento em que ela colocou as mãos nos ombros dele algo o impediu de continuar. Quando vi isso a primeira pessoa em que pensei foi Sayuri. Lembro-me que no segundo em que descobri sua identidade senti algo forte dentro de mim, algo que ainda não consigo explicar ou nomear. Mas me pergunto se ela teria a mesma influência em mim como Akemi tem sobre Gaara. Eu sinceramente espero que não.

Meus pensamentos são interrompidos quando vejo duas pessoas à minha frente. Eles estão a alguns metros de mim, mas consigo reconhecer o cabelo da mulher imediatamente. Quando os fios rosa entram em meu campo de visão sei que é Sayuri quem está ali. E para minha surpresa, ela está nos braços de Kiba. Por que ele?, pergunto a mim mesmo. Horas atrás ela não estava na cama de Kakashi? Kiba a segura pela nuca e a puxa para perto de si, encerrando instantaneamente a conversa que estão tendo. Ele junta seus lábios e o beijo dura alguns segundos, mas é o suficiente para que eu sinta algo crescer dentro de mim. Algo forte e que me atinge de uma forma profunda. Cerro os punhos e franzo o cenho. Por que esse cara também?, pergunto a mim mesmo.

É só no momento em que Sayuri se afasta que consigo respirar direito novamente. Ela se despede dele e vai embora. Não hesito em ir até Kiba. O surpreendo quando o seguro pela gola de sua jaqueta e o pressiono contra uma árvore. Ele arqueja e quando me reconhece trinca o maxilar e assume uma expressão de pura raiva. Não me importo nem um pouco com o que ele está sentindo e o prenso um pouco mais. Minha raiva é tão grande que sinto vontade de matá-lo agora mesmo.

— Qual é o seu lance com a Sayuri? — pergunto, baixinho. — Você sabia que ela estava viva?

Kiba usa toda a força que tem para me afastar de si, ele me empurra para trás bruscamente e mesmo contrariado decido manter distância. Quando estou com raiva não consigo ter controle de minhas ações e não quero nem pensar no que eu seria capaz de fazer se minhas mãos entrassem em contato com o pescoço desse cara. Kiba ajeita sua roupa e sou surpreendido com a presença de Akamaru. Minha expressão não muda, pois não será por esse vira lata que serei intimidado.

— Não que seja da sua conta — Kiba diz, acariciando a cabeça de seu cachorro para que ele se acalme. —, mas sim, eu sabia. E o que eu tenho com ela não diz respeito a você, então para de se meter!

As palavras dele me atingem com uma força incrível. Então ele sabia sobre ela, assim como Kakashi sabia... Quantos mais sabiam disso e não tiveram a coragem de me contar? Cerro os punhos. Odeio ser feito de idiota e odeio ainda mais ser feito de idiota por meus próprios companheiros ninja. A raiva cresce ainda mais dentro de mim; não é ciúmes nem nada do tipo. É apenas raiva daquela garota estar viva e do meu próprio sensei ter escondido isso de mim. Penso em descontar tudo o que estou sentindo no garoto que está a minha frente e até começo a colocar isso em prática, mas um barulho alto me impede.

É como se algo estivesse desabando ao longe. Rapidamente minha raiva é substituída por preocupação. Será que estão atacando a aldeia de novo? Esqueço do que estou sentindo em relação a Sayuri por alguns minutos e ando lado a lado com Kiba e Akamaru até o foco do barulho. Nós corremos na direção dos prédios residenciais e sinto meu coração bater em meus tímpanos. Será que é mais um ataque? A essa hora? Bem, se for e o plano deles for nos pegarem desprevenidos eles acertaram em cheio. Não demora muito para que eu confirme que minhas suspeitas estavam erradas.

Não é um ataque, pois, ao invés das pessoas estarem correndo para se proteger, eles estão apenas se aglomerando aos poucos ao redor de alguma coisa. Kiba e eu diminuímos a velocidade e começamos a abrir caminho entre a multidão. À minha frente não vejo nada de muito alarmante. O que causou o barulho foi um pedaço de concreto que se desprendeu de alguma construção. Começo a respirar aliviado até sentir Kiba me cutucar no ombro, olho para ele e vejo que o mesmo está olhando para cima com um cara de susto que eu imito segundos depois. O pedaço de concreto se desprendeu de um apartamento, deixando um buraco grande e feio e expondo o interior do lugar. Porém não foi um apartamento qualquer. Foi o de Akemi.

Usando nosso chakra, Kiba e eu pulamos até o apartamento e entramos pela abertura. O apartamento está destruído não apenas na parede, mas no interior também. As coisas de Akemi estão todas reviradas e quebradas. Me pergunto o que ela pensará disso quando ver o que aconteceu por aqui. Rapidamente Kiba coloca Akamaru para trabalhar com seu focinho para tentar descobrir quem fez isso pelo cheiro, não demora muito para o cachorro vir até nós choramingando alguma coisa para o dono.

— O que foi? — pergunto, sabendo que Kiba entendeu o animal.

— Akamaru disse que isso não aconteceu agora — ele me encara. — Para ser mais exato aconteceu no mesmo momento em que a vila foi atacada mais cedo.

— Só pode ser brincadeira — resmungo.

Começo a andar pelo apartamento destruído e algo me chama atenção. Um pano está preso em uma das pontas protuberantes que ficou depois que a parede cedeu. Vou até lá e me agacho para pegar o tecido. É de um vermelho brilhante com algumas aspirais pequenas bordadas em um tom negro. Franzo o cenho. É tecido de uma roupa. Olho para o horizonte; Akemi fica quase no último andar de seu prédio e daqui posso ver o topo das árvores. Sinto um frio percorrer minha espinha e arrepiar os pelos de minha nuca. Então quem quer que tenha invocado aqueles monstros para atacar a aldeia esteve aqui também e, por algum motivo ainda desconhecido, está atrás de Akemi.

— Kiba — chamo, ficando de pé. O garoto olha para mim. —, vamos embora. Não tem nada que possamos fazer aqui. Temos que avisar Kakashi sobre o ocorrido e Akemi também. Acredito que ela está correndo sério perigo

 


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