The Chosen Ones — Chapter One. escrita por Beatriz


Capítulo 8
Akemi: a missão.




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Quando volto para o escritório de Kakashi ele tira os olhos de uns papéis que está lendo e se surpreende quando me vê. Primeiramente não entende o que estou fazendo ali de novo e o deixo ainda mais confuso quando começo a revirar uma estante na qual coloquei os papéis que trouxe assim que Kakashi me chamou para conversar sobre Gaara e Sayuri. Eu praticamente cheguei junto deles e enquanto esperávamos Sasuke eu coloquei os papéis imperceptivelmente na estante. Percebo que minhas mãos estão tremendo enquanto procuro os papéis, mas me obrigo a esquecer o que acontecera no corredor minutos atrás e me focar no que estou fazendo. Solto um suspiro de alívio quando encontro a pasta. Volto minha atenção novamente para o Hogake e ele me encara com uma sobrancelha erguida.

— Posso saber o que você faz aqui revirando minha sala como se eu não estivesse presente? — Kakashi me pergunta, franzindo o cenho.

— Desculpe por isso — digo, dando um passo a frente. — Eu trouxe esses papéis quando o senhor me chamou e os deixei aqui para falar sobre eles com você depois.

— Que papéis? — ele pergunta, interessado.

Caminho até sua mesa e deixo as folhas na sua frente. É o relatório da missão que três Caçadores Anbu participaram, mas que não me deixaram ciente. Kakashi analisa tudo com atenção e eu fico calada esperando o que ele terá para falar. Os três Caçadores não colocaram seus nomes nos papéis e isso me preocupa. Será que é algo tão sério a ponto deles não quererem se identificar para não criar problemas? O relatório não diz muito sobre a missão ou sobre o que eles estavam fazendo, então estou no escuro quanto a isso. A única coisa da qual posso ter certeza é que eles estavam procurando alguém, mas não tiveram êxito, ou seja, foi um fracasso. Não sei como me sinto em relação a isso, mas provavelmente é com raiva por eles terem a obrigação de se reportarem a mim quando forem sair em uma missão e não terem feito.

Quando Kakashi termina de ler, levanta a cabeça e me encara sem expressão nenhuma no rosto. Sinto meu coração dar um pulo no peito. Será que ele está achando tudo isso um absurdo e vai dizer que eu sou uma líder incompetente e que não merece esta posição e que eu não tenho controle dos meus próprios Caçadores e... Meus pensamentos são interrompidos quando ele leva dois dedos até a ponte do nariz e o aperta. Ele parece cansado. Sinto um pouco de pena, ser Hokage não deve ser nada fácil.

— Os três trabalharam nisso escondido de você? — ele pergunta. Balanço a cabeça, concordando.

— Olha, Kakashi, não quero que eles se metam em problemas, quem quer que seja — o encaro. — Eu só trouxe esses papéis até aqui porque é o certo a se fazer. Sim, é verdade que eles não me deixaram a par disso, mas eu confio plenamente nos meus Caçadores e sei que tiveram um bom motivo para fazerem isso. Todos são muito bem treinados e muito leais ao Hokage então... — ele me interrompe, erguendo uma mão. Me calo na hora.

— Akemi, respire um pouco, tudo bem? — ele suspira. — Eu não vou fazer e nem mandar você fazer nada que possa prejudicar a vida desses três na Anbu. Fique tranquila. A única coisa que eu quero que você faça é ficar de olho para ver se você descobre quem são essas pessoas e se tiver a sorte de descobrir, eles vão ir nessa missão sigilosa de novo com certeza, então quero que você os siga e descubra quem eles estão procurando. Entendeu?

— Sim, senhor — digo.

— Esses papéis vão ficar comigo — ele diz, voltando a se concentrar no que estava lendo quando eu entrei. — Você pode ir agora. Vá descansar, o dia foi longo.

Faço uma reverência e começo a me dirigir até a porta. Pela primeira vez sinto o cansaço tomar conta do meu corpo e minhas pálpebras começam a ficar pesadas. A única coisa na qual consigo pensar é em chegar em casa, deitar na minha cama e dormir por uma semana. No momento em que estico a mão para girar a maçaneta a porta é aberta subitamente e teria me acertado em cheio se eu não tivesse dado um pulo para trás no momento certo. Todo o meu sono se dissipa. A porta faz uma abertura de 180 graus e bate com força na parede, o que faz Kakashi se sobressaltar em sua mesa. À minha frente vejo Kiba e Sasuke. Eles estão ofegantes como se tivesse corrido uma maratona.

— Que bom que ainda está aqui, Akemi — Kiba diz, entrando e sendo seguido por Sasuke e Akamaru. — Você vai querer ouvir o que temos para falar.

— Que diabos vocês estão fazendo aqui? — Kakashi diz, nervoso. — Vocês estão tentando colocar o prédio abaixo? Fechem a droga dessa porta!

Eu fecho a porta atrás de mim ainda assustada com a entrada brusca dos dois ninjas. Sasuke vai até a mesa de Kakashi e deixa ali em cima um tecido vermelho com aspirais pretas. Kiba fica ao meu lado e me lança um olhar incisivo com suas pupilas em formato de fendas que não entendo nem um pouco e isso apenas faz eu me afastar um pouco dele. Eu me encosto na parede sem entender nada do que está acontecendo e sinto Akamaru cheirando minhas pernas e se esfregando nelas. Apesar de Akamaru ser um amor de cachorro nunca fui muito fã de animais e lanço um olhar ferino para o dono dele.

— Ele está preocupado com você, mal agradecida — Kiba diz. — Seja mais amigável.

Abro a boca para responder, mas me calo no momento em que Sasuke começa a explicar o motivo deles estarem ali. Ouço atentamente agora que sei que tem a ver comigo.

— A pessoa que invocou aqueles animais para nos atacarem, entraram na vila — Sasuke diz, encarando Kakashi.

— O que? — Kakashi arregala o olho que não está coberto por sua bandana. — Agora?

— Não, no momento do ataque — Sasuke explica.

— E como você sabe que estava aqui?

— Por causa desse pano aqui — ele arrasta o tecido em cima da mesa até Kakashi. — Acredito que é da roupa que a pessoa estava usando. E isso não é o pior — ele olha para mim pelo canto do olho. — Acredito que a pessoa estava atrás da Akemi.

Meus olhos se arregalam instantaneamente. Atrás de mim? Por quê? Não me lembro de ter feito algum inimigo durante meus dezoito anos que me odiasse tanto a ponto de invocar monstros para atacar a vila. Porém, me sinto estremecer de medo. Abraço a mim mesma para conter a tremedeira e por um momento agradeço Akamaru mentalmente por estar encostado na minha perna se não eu teria ido ao chão. Pelo olhar periférico posso ver que Kiba está me encarando com preocupação, ele parece pronto para agir caso eu desabe em lágrimas ou comece a ter um ataque de pânico.

— Atrás de Akemi? — Kakashi franze o cenho. — O que faz você achar isso?

Sasuke conta sobre o que ele e Kiba viram. Meu apartamento destruído e esse tecido rasgado preso lá como algum tipo de prova de que eu estou mesmo sendo procurada por alguém com intenções nada boas. Penso em Neji e no quanto eu queria que ele estivesse aqui para me abraçar e fazer eu me sentir segura. Levo uma mão até meu pescoço procurando consolo no cordão que tem as fotos dos meus pais e do meu irmão, mas apenas sinto um vazio ali. Arregalo os olhos. Lembro-me de não ter colocado o cordão quando saí de casa de manhã antes do ataque, pois saí às pressas e me esqueci de colocá-lo, lembro de tê-lo deixado em cima da minha estante. Não, não, não, repito mentalmente. É a única coisa que tenho da minha família e agora provavelmente está destruído.

Kakashi começa a falar alguma coisa, mas não escuto, pois já estou saindo em disparada do escritório e correndo na direção do meu apartamento. Lágrimas já se acumulam em meus olhos e começo a xingar a mim mesma. Aquele cordão era a única lembrança física que eu tinha de minha família, sem ele eu não tenho mais nada. Sem ele eu esqueceria! Quando chego ao meu apartamento, algumas pessoas ainda estão reunidas olhando para o buraco na parede e alguns Jounins estão lá tentando controlá-los e respondendo suas perguntas da melhor maneira que podem. Eu abro caminho entre eles e não encontro tempo para me assustar com a destruição da minha casa, usando meu chakra subo até a abertura e entro tropeçando no apartamento. O buraco foi aberto na parede do meu quarto e as coisas lá dentro estão uma completa confusão. A porta foi arrancada com tanta brutalidade que apenas os pedaços estão espalhados pelo chão, a cama está virada, meu guarda roupa está pendendo para o lado, sendo puxado pela gravidade, mas encontrando como obstáculo a parede. A lâmpada do quarto explodiu e tudo está um breu. Água está vazando do banheiro e eu nem quero pensar no estado que se encontra os outros cômodos.  

Sem perder mais tempo, começo a revirar tudo atrás do meu cordão. Eu não o encontro em lugar nenhum e isso me faz entrar em desespero. Não pode ser, digo mentalmente. Quando me dou por vencida me deixo cair no chão e seguro minha cabeça nas mãos. A única coisa que eu tinha deles foi perdida. A única coisa... Meus pensamentos são interrompidos quando sinto um cobertor ser colocado em meus ombros. Eu me assusto, claro, e dou um pulo para ficar de pé e me afastar de quem quer que esteja ali. Quando meus olhos encontram os de Gaara sinto meu coração dá um pulo no peito. Que diabos ele está fazendo aqui? Será que eu não posso ter um minuto sem a presença constante dele por perto? O cobertor cai dos meus ombros e começo a tremer.

Gaara está completamente envolto pelas sombras do apartamento e seus olhos verde-água me encaram tão brilhantes quanto a lua. Ele está usando sua roupa ninja e a cabaça de areia presa às costas. Me sinto exposta na frente dele, mas não tenho forças para expulsá-lo daqui simplesmente porque estou triste demais para fazer qualquer coisa, então apenas ficamos nos encarando por alguns segundos, esperando alguém falar alguma coisa e quebrar o silêncio constrangedor. Eu acabo sendo a primeira a falar.

— O que você está fazendo aqui? — pergunto, quase cuspindo as palavras.

A aspereza em minha voz é apenas automática, pois não tenho condições nem mesmo de sentir raiva do garoto em pé à minha frente.

— Vim ver o que tinha acontecido — ele responde. Todos os pelos do meu corpo se arrepiam quando sua voz rouca chega até mim, mas ignoro essa sensação.

— Bem, já viu. Agora pode ir embora — digo, virando-me de costas para ele e voltando a procurar meu cordão.

Escuto os passos de Gaara atrás de mim e não preciso olhar para saber que ele está fazendo completamente o contrário do que mandei. Sei que ele está se aproximando mais de mim e estremeço. Quando foi que ele ficou tão teimoso? Deus, será que ele não pode me deixar em paz só por um segundo? A última coisa que preciso agora é da presença dele constante ao meu redor, da voz dele em meus ouvidos e do corpo dele perto do meu. Só vá embora, por favor, imploro mentalmente. Cansada e muito triste, viro de frente para ele pronta para enxotá-lo daqui se for o caso, me assusto com a nossa proximidade e prendo a respiração. Ele está tão perto de mim que as pontas de nossos pés quase se encostam. Apesar de fazer um esforço enorme para não encará-lo, ele não tira os olhos de mim nem por um minuto. Isso me aborrece. O que ele quer afinal?

— Eu encontrei uma coisa que acredito que seja importante para você — ele diz e abre a mão na minha frente.

Abaixo a cabeça para ver do que se trata. Na palma de sua mão vejo o meu cordão. Sinto uma lágrima solitária correr por minha bochecha, fecho os olhos e respiro fundo, sentindo alívio, e sou pega de surpresa quando Gaara  limpa minha bochecha com o polegar. Olho para ele incrédula. Não lembro de ter dado permissão para ele estar aqui e muito menos para me tocar. Eu o empurro para longe, pois preciso tomar um ar e a presença dele está tornando difícil até respirar. Coloco as mãos na cintura e faço meus exercícios de respiração. Eu preciso me acalmar. Gaara me surpreende mais uma vez quando segura meu pulso. Eu me viro de frente para ele, tentando me soltar, mas ele me mantém parada no mesmo lugar. Ele vira minha mão com a palma para cima e coloca o cordão ali, fecha meus dedos e me solta.

— É seu, não é? — ele diz, se afastando. — Fique com ele então. E fique com o cobertor também — ele coloca o cobertor em minha outra mão. — Acredito que vai ser uma noite fria.

— Por que você... — não consigo terminar minha pergunta, pois sou interrompida por Neji que aparece na entrada da abertura e não hesita em vir até mim e me envolve em um abraço apertado e cheio de preocupação.

Meu namorado ignora completamente a presença de Gaara e enquanto me abraça sussurra em meu ouvido coisas como “sinto muito”, “vai ficar tudo bem”, “eu estou aqui agora, vou proteger você, prometo”. Eu não retribuo o abraço dele, pois estou ocupada demais encarando Gaara por cima de seu ombro. O rosto de Gaara fica ainda mais sombrio que o normal e ele me dá as costas, quebrando nosso contato visual. Antes de sair do quarto ele me lança mais um olhar. Vejo algo muito parecido com tristeza ali e quando ele pula para ir embora, por algum motivo, eu me sinto vazia. Neji segura meu rosto com suas mãos, obrigando-me a encará-lo.

— Você pode ficar comigo até encontrar um lugar novo para você, tudo bem? — nós nos encaramos, mas não presto atenção nele, pois estou pensando em Gaara. — Akemi? Você está me ouvindo? — eu balanço a cabeça, concordando. E ele me abraça de novo.

—x—

Neji e eu deixamos meu apartamento e encontramos com Kakashi segundos depois que chegamos ao chão. Ele me diz que é melhor eu evitar ficar sozinha para minha própria proteção e que vai pensar em alguma coisa para contornar essa situação. Pede para que eu confie nele e eu apenas concordo sem prestar muita atenção no que ele diz. Neji tem a ideia brilhante de que eu fique com ele durante uns dias e, como não tenho nenhuma ideia melhor, eu aceito. Volto ao meu apartamento apenas para pegar meu uniforme Anbu, minha roupa ninja, pijama e outras coisas de higiene pessoal que eu possa precisar. Não pego muitas coisas, pois não pretendo ficar na casa de Neji por muito tempo, assim que amanhecer vou atrás de outro lugar para ficar.

Meu namorado me escolta até o distrito dos Hyuuga e fica conversando o caminho todo comigo, mas não entendo nada do que ele diz porque não consigo tirar aquele olhar de Gaara da minha mente. Em um certo momento lembro-me das coisas que tenho nas mãos e coloco meu cordão em meu pescoço e, inconscientemente, levo o coberto até meu nariz. O cheiro familiar do filho do Kazekage invade meu nariz e fecho os olhos, aproveitando o momento. Algumas lembranças de quando eu era criança invadem meus pensamentos e, diferente de alguns anos atrás, não tento suprimi-las, deixo-me lembrar enquanto Neji fica tagarelando sem parar do meu lado.

    Era meu aniversário de dez anos e eu desde essa época não gostava de comemorar aniversários, então acordei bem mais cedo que meus pais para evitar todo aquele “feliz aniversário, querida!” irritante deles e fui colher umas flores. Eu me afastei um pouco da Aldeia da Areia, apenas o suficiente para chegar à um lugar onde a senhora Chyo e eu cultivávamos algumas espécies de flores. Apesar do solo árido de Sunagakure às vezes alguma vida crescia por ali. Eu estava colocando tudo na cesta que carregava em meus braços enquanto cantarolava uma música qualquer, tinha em mente fazer um lindo buquê quando chegasse em casa e colocar no vaso da sala de estar para minha mãe, pois ela sempre gostou muito de flores. Estava ventando e eu tinha que ter cuidado para não entrar areia em meus olhos.

Atrás de mim havia um penhasco. Não era muito alto, mas ainda sim era bem maior que eu. Em algum momento eu senti alguém me observando de lá, eu era a melhor gennin da Aldeia da Areia e por isso joguei minha kunai sem nem mesmo precisar virar de frente. Eu sabia que acertaria quem quer que estivesse ali. Continuo o que eu estava fazendo até ser surpreendida por uma voz que vem de trás de mim.

— Bom dia para você também.

Reconheço a voz de Gaara imediatamente e viro para encará-lo. O garoto sempre foi bem mais baixo que a maioria dos meninos da nossa idade, além de ter a mesma idade que eu ele também era do meu tamanho, então era fácil encará-lo de igual para igual. Ele me devolve minha kunai. Coloco ela dentro da cesta junto com a flores e continuo meu trabalho.

— O que você estava fazendo lá em cima? — pergunto, sem olhá-lo. — Eu podia ter machucado você.

Um riso irrompe do fundo da garganta dele. O som do riso de Gaara é contagiante, então não consigo não sorrir. Mas volto a ficar séria rapidamente, não quero que ele pense que é eu acho legal ficar por aí espionando as pessoas.

— Você sabe que não pode me acertar — diz. — Lembra da areia?

— Ah, é claro. A areia — eu termino de colher as flores e viro para ele. — Mas não ache que você é invencível por isso. Um dia eu vou saber como atravessar essa proteção.

Nossos olhares se encontram. Os olhos dele sempre foram muito bonitos. São de um verde água delicado e são tão calorosos que às vezes me pego perdida dentro deles. Eu sorrio para ele. Com um movimento rápido, Gaara pega uma das flores da minha cesta. Um lisianto roxo.

— Ei! — franzo o cenho e tiro a cesta do alcance dele. — O que você...?

Eu não termino a pergunta, pois sou surpreendida quando ele coloca a flor em meu cabelo. Ele a prende atrás de me minha orelha e me encara, sorrindo para mim.

— O que eu estava fazendo lá em cima? — ele me fita profundamente. — Cuidando de você. Vou cuidar de você sempre, Akemi. Feliz aniversário.

Depois que eu voltei para casa, minha mãe elogiou a flor em meu cabelo e eu passei o dia a admirando pelo meu reflexo no espelho, pensando no momento em que Gaara havia a colocado e mim e dito que me protegeria sempre. Desde esse dia o lisianto roxo se tornou a minha flor preferida.

     Abro os olhos e afasto o cobertor do meu nariz. Percebo que Neji ainda está falando e preciso me segurar para não mandá-lo calar a boca. Minha cabeça começa a doer, mas continuo pensando em Gaara. Vou cuidar de você sempre, Akemi, foi o que ele dissera. E hoje, oito anos depois de tudo o que aconteceu entre a gente, ele colocou um cobertor em meus ombros para que eu me protegesse do frio. Sinto meu coração se aquecer em meu peito e coloco o cobertor novamente em meus ombros. Obrigada, digo a Gaara mentalmente.

Quando Neji e eu chegamos ao distrito dos Hyuuga entendo que ficar com ele vai ser uma péssima ideia. Logo na entrada damos de cara com o pai de Hinata, Hiashi Hyuga. Ai, droga, penso. Ele nunca, em hipótese alguma, gostou de mim e nem tenta esconder o quanto desaprova meu relacionamento com o filho de seu irmão gêmeo. Neji percebe meu desconforto e segura minha mão, não adianta de nada, pois continuo nervosa.

Nós paramos na frente do chefe do clã Hyuga e posso ver Hinata parada na varanda de sua casa com uma cara cheia de nervosismo.

— O que ela está fazendo aqui, Neji? — Hiashi pergunta.

— O apartamento dela foi destruído e eu pensei que ela poderia ficar aqui por uns dias até ela encontrar um outro lugar — Neji explica, encarando o tio.

— Ela não pode ficar aqui — Hiashi nos dá as costas. — Vá embora, senhorita Senju. E me faça o favor de não voltar.

Neji aperta minha mão com tanta força que penso que meus ossos vão quebrar. Eu levanto o rosto para olhar para ele e vejo que ele está com o maxilar trincado, seu byakugan está ativado e ele está começando a se colocar em uma posição ameaçadora. Levo minha mão livre até seu rosto e faço um esforço enorme para tirar a atenção dele do tio. Quando Neji finalmente se concentra em mim, sinto que ele está tremendo de raiva. Hiashi entra em casa e Hinata é única que continua ali de pé, observando o primo e eu. Neji está virado para mim, mas não me encara e ainda está tremendo de raiva.

— Neji — chamo. Ele não me olha. — Neji! — chamo, firme. — Pare com isso, olhe para mim!

Ele finalmente me encara. Ele está com o cenho franzido de raiva e o byakugan ainda ativado. Não gosto de ver Neji com raiva, nunca gostei. Simplesmente porque ele vira outra pessoa e eu não gosto dessa pessoa. Me faz lembrar de Gaara. A pressão na minha mão diminui, mas ele não a salta. Levo minha mão livre até seu rosto e toco nas veias que ficam elevadas quando ele está usando seu kekkei genkai. Toco em sua têmpora rezando para que o contato de meus dedos com seu rosto seja o suficiente para acalmá-lo. Sorrio docemente para ele, ele solta minha mão e levo essa também para o seu rosto. Me aproximo um pouco mais dele e encosto meus lábios nos seus. Neji demora um pouco para corresponder meu beijo, fica uns segundos com a boca parada, mas não demora muito para que ele leve suas mãos até a minha cintura e me puxe para si, aprofundando o beijo. Eu o sinto se acalmar em meus braços. Eu finalizo o beijo um pouco depois e o abraço. Uma brisa passa por nós dois, bagunçando nossos cabelos e me fazendo apertá-lo um pouco mais em meus braços. Não entendo porque Hiashi nunca gostou de mim, mas isso não importa agora, eu estou cansada demais para tentar entender.

— Eu vou falar com ele de novo — Neji diz, escondendo o rosto na curva do meu pescoço. — Ele vai deixar você ficar aqui, eu só...

— Neji — seguro seu rosto com as minhas mãos novamente, finalizando o braço. —, está tudo bem. Eu posso ficar com o Naruto, tenho certeza que ele irá me receber. Relaxa, tudo bem? Não quero que você comece uma briga por besteira.

— Não! — ele segura minhas mãos, tirando-as de seu rosto. — Eu quero você comigo. Não vou deixar você por aí depois de saber que tem gente perigosa te procurando. Fique aqui e quando eu voltar vou te levar para o quarto.

Ele corre para a casa, passa por Hinata como se ela nem estivesse ali e entra atrás do tio como um furacão. Tiro o cobertor de Gaara dos meus ombros, o dobro e o seguro contra o peito. Sei que essa conversa de Neji com Hiashi não vai acabar nada bem. Suspirando, ergo o olhar e vejo que Hinata está vindo até mim. Eu a cumprimento com um sorriso triste.

— Soube o que aconteceu com seu apartamento — sua voz fininha entra em meus ouvidos. Olho surpresa para ela. — As notícias correm rápido por aqui. Sinto muito, sabe, por tudo isso — eu sei que ela não está falando apenas do meu apartamento, mas também do pai dela. Coloco uma mão em seu ombro.

— Está tudo bem, Hinata. Sei pai tem razão em não me deixar ficar aqui, não é certo. Mas o Neji é tão teimoso... — tento dar um sorriso. — Eu devia ir embora.

— Não! — Hinata segura minha mão. — Não vá ainda. Neji é teimoso sim e é por isso que ele consegue tudo o que quer. Espere por ele, Akemi — ela tira minha mão de seu ombro e a segura entre nós duas. — Meu primo gosta mesmo de você. Ele realmente te ama e se você for embora vai magoá-lo. Espere por ele, tudo bem?

— T-tudo bem — gaguejo. Ela assente e, sorrindo, se afasta, entrando em casa.

Fico sozinha ali fora, sento-me nos degraus da varanda e fico encarando o céu. Sei que Neji está atrás da porta que está apenas alguns centímetros de distância de mim, mas queria poder estar ao lado dele, pois não tenho certeza de que ele saíra feliz dessa sala. Não demora muito para que a conversa dele com o tio se torne uma discussão feia. Quando escuto os gritos, levanto e corro até a porta, mas o que escuto a seguir me impede de abri-la.

— VOCÊ SABE QUE NÃO PODE FICAR COM ESSA MENINA, NEJI — o pai de Hinata grita, visivelmente alterado. — EU PROÍBO VOCÊ!

— VOCÊ NÃO PODE ME PROIBIR DE NADA — Neji grita de volta. — NEM MEU PAI VOCÊ É! O QUE VOCÊ ACHA QUE VAI ACONTECER SE EU FICAR COM A AKEMI? QUE EU VOU ESQUECER O QUE NASCI PRA FAZER? EU SEI AS MINHAS RESPONSABILIDADES COMO UM PROTETOR DA FAMILIA PRINCIPAL!

— Já chega, Neji! — Hiashi diminui o tom de voz. — Você não vai levar esse... essa coisa que você tem com ela adiante. Eu não vou deixar. Mande-a embora. Seu dever é para com sua família e não com essa garota.

Ele fala de mim com tanto desprezo que tenho que fazer um esforço enorme para não ir embora agora mesmo. Neji fica calado por um tempo e penso que a conversa acabou e que ele aceitou o que o tio disse e que a próxima coisa que ele irá fazer é sair por essa porta e terminar tudo comigo, mas o que ele diz em seguida me pega de surpresa e muda completamente a minha vida.  

— Sinto desapontá-lo, tio — ele diz, mais calmo. — Mas o meu dever deixou de ser para com a sua família há muito tempo. Meu dever é com o meu coração e eu errei durante muito tempo tentando negar isso. Sim, eu sou um Hyuga e sim, eu sou um protetor. Mas antes de tudo isso eu sou um homem que toma as próprias decisões e que não responde mais às vontades apenas do clã — ele inspira profundamente antes de continuar. — No dia em que eu for necessário para a sua família eu estarei lá, mas enquanto esse dia não chega eu estarei ao lado da pessoa que eu amo pela maior quantidade de tempo que eu puder.

— Do que você está falando, garoto? — posso ouvir a incredulidade na voz de Hiashi.

— O quero dizer é que pretendo me casar com Akemi. Logo. E não é você ou o meu dever como protetor e muito menos um selo na minha testa que irá me impedir de viver com ela pelo resto da minha vida.

Cubro minha boca com uma mão e me afasto da porta, pois não tenho mais condições de continuar ouvindo. Meu coração parece prestes a sair pela boca. Será que eu ouvi direito o que Neji disse? Ele realmente falou que pretende se casar comigo? Preciso me apoiar na parede da casa para conseguir me manter de pé. O casamento é um passo tão grande e tão importante e eu não fazia a menor ideia de que Neji pensava nesse tipo de coisa. Para ser sincera, eu não tenho a menor ideia de como iria reagir se ele me pedisse em casamento. Eu amo Neji, é verdade, mas nunca, nesses quatro anos que estamos juntos, pensei no momento em que ele se ajoelharia na minha frente, abriria uma caixinha com um anel brilhante e faria a famosa pergunta que ronda os pensamentos de muitas meninas por aí. Eu nunca pensei porque detesto fazer planos para o futuro, odeio imaginar coisas e no fim ver que elas não se realizam. Gosto de viver o presente, o futuro deixa para o futuro.

Eu não escuto mais nada da conversa, então não sei o que foi decidido. Quando Neji abre a porta e sai seguido por Hiashi, eu estou sentada nos degraus da varanda novamente, ainda em choque com o que escutei. Porém, assim que sinto a presença dos dois, levanto-me imediatamente e assumo uma posição defensiva que me permitiria sair correndo caso Neji começasse a se ajoelhar para cumprir o que falara. Sim, eu sairia correndo porque provavelmente entraria em pânico e não saberia o que dizer. Hiashi me lança um olhar de cima a baixo, deve estar se perguntando se eu ouvi a gritaria deles e se sim o quanto eu ouvi. Bem, eu ouvi o suficiente para me deixar sem saber como reagir perto do meu próprio namorado por dias.

— Eu vou deixar você ficar aqui por um tempo, senhorita Senju — Hiashi diz. — Mas não pense que é porque concordei com seu relacionamento com meu sobrinho ou porque comecei a gostar de você subitamente. Não é nada disso. Vou deixar você ficar por amizade a sua tia, Tsunade, que por acaso é uma grande mulher pelo qual tenho muito respeito. Porém, tem algumas condições.

— E quais seriam? — pergunto.

— Eu quero que vocês se comportem aqui dentro, entenderam? Só não vão dormir separados porque não tem mais quartos disponíveis. Então, por favor, tenham pudores. O café da manhã é servido às seis em ponto então esteja lá ou fique com fome o resto do dia.

Ele nem diz um “boa noite”, apenas volta para dentro da casa e fecha a porta. Neji e eu ficamos sozinhos e começo a tremer. Será que é agora que ele vai se ajoelhar?, pergunto a mim mesma. Ora, pare com isso Akemi! Ele disse que pretende se casar, não é como se fosse pedir neste exato momento. Talvez ele queira esperar para quando vocês tiveram uns trinta anos. É, talvez.

Mas isso não me conforta. Aperto o cobertor de Gaara contra meu peito e levanto a cabeça para encarar meu namorado. Ele já está me olhando e seu sorriso é tão grande que poderia chegar à nuca. Ele me segura pela cintura e beija minha testa. Neji nem imagina que eu estive ouvindo sua conversa com o tio, então digo a mim mesma para tentar não ter um ataque de pânico toda vez que ele estiver perto de mim. Ele não vai te pedir em casamento, sua imbecil!, reclamo mentalmente comigo mesmo. Não agora pelo menos. Quero gritar, pois meus próprios pensamentos não estão me ajudando.

— Viu? Eu disse que ia conseguir — ele sorri. — Obrigado por esperar aqui.

— N-não foi nada — gaguejo. Neji me encara esperando que eu diga mais alguma coisa. Improviso. — Que bom que você conseguiu, amor. Fico feliz por estarmos... Hum... Dividindo uma casa esses dias.

Neji ri, satisfeito, e eu tenho vontade de arrumar alguma desculpa para ir embora o mais rápido que posso. Dividindo uma casa? Que tipo de merda eu tenho na cabeça para falar isso? Por favor, Neji, não comece a se encher de esperanças para um casamento, por favor, penso e fecho os olhos bem apertados enquanto ele me acompanha até o quarto que vamos dividir durante alguns dias.

Nós saímos da casa da família principal e caminhamos por uma trilha de pedrinhas até a da família secundária. Nunca tinha vindo aqui e não sei o que estava esperando ver. Os membros da família secundaria não são muito diferentes dos da família principal, todos eles são sérios e nem olham na minha direção. Porém, o que mais chama minha atenção é que a grande maioria deles não usa nada para esconder o selo em suas testa. Diferente de Neji eles não parecem ter vergonha de mostrar ao mundo de qual família pertencem.

Algumas pessoas cumprimentam Neji durante o caminho, mas me ignoram como se eu não estivesse ali. Talvez não estejam acostumados a verem pessoas que não seja um Hyuga por aqui. Neji responde aos cumprimentos deles educadamente, percebe meu desconforto e me trás um pouco mais para perto de si. Ele beija o topo da minha cabeça e nós continuamos andando em silêncio. A casa de Neji é um pouco diferente do que eu esperava, ela é bem menor do que eu imaginava – afinal, por ser filho de Hizashi Hyuuga, irmão gêmeo do líder do clã, pensei que ele teria uma mansão ou algo parecido –, é bem simples, feita de bambu, como as casas eram feitas antigamente,  e um pouco mal iluminada. Tenho que dizer a ele que é perigoso ficar assim com a casa no escuro.

— Chegamos — ele diz, suspirando. — Nem acredito que você está vindo na minha casa pela primeira vez — sinto seu olhar em cima de mim. — Akemi? — chama.

— Sim? — eu levanto a cabeça para encará-lo.

— Você já pensou em, sei lá, morar comigo? — ele me encara cheio de expectativas.

A pergunta me pega de surpresa e eu quase engasgo na minha própria saliva. Cuidado com a sua resposta, meu subconsciente me avisa. Ou é agora que ele vai se ajoelhar. Sinto os dedos de Neji fazendo carinho em minha cintura e isso me arrepia dos pés a cabeça. O que eu deveria responder? Preciso pensar em algo que não o magoe, mas que deixe claro de minhas intenções de não me mudar para cá.

— Morar com você? Bem, eu, hum... — pensa em alguma coisa, Akemi! — Um dia, quem sabe. Mas o seu clã não aceita isso apenas depois do casamento?

 — Sim... — ele sorri pensativo e me olha. — Espero que esse "um dia" que você disse chegue logo.

Senti frio por dentro, vejo Neji abrir a porta e eu entro primeiro. Neji tranca a porta atrás de si e começa a ligar as luzes da casa. Por dentro tudo é bem aconchegante e arrumado. Ele é bem organizado para um garoto de dezenove anos, mas eu não esperava nada diferente vindo dele. Organização é seu nome do meio.

Deixo o cobertor de Gaara em cima de uma mesinha que fica enfeitado a sala e coloco minha mochila aos pés da mesma. Sinto meus machucados começarem a arder e deixo escapar um gemido de dor, sendo seguido de uma careta. Neji percebe isso e vem até mim cheio de preocupação.

— Você está com dor? — ele pergunta, me analisando. — São os seus ferimentos?

— Sim — respondo. — O efeito do remédio está começando a passar.

— Vem cá — ele me puxa gentilmente pela mão e me faz sentar em uma cadeira. — Deixa eu cuidar de você.

Enquanto vou tirando os curativos, Neji procura seu kit de primeiros socorros. Assim que ele encontra vem até mim e começa a tratar de meus machucados. Ele não é nenhum médico ninja, mas o básico ele sabe fazer e muito bem. Ele troca todos os meus curativos, mas quando chega ao machucado da minha testa reclamo de dor. Pela primeira vez ele volta seu olhar para o meu rosto.

— Desculpe. Machuquei você? — ele pergunta.

— Não, é que o corte está doendo. Mas está tudo bem, continue.

Quando ele finaliza tudo, puxa uma cadeira para se sentar na minha frente. Neji segura minhas mãos, acariciando as costas dela com os polegares. Sinto vontade de beijá-lo, mas não me atrevo a acabar com este momento. Ele fica de cabeça baixa por um tempo, e me pergunto o que está se passando por sua cabeça. Tiro uma de minhas mãos da sua e a levo até o rosto dele, seguro seu queixo e o faço olhar para mim.

— Tudo bem com você? — pergunto, acariciando sua bochecha. — Você parece triste. O que aconteceu?

Ele me encara por alguns segundos, leva uma mão até a minha bochecha e se inclina para me dar um beijo. Quando nossos lábios se tocam, sinto vontade de levá-lo para a cama e continuar o beijo lá, mas não me movo, apenas saboreio o momento. É apenas um selinho demorado e quando termina ele se senta novamente.

— Eu amo você, Akemi. Muito. Você sabe, não é? — ele segura minhas duas mãos de novo.

Sinto meu coração pular no peito. Ai, meu deus. Será que é agora que ele se ajoelha? Por favor, não.

— Sim, Neji, eu sei — sorrio. — Por que está me dizendo isso?

— Não sei — ele dá de ombros. — Só para lembrar você.

— Como se fosse possível esquecer algo assim.

Ele sorri e se levanta. Neji me surpreende quando me carrega no colo. Ele me leva até sua cama e me deita lá da maneira mais confortável que consegue. Nós nos beijamos por um tempo, tiramos nossas roupas e quando ficamos nus já estou completamente excitada. Ele vem para cima de mim e deixamos as velhas sensações que sentimos um com o outro dominarem nossos corpos.

—x—

Na manhã seguinte acordo com os raios de sol esquentando meu rosto. Sinto os braços de Neji me envolvendo e percebo que estamos deitados na famosa “conchinha”. Eu me mexo nos braços dele e ele resmunga alguma coisa, me puxando ainda mais para perto de si. Abro os olhos lentamente e observo o vento da manhã balançando as cortinas da janela. Coloco uma de minhas mãos em cima da mão de Neji que está em meu abdômen por baixo do cobertor, entrelaçando nossos dedos. É uma sensação maravilhosa tê-lo assim, perto de mim, mas, por algum motivo, não consigo me sentir completamente feliz. Estou com uma sensação estranha, como se essa fosse a última vez que o sentiria me tocar.

Meus ombros tremem, pois começo a chorar lágrimas silenciosas para não acordar o garoto ao meu lado. Gaara, Neji, meu apartamento, minha atual condição de perigo... Tudo tem trazido lágrimas aos meus olhos. Nunca fui fraca a ponto de deixar qualquer situação me abalar, porém ultimamente tenho mais lágrimas em minhas bochechas que determinação para contornar os problemas. Neji se mexe novamente, agora posso sentir sua respiração em minha nuca, e aperta um pouco mais seus dedos nos meus. Queria poder continuar aqui deitada com ele para sempre, queria poder nos trancar dentro dessa casa e viver uma vida onde apenas nós dois pudéssemos existir. Fecho os olhos por um segundo e o que me vem à cabeça me assusta. Gaara. O olhar que ele me deu na noite anterior quando estava deixando meu apartamento depois que Neji chegou. Era como se ele... Sentisse uma falta profunda de mim.

Uma dor aguda na região das minhas costelas interrompe meus pensamentos. Mordo o lábio inferior para não deixar um grito escapar e acordar Neji, porém não consigo mais me manter imóvel. Desvencilho-me dos braços de meu namorado e sento bruscamente na cama, levando uma mão ao local da dor. Entre meus dedos sinto que a marca que carrego comigo está quente e a dor é tão intensa que turva meus pensamentos. Ao meu lado, Neji acorda e imediatamente ergue o corpo para se sentar ao meu lado, preocupado.

— Akemi? O que aconteceu? — ele me observa com seus grandes olhos. Não consigo responder, apenas faço uma careta, curvando-me para frente com o aumento da dor.

Neji abre a boca para falar alguma coisa, mas batidas na porta da frente o fazem se calar. Ainda que esteja preocupado comigo, ele me dá um beijo na cabeça e diz que voltará imediatamente para ficar comigo depois que for ver quem está batendo. Ele levanta da cama, está nu, coloca um hobby branco e se dirige na direção da porta do quarto. Quando ele sai me deito novamente, tentando organizar meus pensamentos e entender porque diabos essa marca está queimando na minha pele. Que droga!, digo à mim mesma. Que diabos está acontecendo?

Escuto Neji conversando com alguém e segundos depois escuto passos vindo na direção do quarto. Estou deitada em uma cama, nua da cabeça aos pés e agonizando com uma dor lancinante, existe uma forma mais humilhante para ser vista por um desconhecido? A porta do quarto se abre, revelando meu antigo sensei, Camus. Por sorte, estou coberta dos pés até o pescoço e por isso ele não vê mais do que o necessário, mas ainda assim sinto meu rosto corar. Quando eu era aluna dele, fantasiava o dia em que poderia vê-lo em meu quarto, mas em minha mente nós dois estaríamos sem roupa e eu não estaria agonizando de dor e sim gritando de prazer. Quando os olhos azuis de meu sensei encontram os meus ele franze o cenho e corre até a cama. Ele se debruça sobre mim, o cenho franzido, e segura meu rosto com uma mão. Sei que estou suando e nada atraente, mas essa é última coisa com a qual consigo me preocupar.

— O-o que v-você está fazendo aqui, sensei? — pergunto, minha voz está tão fraca que me assusto.

— O Hokage está a chamando para uma reunião — ele explica, sem tirar os olhos do meu. — Vim chamar você. Mas o estado em que você se encontra exige cuidados médico e não uma reunião. O que está sentindo?

Retiro um braço do lençol, minhas mãos estão tremendo, mas faço um esforço para puxar a coberta de minhas costas até as costelas. Revelo a Camus o motivo de minha agonia. Assim que coloca os olhos na minha marca, meu sensei se afasta subitamente para trás, arfando e com os olhos arregalados. Não entendo sua reação. Será que as coisas estão tão ruins assim? Bem, não tenho cabeça para pensar nisso agora. Simplesmente não consigo me concentrar em outra coisa que não seja essa maldita dor.

— Neji! — meu sensei chama. Prontamente meu namorado aparece ao lado dele, está tão assustado quanto o mais velho. — Eu preciso que você faça uma coisa para mim, tudo bem? — Neji assente, concordando. — Vá atrás de um garoto chamado Gaara. Você conhece? — Neji assente novamente. — Certifique-se de qual é o estado dele e, independente do que seja, venha imediatamente até mim para dizer. Entendeu?

— O que o Gaara tem a ver com isso, Camus? Eu não entendo... — Neji franze o cenho.

— Neji! — meu sensei chama sua atenção. — Você entendeu? — ele repete a pergunta. Parece que meu namorado finalmente entende a gravidade da situação e muda sua postura. Ele diz um “sim, senhor. Cuide dela, por favor.”, pega sua vestes Hyuga e sai do quarto como um furacão.

Meu sensei me ajuda a me enrolar no cobertor, me carrega no colo e, antes de sairmos, ele pega minha mochila que está na sala e diz que eu colocarei uma roupa decente quando chegar ao hospital. Não tenho forças para protestar, então apenas balanço a cabeça, concordando. Nós dois saímos da casa de Neji e Camus sai do distrito Hyuga comigo nos braços como um raio. Chamamos atenção por onde passamos, mas eu não estou dando a mínima para o que as pessoas possam estar pensando. Eu nem sequer consigo pensar direito. Entretanto, uma coisa não me sai da mente, por que Camus pediu para Neji ir ver Gaara? Que diabos ele tem a ver com isso? Será possível que até quando eu estou morrendo você não me deixa em paz?

Quando chegamos ao hospital já tenho certeza absoluta que eu estou, literalmente, vendo aquela luz branca que todos falam quando estamos perto da morte. A dor chegou a um ponto do qual não consigo mais ficar calada e grito a pleno pulmões. Minha visão começa a ficar turva e eu mal consigo distinguir as pessoas que falam ao meu redor. Reconheço alguns médicos ninja, a voz da minha tia Tsunade, mas em poucos segundos todo o que vejo é escuridão. Eu perco a consciência antes mesmo de me colocarem em uma maca. Minha cabeça pende para o lado e amoleço nos braços de meu sensei.

Apesar de estar indisponível para o mundo exterior, eu estou muito bem desperta no mundo interior, ou seja, dentro da minha mente. Me vejo sentada em um lugar completamente escuro, um lugar onde a única luz existente é a que emana do meu próprio corpo. Estou abraçando minhas pernas e escondendo a cabeça em meus braços. Estou com medo, e sei disso porque posso senti-lo passeando por todas as células do meu corpo, me sufocando aos poucos. Será que esta é a minha mente? Um completo vazio escuro e sem vida? Será que sou tão oca assim por dentro? Uma lágrima solitária escorre por minha bochecha e a sinto pingar em minha coxa. 

— Akemi...

A voz chega até mim, calma e acolhedora, mas me recuso a levantar a cabeça para ver quem está comigo. Fico apavorada só de imaginar quem pode dividir minha mente comigo. Não, meus braços me proporcionam uma segurança melhor. Prefiro ficar aqui, quieta. Apenas ignore, digo a mim.

— Akemi...

Agora sei que é uma voz feminina e que eu conheço muito bem. Sim, pois já a havia escuto várias e várias vezes num período de dez anos. A voz me traz uma sensação de... Lar.

— Mamãe? — sussurro, chamando-a. Finalmente levanto a cabeça.

Quando meus olhos se ajustam a escuridão vejo que estou certa. Reconheço minha mãe imediatamente. Seus longos cabelos castanhos, seus olhos amorosos e seu belo rosto... Ela começa a andar na minha direção e quando chega perto o suficiente se agacha para ficar da minha altura. Seus dedos tocam meu rosto e limpam minhas lágrimas. Um sorriso surge em seus lábios.

— Ah, minha menina, você cresceu tanto — ela diz, tocando na ponta do meu nariz. — Está tão bonita.

— Senti sua falta, mãe. Todos os dias — digo, soluçando.

— Eu estou tão orgulhosa de você, Akemi — ela me envolve em seus braços. — Você está se tornando uma grande mulher.

— Mãe... — fecho os olhos com força. — Mãe, eu quero ir para casa. Com você, o papai e o Takashi. Me leva para casa, mãe, por favor.

— Olhe para mim, Akemi — ela segura meu rosto com suas mãos. Faço o que ela pede. — Nossa casa não é mais física, filha — ela acaricia minhas bochechas. — Nossa casa é aqui — aponta para o meu coração. —, pois é neste lugar que seu pai, seu irmão e eu estamos. Sempre.

— Fica comigo, mãe — as lágrimas caem descontroladas por meu rosto. — Eu imploro, fica comigo. Sinto tanto sua falta.

Ela deposita um beijo demorado em minha testa. Eu não quero soltá-la nunca mais. Não quero perdê-la de novo.

— Você precisa acordar, meu amor — ela me encara novamente.

— Não... — balanço a cabeça. — Não vou deixar você.

— Acorde, minha filha.

Minha mãe me ajuda a ficar de pé e tudo ao meu redor muda. O escuro dá lugar ao claro. Uma luz tão forte que sou obrigada a semicerrar os meus olhos para conseguir enxergar minha mãe. Sinto sua mão segurando a minha, porém algo chama minha atenção. Uma terceira pessoa se aproxima de nós duas. Cubro meus olhos com a mão para que eu posso ver quem é, mas tudo o que consigo distinguir são os cabelos. De um tom de vermelho intenso. Um passo de cada vez, a outra pessoa se aproxima.

— Abra os olhos, Akemi — a voz da minha mãe parece distante, mas ainda sinto a pressão de seu toque. — Abra os olhos não apenas para voltar ao mundo real, mas também para a sua realidade. Aceite-a, encare-a, mude-a. Se permita enxergar a verdade — a outra pessoa já está à minha frente. Percebo quando minha mãe segura a mão do desconhecido e a trás para perto da minha. Nossos dedos estão a centímetros de distancia. Reconheço que é uma mão masculina. — Se permita sentir.

Assim que minha mãe fala isso ela vira a palma da minha mão para cima e coloca a do desconhecido em cima da minha. No momento em que nossas mãos se encostam, sinto meu como se meu coração batesse pela primeira vez. É apenas uma batida, mas que reverbera por todo meu corpo. A claridade ao meu redor aumenta e em um segundo tudo some.

Acordo com um sobressalto e vejo que estou em uma maca. Estou ofegante, mas pelo menos não sinto mais dor nenhuma. Faço meu exercício de respiração para tentar me acalmar. Parece funcionar, pois sinto meu pulso desacelerar. Levo uma mão até meu coração. Estou com uma sensação estranha, uma sensação boa. Lembro-me do que aconteceu e me pergunto de quem era a mão que minha colocou em cima da minha. A única coisa da qual me lembro é que era um homem e que tinha cabelos vermelhos... A verdade me acerta como um soco e eu arregalo os olhos. Não pode ser! De todas as pessoas do mundo, por que justamente ele?

— O que a senhora queria me mostrar, mãe? — pergunto para o silêncio do quarto.

Alguns minutos se passem antes que alguém venha até o me quarto. Passo o tempo todo encarando o teto, pensando no que minha poderia estar tentando me mostrar com tudo aquilo. Me pergunto o quanto daquilo fora real e se não foi tudo uma criação da minha mente. Sinto-me angustiada e frustrada por não conseguir entender nem metade do que vi. Estou fitando as árvores pela janela quando escuto a porta do quarto ser aberta. Viro-me na direção do barulho e vejo Kakashi entrando. Tento me sentar ereta, mas o movimento apenas me deixa tonta e volto a me deitar.

— Não se esforce muito — o Hokage diz, fechando a porta atrás de si. — Vou precisa de você 100% mais tarde.

— Espero poder atendê-lo 100%, Hokage — digo, sincera.

— Você vai — ele cruza os braços. — Você é uma garota forte, Akemi.

— Agora eu estou mais para envergonhada que para forte. Vim para o hospital nua enrolada em um lençol foi humilhante — digo, suspirante.

— Não se prenda aos detalhes. O importante é que você está bem.

Balanço a cabeça, concordando. Viro o rosto na direção de Kakashi para olhá-lo. Ele parece preocupado e, como líder Anbu, isso me preocupa.

— A sua expressão não é das melhores — comento. — O que aconteceu?

Kakashi se aproxima um pouco mais e minha pele começa a formigar de expectativa sobre o que ele pode estar prestes a falar. Será que é algo ruim?

— Akemi, eu vou precisar de você em uma missão — ele me fita. — Sei que você acabou de ter uma crise de... bem, de alguma coisa, e que eu não deveria exigir muito de você agora, mas é extremamente crucial que você esteja nessa missão.

— É claro, Kakashi. Que tipo de missão? Uma missão Anbu? — pergunto, interessada.

— Bem — ele coça a nuca, desconfortável. —, não exatamente. É uma missão normal, nível jounin.

— Ah, tudo bem. E qual é o objetivo?

— Fiz algumas pesquisas sobre o ataque que ocorreu aqui na vila e descobri que aqueles animais invocados são típicos de uma vila específica — diz. — A Vila dos Artesões.

— Então quer dizer que quem quer que tenha atacado a Vila da Folha veio de lá? — pergunto, sentando-me. Ignoro a tontura.

— Não posso afirmar isso, mas tenho minhas suspeitas de que sim — ele suspira. — Escute, Akemi, você se lembra do que Sasuke disse, não lembra? Sobre essas pessoas estarem atrás de você — balanço a cabeça, concordando. — Então, eu preciso te perguntar. Apesar de você ser uma das melhores ninja da Folha e a sua presença nessa missão ser de extrema importância, você se sente preparada para se expor a este risco?

Penso no que ele está perguntando. De fato eu tenho que considerar os riscos que estou me propondo a enfrentar quando me comprometer com esta missão. De acordo com Sasuke a pessoa que atacou a aldeia pode estar atrás de mim e, pelo o que vimos, não me mede esforços para conseguir o que quer. Eu poderia ser morta nessa missão e será que valeria a pena? Abra os olhos para a sua realidade. Aceite-a, encare-a, mude-a, foi o que minha mãe dissera. E, do fundo do meu coração, eu acredito que ela esteja certa. Depois de anos trabalhando com os Caçadores Especiais Anbu eu aprendi a acreditar na minha intuição mais do que qualquer coisa. Independente do perigo que eu possa correr, a Aldeia da Folha é mais importante e é nela que eu preciso pensar. Olho para Kakashi.

— Eu estou mais do que preparada, Kakashi. Como líder dos Caçadores Especiais Anbu, você pode contar comigo para esta missão. Não vou desapontá-lo — digo, determinada.


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