The Chosen Ones — Chapter One. escrita por Beatriz


Capítulo 21
Akemi: a Vila da Areia.




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Desde que cheguei à Vila da Areia, uma semana passou rápido. Semana essa em que eu não havia trocado nem uma palavra com Gaara e não havia recebido nenhuma resposta para a carta que eu deixei para Neji — não que eu estivesse realmente esperando dele. Enquanto os dias passam aqui, me pergunto como estão as coisas lá na Vila da Folha, se a Doragon havia feito outro contato. Ficar aqui sem ter notícias de lá é torturante.

A Vila da Areia havia mudado muito desde a última vez em que eu estive aqui. Ela tinha aumentado, algumas construções surgiram, outras sumiram. Mas toda vez que eu olho para cada prédio, cada grãozinho de areia, cada rosto todas as lembranças dolorosas de oito anos atrás me atingem com a força de um canhão. É uma provação ter que acordar toda manhã e andar pelas ruas, fingindo que nada havia acontecido. Na maior parte do tempo eu tento não pensar em nada disso e me concentrar no que vim de fato fazer aqui, mas quando chego dentro do meu quarto no final do dia, eu desabo. Sinto uma dor tão forte em meu peito que as lágrimas vem automaticamente e, na manhã seguinte, eu me levanto exausta, me sentindo mais fraca que nunca.

Na manhã de hoje, terá mais um treinamento com os shinnobis de Konoha que vieram comigo. Eles ainda estão se acostumando em lutar em um lugar como Sunagakure e ninguém melhor que eu para ensinar isso. Todas as vezes em que nos juntamos, alguém da Vila da Areia fica nos observando de longe, como se não fôssemos confiáveis. Tenho vontade de dizer que estamos aqui única e exclusivamente por ordem do Kazekage deles.

Antes de encontrar com todos no campo de treinamento, paro em uma barraca de café para tomar algo. Na noite anterior, eu não havia comido nada e meu estômago já está doendo por passar tantas horas vazio. Enquanto assopro meu café para esfriá-lo, lembro da conversa que tive com o Kazekage no momento que cheguei.

             Entro no escritório do Kazekage sendo seguida de perto por ele. Lá dentro, Rasa senta em sua cadeira e eu fico de frente para sua mesa. Tiro meu cachecol e olho diretamente em seus olhos. Desde que eu e minha família viemos para cá anos atrás, ele nunca havia confiado na gente. Acredito que agora deve ser martírio ter que me tratar como aliada.

— O que você quer? — pergunto sem muitos rodeios.

— Quero te dizer como as coisas vão funcionar enquanto você estiver aqui — eu não digo nada e ele continua. — Você vai ser vigiada 24 horas, pois não confio em você assim como não confiava em seus pais — fecho meus punhos com força. — Você obedece à mim e apenas à mim e vai fazer tudo o que eu mandar até o momento em que for embora. Se você tentar algo, eu vou me encarregar pessoalmente de acabar com você.

— Eu não vou tentar algo — digo, firme. — E eu acho bom você também não tentar nada contra mim se não quiser começar uma guerra com Konoha.

— Bom, vai tudo certo. Se você se comportar  — ele abre uma gaveta, tira de lá uma bandana da aldeia da areia e a desliza na minha direção pela mesa. — Eu quero que você use isso enquanto estiver aqui. Você nunca vai ser uma de nós, mas não quero que as pessoas..

— ...Pensem que vocês imploraram pela ajuda de uma outra vila?

            Ele me olha com ódio, mas retribuo o olhar na mesma intensidade. Ele joga a bandana para mim, escolhendo não discutir, e eu a pego no ar.

— Faça o seu trabalho e se matenha na linha. Pode sair.

Sem pensar duas vezes, eu dou meia volta e vou embora. Quando saio, dois Jounins da Areia estão na porta esperando para me escoltar até o meu quarto. Eu ficarei “hospedada” aqui no prédio do Hokage, junto de Rasa e de seus filhos. Que ótimo, não?

Caminhamos por um corredor longo até chegarmos ao quarto. Um dos Jounins abre a porta e eu entro. A porta se fecha atrás de mim e finalmente me vejo sozinha. No quarto, há uma cama, um banheiro, uma janela e só. Pelo menos o básico Rasa me deixou ter. Deixo minha mochila em cima da cama e tiro dela o porta retrato que Tsunade me deu e coloco na cômoda ao meu lado, depois me jogo ali na cama. O choro vem bem fácil antes mesmo que eu tenha tempo de pensar que estava o segurando desde que saí de Konoha.

Eu não usei a bandana da Areia, como Rasa queria, mas também não usei a Folha. Ao invés disso, eu cortei meu cachecol em um tira do tamanho de uma bandana e pintei na parte da frente o simbolo dos Senju e estou usando isso como bandana desde então. Ultimamente, eu não estou me sentindo pertencente nem a Konoha e muito menos a Sunagakure, mas eu sempre pertenceria ao meu clã. Então é ele que carrego comigo em minha testa.

Com a bandana branca dos Senju, passei a chamar muita atenção nos primeiros dias. Sempre que passava, sentia os olhares de todos em cima de mim. Se não fosse por mim e Tsunade, o clã estaria extinto, então eu entendo a curiosidade das pessoas. E não me importava realmente com isso, tenho muito orgulho de ser quem eu sou.

Quando termino meu café, eu vou para o campo de treinamento que começamos a usar. Como esperado, alguém está lá para me viajar e me surpreendo ao ver que é Gaara.

Desde que esse treinamento havia começado, alguns shinnobis da Areia se reuniam para nos ver. Dessa vez posso notar uma expressão surpresa no rosto deles, principalmente daqueles com a idade de Rasa quando eu chego. A surpresa se deve ao fato de que troquei minha costumeira roupa ninja por outra, a mesma que a minha mãe costumava usar. Andando ali, diante de todos, era como se Asami Senju tivesse voltado a vida. Além da roupa, eu estou usando o bastão dela preso às minhas costas. Eu havia trazido o objeto dentro de uma caixinha, pois ele deminuia de tamanho, e gostava de usá-lo sempre que me sentia sem coragem ou com medo. Desde que cheguei aqui, sinto as duas coisas simultaneamente.

            Eu dou bom dia à todos presentes, digo o que nós treinaremos hoje (taijutsu) e peço para que se dividam em duplas. Digo para eles começarem se aquecendo, pois não pretendo pegar leve com nenhum e, antes que a gente tenha tempo de começar, o Kazekage aparece, chamando a atenção de todos. Trinco o maxilar só de ver a cara de Rasa, ele olha diretamente para a minha bandana e eu quase posso ver uma expressão de nojo se formando em seu rosto, mas nada realmente acontece.

— Bom dia a todos — ele diz, bem alto. — Desculpem por atrapalhar o treinamento, mas hoje eu estava pensando em fazer algo diferente. Eu quero testar os poderes do meu filho, Gaara — ele aponta para Gaara nas aquibancadas e todos olham para ele, menos eu. — E nada melhor para isso do que ele lutar com a senhorita Senju, não é? Dois clãs tão fortes se enfrentando serve como um bom treinamento tanto para quem assiste quanto para quem luta.

Ninguém diz nada. Eu sei que Rasa não está querendo “testar” Gaara, pois ele sabe sobre os poderes de Gaara bem melhor do que o próprio filho. Afinal, ele havia o criado para ser quem é. Eu sei que Rasa é tão baixo e vil que a real intenção dele é levar Gaara ao limite para que ele possa me matar “sem querer” ou me deixar em um estado tão crítico que eu seria obrigada a retornar para a Folha. Desde que cheguei, ele quer outro representante de Konoha no meu lugar, já havia mandado vários pedidos ao Hokage, mas todos tinham sido recusados.

Observo o rosto do Kazekage. Esse plano dele seria um bom se Rasa não estivesse subestimando à mim e às coisas das quais sou capaz. Quando nós éramos crianças, eu era a única que conseguia atravessar a defesa absoluta de Gaara. E até hoje ainda me lembro bem como fazer isso.

— Vamos, Gaara — Rasa chama. — Não seja tímido.

Ele olha para o filho de um jeito ameaçador que só eu consigo perceber além de Gaara. Por um momento, eu espero que ele enfrente o pai e vá embora, mas não é o que acontece. Em um segundo, eu o vejo caminhando até mim e se colocando na minha frente. Eu viro de frente para ele e nós nos encaramos pela primeira vez desde que eu cheguei aqui. Nós dois sabemos que nada de bom pode sair desse “treinamento”.

Sem perceber, eu começo a pensar no dia em que estávamos vindo para cá e ele me beijou, dizendo que iria me provar que o que nós sabemos sobre a noite da morte da minha família está errado. Agora eu não vejo mais nada em seu rosto que indique que em algum momento aquele momento e tudo o que aconteceu entre nós realmente foi verdade. Ele está diferente, é quase como se fosse outra pessoa.

Eu não sei se consigo lutar contra ele. Querendo ou não, Gaara e eu temos uma ligação. Nós temos uma história juntos que vai nos ligar para o resto de nossas vidas, independente dos caminhos que a gente siga. Gaara nunca iria sumir da minha vida, não importa o quanto eu quisesse e lutasse por isso. No momento em que eu aceitei vir para Sunagakure, eu havia entendido esse pequeno detalhe.

— Quando estiverem prontos... Por favor, comecem — a voz de Rasa reverbera por todo o ambiente.

Está abafado e eu não escuto nem sequer uma respiração apenas meu coração batendo em meus tímpanos. Eu havia me esquecido como as manhãs em Sunagakure podem ser quentes e sinto suor escorrer por minhas costas.  Pelo canto do olho, eu vejo Temari e Kankuro chegando para verem o show também, mas eles me parecem preocupados e não ansiosos como todas as outras pessoas presentes.

À minha frente, Gaara desenrosca a tampa de sua cabaça, deixando cair aos seus pés. Eu não tenho medo de Gaara, nunca tive, nunca temi os poderes dele como todas as outras pessoas. A besta dele nunca me assustou, mas agora, depois de vê-lo se descontrolar tão facilmente várias vezes, eu não sei o que esperar dessa luta. Nós dois estamos a uma distância considerável, mas eu não tiro os olhos dos de Gaara. Ele sabia o que eu estava pensando, eu tinha certeza disso.

Ele faz um ataque direto com a areia antes mesmo que eu consiga me preparar. Aqueles infinitos grãozinhos explodem na minha direção e sinto meus olhos queimarem quando pulo para trás, desviando. Eu odeio toda a tristeza que me acomete quando estou frente a frente com Gaara. Eu pego bastão da minha mãe nas minhas costas e o faço aumentar de tamanho rapidamente, ele fica alguns centímetros maior que eu. Espero ter que usar apenas ele para enfrentar Gaara. Se eu usasse o estilo madeira talvez as coisas saíssem do controle.

A areia de Gaara me ataca de novo, eu desvio de novo e quando não consigo desviar eu a disperso com meu bastão, cortando-a ao meio com um golpe. Gaara está há uns metros de distância, de braços cruzados, me encarando como se quisesse despir a minha alma. Ele não move um músculo.

— Você trouxe apenas isso para lutar? — ele pergunta.

— Não pretendo que isso demore muito — respondo.

— Você está muito confiante, Akemi.

— Eu ainda lembro como lutar contra você, filho do Kazekage — é a minha vez de ficar em posição de ataque.

— Muita coisa mudou desde que éramos crianças.

— É o que vamos ver.

Eu corro em sua direção, a areia tenta me acertar, mas eu desvio de todas as suas investidas. Ainda me lembro como lidar com a areia de Gaara como se a nossa última luta tivesse sido ontem. Quando já estou a uma distância considerável dele, eu o ataco com o bastão. A areia o protege, é claro, mas eu não paro. Sinto uma raiva já bem conhecida começar a tomar conta de mim. Eu só queria que as coisas tivessem sido diferente, que a nossa história tivesse sido outra.

Antes que pensamentos inconvenientes tomem conta de mim, eu me impulsiono e dou um salto. Tento atacar Gaara por cima, mas essa areia dele é realmente muito irritante. Em um momento de descuido, a areia me pega pelo tornozelo e me joga do outro lado da arena. Quando minhas costas atingem a parede, perco meu fôlego e um pouco de sangue escapa da minha boca. Eu caio de joelhos no chão. Droga. Acredito que agora sou eu quem está subestimando Gaara. Mas eu não vou perder para ele, não na frente de Rasa.

Levanto com dificuldade, limpo minha boca com as costas da minha mão e volto a atacar, dessa vez usando melhor meus reflexos. Eu sou tão rápida quanto Lee, mas a areia não ia me pegar uma segunda vez. Gaara tem a vantagem geográfica e usar meu Mukuton aqui exigiria uma quantidade de chakra muito grande por eu estar enferrujada em usá-lo na areia, mas aparentemente eu não tenho escolha a não ser usá-lo.

Eu pego distância de Gaara novamente e começo a fazer meus selos de mão. Quando toco no chão, vários pedaços de madeira surgem bem diante dos olhos do filho do Kazekage, indo por debaixo da areia. Ele cruza os braços na frente do rosto e a areia forma um escudo entre a minha madeira e o seu corpo. É a minha chance de me aproximar. Eu corro pela lateral da arena e vou para trás de Gaara, ele sente a minha presença, mas é tarde demais. Eu tenho a vantagem agora. A areia dele é rápida, mas não rápida o suficiente agora. Corro em sua direção e cravo meu bastão no chão antes que a areia prenda minhas pernas. Nós dois nos encaramos.

— Acabou — ele diz.

— Eu acho que não.

Antes que Gaara tenha tempo de dizer algo, meu bastão explode debaixo da terra. Ele vai aumentando de tamanho em uma velocidade incrível e acerta o queixo de Gaara com força. O filho do Kazekage voa para trás, tirando muitos comentários surpresos da plateia, e sua areia vai atrás dele, aparando a sua queda. A sua defesa absoluta racha um pouco no rosto. Apesar de Gaara ter um poder incrível e uma juubi dentro dele, ele ainda é só um ser humano e o meu golpe foi forte o suficiente para atordoa-lo por um momento. Eu me aproximo dele, meu bastão diminundo de tamanho até ficar igual um pergaminho.

— Agora acabou — digo, olhando-o de cima.

Ele vira o rosto para me encarar e abre a boca para falar algo, mas logo segura sua cabeça, como se estivesse com dor. Mas eu sei que não é dor. É o Shukaku. Talvez o meu golpe tenha o irritado e agora Gaara pode perder o controle por minha causa. Mesmo estando quente, eu sinto frio por dentro. Meu coração acelera. Se ele perder o controle, não só eu como muitas pessoas podem ficar em perigo. Gaara, aguenta, por favor.

Eu devia me afastar, mas logo sou acometida por uma forte dor na lateral do meu corpo que me faz cair de joelhos no chão, gritando. Gaara se senta, segurando a cabeça com as duas mãos, como se quisesse arranca-la do pescoço. Olho para Rasa e ele apenas observa nós dois. Eu sabia, sabia, que nada de bom resultaria dessa luta. Seu imbecil. Ele é seu filho!, grito mentalmente em meio a dor.

Com uma mão em minhas costelas, eu olho ao redor. Todos que observavam a luta não estão entendendo nada ao ver nós dois desse jeito.Olho para Gaara, ele ainda está passando por algo doloroso para ele. Preciso me levantar, tenho que tirar todos daqui antes que algo ruim aconteça.

Pela segunda vez, eu levanto com dificuldade, sentindo a lateral do meu corpo queimar. Minhas pernas tremem quando eu fico de pé e eu cambaleio de um lado para o outro. É nesse momento que Gaara olha em meus olhos e eu fico horrorizada com o que vejo em seu rosto. Um de seus olhos estava completamente igual ao do Shukaku. Como ele pode estar se transformando tão rápido assim? Meu corpo inteiro começa a tremer.

— VÃO EMBORA! — grito para todos que estão nas arquibancadas. —SAIM DAQUI. AGORA!

Eu não tenho tempo de dizer mais nada, pois Gaara me acerta com um golpe tão forte que sou arrastada por vários metros até parar devido ao atrito com o chão. Eu fico vários segundos com falta de ar e tentar levantar de novo é um sacrifício. Eu levanto a minha cabeça, sentindo sangue escorrer pela minha têmpora. É nítido que Gaara está lutando com Shukaku pelo controle do próprio corpo, mas a Juubi está querendo sair, e está conseguindo.

Ele grita. A dor que sinto se intensifica e eu penso seriamente que estou morrendo, exatamente como naquele dia em que eu havia dormido na casa de Neji. Eu fico de joelhos no chão, sentindo suor escorrer por todo meu corpo. Não posso ficar assim. Eu tenho que me levantar. Vamos, Akemi!

As pessoas começam a correr para fora quando a areia de Gaara acerta a arquibancada, destruindo uma parte que está vazia. No outro lado, Rasa não move um músculo. Sinto minha raiva por ele só aumentar. Como ele pode ficar parado em um momento desses? O grito de Gaara aumenta assim como o meu medo e a dor que estou sentindo. Mordo meu lábio com força, tirando sangue dele, e em um momento de pura adrenalina, eu levanto e corro até Gaara. Eu precisava impedi-lo de alguma forma ou nós acabaríamos revivendo tudo o que aconteceu na noite em que a minha família morreu.

— Estilo madeira — digo alto, fazendo meus selos de mãos. — Jutsu da Prisão de Madeira!

Uma prisão grande de madeira maciça se erguer do chão. Sinto minha cabeça girar enquanto a prisão cerca a mim e a Gaara. Esse jutsu se molda ao imaginário do usuário, então faço uma prisão grande o suficiente para que caibamos nós dois em pé dentro dela. Quando ela termina de ser feita, estamos em um espaço livre de qualquer areia, nem a cabaça de Gaara está presente, pois ela havia caído de suas costas quando meu bastão acertou seu rosto. Agora só estamos nós dois, cercados pelo meu jutsu, sentindo nossas próprias dores. Apenas um olho continua diferente.

— Você acha que pode me parar com essa caixinha? — a voz de Gaara está diferente, fria, assassina. Sinto meu corpo inteiro gelar de uma só vez, eu sei que não é mais Gaara quem está aqui comigo. Minha boca treme com a vontade de chorar,mas não me permito isso. Ainda.

— Você não me assusta — digo, fazendo uma careta de dor. — Não vou deixar você tomar o controle de Gaara.

— E por que você se importa? — ele dá um sorriso que faz minha alma gelar. — Por que se importa com o garoto que matou sua família?

As palavras Shukaku me acertam de uma forma mais dolorosa que qualquer jutsu que Gaara poderia ter usado em mim na nossa luta. Meus olhos se enchem de lágrimas.

— Você não vai conseguir me desestabilizar — digo, minha voz sua tão fraca que eu me assusto.

— Não? — um sorriso se abre no rosto dele. Gaara muda de novo. Sua cabeça tomba para trás e quando ele a levanta de novo, seus olhos estão normais, porém cheios de medo, completamente despedaçados. — A-akemi... — ele diz, baixinho, tentando vim na minha direção.

— Gaara! — eu esqueço minha consciência nesse momento e, desesperada, corro até ele. Eu não penso mais como uma shinnobi agora, como sempre acontece quando se trata de Gaara, mas sim como a garota que sente tantas coisas por ele.

Eu não penso no que me espera quando eu me aproximo dele, eu simplesmente não estou pensando direito e me surpreendo quando Gaara me recebe com uma mão se fechando em meu pescoço. A força de Shukaku é incrível e acredito que ele só não quebra meu pescoço simplesmente porque não quis. Sinto minha passagem de ar fechar enquanto encaro o olho esquerdo de Shukaku em Gaara.

— Você é uma idiota — escuto uma batida muito forte na prisão que eu havia feito. É a areia tentando entrar. — Gaara não liga para você. Ele é meu e fará tudo o que eu quiser, inclusive matar você.

— Ele... nunca... vai... pertencer... à você — digo, com muita dificuldade.

Shukaku me atira do outro lado da prisão, eu bato na parede e caio no chão como um saco de batatas. Minhas costelas parecem pegar fogo e eu sinto que estou quase perdendo a consciência. Eu preciso fazer algo, mas o que? Não sei mais nem se tenho forças para voltar a ficar de pé. Minha cabeça está girando como uma roda-gigante. Por favor, Gaara, lute contra ele.

Shukaku avança em minha direção. A areia de Gaara continua batendo lá do lado de fora e eu não estou nas melhores condições para segurar meu jutsu. Se a areia entrasse, eu estaria morta em poucos segundos. Enquanto Gaara/Shukaku avança até mim, parece que tudo fica em câmera lenta. Lembro de quando éramos pequenos e eu era a única amiga de Gaara e tudo parecia possível mesmo que o destino dele já estivesse selado desde seu nascimento; lembro do momento em que deixei a Vila da Areia, da saudade que senti dele, mesmo sabendo que não deveria; lembro de quando o vi chegando à Vila da Folha para a festa em homenagem à Sasuke; quando nos beijamos pela primeira vez naquela cachoeira e novamente naquela floresta; lembro quando ele me tocou naquele apartamento e todas as coisas que ele havia me falado... Será que eu estava certa mesmo em odiá-lo? Eu já não sei mais se esse sentimento ainda é tão dominante quanto o outro que eu sentia em relação à ele.

— Morra — Shukaku diz, bem perto de mim. Ele poderia acabar agora comigo com apenas um soco.

Mas não vai acabar assim. Não enquanto Gaara ainda não tivesse cumprido a promessa que havia feito à mim naquela floresta.

— Não é você quem decide isso — eu desvio centímetros de seu punho, me colocando de joelhos, e puxo a roupa de Gaara, trazendo corpo de encontro ao meu. Recebo o próximo ataque de Shukaku agora com um abraço. — Não é você quem decide qual será o destino de Gaara.

Ele poderia me matar agora se quisesse. Eu sinceramente não estou mais me importando. Escondo meu rosto no ombro de Gaara e sinto meus olhos encherem de lágrimas novamente — e dessa vez eu as deixo caírem. Gaara, por favor... Um tempo passa sem que nada seja dito ou feito. Até que...

— Akemi...?

O seguro com mais força contra mim ao escutar o som normal de sua voz. Caímos de joelhos no chão e Gaara retribui meu abraço um pouco depois, colocando uma mão em minhas costas. Existem muitas coisas entre nós, é verdade, e, além de uma história trágica, não são muitas coisas que nos ligam, mas eu não podia perder Gaara. Neste exato momento, eu aceito isso e não me sinto mal ou culpado. Eu apenas entendo.

Meu jutsu se desfaz aos poucos e Gaara acaba desmaiando em meus braços. Eu deito sua cabeça em minhas pernas. A arena estaria vazia agora se não fosse por Rasa que ainda está no mesmo lugar, nos encarando. Eu não tenho forças nem para odiar o pai de Gaara agora. Acaricio os cabelos dele e escuto passos atrás de mim. Kankuro e Temari chegam com ninjas médicos.

— Akemi! — Kankuro vem para a minha frente.

— Levem ele — digo. A equipe médica tira Gaara de mim e o coloca em uma maca, saindo rapidamente com ele para o hospital. Temari acompanha o irmão.

— Você precisa de cuidados também — Kankuro diz, me ajudanod a levantar.

Balanço a cabeça, negando ajuda.

— Obrigada, mas eu só preciso ficar sozinha.

Troco um último olhar com o Kazekage. Muitas coisas são ditas através desse olhar. Quando saio da arena de treinamento, vou para o mais longe possível, onde eu poderia colocar meus pensamentos em ordem e curar, nem que fossem parcialmente, certas feridas que existem apenas dentro de mim.


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