The Chosen Ones — Chapter One. escrita por Beatriz


Capítulo 22
Sasuke: o convite do Hokage para o aniversário do Kazekage.




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Fazem dois dias que a aldeia da folha só fala sobre uma única coisa: o soco que Sayuri deu no líder do clã Hyuuga, Hiashi Hyuga. Muitas pessoas estão surpresas, mas a maioria está indignada. Se perguntam como uma garota de outra vila podia chegar aqui e fazer algo do tipo. Diferente do dia em que Sayuri chegou em Konoha, ninguém mais parece tão feliz com a presença dela aqui.

Eu não sei o que tinha motivado Sayuri a bater no Hyuuga e também não me importo com isso. Desde que eu tinha voltado da missão, estava ocupado indo atrás do paradeiro de Itachi e até agora não tinha tido sucesso. Talvez porque eu precisasse fazer isso escondido de Kakashi e de todo mundo, o que só tornava tudo mais difícil e demorado.

 Eu havia passado um dia inteiro fora da aldeia e hoje Kakashi havia me chamado para conversar em seu escritório. Eu sei bem o que ele ia falar e estou preparado para mentir se seja necessário. No caminho até lá, percebo que a aldeia está bem menos animada que de costume. Soube que boatos sobre a Doragon já estavam se espalhando e as pessoas já estavam começando a ficar com medo do que podia acontecer no futuro.

No escritório de Kakashi, eu paro antes de bater na porta, pois escuto vozes alteradas lá dentro. Reconheço a do próprio Kakashi e a de Sayuri. A minha intenção não é escutar a conversa mas não bato na porta e eles falam bem alto, então mesmo que eu não quisesse escutar não faria diferença.

— Você tem noção que você fez?! — Kakashi diz. — Os Hyuga estão pedindo para que eu expulse você da aldeia o quanto antes.

— Você sabe porque eu fiz isso! Ele estava machucando Neji e sem motivo nenhum! — Sayuri rebate. — E se você quer tanto me expulsar, então expulsa! Vou ficar mais que feliz em voltar para a Aldeia da Névoa.

— Eu disse para você não exagerar e você apronta uma dessas! — eu podia visualizar Kakashi se jogando em sua cadeira.

— Me manda de volta então, Kakashi! Qual é o problema? Essa não é a minha aldeia mesmo!

Faz-se um minuto de silêncio lá dentro e não faço a menor ideia do porquê.

— Você não pode voltar agora — Kakashi diz, menos alterado.

O que? E por que não? Não estou mais em missão, não tem nada que me prenda aqui!

— Sua mãe não quer que você vá! — agora eu podia vê-lo se levantando. — Aconteceu um ataque à Vila da Névoa e ela acha perigoso para você voltar para lá.

Tudo fica quieto dentro da sala do Hokage por um tempo muito longo. Me pergunto o que pode estar acontecendo lá dentro até escutar alguns ruídos baixinhos como um choro. Sayuri está chorando? Ergo a mão até a maçaneta, mas a porta se abre antes que eu tenha tempo de fazer isso. Na minha frente encaro uma Sayuri cheia de lágrimas nas bochechas. Nós nos encaramos por um tempo, seus olhos verdes cravados nos meus como adagas. Eu havia esquecido a última vez que tinha visto Sayuri chorar e o que isso podia me fazer sentir.

Antes que eu possa pensar demais, ela me empurra para o lado e passa por mim como um furacão, deixando a porta aberta atrás de si. Observo suas costas enquanto ela some pelo corredor e olho apenas uma vez para Kakashi e uma compreensão se passa entre nós dois – algo que eu só iria entender anos depois. Meus pés começam a se mover e logo eu estou indo corredor abaixo atrás de Sayuri. Ela já está saindo pela porta de entrada do prédio quando eu a alcanço.

— O QUE VOCÊ QUER? — ela grita quando eu a seguro pelo braço.

Eu não respondo nada apenas a puxo para mim, envolvendo-a em um abraço sem jeito. Ela não resiste e eu apenas a deixo chorar na minha blusa. Vários minutos se passam e eu não movo um músculo até sentir que Sayuri parou de chorar. A noite está fria e eu sinto ela tremer em meus braços, só não sei se é de frio ou por causa do choro. Mas qualquer que seja a resposta, eu não espero para ouvi-la, apenas passo um braço pelas costas de Sayuri e passo o outro por suas pernas, erguendo-a do chão. Uma brisa nos envolve e nós nos encaramos pela segunda vez. Muitas coisas passam pela minha cabeça e eu tento descobrir o que poderia estar passando pela dela, mas seus olhos são indecifráveis e ela me surpreende em não lutar para que eu a deixe no chão, ela só encosta a cabeça no meu peito. A falta de resistência de Sayuri só me mostra o quão mal ela pode estar com o que Kakashi disse.

Sem perder tempo, eu subo no galho de uma árvore com ela no meu colo, e pulo para o telhado de uma casa e depois outro e outro até chegar à sacada do apartamento em que ela e os amigos estão hospedados. Por sorte a janela está aberta e eu consigo deixá-la em sua cama. Tento evitar o olhar dela enquanto a coloco no colchão, mas ela insiste em ficar me encarando. Isso me irrita um pouco e, depois de deixá-la, eu me viro para ir embora dali o mais rápido possível. Mas Sayuri segura minha mão antes mesmo que eu tenha tempo de dar dois passos para longe da cama. Eu não viro para ela, mas sinto que a minha surpresa é perceptível.

— Por que você não fica aqui? — ela pergunta, baixinho.

Meus olhos se arregalam um pouco e, talvez, uma batida do meu coração falha. O que ela estava propondo? Que diabos eu estava fazendo aqui com ela? Mesmo que, bem lá no fundo, eu tenha ficado tentado a ceder ao pedido dela, eu solto minha mão da sua e, sem responder nada, vou para a porta do quarto e saiu antes que ela possa dizer qualquer outra coisa.

Assim que piso fora do quarto, percebo que não foi uma boa idéia não ter voltado pela janela. O quarto de Sayuri fica de frente para a sala e, sentados no sofá, estavam os amigos dela que até agora eu não havia aprendido direito os nomes.

— Sasuke?! — um menino loiro fica de pé e me encara, surpreso.

Não pretendo ficar para bater papo, então começo ir até a porta de entrada e atrás de mim eles continuam fazendo perguntas.

— O que você estava fazendo no quarto da Sayuri? — um de cabelo branco pergunta e sai correndo até o quarto.

Eu saio do apartamento antes que eles me prendam e me coloquem em um interrogatório. Do lado de fora do prédio, posso respirar com mais facilidade. Subitamente a noite havia ficado sufocante. Eu volto até o escritório de Kakashi com passos rápidos, tentando me distanciar o máximo possível de Sayuri e da proximidade que tínhamos acabado de ter. No escritório do Hokage, Kakashi está assinando alguns papéis quando eu entro.

— Você queria falar comigo? — pergunto, entrando sem bater na porta.

— Como ela está? — Kakashi pergunta, erguendo os olhos dos papéis para mim.

— Bem — digo, sem me estender muito, pois não queria falar de Sayuri agora. — O que você quer conversar?

Kakashi deixa a caneta em cima da mesa e junta as mãos ali, me encarando.

— Por onde você andou depois que voltou da missão? — ela pergunta.

Eu já sabia que ele ia querer falar sobre isso e já estava preparado. Não ia admitir que estou atrás de Itachi, procurando como um louco pelo seu paradeiro. Afinal, nem Kakashi e nem ninguém têm algo haver com isso.

— Por aí — respondo, meio vago. — Eu precisava pensar em algumas coisas que aconteceram e colocar a cabeça no lugar. Essa estava me sufocando.

Não é de todo uma mentira. É verdade que, enquanto procurava Itachi, eu estava pensando em tudo o que aconteceu na missão, desde os acontecimentos com Sayuri até o que fiz com Akemi e as conversas melodramáticas pelas quais ela me fez passar. Eu precisava de um tempo para organizar tudo isso na minha cabeça, mas não tive tanto assim, pois precisava ficar voltando toda hora para a aldeia.

— Essas coisas... — Kakashi se recosta na cadeira, me encarando. Ele não parecia muito convencido do que eu falei, mas aparentemente não ia forçar por mais detalhes. — Têm haver com Sayuri?

— Você me chamou aqui só para conversar sobre Sayuri? — pergunto, sentindo a mesma raiva de antes crescer dentro de mim. — Se for, está perdendo o seu tempo. Nada sobre ela me importa.

— Não foi o que pareceu quando você saiu correndo atrás dela ainda agora — ele diz.

Fecho os punhos e me viro para ir embora. Eu não era obrigado a ficar aqui aguentando as provocações de Kakashi.

— Espera — ele diz quando seguro na maçaneta. Eu viro um pouco, apenas o suficiente para olhá-lo pelo canto do olho. — Não o chamei para falar sobre Sayuri, mas perguntei sobre ela porque vou precisar de vocês dois em algo.

Isso prende minha atenção e eu viro de frente para ele.

— Em que exatamente? — pergunto.

— Fiquei sabendo que o aniversário do Kazekage está chegando e, bom, ele não convidou ninguém da Folha, mas fiquei sabendo que vai fazer uma festa e diante das circunstâncias eu não acho isso uma boa idéia, principalmente com shinnobis da Folha por lá. Você sabe que Akemi foi mandada para lá — eu balanço a cabeça, concordando. — Uma festa vai chamar atenção e, com o ataque recente à aldeia da névoa, eu não duvido que a Doragon acabe atacando a Areia também. Não vou arriscar a vida de Akemi e de nenhum ninja da folha só porque o Kazekage está sendo fútil. Quero que você e Sayuri vão para lá com a desculpa de estarem indo parabenizar o Kazekage, mas na verdade quero que fiquem de olho no que vai acontecer e que ajudem Akemi se ela precisar.

— Akemi é uma jounin, líder dos Caçadores Anbu além de ser uma Senju — digo. — Não acho que ela precise de ajuda. Você está nos mandando para lá por causa de Sayuri, não é? — nós ficamos nos encarando. — Para que ela se concentre em outra coisa e não tente ir para a Névoa.

— Ela já foi uma de nós, me preocupo com ela também — ele se defende.

— Não acho que seja só isso — eu viro de costas para ele e volto para a porta. — Se eu estiver certo, ela vai te culpar por não poder ir para Névoa e não vai querer falar com você, então eu dou as boas notícias pela manhã.

Saio do escritório antes que Kakashi fale mais alguma coisa e o deixo lá com os próprios pensamentos enquanto eu fico com os meus. No meu apartamento, eu não consigo dormir em nenhum momento. Fico agitado a noite toda. Ir para a Aldeia da Areia ia atrasar toda a minha procura por Itachi e por motivo nenhum, pois talvez nada acontecesse ali e, se por acaso acontecesse, eu sabia que Akemi e Gaara podiam lidar com isso. Ia ser uma perda de tempo.

Na manhã seguinte, coloco minha roupa ninja e vou atrás de Sayuri para avisar sobre o que Kakashi havia me dito na noite anterior. Porém, nem preciso andar muito para achá-la. Eu encontro a ninja da Névoa sentada de costas para mim em uma lanchonete, ela está conversando com outras mulheres mais velhas e, se eu tivesse prestado um pouco mais de atenção, teria percebido que um momento como esse não é algo que Sayuri faria e, principalmente, teria reparado que a roupa que ela está usando é diferente.

            Rapidamente, eu me aproximo dela. As outras mulheres, que estão de frente para mim, se calam assim que me vêem, seus olhos arregalados de surpresa. Mas Sayuri continua a falar como se nem notasse a minha presença.

            — Preciso falar com você — digo. Ela continua fingindo que não estou aqui e, sem paciência para os joguinhos dela, eu seguro seu braço com força e a puxo da cadeira. — Eu disse que preciso falar com você, Sayuri!

            Quando ela fica de pé, de frente para mim, e nossos olhares se encontram, eu vejo Sayuri, mas não é ela. É sua mãe, Yuki Dobutsu. Por um momento, fico sem palavras enquanto ela me encara com um rosto sem expressão. Me sinto exatamente do mesmo jeito que me senti quando vi o rosto de Sayuri, olhar para Yuki é como ver um fantasma do passado há muito esquecido. Mas é claro. Como eu não havia pensado nisso? Se Sayuri sobrevivera ao ataque do clã Uchiha, então sua mãe também sobrevivera. É óbvio. Sayuri nunca teria conseguido fugir sozinha sendo apenas uma criança. Eu solto o braço de Yuki e me afasto um pouco.

— Yuki?! — a surpresa em minha voz é aparente.

Ela dá um sorrisinho de lado, apreciando o jeito como fiquei. Eu trato logo de me recompor.

— Sasuke Uchiha — ela empina o queixo e coloca as mãos na cintura. As mulheres que estavam conversando com ela saem de fininho, provavelmente sentindo o clima ficar tenso. — O que foi? Parece que você acabou de ver um fantasma.

Você é um fantasma. Você, sua filha. Fantasma que vieram pessoalmente me assombrar, tenho vontade de dizer, mas fico calado. Ela joga os cabelos extremamente longos para trás.

— Vamos dar uma volta, Sasuke — ela sai andando, mas eu não a acompanho logo de primeira. Alguns passos a frente, ela vira um pouco a cabeça para trás e me olha pelo canto dos olhos. — Você vem?

Minhas pernas começam a se mover sem o meu conscentimento e, quando dou por mim, estou seguindo a mãe de Sayuri para onde quer que ela está pensando ir. Nós andamos em silêncio por um tempo; ela indo alguns passos na minha frente e eu atrás. Os cabelos dela balançam com o vento e é tão difícil olhar para ela e não pensar em Sayuri que preciso desviar o olhar várias vezes.

— Sabe, eu estava pensando quando íamos nos encontrar — ela diz à minha frente, sem virar para mim. — Demorou mais do que eu esperava. Você é uma celebridade muito difícil de achar.

— E você estava procurando por mim? — pergunto.

Ela junta as mãos nas costas e vira para mim, sorrindo. Desse jeito, ela parece bem mais nova e a semelhança com a filha fica gritando. Uma lembrança minha e de Sayuri quando éramos crianças e nós costumávamos sair juntos atrás de Itachi e ela sempre costumava sorrir assim, virando de frente para mim e com o sol incidindo em suas costas... Fecho o punho, afastando a imagem dos meus pensamentos.

— Como você cresceu, Sasuke — ela faz a observação sem responder a minha pergunta. Nós paramos de andar e ficamos cara a cara. — Uchiha... — ela olha para o chão com algo parecido com saudade estampada em seu rosto. — Há quanto tempo eu não falo esse nome. Eu sou apenas Dobutsu agora — ela olha para mim novamente, séria.

— Como vocês conseguiram sobreviver? — pergunto, me referindo àquela noite. Yuki sabe que estou falando sobre ela e Sayuri.

Um minuto de silêncio se passa sem que ela responda algo. Agora percebo que estamos em um campo de treinamento, no meio das árvores.

— Eu não estava na vila naquele dia, tinha saído em uma missão — ela diz, chamando minha atenção. — Quando eu estava voltando, encontrei Sayuri no meio do caminho. Ela estava ferida por ter corrido entre as árvores apenas de pijama, chorava muito e não conseguia falar — ela olha nos meus olhos. — Eu não estava entendo nada, é claro, e foi nesse momento que um gavião parou perto de nós duas. Ele trazia uma mensagem de Masaki, dizendo para fugirmos o mais rápido que pudéssemos, pois ele atrasaria Itachi. Eu nem tive tempo para pensar ou me preocupar com ele, apenas peguei Sayuri no colo e fui embora. E, bom, ele morreu naquele dia.

Masaki Uchiha era o pai de Sayuri. No dia do massacre do nosso clã, a casa onde Sayuri vivia com os pais pegou fogo. Acharam apenas os restos mortais de um corpo, que era de Masaki. O corpo de Sayuri e Yuki todos, que não sabiam que Yuki havia ido em uma missão (como eu), pensaram que havia queimado até os ossos, virando cinza. Estou tão absorto em meus pensamentos que só percebo que Yuki havia se aproximado de mim quando sinto sua mão em meu rosto. Abaixo os olhos para olhar nos dela.

— Você está tão parecido com ele — ela diz, baixinho. — Os mesmos olhos...

Eu observo seus olhos verdes se encherem de lágrimas. De alguma forma eu sei que Yuki está presa a uma lembrança do passado enquanto observa meu rosto. Está vendo Masaki em mim. Uma lágrima solitária escorre pela bochecha dela e é nesse momento que Yuki parece sair do transe. Ela tira a mão do meu rosto e enxuga a lágrima com a costa da mão.

— Desculpe — ela diz, se recompondo, e abraça a si mesma, virando de lado para mim. — Não tem um dia que eu não sinta falta do pai de Sayuri. Mas você não tem nada haver com isso — ela vira de frente para mim e toda a emoção de minutos atrás havia deixado seus olhos. — O que você quer com a minha filha?

— Você deve estar ciente que a Vila da Névoa foi atacada — digo.

— Sim — ela estremece. — Estou voltando para lá por causa disso.

— O Hokage pediu para Sayuri e eu irmos à Vila da Areia resolver umas coisas — prefiro não entrar em detlahes.

— A Sayuri já sabe? Sobre o ataque? — balanço a cabeça, dizendo que sim. — Então, vai ser bom para ela estar com a cabeça o mais longe possível de lá — ela fica um tempo em silêncio. — Bem, preciso ir. Meu clã deve estar precisando de mim. Boa viagem até a Areia, Sasuke.

Balanço a cabeça para ela, dizendo um obrigado. Ela começa a andar para longe, mas antes de sumir de vista, vira o rosto para mim.

— E não tente nada contra a minha filha ou eu cuidarei pessoalmente para que você tenha o mesmo fim que o resto do seu clã.

Ela me dá as costas e vai embora, sumindo de vista rapidamente. Apesar da ameaça e do momento comovente que ela teve comigo, eu sinto como se tivesse acabado de ter uma conversa com uma miragem. Como se Yuki não fosse real. Enquanto repasso toda a conversa que tive com ela na minha cabeça, penso que, se ela e Sayuri conseguiram sobreviver à Itachi, então quem mais teria conseguido?

—x—

Eu vou até o apartamento de Sayuri para conversar com ela. Me sinto tentando a entrar pela janela do quarto como havia feito noite passada e falar com ela o mais rápido possível, mas eu acabo subindo pelo elevador e bato na porta. Não quero ficar sozinho com ela. Quem me recebe é um tal de Laito. Ele abre um sorriso debochado quando me vê de pé ali.

— Olha só se não é o Uchiha — ele diz. — Você aqui duas vezes em menos de 24 horas. Acho que o fim do mundo está chegando — ele sorri, mostrando os dentes. — A que devo a honra da visita?

— Vim falar com Sayuri — eu digo, ignorando as provocações dele.

— Ah, é claro — ele me dá espaço para entrar. — Sinta-se em casa.

Dentro do apartamento, eu encontro os outros três meninos e Sayuri sentados à mesa, tomando café da manhã. Aparentemente o dia para eles também começou bem cedo. Sayuri parece um pouco surpresa em me ver quando eu fico de frente para ela. Meus olhos passam pelo corpo dela que está coberto apenas por um short e uma blusinha e me forço a encarar apenas seu rosto.  Ela parece um pouco melhor da noite anterior. Todos ali parecem na expectativa para escutar o que eu vou falar.

— Falei com Kakashi ontem — digo para ela. — Ele quer que a gente vá para a Vila da Areia.

— A gente quem? — ela pergunta, limpando o canto da boca com um guardanapo.

— Eu e você — digo.

— Por quê? — ela fica de pé, me encarando com o senho franzido.

A blusa do pijama deixa a mostra um pouco da barriga dela e, sem querer, percebo que ela não está usando sutiã por baixo do tecido. Eu devio o olhar.

— Akemi não está lá? — ela continua. — Por que temos que ir?

— O Kazekage vai fazer uma festa de aniversário — explico. — E Kakahsi acredita que a Doragon pode tentar algum ataque lá por causa disso. Ele quer que a gente esteja lá para dar suporte à Akemi caso ela precise.

— Em outras palavras ele quer me prender em qualquer vila que não seja a da Névoa — ela diz, colocando as mãos na cintura.

Claro que Sayuri é inteligente o suficiente para perceber isso. Não digo nada, mas ela sabe que é verdade apenas pelo meu silêncio. Depois de um suspiro, ela diz que tudo bem e vai se trocar. Eu não pretendo ficar no mesmo apartamento que os amigos dela então vou embora assim que ela se tranca no quarto. Do lado de fora, o dia começa a nublar.

 Depois do almoço, nós nos encontramos na entrada da vila. Sayuri está usando sua roupa ninja, com o símbolo dos Dobutsu estampado no tecido de sua saia. Seus cabelos estão presos em um rabo-de-cavalo e ela para ao meu lado, ajeitando a alça de sua mochila.

— Encontrei com Yuki — digo.

Ela para o que está fazendo e olha para mim.

— Ela me disse quando eu fui me despedir dela ainda agora. Ela está voltando para a Vila da Névoa — balanço a cabeça, concordando. — Bem, vamos?

Nós saímos da vila e começamos o caminho até Sunagakure por cima das árvores. Nós não conversamos e nem falamos sobre o que aconteceu noite passada. Nós só paramos em um momento, quando já está anoitecendo, para descansarmos um pouco. Nós fazemos uma fogueira e pescamos alguns peixes para comermos. Ainda não trocamos nenhuma palavra além de coisas estritamente necessárias. Na hora de dormir, nos deitamos a alguns centímetros de distância, virados para lados opostos. Enquanto ela tem um sono calmo, o meu é perturbado por lembranças.

A noite estava quente e parada, mas eu estava feliz da vida voltando para casa da academia ninja. Tinha uma boa notícia para os meus pais que os deixariam muito orgulhosos. Mas quando chego ao meu distrito, a primeira coisa que vejo é sangue. Muito sangue, por todo lado. Começo a tremer da cabeça aos pés enquanto ando pelas ruas e vejo corpos por todos os lados. Todos mutilados. Lágrimas inundam meus olhos e eu corro o mais rápido que posso na direção da minha casa, sem entender o que poderia ter acontecido por aqui.

Quando chego, minha casa está tão silenciosa quanto o resto do distrito. As luzes apagadas me dão uma sensação ruim e eu sinto meu estômago revirar. Tremendo muito, eu entro em casa, gritando pelos meus pais. Nenhum responde. Minhas lágrimas começam a cair por minhas bochechas quando eu me aproximo de uma porta. Ao abri-la, vejo a cena mais horrível que já tinha visto na minha vida. Meus pais mortos, jogados no chão um por cima do outro. Eu fecho a porta rapidamente, sentindo meu coração quase sair pela boca. Me ajoelho no chão e vomito ali mesmo.

A presença de Itachi é impossível de não sentir minutos depois. Respirando com dificuldade, eu levanto a cabeça e encaro meu irmão. Seus olhos parecem brilhar na escuridão com o mangekyou ativado. Seu rosto não tem expressão nenhuma enquanto me encara.

— Itachi... — digo com dificuldade, soluçando por causa do choro. — A mamãe e o pai... Todo o nosso clã.... Eles....

— Estão mortos — Itachi me complementa, sem emoção nenhuma na voz. — Eu sei.

— C-como...

— Fui eu quem os matei.

— O-que? — minha voz treme e eu sinto vontade vomitar de novo.

É nesse momento que eu percebo a espada na mão dele, pingando sangue da lâmina. A sensação do momento em que Itachi usa o mangekyou sharingan em mim, me mostrando tudo o que ele havia feito naquela noite, é tão real que sinto novamente cada detalhe, revivo casa cena como se estivesse acontecendo realmente e não em sonho. Eu vejo tudo o que ele havia feito até o momento em que ele encontra com nossos pais. E então vejo a morte deles.

— Sasuke...

O jeito como ele havia cortado os dois, sem sentir nem um pingo de remorso ou qualquer outro sentimento que mostrasse que ele não estava fazendo aquilo por querer.

— Sasuke.

Eu caio de joelhos no chão quando tudo acaba, pensando que agora a última vítima seria eu. Eu nunca havia sentido tanto medo nada vida. Chorando, eu começo a implorar para que ele não me mate. Tudo o que eu conseguia ver era os olhos cor de sangue do meu irmão.

— Sasuke!

Eu acordo gritando, com um sobressalto. Ao meu redor não tem nenhum Itachi, nenhuma morte, apenas Sayuri, me olhando com uma expressão preocupada no rosto. O rosto dela está tão próximo do meu que nossos narizes quase podem se tocar. Por um momento, todas as coisas que aconteceram na missão voltam à minha mente, as coisas que falamos um ao outro, os beijos... Meus olhos recaem em seus lábios e eu me afasto dela, me encostando no troco de uma árvore.

— Estava sonhando com o Itachi? — ela pergunta.

— Não — respondo, tentando controlar a minha respiração.

— Mas você estava dizendo o nome dele e...

— Me deixa em paz, Sayuri! — eu grito com ela, a interrompendo.

Por um momento ficamos apenas nos encarando até que ela cede e vira de costas para mim, sentando-se um pouco longe. Ela fica mexendo no fogo para mente-lo acesso e no resto da noite nenhum de nós dois consegue mais dormir.  


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