The Chosen Ones — Chapter One. escrita por Beatriz


Capítulo 16
Akemi: de volta à Vila da Folha.




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Antes do sol nascer já estamos em movimento. Ao longe, podia ser visto apenas quatro vultos passando por cima das árvores. Nós ainda estávamos usando as capas pretas, o que dificultava ainda mais a nossa identidade. Nós íamos muito rápido, algo implícito entre nós nos impulsionava cada vez mais rápido em direção à Folha. Não tínhamos trocado nem uma palavra desde que acordamos, mas compartilhávamos o mesmo sentimento: medo. Estávamos desesperados para chegar à algum lugar seguro, pois não tínhamos ideia  do que podíamos enfrentar em local aberto assim.

Estava tão concentrada em manter meu grupo vivo até chegar à vila que mal tenho tempo de pensar em Gaara e no que tinha acontecido entre nós dois nessa missão. Talvez eu estivesse tentando não pensar muito nisso já que eu estava voltando não apenas para a minha vida normal, mas também para o meu namorado, que acabei traindo. Esse pensamento me faz fechar os olhos por uns segundos. Como eu olharia para Neji agora que todo aquele ciúmes que ele sentia aparentemente sempre teve motivo, só precisava que Gaara aparecesse? Olho para o meu lado esquerdo. Gaara está indo ao meu lado, seu rosto está sério, ele está tão concentrado quanto eu estava segundos atrás.

Será que u realmente o odiava?, o pensamento me pega de surpresa. Porque desde o início dessa missão já estava começando a acreditar que não. E isso fazia eu me sentir muito culpada, pois tudo o que ele tinha feito... Como eu poderia não odiá-lo? Como eu podia sentir algo por ele que não fosse ódio? “Abra os olhos não apenas para voltar ao mundo real, mas também para a sua realidade. Aceite-a, encare-a, mude-a. Se permita enxergar a verdade. Se permita sentir”. As coisas que a minha mãe me disse em meu sonho quando eu estava no hospital da aldeia invadem minha mente de novo. Será possível que ela estava se referindo a ele? Viro o rosto, com raiva de mim mesma por estar pensando nisso. Ela não estava falando dele e se estivesse no que isso mudaria? Eu já estava com Neji e eu era feliz... Não era?

Mordo meu lábio inferior. Se eu fosse realmente feliz, por que minha mente hesitaria em dizer isso com certeza? Sinto uma dor de cabeça começar e resolvo parar de pensar nisso, me preocuparia com essas coisas quando já estivesse na aldeia. Agora eu só tinha que me preocupar em, como líder da missão, levar meus companheiros vivos e em segurança de volta.

A viajem de volta parece demorar uma eternidade, mas, por um milagre, conseguimos voltar à Folha sãos e salvos. Assim que nos aproximamos do portão, fico um pouco zonza e acabo parando um pouco, apoiada no tronco de uma árvore. Seguro minha cabeça com uma mão, enquanto me apoio com a outra. Provavelmente eu estava tendo uma insolação ou estava desidratada considerando que nossa última gota de água tinha acabado horas atrás e não tínhamos parado em nenhum momento.

— Tudo bem? — a voz de Gaara entra em meus ouvidos.

Levanto a cabeça para olhá-lo e acabo vendo, à minha frente, várias pessoas reunidas no portão de entrada da vila. Entre elas estava Neji. Meu coração dá um pulo, ele ainda não tinha me visto aqui. Sayuri e Sasuke já estavam lá e uma mulher de cabelos rosa parecia estar brigando a líder Anbu da Névoa.

— Tudo bem — olho para Gaara, com um sorriso mínimo nos lábios. — Só estou um pouco tonta.

Não peço a ajuda dele, mas, mesmo assim, ele passa um braço pela minha cintura e um dos meus braços vai parar em seus ombros. Vamos caminhando assim o resto do caminho até as pessoas que nos esperam.

Quando meu olhar encontra os de Neji, ele franze o cenho por eu estar vindo praticamente carregada por Gaara. De repente sinto o ar mudar, Neji corre até mim — com seus cabelos longos, que eu costumava achar lindo, voando atrás si, mas que agora me trazem uma sensação estranha. Não demora nem dois segundos para que ele me tire dos braços de Gaara e me segure perto de si como se eu fosse uma garotinha indefesa.

Neji me abraça e me permito fechar os olhos por uns segundos. Escondo meu rosto em seu ombro e sinto seu cheiro já tão conhecido. Eu costumava me senti a mulher mais segura do mundo nesse abraço, como se nenhum mal pudesse me atingir. Eu amo Neji, é verdade, mas agora minha mente, ao invés de estar concentrada nele, só estava me fazendo lembrar todos os momentos que tive com Gaara na missão. Aperto meus olhos, sentindo-os cheios de lágrimas, e também o tecido da roupa do meu namorado entre meus dedos. Não existia uma pessoa nesse mundo que eu odiasse mais que eu mesma nesse momento.

Quando Neji começa a me perguntar um milhão de coisas sobre minha saúde, sobre por que eu estava com lágrimas nos olhos, eu não consigo prestar atenção em nada, pois meus olhos encontram Gaara. Eu gostaria de não entender o que está explícito em seu rosto, mas sei que ele está pensando em tudo o que aconteceu entre a gente. Por um momento, sinto vontade de me afastar de Neji e ir até o filho do Kazekage.

— Akemi! — Neji chama minha atenção, entrando em meu campo de visão. Nós nos encaramos. — Você tá me escutando?

— Neji... — eu me afasto com dificuldade dele. Sorrio para ele e lhe dou um beijo na bochecha. — Eu preciso falar com o Hokage agora. Depois conversamos, tudo bem?

Em outro tempo, eu teria me sentido mal por isso, mas hoje eu estava cansada, cheia de hematomas, com a cabeça latejando, com fome, sede e morrendo de vontade de tomar um banho. Não tinha a menor condição de lidar com namorados ou com ex paixões. Deixo Neji ali e vou até Kakashi que também foi nos esperar. Faço uma reverência em sua frente, me segurando para não acabar desmaiando bem ali na frente dele.

— Bem-vinda de volta, Akemi — ele diz.

Volto à minha posição normal e percebo que ao meu lado que Sayuri ainda está discutindo com a mulher mais velha. Elas eram incrivelmente idênticas, tinham os mesmo cabelos rosa, olhos verdes, a mesma beleza... A única coisa que escuto da discussão delas é quando a mulher mais velha diz “como você pode ter saído da aldeia e só me deixado um mísero bilhete? E mais: nem se deu ao trabalho de entrar em contato comigo depois!” Será que era sua mãe? Faço uma nota mental de que deveria perguntar isso mais tarde.

— Hokage-sama — digo, voltando minha atenção para o homem à minha frente. — A missão foi um sucesso, conseguimos informações, mas houve algo que o senhor precisa saber.

— Vamos para o meu escritório — ele diz. — Sasuke, Sayuri, Gaara, nos acompanhem.

Todos nós o acompanhamos. Nem olho para Neji, pois não quero pensar em nada que o envolvesse agora. As pessoas da aldeia nos cumprimentam educadamente, mas eu estou sem forças até para olhar ao meu redor que dirá para responde-las, então apenas sigo atrás de Kakashi de cabeça baixa e em silêncio, eu só quero que esse dia acabasse logo. Lá dentro do escritório, ele se senta e nós quatro ficamos um ao lado do outro de frente para sua mesa.

— Pode começar a falar, Akemi — ele diz. — Mas vá direto ao ponto, todas os outros detalhes você pode colocar no relatório depois.

Balanço a cabeça, concordando, dou um passo à frente e começo a falar. Conto sobre nosso encontro com Ryou e Kyohei, digo tudo o que eles nos falaram, depois conto sobre o encontro com o senhor feudal, sobre organização ter 10 integrantes e, finalmente, conto sobre o assassinato do senhor feudal. Kakashi escuta tudo atentamente, me encarando sem perder nenhum detalhe. No meio de tudo, as lembranças sobre Gaara reaparecem, mas jogo tudo para o fundo do meu subconsciente. Preciso me concentrar agora no meu trabalho e isso não aconteceria com Gaara rondando meus pensamentos.

— Kakashi — Sayuri dá um passo à frente também assim que termino de falar. Eu dou um passo para trás, voltando ao meu lugar. —, preciso acrescentar que um outro cara apareceu na Vila dos Artesões. E ele tinha... — ela hesita, desviando o olhar do dele. — Cabelos rosa e olhos verdes.

Ela conta tudo sobre o homem que o senhor feudal havia nos falado. Kakashi franze o cenho quando ela termina de falar.

— Como assim? Alguém do seu clã? — ele pergunta. Sayuri parece ficar envergonhada.

— Não sei... — ela hesita novamente. — O homem também disse que ele treinou com pessoas da aldeia e provavelmente pode ter sido assim que conseguiu os jutsus de invocação... — ela parecia desesperada para livrar sua família de uma desconfiança dessas.

Kakashi não parece muito convencido. Ele sabia bem que tipo de kekkei genkai o clã de Sayuri tinha e isso não melhora em nada a situação, mas ele também percebe o desconforto dela e diz que conversariam mais tarde. Entendo que esse não era o tipo de conversa para se ter na frente de mais três pessoas. Ela concorda com a cabeça e, silenciosamente, volta para o seu lugar.

— Muito bem — Kakashi faz contato visual com todos. — Vou investigar algumas coisas e assim que tiver novidades eu os chamo. Por hora eu só quero que vocês se preocupem em tomar um banho, se alimentar e descansar. Estamos entendidos?

Todos nós balançamos a cabeça, concordando, e nos viramos para irmos embora, mas Kakashi me chama, me fazendo ficar. Confusa, observo meus companheiros de missão se retirarem e eu me dirijo novamente para frente da mesa do Hokage. Em uma posição de respeito, típica dos Caçadores Anbu, espero que ele volte a falar.

— Akemi, temos que conversar — ele diz, sério, e eu começo a ficar ansiosa. Balanço a cabeça, o incentivando a continuar. — Assim que vocês saíram para a missão, recebi uma carta de Sunagakure — sinto um arrepio percorrer todo o meu corpo. — Aparentemente, boatos sobre essa organização já chegaram aos ouvidos dos outros quatro Kages e o Kazekage pediu nossa ajuda — minha boca fica seca e meu coração acelera, tenho quase certeza que já sei onde essa conversa vai terminar. — Ele pediu ajuda em relação aos shinnobis. Obviamente ele não disse que os shinnobis da Areia são inferiores ao da Folha, mas todos nós sabemos que a maioria de lá são — Por favor, que ele não fale o que eu estou pensando que ele vai falar, penso. — Enfim, eu quero que você lidere um grupo para lá, para ajudar caso algo aconteça.

Ele termina de falar e talvez ele espere que eu fale algo, que eu aceite, mas não consigo nem mover minha boca. Eu não acreditava que isso estava acontecendo, não acreditava em meus próprios ouvidos. De tudo o que podia acontecer depois dessa missão, ir para a Vila da Areia nem passou pela minha cabeça. Mais uma vez penso em tudo o que se passou entre eu e Gaara na missão e que, mais uma vez, ficaríamos mais juntos que nunca enquanto meu relacionamento com Neji começava a acabar bem em frente aos meus olhos. Belisco minha mão com força atrás das minhas costas, isso só podia ser um daqueles sonhos muito ruins que eu tinha todos os dias e eu queria acordar agora mesmo.

Mas não acordo. Me belisco uma vez, duas vez, três vezes, mas continuo aqui, de pé, olhando para Kakashi. Não era um sonho, era a mais pura realidade e eu não conseguia nem me imaginar voltando para o mesmo lugar em que minha vida acabou uma vez. Minha cabeça gira e eu perco o equilíbrio, felizmente Kakashi me segura antes que eu vá ao chão.

— Você está bem? Akemi? — ele me olha preocupado.

— S-sim — gaguejo, ajeitando minha postura. Kakashi me faz sentar em um sofá e me dá uma água que eu nem sequer provo.

— Você precisa de atendimento médico?— ele se senta na minha frente.

— Não precisa.

Olho em seus olhos. Deveria ficar com raiva dele por estar fazendo isso comigo, mas não consigo, pois ele nem sequer sabia sobre meu passado e sobre tudo o que acontecera comigo na Vila da Areia. Como eu podia culpa-lo se ele só estava fazendo seu trabalho como um dos cinco Kages?

— Então... — ele me analisa com cuidado. — Você aceita ir?

Respiro fundo, tentando pensar em alguma desculpa. Minha mente parece estar em branco, pois nada minimamente inteligente surge. O que eu falaria para me livrar disso? O que eu falaria para não ter que encarar meus demônios do passado? O que eu falaria para salvar meu relacionamento com Neji? Vamos, Akemi, pense em alguma coisa. Rápido.

— Eu entendo que nós precisamos manter alianças — minha voz se faz presente, sem emoção nenhuma, nem parece eu mesmo. — Mas, aparentemente, essa organização está atrás de mim, eu sou a pessoa que mais está em perigo aqui. Você não acha que me mandando para uma aldeia com shinnobis inferiores seria me expor à um risco sem necessidade?

Nunca fui egoísta e nunca tive um discurso egoísta, mas nesse exato momento me vejo sendo e fazendo isso apenas para me livrar dessa situação. Kakashi também percebe isso e franze o cenho, ele sabe que eu sempre coloquei o bem estar dos outros em primeiro lugar, antes mesmo de qualquer necessidade minha — esse foi um dos motivos para eu ter me tornado líder Anbu.

— Eu sei que você está com medo — ele começa. Provavelmente está tentando convencer à si mesmo de que minhas palavras egoístas são fruto do medo da morte. Eu achava incrível como a maioria das pessoas tinha uma ideia formada sobre mim, de que eu nunca poderia ser nada além da menina boazinha que segue ordens. — Mas pensa comigo: exatamente por você ser o alvo da organização eles já sabem exatamente sua localização, você precisa ficar o mais escondida possível. Foi por isso que eu pensei logo em você para liderar um grupo para lá, a Vila da Areia fica no meio de um deserto, eles teriam que trabalhar muito para te encontrar.

Teria ficado comovida com o fato dele estar preocupado comigo, mas não consigo. Quero pensar em algum argumento para rebater o que ele disse, mas minha criatividade se esvaiu, pois ele estava certo. Sunagakure é o lugar perfeito para me esconder, pelo menos por um tempo. A Vila da Areia é cercada por vários e vários quilômetros de deserto árido e sem vida e ninguém sabia que eu tinha um passado lá, então porque pensariam em me procurar em um lugar desses? Fecho meus olhos com força, sentindo minha cabeça latejar.

— Akemi, eu não estou te obrigando a ir — Kakashi chama minha atenção. — Se você quiser ficar, tudo bem, posso mandar Ranmaru e outros jounins no seu lugar...

— Eu vou — me escuto dizer. Talvez eu tivesse perdendo minha cabeça de vez, qualquer pessoa que me perguntasse o motivo da minha aceitação eu não saberia responder. — Eu cuido disso, Kakashi — finalmente bebo a água num gole só. — Como vai ser?

— Certo — ele diz rápido, como se eu pudesse mudar de ideia a qualquer momento. Fica de pé, indo até a sua mesa, e eu vou atrás dele. — Você vai junto dos filhos do Kazekage e ficará lá pelo o tempo que precisar. Se eu precisar de você aqui, eu vou chama-la de volta, tudo bem? — ele vira para mim.

— Quem ficará no meu lugar de líder Anbu? — faço a pergunta que sempre rondava meus pesadelos. Eu amo meu trabalho e morro de ciúmes do meu posto apesar de não falar, afinal lutei com todas as minhas forças por ele.

Compreensivo, Kakashi me encara. Ele sabe como esse trabalho é importante para mim, como é tudo o que eu tenho.

— Quem você quer que eu coloque? — ele quebra o protocolo de que apenas o Hokage poderia escolher o líder Anbu ao me perguntar isso.

— Ranmaru — digo sem pensar muito. De todos ali, ele definitivamente era o mais preparado. — Mas deixe claro à ele que é apenas temporário, pois eu vou voltar.

— É claro — Kakashi sorri. Me viro para ir embora, mas ele me para com a sua fala. — Você tem certeza disso?

Se eu tinha certeza? Claro que não. É loucura. Pior, é tortura. Indo para lá eu estou apenas ferindo à mim mesma, mas, como de costume, estou colocando as necessidades de outros acima das minhas. Todos estão certos: eu nunca conseguiria ser nada mais que a menina boazinha que segue regras.

— Pode contar comigo, Kakashi. Não vou desapontá-lo — e então eu saio o mais rápido possível dali.

—x—

Depois de sair do prédio do Hokage e comer algo, encontro Neji em um lago. Nós costumávamos vir aqui quando éramos crianças para treinar e aqui também fora nosso primeiro encontro — e o primeiro beijo. Ele tinha preparado um piquenique com tudo o que eu tinha direito e mais. Foi um dos dias mais felizes da minha vida.

Agora ele está tomando banho, com os cabelos presos em um coque. Está incrivelmente lindo, como de costume. Não faço a menor ideia do que aconteceria quando ele soubesse que eu estava indo embora, mas não quero pensar nisso agora. Só quero aproveitar um momento a sós com o garoto que eu amei perdidamente por quatro anos.

Silenciosamente, tiro minhas roupas. O sol está se pondo então eu não corro risco nenhum de alguém aparecer e nos surpreender sem roupas. Assim que fico nua, entro na água, não está gelada e agradeço mentalmente por isso. O barulho que faço ao entrar, chama a atenção dele. Neji se vira para mim, como se já soubesse que era eu quem estava ali, e observa cada centímetro do meu corpo que desaparece na água com tanta devoção que quase leva lágrimas aos meus olhos. Ele fazia eu me sentir a mulher mais linda do mundo até mesmo quando eu tinha acabado de voltar de uma missão cheia de hematomas e machucados.

— Sabia que você apareceria aqui — ele diz quando já estou perto.

Uma de suas mãos segura meu rosto e não demora nem um segundo para que eu sinta seus lábios tocando os meus com toda aquela delicadeza de um selinho. Mas não quero só isso. Na verdade, se a gente pudesse só ficar se beijando e não falar nem uma palavra, eu agradeceria. Queria adiar o máximo possível o momento em que teria que contar à ele sobre a minha decisão. Então, antes que seus lábios deixem os meus, eu fico na ponta dos pés e envolvo seus ombros com meus braços e aprofundo mais o beijo.

Diferente de Gaara, o beijo de Neji é mais seguro, mais firme, sem medo, sem hesitação. Ele sabe que eu não vou fugir ou desaparecer, pois eu sou dele e ele é meu e isso é tudo o que importa. Sinto sua língua encontrar com a minha, a mesma língua que eu já estava tão acostumada, do mesmo homem que já estava tão acostumada. Meu rosto queima com todos esses pensamentos, a vontade de chorar volta. Sermos um do outro era o suficiente, mas mesmo assim eu estou o deixando. Como eu podia fazer isso? O beijo acaba, pois, como sempre, ele percebe que algo está errado.

— O que aconteceu, Akemi? — ele acaricia meu rosto. Sua voz está calma e a noite silenciosa e eu só quero poder parar o tempo e ficar aqui com ele para sempre.

— Será que podemos... — eu hesito, fecho os olhos, sentindo seu cheiro. — Não falar nada? — não devolvo seu olhar. Não conseguiria fazer isso sem chorar. — Vamos só... Aproveitar esse momento.

Ele não diz nenhuma palavra em concordância, mas sei que concorda quando ele me beija novamente. E de novo. E de novo. E de novo. Até que estamos na margem e eu estou deitada em cima da roupa dele e Neji está por cima de mim. Fico grata por ele ter respeitado meu momento e a noite está bem agradável então é bem confortável ficar aqui com ele. Mas mesmo que não estivesse, todos os momentos com Neji são perfeitos.

— Você quer ir para casa? — ele pergunta com os lábios passando em meu pescoço.

— Não — digo baixinho. — Vamos ficar aqui.

A conversa acaba por aqui, mas nossas ações não. Nos beijamos novamente e eu o sinto se acomodar entre as minhas pernas e deslizar para dentro de mim. Sim, era disso que eu precisava. Senti-lo. De todas as formas, principalmente dentro de mim. Muitas pessoas ainda têm a ideia de que sexo é só uma coisa vulgar, sem nada de especial além de prazer e tesão, mas entre Neji e eu esse ato de intimidade sempre teve um significado maior. Não é apenas sexo, apenas tesão. Nunca foi. Nunca seria. É uma forma mais profunda de conexão entre nós dois, algo que apenas eu e ele temos ciência. Algo precioso, puro, forte. Algo que eu prometi à mim mesma nunca perder, mas que todas as minhas escolhas recentes me levaram ao momento em que eu perderia. Eu o sinto começar a movimentar o quadril para cima e para baixo no exato momento em que lágrimas silenciosas escorrem por meu rosto. Eu não posso acreditar que esse está sendo a nossa despedida. Sexo de despedida. Eu nunca pensei que esse momento chegaria para mim e Neji.

Passo meus braços por suas costas, envolvendo-o em um abraço, sem que ele pare de se mover. Eu só o quero sentir o mais perto possível.

— Eu te amo — digo baixinho, tentando controlar qualquer gemido que eu pudesse deixar sair. — Eu amo você. Muito. Mais que qualquer coisa — sem querer deixo um soluço escapar. Estou tentando convencer à mim mesma, dizendo todas essas coisa, pois não foram poucas as vezes que me perguntei desde o início da missão se realmente amava Neji.

Ele desfaz meu abraço quando levanta o rosto para ver o meu. Os movimentos de seu quadril param por um instante.

— O que está acontecendo? — ele se apoia em um braço e acaricia meu rosto com a mão livre.
       Mordo meu lábio inferior, tentando controlar os tremores nele. Seus olhos são tão lindos. Eu sempre amei esses olhos, sempre amei o fato de que esses olhos não se voltavam para mais ninguém que fosse eu. Sempre amei tudo nele. Sem exceção.

— Eu não quero perder você — digo, deixando um soluço baixinho escapar. Minha visão fica turva por conta das lágrimas. — De todas as coisas que eu já perdi nessa vida, perder você seria a mais dolorosa pra mim. Eu não posso, simplesmente não posso...

Ele me interrompe com um selinho demorado e carinhoso, depois me olha com um sorrisinho sem mostrar os dentes, compreensivo. Eu amo esse sorriso.

— Isso nunca vai acontecer, Akemi — sim, vai, sim. — Você nunca vai me perder, eu prometo — sim, eu vou, sim. Ele me beija de novo. — Eu também te amo.

Ele volta a se movimentar dentro de mim e meu corpo se entrega à ele como tantas vezes já havia feito antes.

Mais tarde, quando estamos abraçados depois do que fizemos, Neji e eu decidimos que já está na hora de voltar para casa, pois já está ficando tarde. Eu me visto silenciosamente, a hora em que eu teria que contar à ele sobre a minha decisão tinha chegado. Eu não ia conseguir esconder nem por mais cinco minutos. Respiro fundo, terminando de me arrumar e viro para ele — que também já estava pronto, apenas amarrando a bandana na cabeça.

— Eu estou indo para a Vila da Areia — digo, rápido, sem rodeios. Como puxar o band-aid de uma ferida.

Ele passa uns bons segundo sem fala nada e isso só aumenta meu nervosismo e ansiedade. Até que começo a me perguntar se ele não tinha me ouvido, mas isso é impossível considerando que a noite está bem silenciosa. Até que ele vira para mim, prendo a respiração, seu cenho está franzido e ele me encara como se não tivesse escutado direito.

— Como assim você está indo para a Vila da Areia? Que história é essa? — ele se aproxima de mim.

— Você sabe o motivo da minha missão, não sabe? — ele balança a cabeça, concordando. — Pois é, os Kages também, e o Kazekage está precisando de shinnobis com habilidades melhores que os da Areia porque está com medo que aconteça um ataque lá.

— E você precisa ir? Com tanto shinobi aqui na vila, você tem que ir? — ele começa a erguer a voz. Por favor, não faz isso, Neji.

— O Kakashi confia em mim, Neji. Ele disse que eu sou a mais capacitada pra isso e você sabe que eu preciso seguir as ordens do Hokage por eu ser Anbu — me aproximo dele. Tento apelar para o fato de eu ser Anbu, pois ele mais que ninguém sabia como era ter que seguir regras, mas não funciona.

— Por quanto tempo? — ele pergunta, desviando o olhar do meu, e se afastando.

— Não sei — digo baixinho. — Pelo tempo que for preciso.

— E a gente, Akemi? — ele me olha nos olhos agora, sua voz está mais elevada. — Como é que você aceita isso sem nem pensar na gente?

Mordo meu lábio inferior, sentindo meus olhos se encherem de lágrimas.

— Não é como se eu fosse morar lá, Neji! — rebato, tentando ser firme, mas falho.

— “O tempo que for preciso” pode ser muito tempo, sabe? — ele vira de costas para mim.

— Sim, eu sei — me aproximo dele e toco em suas costas. — Mas nós podemos superar isso, podemos ficar juntos e...

— Você acha mesmo que relacionamento à distância funciona? — ele vira para mim novamente. Posso ver lágrimas em seus olhos e isso me destrói por dentro. Ficamos calados por uns segundos. — Eu vou com você — diz, me pegando de surpresa.

— Você não pode, Neji. Você tem seus deveres aqui com os Hyuga, você sabe que... — ele me interrompe.

— Que se fodam meus deveres com a minha família, Akemi! — eram raras as vezes em que eu o escutava falar palavrão e isso só acontecia quando ele estava muito fora de si. — Você acha que eu vou conseguir ficar aqui, te vendo arriscar a vida em uma vila que a gente nem conhece com pessoas que a gente nem conhece? Eu pensei que você me conhecia melhor — ele passa por mim. — Está decido. Eu vou.

— Não! Neji! — seguro seu braço e o faço parar. Minhas lágrimas já estão rolando pelo meu rosto. — Você é dá família secundária dos Hyuga — agora é a minha voz que está alterada. — Você é um protetor, você tem um dever e você sabe muito bem o que pode acontecer se você abandonar tudo isso assim! E eu não posso te perder. Será que você não entende isso?

— VOCÊ JÁ ESTÁ ME PERDENDO AGORA MESMO! — seu rosto está vermelho. Eu o solto e meu choro piora.

— Não faz isso... — digo entre soluços. — Neji, por favor...

— Tem um jeito de eu poder ir com você — eu o encaro. — Casa comigo. Agora mesmo, o mais rápido possível. Nós já somos maiores de idade mesmo. Se nos casarmos, meus deveres passam a ser com você e não com meu clã — ele se aproxima de mim. — Casa comigo, Akemi. A gente pode ir embora daqui...

— Eu não posso.

— ...Você nem precisa ir pra Vila da Areia. Podemos ir para um lugar bem longe, outro país, mais distante possível de tudo isso aqui...

— Neji...

— ...Nós ficaríamos juntos para o resto de nossas vidas — ele segura meu rosto. — Aquele para sempre que a gente sempre sonhou, lembra?

— Eu não posso! — minha voz treme e eu seguro seus pulsos. Seus olhos me encaram com intensidade. — Eu não posso simplesmente abandonar tudo, minha vila, as pessoas, meus companheiros. Não dá, Neji. Tem gente que precisa de mim, pessoas que estão contando comigo, não posso fugir disso.

Eu tiro sua mão de meu rosto e nós nos afastamos. Uma barreira que eu nunca pensei que se formaria entre nós, aparece agora. Pela primeira vez nessa noite sinto frio.

— O que você quer que a gente faça então? — ele pergunta, sua voz está fria, sem emoção.

— Eu não sei — limpo minhas bochechas. Meu coração doía agora mais do que nunca.

— Acho que a melhor solução então é ficarmos separados.

Sinto meu coração se quebra em meu peito, como um prato jogado no chão, se separando em milhões de pedacinhos minúsculos. Eu nunca pensei que teria que escutar isso dele. Uma lágrima solitária escorre por minha bochecha.

— Vamos ver como vai ser quando você estiver lá — ele não me encara mais. — Acho que é a única opção.

Eu não falo nada, pois sei que ele está certo. Neji me dá uma última olhada antes de ir embora. Ele não me beija, não me abraça, não faz nada, parece que tudo o que fizemos minutos atrás nem tinha acontecido, parece que nada do que fizemos nos últimos quatro anos tinha acontecido. Abraço a mim mesma e me sento na grama. Me permito chorar livremente agora. Eu quero acreditar que não, mas sei que tinha acabado de perder Neji. 


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