The Chosen Ones — Chapter One. escrita por Beatriz


Capítulo 17
Sayuri: enquanto isso...




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/797853/chapter/17

Voltar à Aldeia da Folha é estranho. Quando chegamos parece que não viemos aqui há uns bons anos. Acho que toda missão deixa essa sensação em qualquer ninja, a gente vê e faz tanta coisa que o “normal” acaba sendo esquecido. 

Quanto mais nos aproximamos da entrada mais vão ficando nítidas as pessoas que estão lá nos esperando. Me surpreendo quando vejo, entre elas, minha mãe, Yuki Dobutsu. Que diabo ela está fazendo aqui? E a julgar pela expressão em seu rosto não é por uma boa causa. Rapidamente lembro que no bilhete que havia deixando para ela assim que deixei a Vila da Névoa dizia que eu entraria em contato com ela assim que chegasse à Folha, mas acabei esquecendo completamente disso. Droga, penso.

Sasuke e eu somos os primeiros a alcançar as pessoas no portão, por algum motivo Gaara e Akemi ficam para trás, mas eles logo nos alcançam. Acho um pouco exagerada a recepção de Neji para Akemi, ele a abraça e fica fazendo perguntas como se ela tivesse acabado de voltar de uma guerra. Esse tipo de atitude não parece combinar muito com ele que é sempre tão sério e reservado. Mas, imagino que a preocupação faz as pessoas agirem de forma fora do habitual.

Troco um olhar com Kakashi antes que a minha mãe comece a falar no meu ouvido. Diferente de Neji e Akemi, Kakashi e eu não precisávamos demonstrar emoções e sentimentos para dizermos um ao outro “senti sua falta” ou “que bom que você voltou”. Já nos conhecemos há anos e entendemos um ao outro com apenas um único olhar. Nós conseguimos expressar qualquer coisas através disso.

— Sayuri! — minha mãe chama a minha atenção. Eu viro para ela com um sorriso de quem tinha sido pega fazendo besteira. — Como você tem coragem de deixar a Vila da Névoa e só me mandar um mísero bilhete?! — ela coloca as mãos na cintura e me olha com o cenho franzido. — E nem entrou em contato comigo depois que chegou! Eu quase morri de preocupação, sabia? Você não tem um pingo de consideração com a sua mãe, garota. 

Olhar para minha mãe é como olhar para um espelho. Nós duas somos  extremamente parecidas. A única diferença é o tamanho do cabelo e as feição dela que são mais maduras, porém, tirando isso, poderíamos facilmente ser confundidas como sendo irmãs e até mesmo gêmeas.

— Mãe, eu...    

Antes que eu tenha tempo de falar alguma coisa, Kakashi diz que temos que ir para o seu escritório, relatar tudo sobre a missão. Suspiro aliviada, estou sem um pingo de paciência pra discutir com a minha mãe agora. Dou um beijo em sua bochecha e começo a me afastar. 

— Preciso ir, mãe. A gente se vê daqui a pouco. 

— Você... Não! Sayuri!!!

Mas eu já estou correndo até Kakashi e nem olho para trás. Eu seia também que ela vai me perguntar sobre Sasuke e não faço a menor ideia de como começar contando tudo o que aconteceu — claro, escondendo as partes em que nos beijamos. Já sinto uma dor de cabeça começar só de imaginar toda essa conversa.

Dentro do escritório de Kakashi, contamos tudo, até mesmo sobre o homem de cabelo rosa e olhos verdes. Como eu pensava, Kakashi logo deduz que pode ser alguém do meu clã, porém diz que conversaremos sobre isso  mais tarde. E eu sei bem o porquê. Sasuke está na sala e ele já me odeia suficientemente sem que haja suspeitas de que meu clã estava envolvido com algo errado. Kakashi quer evitar uma briga entre nós dois.

Quando somos dispensados, por algum motivo, Akemi é chamada para ficar. Não faço a menor ideia do que eles vão conversar, mas pela expressão de Kakashi é algo sério. Do lado de fora da sala, observo Sasuke ir embora sem falar nada e Gaara encarar a porta. Suspiro. Algo dentro de mim me dizia que eu não estava presa apenas à Sasuke, mas à Gaara também e só de imaginar que os dois tinham personalidades bem difíceis já me cansava. 

— Algo me diz que ela vai demorar aí dentro — digo ao ruivo, me referindo à Akemi. Ele não responde, apenas cruza os braços. — Você realmente precisa aprender uma coisa chamada espaço. Todas as meninas precisam disso uma hora ou outra.

— Ela estava passando mal quando chegamos, quero me certificar de que chegue bem em casa — ele diz. 

Derrotada e muito cansada de tentar ajudar esses dois, desisto de falar e só dou boa noite e vou embora. Eu teria que voltar aqui de qualquer forma, então que eu tomasse um banho primeiro para relaxar. Para minha sorte, não encontro mais com a minha mãe por enquanto.

Estou trocando de roupa quando vejo Gaara passando da janela do apartamento. Provavelmente já está voltando para o seu prédio e não está acompanhado de Akemi o que significa que ele não tinha ficado esperando. Observo o ruivo por um tempo até ele sumir de vista. Ele tinha me escutado então, afinal. Sorrio. 

Todos na aldeia já estão se recolhendo quando volto ao escritório do Hokage. Quando entro na sala ele está lendo algum documento. Se a ocasião fosse outra, eu não hesitaria em sentar no seu colo e beijá-lo, mas agora minha cabeça estava uma confusão e toda aquela excitação que senti quando o vi assim que cheguei à vila dias atrás parecia ter se dissipado. Eu só quero poder descansar um pouco sem ter que me preocupar com nada.

— Você veio — ele diz, sem tirar os olhos dos papeis à sua frente. 

— Não é como se você fosse me deixar não vim depois do que eu falei, não é? — paro em frente a sua mesa e cruzo os braços. Acabo falando meio grossa, pois ainda estou ressentida por ele ter, imediatamente, desconfiado do meu clã. Ele finalmente levanta o rosto para me olhar.

Quem vê Kakashi não imagina que ele esconde um milhão de emoções por baixo daquela máscara que esconde seu rosto. Mas eu sabia e no momento em que ele me encara, eu sei que está preocupado comigo. Isso me deixa mal. Um dos muitos motivos que me fez não querer voltar para Konoha foi exatamente esse, não queria trazer ainda mais problemas ou preocupações para Kakashi. Porém, agora me vejo aqui, trazendo exatamente tudo isso à ele.

— Você não é idiota, Sayuri — sempre gostei do fato de Kakashi não ficar de rodeios comigo, mas agora eu preferia que ficasse, pois não estou animada pra essa conversa. — Você sabe que esse cara de cabelos rosa e olhos verdes pode ter vindo do seu clã.

— Não somos os únicos que têm essas características físicas, Kakashi, e eu... — ele me interrompe.

— Você confia no seu clã? — a intensidade de seu olhar me deixa desconfortável. — Eu conheço sua história, Sayuri, sei que sua relação não é muito boa com muitos dali. 

— E isso é motivo pra acusar minha família sem provas?! — bato o punho em sua mesa. 

O que Kakashi está falando é verdade, mas mesmo assim não quero me acreditar que exista a mínima possibilidade de alguém do meu clã fazer algo como aquele ataque à Folha ou estar aliado à Doragon. Dentro de mim, eu divido o sangue Dobutsu com o sangue Uchiha e essa segunda parte da minha família já tinha me trazido problemas suficientes. Qualquer um pode me chamar de ingênua ou fraca, mas o que tem de errado em querer acreditar que uma parte da sua família possa ser... Boa?

— Não estou acusando ninguém — Kakashi diz. — A única coisa que eu quero saber é: se nós descobrirmos que esse homem é alguém do seu clã, você conseguiria enfrenta-lo? 

— Que história é essa? — visivelmente alterada e ofendida, eu me afasto um pouco, sem tirar meus olhos do dele. — Desde quando você começou a duvidar de mim como shinnobi, Kakashi?

— Não estou duvidando de você— ele fica de pé e vem até mim. — Mas em um momento como esse não podemos nos dar ao luxo de ter pena ou de ficar triste ou de sermos misericordioso.

— Você fala como se estivéssemos na iminência de uma guerra! — sinto meu rosto queimar. Desde sempre reprimi todas as minhas emoções, como shinnobi eu não posso me dar o luxo de demonstrá-las, mas ultimamente eu venho falhando nisso mais vezes do que eu gostaria. 

— Eu estou tentando não ser pego de surpresa, Sayuri. Qualquer descuido pode ser fatal, você sabe disso. Sem falar que um ataque desses pode trazer uma briga muito feia entre a Névoa e a Folha — ele enfia a mão nos bolsos. — Então eu te pergunto mais uma vez: você tem alguma ideia de quem possa ser esse homem? 

— Não! — quase grito. — Já disse. Eu não faço a menor ideia. Você mesmo acabou de dizer que sabe que a minha relação com os Dobutsu não é a melhor do mundo, então você acha que eles me deixariam a par caso resolvessem atacar a Folha ou se unir à uma organização? Eu não estou mentindo pra você, Kakashi — sinto meu nariz agora queimando com a vontade de chorar. — Você acha mesmo que depois de tudo o que nós dois passamos eu ia te trair assim? 

— Eu só estou fazendo meu trabalho como Hokage, Sayuri. Você acha que é fácil ficar enfiado nesse escritório atrás de um monte de documentos enquanto tudo se desenrola ao meu redor? — a intensidade de seu olhar só me deixa ainda pior. — Eu não quero que você se machuque! — essa é uma daquelas poucas vezes em que eu vejo Kakashi levantar a voz. — Se for alguém do seu clã, da Névoa, os anciões não vão me permitir ficar de braços cruzados. Uma guerra entre vilas é a última coisa que precisamos agora principalmente quando você estaria no fogo cruzado. É por isso que eu preciso saber de tudo, não posso descartar nenhuma suspeita. 

— É da minha família que estamos falando! — grito, sentindo algumas lágrimas rolando por minhas bochechas. — Eu não gosto da maioria dali, é verdade, mas a minha mãe está entre eles. Você sabe o quanto eu já perdi nessa vida, você acha mesmo que eu tenho alguma condições de perde-la também?

Nem ligo para o fato de estar chorando, Kakashi é uma das únicas pessoas que eu permitia que me visse nessas condições. Apesar de estar triste e assustada com tudo isso, eu confio nele o suficiente para deixar minha guardar abaixar assim. 

Não passa nem dois segundos até que eu sinta os braços de Kakashi me envolverem em um abraço. Mesmo que eu tenha ficado com um pouco de raiva, eu entendo o lado dele. Sei que só estava fazendo seu trabalho como Hokage, mas ainda assim é difícil de aceitar que, além de mim, de Akemi, Gaara e até mesmo Sasuke estarmos correndo perigo, minha mãe também está, pois não está segura nem no próprio clã. A fé de minha mãe nos Dobutsu é inabalável, apesar de tudo, ela acredita em nossa ligação sanguínea como algo inquebrável. Como eu diria à ela agora que isso podia estar ameaçado? 

— Me desculpa — Kakashi diz baixinho agora e eu o seguro com força contra mim, escondendo meu rosto em seu ombro, enquanto deixo que minhas lágrimas continuem rolando.

— Eu estou com medo — digo em um fiapo de voz. 

— Eu sei. Vai ficar tudo bem.

Não sei se ele diz isso pra me convencer ou para convencer a si mesmo, porém, qualquer que fosse a resposta, funciona por uns minutos. Kakashi e eu sempre compartilhamos um laço muito forte que vai muito além de nos sentirmos sexualmente atraídos um pelo outro. Ele é – sempre foi – para mim aquela luz na escuridão, aquele sopro de coragem e esperança quando tudo parecia perdido; toda vez que eu precisava de consolo e conforto, eu o procurava porque ele sempre sabia a coisa certa a dizer. Muitos podem acreditar que isso se deu devido ao fato dele ter sido meu sensei, mas eu sei que não. Daríamos a vida um pelo o outro e, no momento em que ele diz que ficará tudo bem, eu acredito, pois sei que, quando a hora chegasse, ele faria o impossível para tudo realmente ficar tudo realmente bem.

—x—

Depois que saio do prédio do Hokage, encontro minha mãe no meu apartamento. Ela está furiosa por tudo o que eu tinha feito — ou deixado de fazer — e eu estou sem ânimo nenhum para ouvir seus sermões. A observo brigar comigo, enquanto estamos comendo lámen na cozinha do apartamento, sem escutar uma única palavra direito, pois minha mente está longe. Em Sasuke, em tudo o que está acontecendo, no homem desconhecido com as características do meu clã... O senhor feudal disse que ele tinha treinado com pessoas da vila, mas se fosse do meu clã, não precisaria ter treinado, pois nosso kekkei genkai já nos permite invocar qualquer tipo de animal. A menos que... Ele estivesse fingindo treinar para conhecer os animais de invocação da vila, para que desconfiassem deles e não... Da gente. Um frio percorre minha espinha. Por quê? Se alguém do meu clã quisesse atacar a Vila da Folha não faria isso sem um motivo. Então, por quê?

Lembro que o apartamento de Akemi também havia sido destruído e que Sasuke e Kiba encontraram um pedaço de pano da roupa dos Doragons lá. Quanto mais eu penso que alguém do meu clã pode estar aliado à eles, mais eu sinto medo. Kakashi estava certo em dizer que algo assim podia desencadear uma guerra entre a Névoa e a Folha e a possibilidade dos Dobutsu serem responsaveis por isso me aterroriza. 

— Sayuri! — minha mãe chama, aborrecida por eu não estar prestando atenção nela.

Eu olho para minha mãe pela primeira vez. Ela é uma mulher linda, uma kunoichi excepcional e uma mãe incrível. Sempre deu tudo de si para me criar quando meu pai morreu. Ela sempre foi do tipo que luta com unhas e dentes por aquilo que acredita e, exatamente por isso, eu sei que contar pra ela sobre tudo o que está acontecendo vai magoá-la em níveis inimagináveis. Eu ia esperar até ter certeza. 

— Você se encontrou com Sasuke — ela diz. — Como foi? 

— Ele me odeia — cutuco o macarrão do meu lámen com o hashi enquanto falo. — Mas isso não é nenhuma novidade.

— Então por que você parece triste com isso? 

Porque eu acreditava que o odiava também, passei anos cultivando esse sentimento dentro de mim, mas agora eu nem sei mais o que eu sinto e eu não posso falar nada para ninguém porque sou orgulhosa e sentimentos são coisas de pessoas fracas. E eu não sou fraca.

— Não estou triste, só estou cansada — tento soar convincente e até acho que funciona. 

— Agora que essa missão acabou... Você vai voltar para a Névoa? — seu tom de voz me faz pensar que em algum momento ela considerou a possibilidade de eu ficar aqui.

Pela primeira vez percebo o quanto minha mãe precisa de mim. Eu nunca havia pensando muito na possibilidade dela ser tão apegada assim à mim, quer dizer, os pais preparam os filhos para o mundo, não é? Vê-los partir é uma coisa natural. Mas com a minha mãe é diferente. Depois que ela perdeu meu pai, eu era tudo o que ela tinha. 

— Sinto muito por não ter entrado em contato com a senhora, mãe — digo, segurando sua mão. — Não se preocupe com isso, eu vou voltar. 

Mais tarde nessa mesma noite, enquanto minha mãe dormia, eu saí para tentar espairecer um pouco. Aparentemente eu sou a única acordada na vila. Está tudo silencioso e o vento frio me faz arrepiar um pouco. Em um certo momento me pego pensando onde estaria Sasuke e o que ele estaria fazendo. Eu não quero admitir, mas estou sentindo sua falta. Dos beijos, do jeito que ele me tocou e até mesmo das nossas brigas. Sorrio. Acho que eu estou começando a me tornar uma masoquista. 

Olho para cima, as árvores balançam com o vento e a lua brilha alta no céu. De todos os sonhos que eu tenho, o que arde mais vivo dentro de mim é o de ser livre. Minha vida toda eu sonhei com o momento em que teria liberdade, em que poderia andar tranquilamente por aí sem ter que ficar olhando por cima dos ombros, sem ter medo. Talvez esse tenha sido um dos motivos para eu ter me tornado shinnobi. Eu não quero depender de ninguém, não quero estar presa à ninguém. Mas isso não foi uma opção para mim, pois desde que nasci sempre estive presa a alguma coisa: clãs, deveres, tradições, sentimentos...

Uma bolinha de papel cai aos meus pés, trazido pelo vento. Isso me tira de meus pensamentos e eu olho para cima, procurando de onde veio. Me surpreendo quando vejo Akemi na varanda de seu novo apartamento, debruçada sobre uma mesinha, escrevendo algo. Com apenas um pulo eu estou atrás dela. 

— O que você tá fazendo acordada uma hora dessas? — pergunto.

— Ah! — ela dá um gritinho e vira para trás com a mão sobre o coração. — Sayuri! Você me assustou. 

— Desculpe — me aproximo da mesa e observo o novo papel em que ela está escrevendo. — O que é isso aí que tá te tirando o sono? 

Akemi suspira e pega o papel, observando-o. Percebo que seu semblante fica triste. 

— É uma lista — ela vira o papel pra mim e eu leio o conteúdo, mas não entendo muito bem. — Estou indo embora da vila. 

— Como assim “indo embora”? — por um momento acho que ela está zoando comigo, mas sua expressão me diz que está falando bem sério.

— Longa história — ela suspira e deixa o papel de volta na mesa. — Mas em resumo, eu vou para Vila da Areia pra ajudar com os shinnobis de lá e também para me esconder da Doragon.

 — Vila da Areia, huh? Onde o Gaara mora, não é?

Ela balança a cabeça, concordando. Durante a missão não pude deixar de reparar tudo o que rolava entre Akemi e Gaara. Eles pareciam se gostar, mas por algum motivo não conseguiam se entregar ao sentimento. Me pergunto mais uma vez o que aconteceu entre eles. 

— Você não parece nem um pouco animada. 

— Uma coisa muito ruim aconteceu comigo naquela vila, e as minhas lembranças... — ela fecha os olhos com força. — Eu simplesmente não sei se vou conseguir suportar, entende? — ela me olha. — Só de lembrar é doloroso demais, imagina como será quando eu pisar lá. 

Aparentemente eu não sou a única presa à alguma coisa. Entendo agora que Akemi está presa ao passado dela e Gaara está envolvido nisso. Minha curiosidade apenas cresce, mas não pergunto nada. Puxo uma cadeira e sento à sua frente.

— Sabe, considerando tudo o que está acontecendo, mudar de ares pode ser bom. Você vai para lá, mas não se deixe dominar por essas lembranças. Lembre-se do porque está lá: você vai estar se protegendo e protegendo outras pessoas. Mantenha seu dever como shinnobi em mente e então lembrança nenhuma vai te incomodar. 

— Eu não sei se isso é possível — ela segura o pingente do colar que está em seu pescoço. 

— Tenho certeza que você vai conseguir — coloco uma mão em sua coxa, tentando confortá-la. Nós nos encaramos e eu sorrio para ela. 

Passamos uns segundos em silêncio. É bom ter a companhia de Akemi. Eu já estava tão acostumada com muita brutalidade que às vezes é bom lembrar que pessoas gentis como Akemi ainda existem no mundo.

— Sayuri — ela chama minha atenção e eu a encaro. — Como é ser uma Uchiha? 

Arregalo os olhos. Como diabos ela sabe que eu sou uma Uchiha se eu nunca nem usei o sharingan perto dela? Eu sei que posso confiar em Akemi, mas desde que nasci fui instruída à ter muito cuidado com quem eu compartilhava isso, pois os portadores desse kekkei genkai raramente tinham paz. 

— Você sabe que eu tenho a habilidade de sentir chakras — Akemi começa a explicar. — E eu sinto em você o mesmo tipo de chakra que sinto em Sasuke que emana desse kekkei genkai. Quando te conheci, quase duvidei de mim mesma, pois você nem tem aquela aparência característica dos Uchiha: cabelo preto, olhos pretos... Mas essa minha habilidade quase nunca erra. — ela se ajeita melhor na cadeira. — Desde pequena, eu escuto muitas histórias sobre os Uchihas e tenho que admitir que é muito fácil odiá-los, por isso até consigo entender o que o irmão do meu bisavô, Tobirama, sentia em relação à vocês. Porém, mesmo com muitas das histórias sendo trágicas, me parecia que, com o sharingan, vocês eram capazes de fazer qualquer coisa, até dominar o mundo se quisessem. Então, sempre me perguntei: como será que é ser um Uchiha? 

Olho para céu e fico encarando a lua por um tempo. Como é ser uma Uchiha? Acho que eu nunca havia pensando em algo assim, mas, para a minha surpresa, me vejo rapidamente tendo uma resposta para essa pergunta. 

— Bem... Muitas vezes parece como uma maldição, como um fardo que é pesado demais para você carregar, mas que ao qual você está preso para sempre, então você carrega de qualquer jeito — eu olho para Akemi e ela está me escutando atentamente. — Parece que, com o passar do tempo, os Uchihas foram apenas ganhando cada vez mais uma fama péssima que foi passada de geração em geração até os dias de hoje. Parece que em todas as histórias desse clã, mesmo existindo pessoas boas, sempre haveriam aquelas que sucumbiriam ao ódio. Só que, se você parar para pensar, é muito fácil odiar um Uchiha quando se está apenas lendo uma história. Ninguém nunca se pergunta o quão fácil é se entregar ao ódio no mundo ninja, deixar que isso te consuma até que você faça algo muito ruim. Infelizmente, para nós, Uchihas, parece que estamos fadados à isso — por uns segundos penso em Sasuke. — E, bom, numa história sempre tem que ter o mocinho e o vilão. Na nossa história, os vilões somos nós e os mocinhos são os Senju. E sabe o que é mais engraçado? Eu tenho sangue Uchiha e você tem sangue Senju e nós não nos matamos quando nos conhecemos — sorrio. — Isso não te faz pensar que, apesar do padrão, sempre pode haver uma exceção? — eu olho para a lua de novo. — O que eu quero dizer é que: ser Uchiha é uma benção e uma maldição, você só precisa saber qual das duas vai ser a sua sina. 

Quando termino de falar, Akemi ainda continua em silêncio por mais um tempinho. Talvez estivesse absorvendo tudo o que eu havia falado.

— Parece doloroso e meio solitário — ela diz, por fim. 

— E é — eu me levanto. — Mas só se você deixar que seja. — eu me espreguiço, já começando a me sentir sonolenta. — Bom, já vou indo, tô bem cansada — eu a encaro. — Vou ficar torcendo para que dê tudo certo pra você lá na Areia, mas se você tiver algum problema, pode me chamar, vai ser um prazer lutar ao seu lado novamente — eu pisco para ela. — Boa noite, Akemi, espero que a gente se veja mais vezes.

Salto da varanda de seu apartamento e, lá embaixo, abraço à mim mesma, tentando me esquentar. Subitamente a noite havia se tornado muito fria. Penso no que disse à Akemi sobre os Uchihas e isso me causa um calafrio. Penso em Sasuke e em tudo o que acontecera na missão e há muitos anos atrás... Será que, assim como muitos Uchihas, nós dois também estamos predestinados à tudo o que eu disse?


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "The Chosen Ones — Chapter One." morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.