Um ano de histórias escrita por Annabel Evers


Capítulo 4
É como dizem, ela tem perna curta


Notas iniciais do capítulo

Imaginem cachos num tom castanho mel, sardas pelo rosto branco, alto e inseguro como o pai: eis o Hugo Weasley desse conto.
Enjoy it!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/797413/chapter/4

A B R I L 

Hugo Granger Wesley

1º de abril - Dia da Mentira

    Madame Pomfrey já considerava se aposentar há algum tempo. Entre alunos petrificados, com ossos quebrados, sem ossos e até envenenados, ela imaginava já ter visto de tudo nos seus anos como enfermeira de Hogwarts. Mas, ainda que não fosse o caso, aquela cena que se desenrolava na sua enfermaria teria corroborado na decisão. 

— Mas de onde vocês tiraram isso? — gritou Rose Weasley, sentada no seu leito, o rosto vermelho de raiva. 

Era engraçado ver dois homens adultos calados e paralisados perante o olhar de uma adolescente. Os outros três garotos ficaram calados, não ousando encarar o olhar irritado da ruiva. 

Na realidade, constatou Madame Pomfrey, dois garotos, pois o terceiro estava saindo de fininho. E, se ela tinha entendido bem, foi ele, Hugo Weasley, o causador daquela confusão. 

*

15 dias antes 

Hugo com frequência ficava sonhando acordado. Sua mente criativa gostava de imaginar figuras em qualquer objeto, criando histórias para elas. Por exemplo, se ele virasse de cabeça para baixo aquele mapa com cálculos de Aritmancia, parecia que um monstro de vários olhos atacava com bolas de fogo em formas de números a planície dos anões. 

E é porque ele gostava da matéria. 

— Você está de novo entre aquele olhar entre psicopata e débil — sussurrou Louis, fazendo-o voltar para a realidade.

Hugo sorriu sem graça e ajeitou-se melhor na cadeira. O primo empurrou para ele uma folha de pergaminho amassada e com manchas amarelas. O coração do garoto bateu mais forte. Finalmente chegara a vez dele jogar. Com muito cuidado para não chamar a atenção da profa. Vector, abriu o pergaminho. 

Bem vindo (a) ao II Desafio do Dia da Mentira 

Devido à repercussão da edição inaugural, esse ano vamos ampliar a quantidade de participantes. Se você recebeu esse papel, parabéns, pois algo em você nos fez considerá-lo como alguém inteligente, criativo e com muito senso de humor. 

Interessados, escolham um número e coloquem seus nomes nele. No quadrado pontilhado, localizado no verso da folha, o nome da sua vítima aparecerá e logo abaixo, a mentira que precisarão contar. Lembrando: ambos são escolhas aleatórias, então caso o desafio não faça sentido, nos procure. No famigerado dia 1° de abril, estaremos analisando quais foram as mentiras que realmente enganaram. 

Que a sorte esteja sempre ao seu favor!

 

— É sério que eles citaram Jogos Vorazes? — comentou Louis, que lia com Hugo. 

 — Eu bem que consigo imaginar os Scamander usando uma das perucas da Effie. 

Louis conseguiu disfarçar a risada com uma crise de tosse. 

— Mas é um desafio fadado ao fim, né? — continuou o Weasley loiro, murmurando baixinho. — Mesmo que a galera faça silêncio, alguém alguma hora vai falar. 

— Você diz isso porque participou ano passado e ainda ganhou — resmungou Hugo. Louis revirou os olhos e ajeitou a gravata preta e amarela, brincando com uma falsa postura convencida. 

— Você vai participar? — perguntou Louis.

Hugo assentiu. Ele molhou a pena e colocou seu nome no número oito. Já imaginando que o desafio seria fácil, virou a folha extremamente confiante. 

— Puta merda!

Bem, eles estavam pedindo. Profa. Vector não pode ignorar os xingamentos de Hugo, nem a risada histérica de Louis e expulsou-os da sala. Ela entregou bilhetes para os diretores de sala dos garotos (a Profa. Patil, da Corvinal, e o prof. Macmillan, da Lufa-Lufa) e fez um gesto impaciente com a mão para eles saírem. Louis enxugava as lágrimas de riso. 

— Você tá ferrado, cara — exclamou o primo, dando tapinhas solidários nas suas costas. 

Hugo olhou irado para o loiro. É claro que ele sabia! O namorado da sua irmã tinha, sei lá, triplicado no último ano. O cara tinha bastante força e.. Ora, quem ele queria enganar? Hugo estava com medo mesmo era de Rose Weasley. Hugo deixou o primo rindo do seu azar e seguiu para as estufas, sua aula dividida com a Sonserina. Ele amassou o papel e jogou na mochila. O garoto não precisava ler para lembrar de cada palavra escrita.

    Scorpius Malfoy. Dizer que a namorada está grávida. 

*

Herbologia não era tão interessante assim (com as devidas desculpas, prof. Longbottom), então Hugo não ficou com peso na consciência por não ter prestado atenção. Ele tinha um plano perfeito e, se desse sorte, sua irmã não ficaria sabendo da participação dele. Quando a aula acabou, disse para os amigos que já os alcançava e foi conversar com sua prima, Lucy. A ruiva ouviu o relato de Hugo com uma expressão que lembrava Louis. 

— Sua irmã vai acabar com você — disse Lucy sinceramente, após Hugo perguntar a opinião dela. 

Se ela descobrir — frisou Hugo. 

— Eu até ia participar esse ano, mas se esse vai ser o nível dos desafios de merda, prefiro apenas assistir — comentou Lucy. 

Eles estavam saindo das estufas e já iam se separar quando Hugo lembrou de um detalhe importante. 

— Por favor, Lucy, não conta nada pra Lils.

— Como se eu e Lily Luna fossemos ficar trançando o cabelo uma da outra e trocando segredos — respondeu ela, debochando da possibilidade. 

11 dias antes 

Todo o quinto ano não falava de outra coisa além do desafio dos irmãos Scamander. Eles eram uma espécie de lenda quando misturadas a inteligência de Lorcan com a maliciosidade de Lysander. Nos últimos dias, Hugo via tanto a mesa da sua Casa quanto a mesa da Sonserina muito movimentada pelos quintanistas. Ele conhecia os gêmeos de festas de aniversário e verões n’A Toca, mas não eram muito amigos na escola. 

    O quinto ano era uma mistura de Casas e amizades. Foi o ano que ele, Hugo Weasley, foi o primeiro da família a ir para a Corvinal e Louis o primeiro da Lufa-Lufa, enquanto Lily foi para a Grifinória e Lucy seguiu o caminho iniciado por Alvo e foi selecionada para a Sonserina. Os quatro nem sempre se deram bem, mas eram primos e bem, o primeiro dia de aula pode ser assustador se não conhecer ninguém. 

    Mas isso aconteceu com outros grupos. Lorcan, por exemplo, ficou na Corvinal enquanto Lysander foi para a Sonserina. Seth Prescott, seu amigo e colega de dormitório, também foi separado na seleção dos seus amigos de infância, Theo Hughes e Simas Wallter. Por isso, o ponto de encontro entre eles era o jardim. Quando Hugo chegou, naquele fim de tarde, Lily e suas amigas disputavam uma partida de snap explosivos com seus amigos. 

—  Que merda, Potter! — exclamou Simas, irritado. — Você me distraiu de propósito.

— Como você é um mal perdedor, Wallter — retrucou Lily, acenando para Hugo. Ele sentou-se ao seu lado, abraçando-a. — Quer uma revanche ou desiste de perder?

Ele não respondeu, mas levantou-se; os outros garotos o seguiram de volta para o castelo. Seth e Theo acenaram para Hugo, mas não o convidaram a ir junto. Ele tentou ignorar a sensação do estômago despencando, afinal as coisas já eram assim há cinco anos. Hugo não tinha amigos de verdade, não além dos primos, e ainda assim ele se esforçava para ficar perto daqueles caras, precisava da aprovação deles. 

Eu sou patético. 

— Não sei como você gosta de andar com esses caras — comentou Lily quando suas amigas também foram embora. 

Hugo não a respondeu imediatamente. Ele puxou a mochila para o colo e tirou uma caixinha de Feijõezinhos. Como faziam sempre, deitaram no gramado, olhando para o céu. Eles costumavam brincar de achar formas nas nuvens quando criança e hoje em dia eles complementavam o jogo infantil criando histórias para as figuras identificadas. Tudo o que Hugo via como fragilidade — a sua sensibilidade, a sua criatividade — era o que Lily mais amava nele. 

— Mas até que foi útil ficar um pouco com aqueles acéfalos. Eles disseram que você está participando do desafio dos Scamander. 

— Legal, né? — disse Hugo, ignorando propositalmente o tom de crítica da prima.

— Você é melhor do que esses desafios de adolescentes, Hugo. 

— Eu sou um adolescente, Lils. 

— Mas isso é tão! argh! atitude de garotos insensíveis! Olha a confusão q-

— Eu sou um garoto, Lily!

— É, mas desde quando virou um babaca? — disse a ruiva, sentando-se. 

Lily era muito bonita, com aqueles cabelos ruivos e longos e a pele creme que ficava ainda mais linda ao sol, mas naquele momento Hugo ignorou propositalmente, porque eles certamente iriam discutir; Lily não deixaria o assunto morrer. Mas enquanto pudesse, ia enrolar a situação. Colocou um braço ao redor da sua cabeça e usou a outra mão para proteger os olhos da claridade enquanto olhava para ela. 

— Lilu, você nem sabe o que eu vou fazer, então pra quê esse drama?

— Simples: se não fosse merda, você já teria me contado — retrucou a ruiva, com a segurança que toda melhor amiga tem. 

— Ah, esqueci que eu só tenho você mesmo para contar — disse Hugo sarcasticamente. Diante do olhar confuso da prima, ele continuou, agora menos ácido: — Você não tem ideia de como é, Lily. Você é a princesa dessa escola, Louis é um ímã de pessoas e Lucy é tão divertida e louca… Vocês têm outras pessoas, eu só tenho o Seth e só quando os outros amigos dele não estão por perto. Eu estou cansado de tentar mudar pra me encaixar. 

— Você não precisa mudar por mim, sabe. E nem por ninguém. Você não deixa as pessoas te conhecerem, Hugo. Se você, sei lá, superasse a sua timidez e deixasse que as pessoas-

— Ah, cala a boca, vai. 

Lily realmente obedeceu, mas por choque. 

— Não é engraçado ser tímido. Não é legal sentir suas mãos ficando geladas ou as palavras escapando da sua boca quando precisa interagir com outras pessoas. 

— Então é mais fácil fazer merda, porque assim todos vão te adorar?

Ele não respondeu. Lily fez com que ele sentasse, mas ainda assim Hugo não a olhou nos olhos, preferiu ficar puxando punhados de grama. Lily começou a murmurar versos de uma canção (So ask me, ask me, ask me) e geralmente ele responderia com um Não cite a sagrado nome dos The Smiths em vão. Bem, hoje ele não estava no clima. 

— Eu não sou uma boa amiga? — Hugo podia sentir o sorriso na voz dela. 

— É bem patético ter apenas os primos como amigos — murmurou ele, ainda sem olhá-la. 

— Mas não o suficiente. — dessa vez não foi uma pergunta. — Sabe — disse ela, em tom de conversa, como se não estivessem brigando. — se você não tivesse me ofendido tanto agora, eu poderia até bolar a porcaria de um plano com você e te fazer vencer esse estúpido desafio. Mas eu sou uma amizade patética, né? Legal. Até, sei lá, o próximo natal, Hugo. É só assim que as famílias se veem, certo?

Ele estava com muita raiva dela, o que explicava a vontade que tinha de lançar a mochila na cabeça da prima. Mas não explicava porque seu peito estava apertado ao vê-la ir embora. 

6 dias antes

Eles bateram um novo recorde; a última vez que passaram tanto tempo brigados tinha sido bem antes de Hogwarts, há tanto tempo que ele nem lembrava. Louis tinha ficado do lado da Lily, mas Lucy discordava da prima, Lily Luna é dramática demais. Hugo estava ocupado demais com seu plano para se preocupar com isso. 

Metade do quinto ano que estava participando já tinha desistido. Alguns, como Seth, perderam nas primeiras tentativas de realizar o desafio. Dos seus amigos, apenas Theo continuava na disputa. O foda era que ele precisava enganar um professor bem esperto de Defesa contra as Artes das Trevas. Hugo não tentou desestimular o cara, mas Ted ia descobrir em dois tempos que a varinha falsa não era a sua. 

— Eu fiz a réplica perfeita, ele nem vai saber. 

Hugo e Seth apenas se olharam, mas não falaram nada. 

— É, porque um professor não vai saber reconhecer sua própria varinha. Boa sorte aí, Hughes — comentou Louis, sentando-se ao lado de Hugo. — Se eu fosse você, ia para o terceiro andar, o Ted vai dar aula lá hoje pro primeiro ano, mais fácil de você conseguir fazer a troca. 

— Lupin nem está na escola hoje — disse Seth quando Theo saiu atrapalhado. 

— Uma dica de graça, cara — riu Louis. — Hugo, tá aqui a araramboia. De nada.  

— Pra quê você quer isso? — perguntou Seth, a boca cheia de bolo. 

— Se você quer que um plano funcione bem, esteja por trás das cortinas, orquestrando tudo — disse Hugo, sorrindo. 

— Ei, cara — disse Louis, depois que a atenção de Seth estava mais dispersa. — Você deveria realmente pedir desculpas pra Lily, sabe. Ela ficou muito magoada.

— E você não? — perguntou Hugo, arqueando uma sobrancelha. 

— Nah, eu te conheço. Melhor, eu conheço esse seu lado. Ela não. 

— Ela mesma me disse que só ia querer me ver no natal, então…

Louis bufou e começou a se servir na mesa da Corvinal mesmo, desistindo de bancar a coruja entre os dois amigos teimosos. 

4 dias antes 

Até agora, foi simples. Ele pediu ajuda da irmã para estudar poções e ela, lembrando como foi difícil seus NOMs, concordou em corrigir as anotações dele. Scorpius viu no dia que ela entregou uma dessas anotações a ele entre suas aulas e viu isso se repetindo algumas vezes. Foi fácil simular uma conversa com Seth sobre não encontrar a receita correta daquela poção e que a irmã iria matá-lo, pois não era algo que ele conseguiria comprar. E Scorpius ouviu. 

Foi tranquilo deixar cair aquele frasco de araramboia da mochila quando Scorpius veio perguntar a ele qual era o problema. 

— Tentando fazer poção polissuco, Hugo? — perguntou o loiro, entregando o pote a ele. 

— Ah, não, é uma outra poção. 

— Hugo — disse ele, aproximando-se mais do garoto. — Está tudo bem com a Rose? Ou é algo com você, que eu posso, sla, ajudar?

Scorpius bem que poderia não ser tão legal assim. 

— Se você conseguir me arranjar algumas amoras-árticas..?

— Rose te pediu esses ingredientes? — perguntou Scorpius, desconfiado, com os braços cruzados. 

— Não exatamente.

Ele assentiu e foi embora, caminhando em direção às masmorras. Scorpius era um excelente aluno em poções, então ele sabia que eram ingredientes para um teste de gravidez. 

1 dia antes 

— Você deveria estar na Sonserina — disse Lucy, admirada com o trabalho do primo. — Rose vai pensar que você estava só falando das poções que estava estudando pros NOMs e não vai poder te culpar quando Scorpius supor que ela está grávida. Gênio!

— Só que ele vai estranhar Rose ter ido pedir ajuda ao irmão e não pra alguma amiga — discordou Louis. 

— Ele é um cara. Quando a possibilidade bater, ele vai parar de raciocinar. 

 Nem Louis conseguiu rebater esse argumento. Eles três estavam na biblioteca, tentando estudar para os NOMs. Hugo era provavelmente o mais inteligente entre os três, mas Lucy era particularmente habilidosa com poções e Louis se destacava em Herbologia. Hugo fez força para ignorar a sensação de angústia com a cadeira vazia ao seu lado, onde deveria estar a pequena especialista em feitiços. 

— Certo, o plano vai ótimo, Huguinho Campeão, adoro. — Lucy fez um falso gesto de torcida, mas logo desfez a cara animada e revirou os olhos para o primo. — Mas você bem que poderia falar com a Lily Luna agora, hein?

— Logo você querendo isso?

— Dá um tempo, Louis, eu também me importo com meus primos — a cara cética de Hugo e Louis a fez se corrigir. — Ok, ela é bem chatinha, mas ela explica melhor a matéria de Feitiços do que você. 

— Pede ajuda a ela — respondeu Hugo secamente. 

— É mais fácil o inferno congelar — retrucou Lucy, piscando para ele. 

1º de abril

Hugo odiava reconhecer isso, mas Louis estava certo: não tinha como o desafio continuar após aquele ano. Pela manhã, três alunos ganharam detenção por causarem uma confusão no pátio da escola e só piorou com o decorrer do dia. 

Ele e Seth estavam esperando Louis sair da sala de Adivinhação quando Lorcan parou para parabenizar Hugo.

— Caramba, cara, ninguém foi tão longe assim. Tô achando que esse ano você leva.

— Sério?!

 AHÁ, Lily! Ele venceria — sem dramas, diferente do que ela previra. 

— Óbvio, nunca vi ninguém levar a irmã pra ala hospitalar.

Hugo piscou, esperando que fosse alguma piadinha do garoto, mas ele falava sério. Puta merda. E se ela tivesse passado mal por brigar com Scorpius, depois dele confrontá-la sobre a suposta gravidez? E se eles tivessem terminado? 

Ele pensou nas mais diversas possibilidades enquanto corria, mas não foi uma Rose deprimida que ele encontrou na enfermaria. Ela estava furiosa.

— Rose Granger Weasley, até seu namorado está suspeitando dessa gravidez ou ele não teria chamado o pai pra te examinar. 

— Sua presença é completamente desnecessária, sr. Malfoy — disse Rose, olhando para o namorado. — Como diabos você pode pensar isso, Scar?

— Enjoos, desmaios, você atrasada…

— Você sabe que eu não poderia estar grávida! É só o estresse com os NIEMs.

— É, foi por isso que eu achei estranho você ter pedido ajuda ao seu irmão pra fazer uma poção-teste.

A boca de Rose caiu. Alvo, por sua vez, ria tanto que precisou se apoiar nos joelhos. Draco Malfoy franzia as sobrancelhas, parecendo irritado, enquanto Ron estava menos exasperado depois do rompante da filha, mas suspirava impacientemente.

Rose estava bem, foi só uma coincidência. Hugo saiu tão silenciosamente como entrou — ficou curioso para ver a reação do pai quando ela gritou que era virgem?!, mas ele saiu antes que pudessem pegá-lo lá.

Tenho que ter cuidado com o que eu desejo, pensou ele enquanto sentia ser puxado pelas vestes até os pés na escada ao fim do corredor. Seu pai parecia mais interessado nele do que na última fala de Rose.

— Alvo tinha um bom palpite para as suas atitudes — começou ele, sentando-se no mesmo degrau que o filho. — Algo sobre o desafio do dia da mentira. Quer tentar se explicar?

E Hugo soltou tudo, até mesmo o que antes ele não conseguia nomear. O pai não agiu como Lily ou Louis… ele ficou calado o tempo todo, assentindo com a cabeça, como se entendesse como o filho se sentia.

— Você é brilhante como sua mãe, mas tão inseguro e tapado sobre os sentimentos das pessoas como eu.

Era difícil acreditar nisso ao olhar para a figura bem humorada, alta e forte de Ronald Weasley.

— Eu tinha outras inseguranças, sabe. Não me sentia querido na minha família ou entre meus dois melhores amigos, que não precisavam de mim. Odiava as limitações da minha pobreza, Hugo. — o garoto ficou surpreso. Ron riu. — É, campeão, eu via as coisas de forma distorcida e magoei muitas pessoas por isso. Você precisa se desculpar com Lily e Rose.

Ele assentiu.

— Não tenha vergonha das suas melhores qualidades e abrace quem você é. A escola não vai durar para sempre, cara. Foque em levar aqui bons laços de amizade para a vida. E se você pensar bem, vai saber quem realmente vale à pena.

— Pai — chamou Hugo quando o mais velho levantou. — Como eu conserto isso?

— Isso é problema seu — disse Ron, bagunçando os cachos do filho. — Uma vez, eu abandonei sua mãe e Harry quando eles mais precisaram. Você vai encontrar uma maneira delas te perdoarem. Só… não faça mais merdas desse tipo. 

Hugo se levantou e abraçou o pai, expressando no gesto toda sua gratidão pela conversa franca.

No café da manhã do dia seguinte, Hugo tentou falar com a irmã, mas Rose só o advertiu que teria volta. Ela revirou os olhos e o empurrou de leve ao passar, mas Hugo sorriu: aquele gesto tinha a sensação de lar. 

Seu pai o advertiu que, embora ele tenha entendido, haveria consequências. Ele pensou em uma lista de tarefas para o verão ou outro tipo de castigo, mas dessa vez Hermione Weasley optou por ser uma mãe bruxa tradicional. 

Ninguém tinha reparado no berrador que o garoto apanhou. Seth tagarelava sobre sua vitória quando Hugo parou de comer. Lorcan e Lysander, provavelmente cientes de que o desafio vazou e que aquele seria a última vez, traziam nos braços levantados cartazes com parabéns para Hugo enquanto caminhavam para a mesa da Corvinal.

Consciente de que viraria piada até o resto do ano letivo (e sabia que merecia), Hugo abriu o envelope e a voz de sua mãe soou por todo o salão principal.

— HUGO GRANGER WEASLEY, COMO VOCÊ SE ATREVEU A INVENTAR TAMANHA MENTIRA SOBRE SUA IRMÃ E POR UMA APOSTA…

Hugo torcia para que os irmãos Scamander tivessem o bom-senso de esconder aqueles cartazes. 

1 dia depois

Provavelmente, a vergonha que Hugo passou no salão principal foi o suficiente para aplacar a raiva de uma certa ruiva. Naquela tarde, eles voltaram a se deitar nos jardins, dividindo Feijõezinhos e olhando para as nuvens. 

Lily sorriu quando Hugo pegou sua mão e apertou com força. 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Eeei, você que chegou até o final: obrigada!!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Um ano de histórias" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.