Um ano de histórias escrita por Annabel Evers


Capítulo 5
Qual o último ponto?


Notas iniciais do capítulo

Capítulo novo :)
Enjoy it!



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M A I O 

Victorie Charlotte Weasley

2 de maio - Dia da Vitória 

    Para uma garotinha bruxa de seis anos, existem três datas especiais: o natal (suéters Weasley e a comida da vovó Molly), o primeiro de setembro e sua ida a Hogwarts (11 anos parecia muito longe) e, finalmente, o aniversário. Victorie gostava de atenção - antes das primas nascerem, ela havia sido a favorita. No seu dia, ela podia voltar a ter toda a atenção. 

    Vic desde cedo mostrava habilidade em liderar os pequenos herdeiros Weasley.  Era normal para a garota organizar as brincadeiras entre as primas Roxane e Molly e seu melhor amigo, Ted Lupin - ou para exigir silêncio porque o bebê Fred estava dormindo. Protetora, carinhosa, um nariz um pouco empinado e cheia de vida. 

Fazia todo o sentido ela ter nascido naquela data, quando aquela família precisava de mais momentos felizes. 

Mas Victorie Weasley era, além de tudo isso, compassiva.  

Aquele acontecimento na sua quarta primavera veio para firmar essa bela faceta do caráter da menina. 

*

O bolo era bonito. Vermelho e dourado na cobertura, com uma leve camada de chocolate descendo do topo - que tinha o símbolo da sua futura casa em Hogwarts, Grifinória. Na lateral, a sra. Weasley colocou vários doces ao redor. Era tão, tão lindo. Se ela tivesse nascido em qualquer dia, menos naquele, ela estaria pulando de felicidade pela decoração vermelho e dourado que cobria a sala dA Toca. 

Mas não. Era um dia triste. Se ela fosse uma menina mais atenta, menos preocupada em mandar em todas as suas priminhas, poderia ter percebido antes. Ela precisou saber que o melhor amigo chorava para perceber. Aquela decoração era falsa, porque ela não merecia ir para a Grifinória. 

Ela escondeu-se por trás das ondas longas e loiras quando percebeu que estava chorando. 

Ninguém pareceu notar (ela fez todo o esforço do mundo para não emitir um som). Seu pai estava conversando com o tio Percy e a tia Angelina (todos foram expulsos da cozinha pela vovó Molly, que terminava os últimos detalhes do jantar). Sua mãe estava em algum lugar lá em cima, guardando os presentes que a filha ganhou. 

E foram muitos. Mesmo os tios que não poderiam vir, por causa do trabalho, haviam mandado algo para a sobrinha. Ela ficou particularmente interessada pela vassoura que o tio Carlinhos mandou, como também o belo vestido da tia Gabrielle e aqueles livros 3D de princesas da tia Mione. Mas sinceramente? Ela não merecia. 

Roxanne, de mãos dadas com o bebê Fred para ajudá-lo a ficar em pé, gritou um “Feliz aniversário!” tão alto que a assustou. Rapidamente, Vic limpou o rosto e tentou disfarçar que estava chorando, mas o lábio inferior ainda tremia. Rox não pareceu perceber, pois abraçou a prima e pediu desculpas por terem brigado da última vez que se viram por “uma varinha besta; nem era de verdade!”. 

— Ah, que lindas! — tia Gina exclamou ao vê-las, ainda parada na porta. — Vic, meu amor, tio Harry vai se atrasar um pouco, ele foi pegar o Ted, certo?

— Andrômeda não vem, Gina? — perguntou Gui, retirando os pacotes e ajudando a irmã a sentar-se. 

— Me surpreende você está aqui, Gin. Não deveria estar deitada, em casa, descansando?

— Nem se atreva a falar isso na frente do Harry, Jorge. Ele já está me deixando louca - não é como se James corresse risco de nascer a cada passo que eu dou. 

Tia Gina era engraçada por natureza, mas principalmente agora que estava grávida. Seus humores pareciam estar sempre no limite. Vovó Molly estava sempre a cobrindo de mimos e atenção, insistindo o quanto ela estava linda. Pessoalmente, Vic achava que a tia parecia ter engolido uma melancia (do mesmo jeito da mãe com o novo bebê), mas ela não era louca de falar isso para a tia, principalmente agora. 

Rox sentou-se do seu lado, com Fred no seu colo, e a prima Molly II do outro. Diferente de Rox, Molly era mais tímida e lhe deu um discreto abraço, mas com um belo sorriso. Aniversários eram assim, faziam todas as primas esquecerem os ressentimentos - que já eram complexos com seus anos de vida. 

— Fred, Vic tá fasendo quatro aninhos. Faz quatro… — e a irmã tentou fazer Fred imitar os movimentos dela, mas o bebê de seis meses apenas riu. 

— Ensina ele a bater palmas, Roxi — disse Molly. 

— Ele é muito novinho. 

— Ele vai saber. Você sabia na idade dele. 

— Mentira, viu. Agora que você tem três, não ia lembrar. 

— Eu lembro sim!

Como se tivessem combinado, Fleur apareceu, entregando chapeuzinhos para as crianças, ao mesmo tempo que Angelina pegava Fred no colo e sussurrava algo no ouvido da filha mais velha. Percy pegou Molly no colo e levou-a para receber a mãe, que havia acabado de aparatar no quintal. Vic sentiu inveja da prima por um momento - sua mãe sempre fazia isso, antes de parecer ter uma grande melancia no lugar da barriga. 

Jorge virou-se para a aniversariante, disposto a dissipar o clima tenso que havia se instalado na sala. As pequenas discussões entre as primas eram tão comuns que todos já sabiam bem como lidar. Pessoalmente, Vic estranharia se elas não brigassem por algo. 

— E então, loirinha — começou o tio. O apelido era significativo, já que, com exceção da sua mãe, Vic era a única loira dos Weasley. — Foi você quem escolheu o tema da festinha? Grifinória, hein? É a melhor casa, Vic; você vai ver, vai amar quando for pra Hogwarts. 

Ela apenas sorriu para o tio, sentindo o mesmo calorzinho no peito de quando o pai trazia uma xícara de chocolate quente quando a garota tinha um pesadelo. 

No momento seguinte, no entanto, tudo mudou. Aconteceram muitas coisas ao mesmo tempo: Molly voltou, agora de mãos dadas com ambos os pais, sorrindo enquanto avisava que Ted tinha chegado; o garotinho entrou nA Toca junto ao padrinho, um pouco cabisbaixo. Fleur entregou um chapeuzinho para ele também, no mesmo momento que vovó Molly pedia para todos se organizarem, pois o vovô Arthur estava trazendo o bolo. 

Foi naquele momento que Vic não aguentou mais. Será que apenas ela via como Ted estava errado? Ele nunca, em todos seus seis anos de vida, deixou de dar um beijo na sua bochecha quando chegava. E agora ele estava sorrindo de longe, ajeitando o chapéu na cabeça e meio agarrado à cintura do padrinho. Ele tinha perdido um dente no início do mês; se o sorriso que ele lhe deu fosse de verdade, daria para ver a janelinha. Mas não - um meio sorriso e o cabelo azul sem brilho era o que ela via. 

Vovô surgiu na sala, trazendo o seu bolo. Ela viu perfeitamente o momento que todos tomaram fôlego para começar a cantar e seu desespero aumentou. Todo aquele vermelho e dourado parecia brincar com ela, zombando, pois sabiam que ela nunca iria para a casa dos corajosos e tudo parecia girar. Era como se ela tivesse viajando por flú, a sensação de enjoo subindo, mas ao invés de colocar seu almoço para fora, foram lágrimas que despencaram. 

— Iss-o tá-a err-rado! Eu n-não mere-eço n-nada disso!

Todos ficaram estupefatos quando a menina tirou o chapéu e saiu correndo da sala. 

 

*

    Existiam poucas possibilidades de fuga para uma menina de seis anos. Bruxa ou não, Victorie não podia ir muito além daquele quintal. Ela sabia que seria encontrada e logo, mas não tinha motivos para facilitar nada, então escondeu-se debaixo de um banquinho próximo a uma árvore. Eles nunca a achariam ali. 

    — Vic!

    Ou não. 

    Seu nome passou a ser chamado por muitas vozes diferentes. Foi com certo pânico que ouviu a voz do pai se aproximando. 

    — Não sei, Gui, acho que ela pode ter dado seu primeiro sinal de magia e ter aparatado. Eu não sei mais onde procurar. — teria ela, Victorie, enganado seu tio mais esperto, Jorge?

    — Já olhamos em todo canto. Eu não sei mais - o que vamos fazer com toda aquela comida?

    — E os presentes? — que dessem para as primas; Vic não se entregaria. — Mione disse que estava tão empolgada para quando ela visse aquele livro da princesa sereia — meu Merlin, a tia tinha dado um livro da Ariel! — sem falar na vassoura que o Carlinhos mandou…

    Ah, não. Ela podia não ser digna da Grifinória, mas ainda era uma Weasley; quadribol deve ter sido a primeira palavra que todos ali aprenderam. Sua indignação a fez soltar um barulho - e seu pai abaixou-se, como se soubesse o tempo todo onde ela estava. 

    Ela sentia tanto. Eram tantas pessoas perdidas e lá estavam eles, fingindo que tudo estava bem apenas para ela ter uma festa de aniversário. Que coisa egoísta da parte dela. Seus pensamentos a fizeram soluçar mais, agora abraçada ao pai. 

    — Meu amor, calma… O que aconteceu?

    Vic balançou a cabeça, não ia falar nada. Dizer o motivo a levaria a admitir que estava fora da cama na hora errada e que ouvira a conversa dos pais. O cheiro de frésias chegou antes mesmo de sua mãe falar algo. Sentiu quando ela sentou-se ao lado do pai e passou a mão nas costas da menina, tentando tranquilizá-la. 

    — Vic, aquilo não foi legal e nem educado. Seus avós estão tristes, assim como todos lá dentro. Mas estamos tristes porque você está assim. O que aconteceu?

    Victorie tirou o rosto do pescoço do pai, mas não respondeu sua mãe, nem olhou para eles. Ao invés disso, moveu-se na direção do tio Jorge. O ruivo sentiu o coração pesar ao ver a sobrinha assim, com o rosto manchado de lágrimas, alguns fios loiros presos nas bochechas vermelhas. Ainda sem entender a repentina atenção que a garota estava lhe destinando, abriu os braços e ela pulou no seu colo. Os pais dela ficaram ainda mais pasmos quando ela começou a pedir desculpas ao tio. 

    — Anjinho, você não fez nada. Não a mim. Olha, se não parar de chorar, vou pegar aquele mini-pufe de volta e deixar a Rox tingir ele de verde-limão. — a loira torceu o nariz, porque acreditava que a prima faria algo assim. — Você gostou dele roxinho, não?

    — Sim — murmurou ela. Com esforço, tentou sorrir para o tio. 

    — Agora sim. — aprovou ele. — Pode, então, nos explicar porque você está tão triste logo hoje?

    — Por causa do dia de hoje. Mamãe, papai, podem me colocar de castigo, eu ouvi a conversa de vocês ontem.

    — Ora, Vic, isso não é motivo para chorar. Duvido que seus pais vão- — mas ele se calou quando viu a cara assustada do irmão e da cunhada. — O que ela ouviu?

    — Que tio Harry tinha feito Ted dormir depois dele ter chorado muito. Tio, Ted tá sempre rindo! Ele não fica chorando. Por isso eu parei para ouvir. Porque era errado o Ted chorar, ficar triste, eu precisava saber e eles não iam falar se eu pedisse, então eu ouvi. — respirou bem fundo antes de continuar. Os três adultos estavam extremamente silenciosos. — Uma vez, vovó explicou de onde vieram nossos nomes: que Rox era um nome que tia Angelina gostava muito, Molly II era uma homenagem e Fred era também uma. O meu era por causa do feriado, dia da vitória. Achei legal, sabe? Mas devia ser dia do funeral. Não tem nada de feliz hoje. Os pais do Ted morreram nesse dia, e Fred era seu irmão e ele morreu nesse dia. Não foi? Ouvi que o Ted pediu para ver os pais e que deram mais detalhes de como eles morreram. 

    Fleur, no auge dos seus hormônios mexidos pela gravidez, começou a chorar. Gui apertou sua mão, tentando consolá-la, mas não conseguia tirar os olhos da filha. A menina olhava diretamente para o tio. 

    — Desculpa. Por favor. Não tá certo. Eles… E eu aqui, pedindo bolo… Como se eu fosse para a Grifinória, quando… pedi para vocês fazerem festa e Fred e Ted e os pais e-

    Não sabem ao certo quem moveu-se primeiro, mas quando ela voltou a chorar, estava envolvida pelos braços dos três adultos. Victorie não podia saber, mas não havia um pingo de mágoa em nenhum deles. Jorge, principalmente, nunca tinha se sentido tão tocado. Sua sobrinha estava se sentindo culpada por supostamente atrapalhar o luto pelo irmão gêmeo - coitadinha, era muito peso para uma criança de seis anos. 

    — Victoire. Vitória. Que presente. Um lindo presente. Não estou certo, gente? — Jorge falou e os pais da menina confirmaram. — Talvez um dia a gente fale para você como foi perder seu tio ou nossos outros amigos. O que você precisa saber hoje é o quanto aqueles anos foram difíceis e o quanto nós tínhamos medo. Nós vencemos, Vic. Tivemos perdas, muito dolorosas, mas hoje vocês vivem em um mundo melhor. E isso é motivo suficiente para sermos felizes. 

    — E esse dia ficou mais feliz quando você chegou. — acrescentou Fleur. 

    — E nos completou. — concluiu Gui. 

    E Vic finalmente entendeu. Entendeu que sua família não se ressentia dela, entendeu que havia muita dor e tristeza, mas que também havia alegria. Entendeu, enfim, que não era errado ela sorrir e bater palmas e cantar parabéns - era o que todos queriam. A menina sabia que a história era maior e mais complexa do que ela poderia compreender no momento, mas tudo bem. Um dia ela saberia - e estaria pronta para ajudar os primos quando eles também quisessem entender. 

*

    Depois de tirar aquele peso, cantar parabéns e jogar almofadas nas primas com aquele Com Quem Será ficou mais divertido e mais certo. Na hora que eles entraram, a loira correu para a avó e agradeceu ao bolo, abraçando também o avô. Os tios sorriram por vê-la assim e não fizeram perguntas. 

    Vic suspeitava que os pais e o tio Jorge tinham explicado para todos, daquele jeito que os adultos conversam baixinho e discretamente para as crianças não perceberem. Ela queria pedir desculpas de um a um, mas como nenhum deles pareciam chateados com ela, resolveu concentrar sua energia em divertir-se.

    As crianças estavam sentadas em um círculo experimentando uma caixinha de feijõezinhos de todos os sabores enviados pelo tio Rony. Vic deu azar no primeiro com o sabor de sabão, então desistiu. Ted, Rox e Molly ainda tentavam. Ela estava rindo da abrupta crise de tosse de Ted por pegar o sabor legumes quando tio Harry passou por eles, bagunçando o cabelo do afilhado. 

    Seguindo seu impulso, Vic seguiu o tio. Ele estava parado na janela da sala, observando o cair da noite. Vic sempre achou que, depois da tia Mione, tio Harry era talvez um dos mais sábios da família. Ele era o tio que jogava quadribol, brincava com feitiços e dava doces antes do jantar sem vovó ou as mães verem, mas também era o tio que sempre tinha boas respostas, mesmo que as perguntas fossem difíceis. E aquela era. 

    — Já desistiu, Vic? — perguntou ele, percebendo que a sobrinha parou ao seu lado. 

    — Quando a vovó nos ameaçava de lavar a boca com sabão, nunca achei que fosse mesmo sentir esse gosto. — Harry riu à vontade da careta da loira. — Tio.. eu queria saber, hum… Se, sabe, quando a pessoa vai, pra onde ela vai?

    — Tenho uma teoria ou duas sobre isso. Umas são um pouco demais para uma mocinha de seis anos. Mas o que eu posso dizer a você: os corajosos seguem. 

    — Pra onde?

    — Para onde devem ir. Algo além. Ninguém tem como saber, Vic. E o desconhecido causa medo, é normal, mas também causa curiosidade. E sabe de uma coisa? — a menina negou. — Os corajosos são aqueles que sentem o medo, mas encontram forças para lutar contra ele. Por isso eles seguem. 

    — Tio Fred, os pais do Ted… eles estavam lutando, então eles eram corajosos. 

    — Os mais corajosos, Vic. 

     Sua mãe levou mais bolo para a rodinha e chamou por ela. Agradecendo ao tio (ele é realmente sábio), Vic voltou saltitando para a companhia dos outros pequenos. Molly estava revirando os olhos, Rox estava tagarelando e Ted beijou sua bochecha assim que voltou para o grupo e sentou-se ao seu lado. Estava tudo bem. 


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Notas finais do capítulo

Tenho um amor tão grande por eles pequenos ♥
Se você chegou até aqui, deixa um comentário, para eu saber se os contos estão agradando ou não rs



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