Floriografia escrita por Fanfictioner


Capítulo 5
O fim (do fim)


Notas iniciais do capítulo

Oieee!
Exatamente um mês após Floriografia ter nascido, chegamos ao fim de uma das histórias que eu achei mais gostosinhas de escrever (principalmente por ser bem bobinha, leve e comédia).
Em adiantado, desculpem pela formatação do capítulo... eu não sei o que aconteceu com o editor do Nyah :((((((
Ainda não consegui responder todos os comentários do capítulo passado porque entrei de férias só ontem (na prática ainda nem estou exatamente de férias haha), mas prometo que darei todo o carinho que vocês merecem o mais breve possível!
Já que só teremos um epílogo, e esse é basicamente o último capítulo, vou me despedindo por aqui, e agradecendo a todo mundo que leu Floriografia, em especial a quem comentou e interagiu ❤❤
E deixou minha gratidão enorme ao November Hinny e a todas as meninas super especiais de lá, que fizeram acontecer esse projeto lindo!
Sem mais enrolações, espero que gostem!
Nos vemos nos comentários!



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No domingo de manhã, Ginny sentia que sua cabeça iria explodir. O copo de água na mesa de cabeceira foi um amigo solidário, seguido de um analgésico e um remédio para o fígado, e Ginny concluiu que as bebedeiras realmente não cabiam mais em sua vida, àquela altura.

O primeiro pensamento racional de Ginny foi sobre onde James estava, e ela levou alguns segundos para se recordar de que o filho tinha dormido na casa de Teddy Lupin. Aquela memória invariavelmente lembrou Ginny de sua saída para o pub com Harry e todos os amigos dele, e os poucos flashes que conseguia ter de sua noitada lhe traziam uma preocupação envergonhada.

Havia uma memória vaga de risos demais, e uma imagem de Harry muito embaraçado sobre algo que, aparentemente, ela tinha dito. Seu celular exibia mensagens perdidas de Hermione, e de Harry, além de aparentemente ter sido adicionada em um novo grupo de conversa, mas ela não tinha coragem de abrir qualquer uma daquelas notificações porque sabia que exporiam sua noite vergonhosa.

O álcool humilhava antes de fazer alguém apagar, bêbado.

Ginny decidiu que suas obrigações de mãe eram mais relevantes que entender o nível de sua vergonha, e ligou primeiro para Tonks para ter informações sobre o filho. As crianças ainda dormiam, e a mãe de Teddy pediu que Ginny fosse buscar James apenas depois do almoço, porque havia uma atividade de confeitaria ou coisa assim.
Não se faria de rogada, porque alguns momentos de tranquilidade em uma manhã de ressaca era tudo que ela queria, e agradeceu que James não estivesse em casa naquele dia.

Depois de um café bem forte e de torradas com geleia de uva enquanto assistia uma reprise de um seriado policial ruim na televisão, Ginny concluiu que precisava enfrentar as mensagens que não paravam de chegar. Hermione ligou antes que ela tomasse a decisão de responder a alguém.

– Bom dia, madame! Viva? - a voz metalizada dela parecia divertida.

– Depende do ponto de vista… meu fígado vai indo, mas alguma coisa me diz que minha dignidade não tem a mesma sorte, não é? - respondeu Ginny, esfregando o rosto e se deitando no sofá.

Hermione riu pela chamada, achando graça na situação de Ginny.

– Ah, não foi tão ruim… poderia ter sido mais constrangedor, eu acho.

– O que eu fiz, Mione? - perguntou, choramingando.

– Você não lembra mesmo? - ela riu.

– Pouco... eu tenho flashes. Lembro das conversas com Astoria, e de Ron perguntar se eu era solteira…

– Aí você ainda estava bem… você lembra de quando perguntou em voz alta se Ron transava bem?

A cor deixou o rosto de Ginny, incrédula de que tinha sido capaz de perguntar aquele tipo de coisa em público.

– Eu não fiz um negócio desses!

– Fez… fez, sim! - Hermione confessou, rindo. - E falou que Draco e Harry eram gostosos, que você pegaria Harry se ele não fosse gay, e convenceu um garçom de que Draco e Harry eram um casal…

Ginny sentia tanta vergonha que chegava a ter sensações físicas. Seu corpo estava se encolhendo de constrangimento a cada atualização de Hermione, e ela sentia suas orelhas esquentarem, provavelmente vermelhas. Céus, ela tinha dito que pegaria Harry! Tinha exposto Harry e Draco!

– Numa escala de zero a dez, quanto você acha que Harry e Draco me odeiam agora?

– Harry eu não sei, mas Draco adorou o entretenimento que você proporcionou… ele e Astoria já pegaram estrada, mas você foi aprovadíssima, Gin. - ela contou com humor. - Você lembra que eles namoram, não é?

De repente as cenas começavam a se encaixar. A expressão constrangida de Harry, Draco passando o braço sobre o ombro de Astoria… Harry não era gay, nem namorava Draco! Isso tornava tudo centenas de vezes mais constrangedor, porque Ginny o tinha chamado de gostoso em voz alta, em público!

– Eu quero cavar uma vala e sumir! - confessou, choramingando.

– Ah, para! - riu Hermione. - Foi divertido, e pelo menos você tem uma história legal para contar... acho que tem algumas fotos e vídeos no seu celular, se quiser mais memórias.

Ginny grunhiu algo, constrangida demais com a ideia de provas digitais de seus absurdos de bêbada. Hermione ainda insistiu mais algum tempo que ninguém estava chateado, e que tinha sido uma noite divertida e engraçada, mas Ginny apenas desejava desaparecer de Godric’s Hollow, de tamanha vergonha.

– Você está bem, no geral? Muita ressaca?

– De álcool, não. Moral, demais… - a amiga riu do tom dramático dela. - Não é engraçado, Mione! Eu assediei Harry a noite toda, meu Deus, que vergonha!

– Tenho certeza de que ele não se sentiu assediado, Gin. - ela respondeu, e Ginny podia ouvir o sorriso em sua voz. - Eu diria até que ele gostou…

– Claro. - ironizou. - Eu preciso me recompor aqui… vou buscar o Teddy mais tarde e seria legal parecer uma mãe minimamente sóbria.

Hermione riu, oferecendo-se para sair com Ginny para um almoço leve, mas ela gentilmente recusou e despediu-se, desejando bom domingo. A verdade era que Ginny não queria ver ninguém que tivesse tido contato com ela em seu estágio mais bêbado da véspera, porque, do contrário, ela teria de cavar um túnel até a China e desaparecer, de vergonha.

A mensagem de áudio que ela havia gravado para Luna na noite anterior - respondida com mensagens carinhosas e emojis - e os vídeos e fotos deles reunidos no pub não ajudaram a diminuir o embaraço tremendo que Ginny sentia de si mesma. Sua voz engrolada, seus risos alcoólicos, tudo lhe dava uma sensação de vergonha alheia que chegava a provocar arrepios de constrangimento.

Seu rosto ardia só de pensar em cruzar com Harry na casa de Teddy, e ela quase ligou para Tonks trazer seu filho para casa, só pelo medo.

Mas Harry não estava lá, felizmente, e Tonks riu até doer a barriga da situação que Ginny tinha passado, enquanto tomavam um café da tarde.

– Quem é que não tem uma história de bêbado para contar, não é mesmo? - comentou Tonks, rindo, e Ginny gemeu em lamento. - Não é nada, florzinha… mães passam vergonhas maiores dia sim, dia também. Nada que se fazer de maluca uns dois dias não faça essa vergonha ir embora…

O conselho de Tonks pareceu a coisa mais sensata que Ginny tinha ouvido até então, e foi assim que ela tomou a decisão mais madura que pode para lidar com o constrangimento daquela noitada: ela simplesmente fugiu a semana toda.

Literalmente.

Ginny fugiu de encontrar Harry, Ron ou Hermione a semana toda, por todos os lugares que pode. Passou a entrar pela porta dos fundos do posto de saúde para não correr o risco de esbarrar com um deles na floricultura, e pediu a James que a esperasse estritamente dentro da recepção do posto, para evitar encontros.

Houve duas vezes em que ela precisou desviar de Harry no mercado, mudando rapidamente de corredor assim que o viu com o carrinho de compras, e até mesmo as mensagens de Hermione estavam sendo evitadas. A conversa com Harry tinha sido ignorada solenemente desde domingo, e Ginny quase conseguia mentir para si mesma que estava muito bem, obrigada, fingindo que nada tinha acontecido.

Exceto pelo fato de que almoçar sozinha se tornou insuportável no terceiro dia, e porque ela estava louca para compartilhar com Hermione que continuava recebendo flores todos os dias.

Religiosamente estava ali, todos os dias, desde aquela semana do almoço nos Potter: uma rosa branca deixada na portaria de seu prédio, endereçada a ela e com uma tag pendurada, assinada a mão com uma letra M em uma caligrafia medonha.

Ela gostava demais de flores para ter coragem de ignorar a delicadeza e jogá-las fora, mas a verdade era que estava ficando levemente perturbadora a ideia de que seu stalker ex-colega de trabalho, Micheal Corner, saber onde ela morava. Era a única hipótese verossímil, embora ela tivesse ficado dois dias muito paranoica após assistir um filme sobre um serial killer especialista em perfumes. Se havia maníacos de perfume, porque não loucos das flores?

– Eu estive pensando se ia precisar fingir um acidente doméstico para poder encontrar você no posto de saúde, ou o quê… - disse Hermione, surgindo atrás dela na padaria, no horário do almoço de quinta-feira.

– Que susto! - reclamou Ginny, levando as mãos ao peito. - Como você está, Mione? Fazia uns dias que a gente não se via…

– Fazia uns dias que você agia como idiota e estava evitando a gente... Fazer o quê, não é mesmo? - ela respondeu, dando de ombros, com um tom presunçoso enquanto pagava por um café.

– Eu não evitei ninguém! - poderia ter sido verdade, se a voz de Ginny não tivesse subido uma oitava, e se suas orelhas não tivessem ficado vermelhas.

– Diga em voz alta o tempo que precisar para se convencer disso. - Ginny revirou os olhos para Hermione, e logo em seguida riu, porque era ridiculamente óbvio que ela vinha fugindo de encarar os amigos. - Como se sente, sabendo que está partindo o coração do Harry?

Ginny pagou pelo que seria seu almoço antes do começo do plantão da tarde, até às dez da noite, e acompanhou Hermione até uma mesa na área externa do restaurante, para almoçarem juntas. O tom dela tinha sido leve e brincalhão, e somado ao sorriso que tinha no rosto, Ginny teve arrepios de constrangimento ao se imaginar revendo Harry.

– Argh! Você é péssima! Estou só esperando a vergonha diminuir para pedir desculpas para ele, eu juro! - confessou ao dar uma mordida no sanduíche que era seu almoço. - Tem vídeos de sábado que eu nem consegui ver todos, de tanta vergonha, sabia?

– Ai meu Deus, nunca vi tanto drama por umas vergonhas de bêbada! Você é, tipo, leonina ou o quê?

Foi inevitável que Ginny risse, porque se havia uma característica de seu sol astral com que ela se identificasse profundamente era a tendência exagerada ao drama.

– Leonina com orgulho.

– Você e Harry se merecem. - acrescentou ela, revirando os olhos, e Ginny apenas corou. - Só, sei lá, responde ele, fazendo favor… eu não aguento mais gente melodramática na minha floricultura!

– Eu vou, eu vou… assim que eu sair do plantão hoje, juro que vou. - ela sorriu, meio sem graça, porque agora parecia meio infantil o jeito com que tinha lidado com suas atitudes de bêbada da semana anterior.

– E se você aparecer para almoçar amanhã, prometo que a gente não vai tocar no assunto de como você perguntou se Ron transa bem. - Hermione continuou, começando séria e depois desatando a rir, fazendo Ginny a acompanhar, com o rosto avermelhado.

– Eu sou um perigo bêbada!

– Talvez você só tenha errado o momento de perguntar isso… eu posso, ou não, saber a resposta.

Hermione havia mordiscado o canto interno da boca e feito uma pausa dramática antes de falar, e o jeito como ela encarou Ginny por longos segundos, como que avaliando a resposta da amiga pelas expressões, foi suficiente para que Ginny soubesse que era uma confissão.

– Eu sabia! - ela comemorou, inclinando-se sobre a mesa. - Hermione Granger! Desde quando? E por que você não me contou nada?!

– Quem, eu? Não tenho ideia do que está falando, Gin… - disse, fingindo inocência. - Se minhas amigas não sumissem por uma semana inteira…

– Eu estou tão furiosa com você, Mione. - respondeu Ginny, embora não houvesse um pingo de verdade naquilo.

Na verdade, era o exato oposto. Ginny estava completamente arrebatada de curiosidade pelas fofocas e atualizações da vida amorosa de Hermione.

– Boa tentativa. Acho que a gente vai ter que sair para beber e colocar a conversa em dia, eim?

Hermione estava certa, porque o plantão de Ginny começava em meia hora, e ela desejava informações completas e detalhadas do que havia acontecido entre Ron e a amiga, e o tempo que tinham não era exatamente suficiente. Ginny comprometeu-se a aparecer para o almoço no dia seguinte, retornando aos bons hábitos de acompanhar Harry e Hermione, e que lá combinariam uma noite das garotas para atualizações de suas vidas.

Quando Ginny voltou do plantão naquela noite, depois de pagar a babá de James e requentar um prato de risotto da véspera, ela decidiu responder às mensagens de Harry.

Só quando estava indo para o quarto, dormir, foi que notou que a Sra. Bagshot provavelmente tinha tido a gentileza de receber o entregador da floricultura naquela tarde, porque havia uma nova rosa branca adicionada ao vaso com as demais da última semana, e o cartão novo apenas dizia “amor-perfeito”.

***

– Olha só! Quem é vivo sempre aparece mesmo, afinal! - comentou Harry com um sorriso simpático quando Ginny apareceu para o almoço na sexta de meio dia.
– Em minha defesa, eu estive apenas confiando no meu instinto de preservação e me poupando de morrer de vergonha. - ela respondeu, rindo, enquanto se sentava à mesa com Harry e Hermione.

Ginny tinha conseguido conversar minimamente com Harry por mensagens na noite anterior, e arranjado desculpas de trabalho para sua ausência durante a semana, além de um enorme pedido de desculpas pelo constrangimento que tinha causado, e Harry apenas dissera que estava tudo bem, chamando-a para o almoço.

A verdade era que Ginny realmente sentia falta da companhia diária de Hermione e dele e, mesmo com o constrangimento que era estar cara a cara com Harry depois de voluntariamente ter dado em cima dele, era bom retomar a rotina de amizades. Ela esperava que, com algum esforço, Harry pudesse ter o bom senso de ignorar a vergonha a que Ginny o tinha submetido e continuar agindo como o bom amigo que era.

O assunto do almoço foi leve, e basicamente girou em torno das amenidades da semana. Harry contou sobre os planos de Lily e James para uma viagem de férias, e que Sirius tinha perguntado por James Sirius quando aparecera para jantar na casa dos Potter, na véspera.

– Eu vou fingir que não fui enganada pela minha curiosidade, Mione, e esperar pacientemente que você me conte sobre Ron, sabe? - Ginny insistiu perto do fim do almoço.

– Isso é assunto para depois de, pelo menos, uma taça de vinho, espertinha… mas não se anime não, que nem tudo são flores na história. - ela revirou os olhos com impaciência, ao que Harry riu.

– Falando em flores… - lembrou-se de perguntar. - Aos meus floristas favoritos… vocês não poderiam me dar informações sobre quem anda fazendo entregas anônimas na minha casa?

Hermione mordeu o canudo de seu copo, reprimindo um risinho, e isso não passou despercebido à Ginny, que teve certeza de que a amiga sabia quem era o admirador secreto das entregas de flores.

– Uhm… a Julieta anda recebendo flores de um Romeu, é? - provocou ela.
– Anda, fala logo. Sei que vocês sabem quem é.

– Desculpe, Gin… sigilo internacional dos entregadores de flor. Se contarmos à você, vamos ter que matá-la. - disse Harry com um risinho convencido no rosto.

Não só Ginny se sentiu irritantemente provocada pelo tom dele, como seu estômago deu uma cambalhota com todos os tipos de pensamentos que rondaram sua cabeça sobre a natureza do sorriso de Harry Potter para ela.

– Fala sério! E se for um stalker assassino psicopata? Vocês seriam considerados cúmplices, sabia? - ela insistiu e Hermione deu uma gargalhada divertida.

– Eu conheço a pessoa, e garanto à você que é só um admirador com intenções muito inocentes.

– Ou nem tão inocentes assim, né, Mione? - Harry acrescentou, rindo com ela, e Ginny sentiu que perdia uma piada interna.

– Não vão mesmo me contar? - os dois negaram. - Ah, vão à merda, então! Eu vou voltar para o meu plantão, seus cochichadores chatos!

Hermione continuou achando graça, enquanto Ginny juntava suas coisas e deixava sua bandeja vazia sobre o balcão do café.

– Hey, Gin! Antes de você ir… eu e Ron vamos levar Teddy e Victoire ao cinema, mais tarde. Você não deixaria o James ir? Ele pode dormir na casa do Ron, você ganha uma noite de folga… para eu aliviar minha culpa de não contar quem é o admirador secreto das rosas brancas.

Ginny riu, sabendo que Hermione estava claramente tirando uma com sua cara por conta das flores misteriosamente enviadas. Provavelmente era ela mesma quem estava fazendo aquilo, para brincar com Ginny e fazê-la se sentir bem.

– Eu devo estar parecendo muito exausta para todo mundo estar me dando noites de folga do James, não é? - retrucou ela. - Aceito e agradeço, Mione. Eu preparo uma mochila para ele e o deixo no cinema com vocês?

– Buscamos ele quando formos buscar Teddy e a Toire. Deve ter alguma muda de roupa sobrando, não se preocupe.

Ela voltou para dar um abraço de agradecimento em Hermione, e sussurrou que estava curiosa para saber do desenrolar das coisas com Ron, voltando correndo para o plantão, que estava longe de acabar.

O dia ainda estava bastante claro quando Ginny juntou suas coisas e dobrou o jaleco sujo no braço, satisfeita pelo término de mais uma semana de trabalho. Era engraçada a percepção de estar, literalmente, livre. James Sirius já tinha saído da aula, e Hermione havia enviado uma selfie dela com Ron e as três crianças, no parquinho perto da escola, e Ginny nem mesmo sabia como reagir a uma noite completamente livre.

– Cinco libras pelo que está pensando! - ela ouviu Harry chamar, do outro lado da rua.

O jeito como o sol, ainda alto no céu, estava iluminando a entrada da floricultura fazia os olhos de Harry parecerem esmeraldas. Ginny não conseguiu evitar um enorme sorriso idiota enquanto atravessava a rua para ir falar com o amigo, ignorando a concentração anterior em responder à mensagem de Hermione.

– Cinco libras para você me falar quem é que anda me mandando flores. - Harry riu da ousadia dela, mas Ginny insistiu. - Ah, qual é! Vou ficar aqui até você embalar minha flor e aí não vai ter escolha senão me contar…

– E o que faz você pensar que vai ganhar flores hoje, senhorita? - ele provocou, arqueando uma sobrancelha e sentando-se contra um dos estrados metálicos que seguravam baldes de flores sortidas.

– A lógica. Eu recebo flores todos os dias, há semanas. Primeiro eram flores diferentes, e então só rosas brancas…

– E quem sabe se o seu admirador não desistiu de você, Gin?

– Nah! Micheal é psicopata o bastante para continuar enchendo o saco mesmo que eu não dê bola… - ela deu de ombros, revirando os olhos.

– Quê?

– Micheal Corner. O psicopatinha que você anda atendendo quando manda essas flores… é ele, certo? Ele trabalhou comigo, no hospital de emergência de Surrey. Foi uma das razões para eu ter me mudado, também… porque ele ficava me perseg-

– Ginny. - Harry a interrompeu, subitamente sério. - Fui eu quem mandou as flores.
Não havia o menor traço de brincadeira no rosto de Harry, ao contrário.
Ele estava sério, e até meio triste, frustrado, mordiscando o lábio em sinal de nervosismo antes de falar. Ginny não sabia o que pensar, porque era como se sua cabeça estivesse girando em confusão. Harry tinha mandado aquelas flores? Todas elas?

– Não.

– Sim, Gin. - ele suspirou, olhando para ela. - Eu quem tenho mandado flores esse tempo todo… fiquei constrangido de levar pessoalmente, e começou como uma brincadeira. Mas depois, eu passei a esperar que você notasse. Por isso eu assinei os cartões com um H.

Uma sombra de compreensão passou pela cabeça de Ginny, e ela não pode evitar rir.

– Aquilo era um H?! - ela gargalhou, nervosa. - Harry, me desculpe, mas sua caligrafia é muito ruim! Eu tinha certeza de que era um M! Por isso achei que fosse Michael mandando as flores…

A expressão de Harry não tinha melhorado muito, e ele parecia meio chateado, então Ginny tocou-o levemente no braço, fazendo com que a olhasse.

– Foi muita gentileza sua, Harry. Eu guardei todas, e adorei o carinho, amigo. - seu peito se revirou em desgosto ao dizer aquilo, e Harry riu sem humor.

– Você não conhece a linguagem das flores, conhece?

Ginny o olhou com curiosidade, negando com a cabeça. De cima da bancada do caixa, Harry puxou um livro velho e surrado, com um selo da biblioteca de Godric’s Hollow, em que era possível ler em alto relevo na capa de tecido “A Linguagem das Flores do Século XIX”.

– É uma espécie de código, e as flores têm significado. Os crisântemos, as azaleias, as tulipas… - ele comentou, indicando as páginas para que Ginny lesse.

Todas as flores que ela havia recebido de Harry tinham significados como ‘amor’, ‘afeto’, ‘romance’. E as rosas brancas, enviadas diariamente, simbolizavam ‘aspiro ao teu amor’.

– Amor-perfeito… o que significa? - ela perguntou, incapaz de olhar Harry nos olhos.
Ele voltou algumas páginas e estava lá: ‘estou pensando em você’.

– Achei que você ia notar… que eu não precisaria… me expor. - disse Harry, com um sorriso constrangido.

– Me diga, Harry, quem teria notado?! - perguntou Ginny, ainda surpresa e rindo.
– Você convive demais com a Mione...

Harry a acompanhou em uma risada envergonhada, e houve um momento de silêncio que mesclava conforto e constrangimento. Um cliente chegou, procurando por algumas plantas específicas, e Ginny esperou pacientemente Harry terminar de atendê-lo para continuar a conversa.

– Então… - ele começou, apoiando-se sobre a bancada do caixa. - Foi meu erro, não ter sido um pouco mais… direto, talvez. Mas tinha toda a coisa com eu não saber se você era casada, e tal…

– Você podia ter apenas perguntado, sabia? - comentou Ginny, achando graça.
– Como você perguntou se eu namorava com Draco? - Harry provocou de volta, fazendo Ginny rir, envergonhada e cobrir o rosto com as mãos.

– Ai, não! Não vamos lembrar do sábado passado!

– Você… você lembra alguma coisa do sábado passado? - perguntou ele, ajustando os óculos no rosto. - De quando eu deixei você em casa?

Ginny pareceu pensar. Ela tinha uma recordação vaga de Harry entrando com ela em seu apartamento, e conseguia lembrar-se de um copo com água, mas se tinha dito algo, não sabia dizer.

– Vagamente… eu falei merda? - ele não disse nada por um momento. - Ou fiz merda, não sei?

Harry riu, atrapalhando os cabelos, antes de continuar.

– Não fez merda. Você só, uhm… disse que tinha algum interesse em mim. - Ginny enrubesceu com as palavras dele. Não tinha ideia de como teria dito isso à Harry, e a ideia a fazia queimar de vergonha. - E eu falei que poderíamos conversar sobre isso quando você estivesse sóbria.

– Harry… eu…

– E como você não me respondeu, no domingo. E nem durante a semana, também… e depois se desculpou por tudo… Eu entendi o recado para deixar você em paz. - ele acrescentou, ignorando a reação sem graça de Ginny. - Então, só queria que soubesse que está tudo bem. Entre a gente, eu digo. Eu… eu parei com as flores, não precisa se incomodar, e sobre o que falou no sáb-

– Não! - ela o interrompeu, levemente exasperada. - Não… não precisa. Parar, eu digo. Não precisa parar com as flores. Se quiser.

Ela não sabia bem como pontuar o que gostaria de dizer, e nem os limites entre ser direta e ser desesperada, mas a verdade era que parecia tão surreal que Harry Potter fosse: a) hétero e b) interessado nela, que Ginny não tinha ideia de como deixar claro que estava apaixonada naquele homem por, pelo menos, os últimos três meses inteiros.
Que estava desejando a boca de Harry como uma viciada em drogas, e que tinha toda sorte de pensamentos nada inocentes sobre o que faria se ele lhe desse uma chance.
Harry a encarou, curioso, com alguma expectativa contida no jeito com que a olhava, e Ginny respirou fundo duas vezes antes de falar, para organizar as ideias.

– Eu… eu só quero dizer que eu falei sério. Que eu… - ela hesitou, fechando os olhos para diminuir o constrangimento de repetir, sóbria, as palavras de bêbada. - que eu realmente pegaria você, se você me desse uma chance. E se não fosse gay.

De imediato, Harry não respondeu, e Ginny sentiu seu rosto queimar de vergonha, principalmente diante da ideia de que poderia haver algum cliente recém chegado que tivesse ouvido aquela exposição pessoal. Quando ela abriu os olhos, porém, havia um sorriso de canto de lábios, convencido e extremamente sexy, dançando no rosto de Harry.

– Uhm… então. Você sabia que eu sou, tipo, bastante hétero? - ela gargalhou, com o rosto ainda quente. - E eu meio que tenho uma coisa por ruivas, sabia?

– Isso não é, tipo, Complexo de Édipo? - retrucou Ginny, brincando e rindo, enquanto Harry saia detrás do balcão e passava a organizar coisas aleatórias pela floricultura.

– Talvez… Freud explica. - Ginny riu, acompanhando Harry com o olhar. - Gosta de massa?

– Muito.

– Ótimo. Você escolhe o vinho, eu cozinho, e me considero convidado para assistir a um filme na sua sala…

Algo no jeito romântico emocionado - e simultaneamente decidido e sexy - de Harry fazia as entranhas de Ginny se revirarem gostosamente, satisfeitas e ansiosas com a ideia de um homem como ele - com os olhos verdes, o sorriso solícito, o tanquinho no abdome e todo aquele conhecimento de flores do século XIX - estar decididamente interessado nela.

Cerca de meia hora depois eles fecharam a loja, dispensando Colin mais cedo e indo até o mercado para comprar ingredientes para o jantar. Enquanto Ginny escolhia um vinho tinto que parecesse bom, Harry selecionou a massa, os tomates e mais uma série de outros ingredientes variados.

O apartamento de Ginny estava, surpreendentemente, arrumado, e Harry conseguiu facilmente se organizar na cozinha. Enquanto a água para o macarrão fervia e o vinho gelava, Ginny pediu licença para tomar um banho e se trocar em roupas que não cheirassem a ambiente hospitalar, e o pensamento de que Harry Potter estava preparando um jantar romântico para ela naquele momento, em sua cozinha, a deixou agitada o processo inteiro.

Tudo cheirava deliciosamente bem quando Ginny saiu do quarto, de short e camiseta, e com os cabelos presos em um rabo alto na cabeça. Harry havia posto a mesa da melhor maneira que conseguira, e Ginny sentiu-se levemente constrangida de não ter louças mais apresentáveis, ou uma sala de jantar que não fosse dividida com cestos organizadores com brinquedos de criança.

Harry não parecia nada incomodado.

Eles jantaram e conversaram em um clima ameno e muito agradável, e sentaram-se juntos no sofá para degustar a tortinha que tinham comprado pronta na confeitaria. Ginny ria de alguma piada de humor duvidoso que Harry havia feito quando ele simplesmente ficou observando-a, atento e com um sorriso concentrado.

– Quê? - ela perguntou, sorrindo confusa.

Harry pousou a taça de vinho na minúscula mesa de centro, e inclinou-se na direção de Ginny, colocando sua mão na curva do pescoço dela e deixando que seu polegar acariciasse a bochecha cheia de sardas de Ginny. O olhar de Harry era concentrado, e se alternava entre os olhos castanhos e a boca tingida de vinho dela, e a tensão na sala fez todo o ambiente esquentar ao menos dois graus.

O corpo de Ginny ardeu de desejo em lugares variados, e alguns de seus pensamentos pouco inocentes sobre Harry voltaram rapidamente à consciência, deixando-a subitamente ciente do que estava para acontecer.

Mas Harry apenas a encarava, aproximando-se devagar e a encarando fundo, como que testando uma hipótese. Ginny fechou os olhos, na esperança de que isso deixasse claro o quanto ela desejava ser beijada e, no entanto, Harry apenas roçou a boca de leve no rosto dela. Primeiro na bochecha, depois no canto dos lábios, e Ginny deixou escapar um gemido.

– Porra, vai me beijar ou não! - resmungou, quase irritada, e Harry riu contra a boca dela, beijando-a em seguida.

Imaginar-se beijando Harry Potter não era nem perto de ser tão bom quanto, de fato, beijar Harry Potter. Os lábios dele eram macios, tinham gosto de vinho e açúcar, e uma habilidade impressionante em serem suaves e intensos na mesma medida. A mão que Harry havia deixado na nuca de Ginny fazia uma pressão agradável, e logo os dedos de Ginny também avançaram para o cabelo escuro do florista.

Não demorou quase nada para que as mãos de Harry saíssem da nuca para a cintura de Ginny, quentes e com uma pressão excitante no jeito como se encaixavam ali, fazendo-a gemer contra os lábios dele. Logo estavam enroscados no sofá, com Ginny de joelhos, cada uma das pernas de um lado do quadril de Harry, e as mãos puxando o cabelo dele com suavidade e desejo.

Os óculos do rapaz logo saíram de cena, bem como a camisa de botão e a blusa de Ginny. O gosto do vinho amargava os beijos no fundo, não que qualquer um deles ligasse para isso, e as mãos de ambos tateavam seus corpos com urgência, pressionando pedaços expostos de pele, arranhando suavemente zonas sensíveis e arrancando suspiros e gemidos excitados e apaixonados.

– A gente devia ir para o quarto. - ela murmurou, inclinando a cabeça para trás e arfando em gemidos quando Harry apertou sua coxa e passou a distribuir beijos pela curva de seu pescoço, descendo em direção ao vale entre seus seios.

– Devia. - ofegou em resposta, segurando o rosto de Ginny com as duas mãos. - Como pode ser tão gostosa, mulher?!

Ginny riu, beijando-o e, sem paciência, puxando-o pelo corredor em direção ao quarto. Interromperam-se na trajetória algumas vezes para continuar os amassos, e quando Harry finalmente encostou a porta do quarto, parando para admirar Ginny, houve um momento glorioso de espera.

Pareceu que, por breves segundos, tudo ficou suspenso no ar, e os dois estavam absorvendo a informação de estarem prestes a saciar toda espécie de desejo que vinham nutrindo um pelo outro naquelas últimas semanas. As palavras bêbadas sobre Harry ser gostoso ecoando no espaço entre eles, assim como todas aquelas flores devotamente enviadas todos os dias.

– No que tá pensando? - ele perguntou, respirando rápido e pesado, o desejo ardendo.
– Amores-perfeitos. - Ginny respondeu sem pensar muito, mordendo o lábio em um ato inconsciente de lascívia e hesitação.

Era verdade, naquele segundo ela só pensava nele, e nas sensações que ele provocava nela.

As roupas acharam seus lugares sobre o tapete, os beijos espalharam-se por peitos e barrigas e virilhas, e, por fim, os corpos deles encontraram seus lugares no encaixe um do outro pelo resto da noite.


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Notas finais do capítulo

Já tava na hora desses dois se resolverem, não é?



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