Floriografia escrita por Fanfictioner


Capítulo 6
Epílogo




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Maio logo virou junho, e tudo passou a se desenrolar com tanta rapidez, que Ginny mal conseguiu processar que as notícias ruins chegaram exatamente dez dias antes de James Sirius entrar de férias.

As coisas na vida de Ginny pareciam nos eixos de uma maneira maravilhosa, e ela nem sequer sabia como lidar com o fato de estar apaixonada por uma pessoa decente, e ser retribuída. Era bem verdade que ela e Harry nunca tinham propriamente conversado sobre sua relação, sobre o que eram um para o outro, mas continuavam a sair juntos, trocar beijos e noites juntos, e isso parecia o suficiente até ali.

Mesmo que Ginny sentisse que, por ela, aquela informalidade poderia se tornar algo oficial, com direito a um pedido de namoro, e tudo.

Foi numa terça-feira normal - daquelas em que Harry deixava Hermione fechar a loja e saía com Ginny e James para tomar um café na frente do parquinho - que Ginny recebeu uma ligação do Hospital de Surrey. Luna Lovegood seria operada de um tumor no cérebro em menos de vinte e quatro horas, e Ginny era a única pessoa próxima que estava disponível para acompanhá-la.

– Mas o que aconteceu? Um tumor, de repente? - perguntou Harry afobado quando eles chegaram ao apartamento de Ginny, falando baixo para James não escutar o assunto. - E a família dela?

– Não sei, não sei, Harry! - exasperou, olhando o quarto rapidamente enquanto enchia uma bolsa de viagem. - A mãe dela morreu quando Luna era pequena, e o Sr. Lovegood era muito velho já. E o Rolf, o noivo da Luna, está no Camboja. Fazendo mestrado, doutorado, sei lá o quê… ele não pode voltar agora. Meu Deus, e James Sirius! O que eu vou fazer?!

Ginny parou no meio do quarto, com os olhos arregalados de preocupação, pensando demais, e abafando o nariz com as mãos.

– Ei! Calma! - Harry segurou-a pelos ombros, forçando-a a olhá-lo nos olhos. - Está tudo bem… você não está sozinha, Gin. Vai, eu cuido do James…

– Não, Harry. Uma criança é muito trabalho, e James é meu filho, minha responsabilidade. - ela negou, agitada.

– Você. Não está. Sozinha. - ele repetiu, olhando fundo nos olhos de Ginny. - James vai ficar lá em casa, e nada vai acontecer. Você não é uma mãe ruim por deixar ele com a gente, Gin…

– Sua mã-

– Gin, é sério. Minha mãe adora você, e adora o Jay. E você precisa de ajuda, deixa eu fazer alguma coisa por você…

Meia hora depois, Ginny pegava o primeiro trem disponível para Surrey, após ter explicado para James que tia Luna estava “um pouquinho” doente e precisava de ajuda, mas que voltaria logo, e que ligaria todas as noites.

Em Surrey, Ginny descobriu que há alguns meses Luna vinha sentindo dores de cabeça absurdas, mas que negligenciara até desmaiar no trabalho, fazer exames, e descobrir o tumor. Ainda não se sabia se era ou não maligno, mas a recomendação era retirar, e a garota não tivera a intenção de preocupar ninguém, por isso fizera sigilo.

O que era para ser apenas dois ou três dias de acompanhamento, logo virou uma semana, e Ginny continuava no hospital, virando dias e noites na companhia de Luna, que parecia se recuperar de maneira promissora. James Sirius todas as noites perguntava quando Ginny chegaria, e se ela iria assistir à apresentação de dia dos pais que ele faria na última sexta feira de aula.

Aquilo fazia o coração de Ginny doer e se remoer de culpa, embora Harry nunca tivesse feito qualquer reclamação sobre o comportamento de James Sirius. “ Está sendo uma criança normal, Gin… brincando, fazendo uma baguncinha. Mas é um santo, educado e comportado, não esquenta.”.

A verdade era que Ginny nem mesmo sabia em que pé estava sua relação com Harry, e noventa e nove por cento dos homens davam no pé assim que descobriam que Ginny tinha um filho. Era completamente surreal e estranho - embora de uma maneira incrivelmente boa - que Harry fosse diferente.

Parte dela, porém, tinha certeza de que ele daria um chute na bunca dela assim que voltasse para Godric’s Hollow. Afinal, que tipo de maluca deixava o filho uma semana com a família de um cara com quem saía a menos de um mês?

– Eu mereço morrer sozinha para deixar de ser sem noção, Lun. - ela comentou sozinha naquela noite, enquanto Luna dormia pesado, após falar com Harry.

Terça virou quarta, e quarta virou quinta, e Ginny tinha certeza de que não conseguiria ir assistir James Sirius apresentar a peça na escola, de maneira que estava pensando em como dar a notícia à ele quando, na quinta de tarde, os médicos deram alta para Luna.

Rolf chegaria ao país no sábado de manhã, e poderia cuidar de Luna de maneira integral dali em diante, e embora Ginny se recusasse a ir, Luna insistiu.

– Eu tenho vizinhos muito solícitos, Gin, não se preocupe. - disse Luna com a voz doce, enquanto Ginny organizava as coisas para ela. - A senhora Mcgonagall vai ficar comigo, e cozinhar para mim, e disse que poderia passar a noite aqui, se eu precisasse.

Luna costumava cuidar dos gatos de estimação da senhora Mcgonagall quando ela viajava, e era uma relação muito amigável de vizinhas.

– Não quero deixar você na mão, Lunny. - choramingou Ginny. - Como está sua cabeça? Você quer ajuda com os curativos? Eu poss-

– Gin! Eu estou bem, juro! - ela riu diante da preocupação exagerada de Ginny.

– Quer comer uma frutinha? Vou picar umas fruti-

– Ginny Prewett! Eu quero é que você vá embora e grave vídeos do meu afilhado! - ralhou Luna em tom de brincadeira. - Você já fez tanto por mim, Gin...

Ginny sabia que era sua TPM, somada à saudade do filho e ao receio de levar um pé na bunda de alguém tão legal quanto Harry, mas seus olhos se encheram de água ao conversar com a amiga.

– Por favor, Luna, não me dê mais esses sustos. Você teve tanta sorte de não ser maligno esse tumor…

– São os chás de ameixas dirigíveis, Ginny… eu sabia que não seria sério. - ela sorriu de maneira sonhadora, mas Ginny a conhecia bem o bastante para saber que esse era parte do tom de desculpas dela. Que Luna tinha ficado com medo.

– Não posso perder você, Luna… por favor. Promete que vai se cuidar? - Ginny insistiu com seriedade, apesar do sorriso manso.

– Prometo, queridinha.

– Vai comer a dieta certinha? Descansar e não ficar no computador até estar bem? - Luna assentiu.

– Eu não tenho nove anos, Ginny! E no fim do verão, Rolf e eu vamos até Godric’s Hollow conhecer o florista gato não gay, o amigo loiro também não gay, e a famosa Mione. - ela sorriu com doçura.

– Não se esqueça do Ron, o ruivo com a família grande!

Ginny afofou os travesseiros de Luna, organizou tudo no quarto à disposição da amiga, e esperou que a senhora Mcgonagall chegasse para passar as orientações e cuidados. Despediu-se de Luna e preparou-se para dormir no sofazinho da sala da amiga, para não acordar ninguém quando saísse às quatro da manhã para pegar o primeiro trem de volta para Godric’s Hollow. Chegaria antes mesmo que James Sirius estivesse vestido para ir para a escola.

***

– Bom dia! - Harry ouviu Ginny cumprimentar na porta, imediatamente levando-o a sorrir.

Ela não havia avisado se chegaria a tempo, mas Harry sabia que a ruiva era cheia de surpresas, e que não perderia a apresentação do filho por nada.

– Mamãe! - James Sirius largou o café da manhã e saiu correndo para jogar-se no colo da mãe, em um abraço fenomenalmente apertado.

Após dar a devida atenção ao filho, Ginny finalmente passou do hall de entrada e cumprimentou James e Harry, pedindo desculpas por atrapalhar o café, ao que Lily a convidou para se juntar à eles.

Ela sentou-se na cadeira vazia ao lado de Harry, e ele se deliciou com a sensação quente em seu peito quando Ginny colocou uma das mãos sobre a dele, sorrindo em um sinal de ‘depois conversamos’. James Sirius tagarelou o café da manhã inteiro ao ponto de quase se atrasar, fazendo Lily e James rirem e se surpreenderem diversas vezes com as tiradas inteligentes dele.

A campainha tocou justamente quando Ginny lavava a louça e se preparava para levar James à escola.

– Chegou o dia da peça! - Teddy entrou na sala correndo e falando alto, com Sirius revirando os olhos em tom de brincadeira vindo logo atrás.

– Prongs, pelo amor de Deus, onde eu desligo ele? - ironizou, indicando Teddy, que apressava James Sirius para calçar os tênis.

– Essa é a graça, Pads… eles nunca desligam. - James riu, bagunçando os cabelos de Harry em um carinho.

– E é por isso que estou feliz de ser você a levar eles hoje. - Harry acrescentou.

Ginny descobriu naquele instante que as famílias Potter, Lupin, e o próprio Sirius, se revezavam nas responsabilidades com Teddy, já que eram todos como um enorme família, e quando Ginny fez menção de ela mesma levar James, para não incomodar, Harry e Sirius a interromperam simultaneamente.

– Que nada, Gin… Sirius gosta dessa bagunça!

– Deixa comigo, ruiva… o mini Prongs com certeza quer roubar você uns minutinhos.

O sorriso e a piscadinha maliciosas de Sirius fizeram Ginny enrubescer, e Harry mandou ele ir logo deixar as crianças na escola. James Sirius confirmou com a mãe que ela iria vê-lo, e depois saiu com Teddy, esquecendo o paletó do uniforme e tendo que voltar correndo para buscar menos de cinco minutos depois.

– Você vai trabalhar hoje? - Harry perguntou, enroscando sua mão na de Ginny e sorrindo para a mulher.

– Hoje não, só a partir de amanhã.

– Eu preciso ir lá na loja, e depois vou assistir a apresentação do Teddy, com a Tonks e o Moony.. quer ir comigo?

– Parece um ótimo plano, para mim. - ela sorriu de volta, sentindo um revirar em seu estômago com o jeito com que a mão de Harry entrelaçou-se na dela.

Harry conseguia essas proezas de fazer coisas banais derreterem as pernas de Ginny até parecerem gelatinas. Enquanto Harry se arrumava para sair, Ginny juntou a bolsa com as coisas de James e colocou no carro, para levar embora, e agradeceu ter ido em casa assim que chegou na cidade, porque estava pronta e arrumada para o dia.
Durante o caminho e as atividades na loja, Harry e Ginny não conversaram nada além de amenidades, e embora Hermione tivesse ficado um tempo falando com a garota, perguntando-a sobre como estava Luna, e se tudo tinha sido resolvido em Surrey, a maior parte do tempo o casal ficou sozinho.

A língua de Harry se coçava para chegar a um certo assunto específico, sobre eles dois - já que o combinado era terem o diálogo mais aberto possível -, mas só parecia o momento errado.

Fazia muitos dias que Ginny não via o filho, tinha passado um tempo estressante cuidando da amiga hospitalizada, e viajado cedo para chegar em Godric’s Hollow a tempo para a apresentação do filho. Se houvesse algo que deveria estar entre as últimas prioridades de Ginny, devia ser o relacionamento confuso dela com Harry, ou qualquer desejo que envolvesse eles dois sozinhos na casa dela - sem roupas, preferencialmente.

Não que essa fosse a primeira prioridade de Harry - mas quem sabe a terceira ou quarta.

Ele decidiu ficar quieto e agir normalmente, como a companhia solícita que sempre era.

A apresentação de dia dos pais começava pouco antes do meio dia, para que as crianças fossem liberadas até a hora do almoço, e Harry e Ginny chegaram relativamente cedo, para conseguirem bons lugares.

Tonks e Remus chegaram pouco depois, e eles partilharam conversas animadas sobre os filhos, sobre o estado de saúde de Luna, e sobre a decoração do mini auditório da escola.

– Eu me considero relativamente durão, comparado ao Prongs, por exemplo… mas se Teddy falar um ‘a’ em uma apresentação eu fico completamente idiota. - confessou Remus rindo.

– Filho amolece a gente de um jeito, não é? - riu Ginny.

– Fale por você, meu amor… eu sou durona! - brincou Tonks. - Ah! Com licença, Ginny, eu vou cumprimentar uma conhecida…

Remus também se retirou logo em seguida, e Ginny perguntou se Harry não gostaria de acompanhá-los e sentar-se com sua família.

– Nah! Vou fazer algo diferente esse ano. - respondeu, dando uma piscadinha e um sorriso convencido que fez Ginny girar os olhos com humor.

Eles sentaram-se nas cadeiras da terceira fila, e Harry ficou com o braço sobre o ombro de Ginny o tempo quase inteiro, fazendo-a sentir-se acolhida. As crianças dos anos pré-escolares começaram as apresentações e todos tiveram overdoses de fofura com as carinhas tímidas e desengonçadas, e quando o primeiro ano começou, Ginny puxou o folheto para ler as informações sobre a turma de James.

– Gin - sussurrou Harry, fazendo-a olhar para ele. -, eu estive pensando…

– No quê? - ela sussurrou de volta, abaixando a cabeça para fazer ainda menos ruído para as demais filas.

– Shiu! - alguém reclamou, e Harry fez um gesto de que falaria depois.

A tentativa se repetiu na apresentação do segundo ano, porque todas aquelas crianças falando coisas bonitinhas estavam deixando Harry sensível, e ele sentia que se não falasse para Ginny como se sentia, explodiria.

– Eu estive pensando, Gin… que eu sei que não deixamos as coisas muito claras, aquele dia. E depois tudo só foi se desenrolando, e acontecend-

– Silêncio! - pediu a pessoa na fileira de trás.

– Depois a gente conversa, Harry. - sugeriu Ginny, dando um aperto carinhoso no braço dele e sorrindo docemente antes de se voltar para o palco. - A turma do James é a próxima.

Frustrado, Harry não tornou a tocar no assunto, embora estivesse muito perto de uma síncope com todas as ideias que tinha na cabeça sobre sua relação com Ginny. Houve uma salva de palmas para a turma do segundo ano, e então se iniciou a peça da turma de James e Teddy.

Harry reconheceu de cara Jia Chang, a filha de sua ex-namorada, narrando a peça, porque ela tinha o mesmo rosto redondo e cabelos escuros da mãe. Victorie também foi facilmente achada, porque o sotaque francês da menina era fofo em uma voz infantil, e o cabelo extremamente louro era quase um refletor diante da luz sobre o pequeno palco.

Teddy era um personagem secundário com apenas uma fala, mas a personalidade do garoto ficou marcada pelo jeito com que ele não parava de se mexer enquanto a peça se desenrolava, e uma garota baixinha de tranças vivia puxando ele pelo braço para que sossegasse, sem sucesso. Harry se divertiu com as presepadas do afilhado e quase esqueceu que James falaria a frase final.

– No final da nossa história, - disse ele, andando para a frente da turma após a pequena coreografia. - fica claro para quem quiser ver. Para ser pai, outra coisa não importa, só importa amar você.

Ele fez uma reverência exagerada quando todos aplaudiram, e Harry sorriu exultante pelo sucesso do menino, porque tinha passado a semana vendo-o repetir trechos do poema em casa, com medo de errar na frente das pessoas.

– James é o máx-... ah, Gin.

Como boa mãe, Ginny tinha chorado com a apresentação do filho, e segurava o celular, que antes filmava tudo, apertado na mão. Harry puxou-a para perto e deixou um beijo na cabeça dela, incapaz de falar algo, embora pensasse em muitas coisas que gostaria de dizer.

O resto das apresentações foi rápido, e menos de dez minutos depois todas as crianças cantavam a música final e faziam poses para os pais tirarem fotos. Uma a uma as turmas foram sendo liberadas, e os pais deviam ir até a frente do palco buscar seus filhos para evitar que se perdessem, e Harry pediu um minuto de licença enquanto Ginny ia buscar James.

Quando voltou de sua ida rápida ao carro, Harry vinha com duas rosas vermelhas empacotadas com laços, e encontrou Ginny acompanhada de James, Teddy e o casal Lupin. Remus segurava o pote de vidro decorado que Teddy havia confeccionado em aula para presenteá-lo, e outro igual estava na mão de Ginny.

– Dindo! Você me viu? - perguntou Teddy empolgado. - Eu estava do lado d-

– Deixa eu adivinhar… você era o único de cabelo azul?! - ironizou Harry, fazendo Tonks rir. - Toma, para não perder a tradição. Para meu artista favorito!

E entregou a flor para Teddy, cujos olhos brilharam de satisfação.

– Obrigado, Dindo!

– Tem uma para meu segundo artista favorito também. - ele deu uma piscadinha e entregou a flor para James, sussurrando. - Não conta para o Teddy, mas você é o meu preferido.

James deu uma risada e Ginny sorriu para Harry pela delicadeza.

– Por que uma flor?

– Ah! - Harry deu um sorriso satisfeito, feliz de poder explicar algo à aquele garoto que era sempre tagarela e parecia saber de tudo. - Os artistas, depois de uma apresentação, costumam ganhar flores. Mas só quando eles são muito bons…

James sorriu de orelha a orelha, orgulhoso de ter sido reconhecido, e olhou para a mãe, esperando alguma reação dela.

– Olha só que legal! Como se diz ao tio Harry, James?

James hesitou um momento, parecendo pensar, então entregou a flor para a mãe e tomou o pote decorado das mãos dela. Olhou para o próprio trabalho, satisfeito, então para Harry, e começou a tagarelar como de costume.

– Tio, você me assistiu?

– Claro que assisti.

– Eu sei que eu tenho pai, mas eu não acho que ele me ama. - a expressão de Ginny ficou congelada em constrangimento, confusa.

– É claro que ele ama você, James. - interrompeu Harry, envergonhado pela situação e sem saber o que dizer.

– Mas é que não importa, Tio. Eu não conheço ele, não posso amar quem eu não conheço. E você foi muito legal cuidando de mim quando minha mãe viajou para ficar com a tia Luna, e mamãe sempre fala que quem ama, cuida. Não é, mãe? - James olhava de Harry para Ginny, esperando alguma reação de um dos dois.

Ginny assentiu, incapaz de falar.

– Então eu posso dar meu presente de dia dos pais para você, tio Harry? Porque você é meu quase pai… e eu queria que fosse meu pai.

Houve algum silêncio, e Ginny estava com os olhos cheios de água, constrangida e emocionada. Harry não disse nada no primeiro momento, e Ginny sentia que seria incapaz de consertar a enorme ferida de rejeição que estava prestes a acontecer no coração de James. As comemorações de dia dos pais eram sempre complicadas.

– James… você não pode falar ass-

– Que coisa engraçada. Acredita que eu também queria ser seu pai? - confessou Harry, agachando-se na altura de James e pegando o presente feito a mão que ele estendia.

– Harry… - murmurou Ginny, em tom de advertência. - Não prometa esse tipo de coisa para ele. Depois eu qu-

Harry a ignorou e puxou James para um abraço, e o garoto apertou os braços ao redor do pescoço dele, satisfeito.

– Eu deixo você roubar metade da mamãe. Mas só isso, viu? - ele disse, crendo que estava sussurrando, e Tonks caiu na gargalhada.

– Como é? - perguntou Ginny, numa montanha russa de sentimentos.

Mortificada, constrangida, emocionada, surpresa, feliz, envergonhada, orgulhosa… ela nem mesmo sabia como sentir tudo aquilo. Era uma mistura de vontade de beijar Harry, abraçar James, mandá-lo calar a boca, se explicar para Tonks e Remus…. Ginny queria, na verdade, sumir!

– Ué, você beijou o tio Harry daquele jeito de adulto. E agora que vocês namoram, eu não quero que o tio Harry roube você só pra ele. - James explicou, como se fosse muito simples e óbvio.

– Tia Ginny é sua namorada, Dindo? - perguntou Teddy.

Harry suspirou, achando graça, e caiu na risada, ao que Ginny deixou seu rosto atingir uma cor perto da de seu cabelo. Remus, percebendo o constrangimento, adiantou-se.

–Teddy. - repreendeu. - Você está sendo inconveniente, já chega.

– Mas eu só quero saber!

– James, você gostaria de ir brincar com Teddy lá em casa hoje? Eu prometi que íamos fazer sorvete caseiro quando as aulas acabassem… - convidou Tonks, agindo naturalmente, como se a conversa não fosse sobre a vida afetiva de Harry e Ginny, que claramente estava mais enrolada do que os cabelos de Teddy.

– Eu posso, mãe?

Ginny ponderou apenas meio segundo, porque estava desesperada para ter uma conversa de adulto com Harry, e naquele momento James parecia agitado demais para deixá-los em paz se estivesse junto.

– Claro! Eu busco ele no fim da tarde, tudo bem?

– Perfeito. Você gosta de nuggets de dinossauro, James?

Tonks e Remus se despediram, e Teddy e James foram andando lado a lado, tagarelando sobre o fato de ter sido Jia Chang a ganhar o prêmio de aluna com mais estrelas douradas na classe, rindo sobre algo que nem Ginny nem Harry entendiam.

– Então… - Harry começou, indicando o caminho para o estacionamento algum tempo depois e andando devagar ao lado de Ginny. - Tenho permissão para roubar cinquenta por cento de você, é isso mesmo?

Ginny deu uma risada contida, parecendo pensativa.

– Harry… eu. - ela hesitou. - Eu sinto muito, muito mesmo por esse constrangimento. Eu… eu não sei o que deu no James, essa época do ano geralmente é mais complicada para ele…

– Gin

– Espero que entenda que não foi por mal, e ele só quis demonstrar carinho. Eu, eu vou conversar com ele para que não se repita… chamar você de quase pai, meu Deus! Eu estou muito envergonhada, Harry. De verd-

– Eu adorei. - ele a interrompeu, parando ao lado do carro antes de destrancá-lo. - Eu só fui pego de surpresa, só isso… mas eu adorei. Esses dias com James foram muito especiais, Ginny. Não sei como explicar, mas foram muito bons, divertidos…

Ela o encarou antes de responder, absorvendo a confissão dele.

– Eu jamais serei grata o bastante pelo que você fez por mim e pelo James, Harry. - os olhos de Ginny umedeceram. - Sempre foi uma jornada difícil, sozinha… e eu não estou reclamando, juro que não! Você não precisava ter feito nada disso, cuidado do James, ficado com ele essa seman-

– Sei que não.

Ginny ficou em silêncio, medindo o jeito resoluto com que Harry colocava a situação. Era consideravelmente intimidante, porque ele estava muito decidido.

– Mas fez.

– Fiz. - Harry levou a mão para ajustar o cabelo de Ginny atrás da orelha, num reflexo carinhoso. - Porque amo vocês. Não você, apenas. Quer dizer, é claro que você também. Você primeir-

– Eu entendi. - ela riu da confusão que Harry fizera.

– Amo vocês dois. Era isso que estava tentando dizer, lá dentro. Hora ruim, eu suponho.

– O pior timing possível, Harry. - confessou, achando graça.

– Eu amo você. Seu cabelo lindo, seu sorriso, suas piadas, sua determinação. Eu admiro você, Ginny. Como pessoa, como profissional, como mãe… como mulher. - ele a olhava intensamente. - E eu amo seu filho. Amo James, e todas as peraltices dele, a criança espetacular que ele é…

Ginny mordiscou o lábio e segurou a vontade de chorar de emoção, encarando a expressão intensa e genuína de Harry, embora tenha deixado escorrer algumas lágrimas teimosas.

– Desculpa, é a TPM. - riu, secando o rosto com o dorso da mão.

– Quero ser uma pecinha no quebra-cabeça de vocês.

– Só uma? - Ginny brincou.

– Só a peça que falta.

– Faltam muitas coisas no nosso quebra-cabeças, Harry. Falta uma vida estável, falta uma casa decente, falt-

– A gente dá um jeito. A gente dá um jeito nisso tudo, juntos. - ele a interrompeu, se aproximando. - Namora comigo, Gin. Deixa eu amar você, amar o James. Porque eu já amo… e eu juro que não vou embora.

Ciente de que não poderia resistir a Harry Potter, e que jamais seria capaz de amar alguém do jeito como sentia que amava aquele homem - que definitivamente não era nada gay -, Ginny deixou que Harry a beijasse. Primeiro na testa, depois nos lábios, porque Harry era um cavalheiro romântico e emocionado incorrigível. A boca de Harry na dela era uma sensação tão prazerosa, tão delicada e tão certa, que era ridículo que não pudesse estar ali o tempo inteiro.

A forma com ele encaixava suas mãos na cintura e no meio das costas de Ginny passavam cuidado e segurança, e a mulher se perguntava, quando conseguia pensar além daquele beijo fenomenalmente certo, se algum dia pararia de sentir borboletas se revoando em seu estômago, ou as pernas moles como gelatina. Como assim Harry era seu?

No melhor sentido que a posse poderia ter em um relacionamento, claro.

– Como é que se diz ‘eu aceito’ em linguagem de flor? - ela brincou algum tempo depois, fazendo Harry dar uma gargalhada sonora.

Ginny mal podia esperar para ouvir suas duas risadas favoritas juntas. Parecia mesmo a peça que faltava naquele quebra-cabeças.


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Notas finais do capítulo

Caso alguém ligue, ou queira saber... a Luna ficou bem (ao menos eu imagino assim). :))



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