Floriografia escrita por Fanfictioner


Capítulo 4
O longo meio (do fim)


Notas iniciais do capítulo

Domingo virou o dia oficial de atualizar Floriografia (e quem diria que a semana passaria tão rápido, não é?!) Eu pretendia ter postado quarta, mas houve uns imprevistos, e pelo menos final de semana as pessoas tem mais tempo livre para ler fanfic com calma hahaha (ao menos é assim comigo... como é com vocês?)

Para quem estiver meio perdido nos títulos (o que é completamente normal já que eu sou, tipo, maluca, e a cronologia da fic só faz sentido para mim, que escrevi - hahahaha, louca! - vou tentar dar uma ideia...
O começo trata da história da Ginny com o Teddy, de explicar como ela o adotou e tal, é é meio que contada de trás para frente, porque somos apresentados a eles já sendo uma família. O meio é sobre o dia a dia do Harry, sobre estar apaixonado pela Ginny, a saga das flores e tal. E o fim é o objetivo da fic: Hinny acontecer... talvez isso ajude vocês a entender um pouco da ordem em que tudo aconteceu até aqui - ou não hahaha.

Outras duvidinhas do plot, ou só vontade de amiga, falar de fic.... vamos conversando nos comentários, ou pelo twitter (@morgana_botelho). Esse é nosso penúltimo capítulo, e o último vai sair junto com o epílogo, até o dia 20, prometo!

Ah! Nosso capítulo de hoje é 50% contribuição da vida minha pessoa favorita Milih, seus micos e mensagens inesperadas... obrigada pelos mimos da vergonha, que ficaram eternizados em fic! Sinta-se representada em sua fossa amiga! ❤



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Apesar de ter cometido todas as vergonhas que era humanamente capaz, Ginny não diria que seu domingo na casa dos Potter tinha sido ruim. Ao contrário! James Sirius tinha gastado até mesmo as energias que não tinha, e apagou de sono assim que chegou em casa, sem nem mesmo jantar.

Além disso, Ginny havia conseguido ter um dia de interação adulta saudável e divertida. Tinha comido bem, tomado cervejas geladas e jogado conversa fora com pessoas maravilhosamente interessantes. Remus, por exemplo, tinha servido no exército britânico, e as cicatrizes no rosto tinham sido conseguidas ao lutar na Guerra das Malvinas, com pouco mais de vinte anos. 

Lily era o tipo de pessoa amável e afetuosa que lembrava a Ginny da falecida mãe. James e Sirius eram divertidos e fanfarrões, e apesar de adultos - Ginny não ousaria dizer propriamente responsáveis - eles cultivavam aquele espírito jovial e descontraído. A adição de Tonks fazia tudo parecer exato, porque ela e Remus pareciam dois opostos um ao lado do outro e, no entanto, Ginny não achava que já tivesse visto pais com uma sincronia tão adorável.

No geral, se se desconsiderasse a cena com a baba e o quase beijo em um gay comprometido, Ginny tinha tido um domingo feliz, divertido e satisfatório, de maneira que sua semana começou em um clima leve e alegre. Ela nem se aborreceu - ao menos não demais - quando James virou um copo de achocolatado sobre a camisa social e a gravata do uniforme, e mesmo quando, antes das onze da manhã, ela já tinha atendido dezesseis pessoas, Ginny continuava de bom humor.

Harry não pareceu minimamente abalado pelo constrangimento do dia anterior, porque na hora do almoço ele cumprimentou Ginny com um abraço e um beijo no topo da cabeça (o que fez seu estômago dar cambalhotas satisfeitas), e conversou normalmente. Ginny não sabia o que pensar sobre, porque embora se sentisse envergonhada e confusa, sabia que estava tão apaixonada em Harry que não tinha certeza de que teria se arrependido de tê-lo beijado, já que tudo fazia parecer que ele estava flertando com ela.

Será que Harry era Bi?

Ginny se questionou isso o dia inteiro, e admitiria até que não prestara muita atenção nas coisas que James Sirius foi contando no caminho para casa - ela apenas olhou com cuidado para o buraco na calça dele, na altura do joelho, e o enorme ralado coberto de spray de iodo. Quando entrou em seu prédio, porém, havia uma nova entrega de flores na portaria, rosas brancas, com uma tag assinada, uma caligrafia horrorosa, e Ginny demorou a decifrar o que achava que era um M. Só podia ser um M.

Era bonitinho, ela amava flores, mas era irritante o joguinho de anonimato, além de um pouquinho sociopata, se bem pensado. Ginny achava que era um carinho de Hermione - afinal, de quem seria o M senão de Mione - , mas quem iria saber não é? Já tinha dado indiretas e a amiga não havia se pronunciado, então restava esperar.

***

A vida de Harry virou um paradoxo de monotonia e correria nas semanas seguintes. Draco fora embora naquele mesmo domingo, no final da tarde, e Ron passara a trabalhar o dobro do tempo, porque era treinador do time de lacrosse do ensino médio e faltavam duas semanas para as finais regionais, em Plymouth.

Uma consequência disso era que todo o trabalho da floricultura tinha ficado nas costas de Harry e Hermione exclusivamente, e ele estava exausto de viajar pelas cidades vizinhas em busca de novos fornecedores de lírios, e procurando lugares que plantassem coníferas, para planejar as compras de pinheiros de Natal, para o final do ano.

Outra questão era que, de repente, Hermione tinha passado a lhe dar perdidos nos sábados e domingos, e pelas três semanas seguintes ele não teve muito tempo ou oportunidade de sair para lazer, ao menos não lazer adulto.

Uma coisa curiosa que acabou acontecendo foi a aproximação absurda dele com Ginny, por conta de Teddy e James. Passou a ser uma ocorrência semanal que eles saíssem juntos para levar as duas crianças para brincarem juntos nos parques infantis de Godric’s Hollow. Às vezes Tonks juntava-se a eles, outras Remus, mas em geral eram só os dois, e a hora sempre passava rápido demais, com milhares de conversas que se misturavam e pareciam não ter fim.

Harry adorava esses momentos, e se fosse honesto consigo mesmo, tinha passado a ser um padrinho 200% mais presente apenas por saber que isso o aproximava de James e Ginny. Era egoísta, mas todos saíam ganhando, mesmo que seu relacionamento com Ginny continuasse no zero a zero, de pura amizade.

Na verdade, Harry começava a achar que Hermione estava se divertindo às suas custas, dando a ele as expectativas de que Ginny estava reciprocamente interessada, quando não era verdade. A mulher não tinha mencionado uma vez sequer o fato de estar recebendo flores. Harry tinha até mesmo checado se Colin estava fazendo as entregas no endereço correto, porque o garoto podia ser meio atrapalhado.

Mas estava tudo nos conformes na entrega, então Ginny apenas não queria constrangê-lo com um não. 

Com essa nova rotina diária de sair com Ginny, passar tempo com Teddy e James, e horas livres em parques, o tempo passou muito rápido. Era uma monotonia gostosa e uma quebra de expectativas, e quando maio chegou e trouxe o aniversário de Teddy, Harry mal acreditava que já faltava apenas um mês para o verão.

Teddy era esperto o bastante para ter pedido que sua comemoração acontecesse apenas quando os avós maternos voltassem de viagem da França, porque Andrômeda e Edward Tonks sempre faziam as vontades do neto, e Teddy adorava ser mimado, então houve apenas um almoço na casa da família Lupin, e Harry passou o resto do dia jogando videogame com o afilhado.

O combinado acabou sendo uma festa do pijama dali duas semanas, cerca de um mês antes do começo das férias escolares, com direito a doces, filmes, banhos de mangueira, tintas e muitos, muitos amigos de escola. Porque, na concepção de Harry, qualquer número além de três ou quatro amigos era muito quando se tinha apenas nove anos - recém completos, ainda por cima! - e Teddy tinha uma lista com sete amigos.

Ele começou se divertindo da cara de pânico de Remus, mas acabou descobrindo o lado amargo da função de padrinho quando foi recrutado em um sábado de manhã para ficar enchendo balões e decorando a sala de estar da casa de Moony e Tonks.

Hermione, Ron e Draco - que havia chegado na noite anterior com Astória, sua namorada, para o aniversário de Narcisa Malfoy, sua mãe e tia de Tonks - se juntaram a ele perto do meio dia, trazendo sanduíches de presunto e suco de maçã para Harry, que não tinha sequer tomado café. Lily se recusava a cozinhar de manhã nos finais de semana, e Harry acordou atrasado para ajudar Tonks, o que culminou em fome a manhã toda.

— O que seria de você sem mim, Harry Potter? - provocou Hermione ao estender o almoço para ele.

— Uma pessoa faminta, mas com um pouco mais de dignidade amorosa sem seus planos horrorosos de cupido.

— Para seu governo, minhas habilidades de cupido sempre deram muito certo para mim, sabia?

— Beijar Viktor Krum em um Jogos Escolares não conta, Mi. - provocou Ron, recebendo uma almofadada na cara e rindo.

— Por que você não some, Weasley?

— Você sentiria demais a minha falta, Mione, admita…

— O casalzinho aí pode namorar depois e vir encher balões, fazendo-me o favor? Não sou um tanque de oxigênio não… - ironizou Draco, arremessando um saco de balões na direção deles e quase acertando o sanduíche de Harry.

— Com essa cor de cabelo, eu sempre tive minhas dúvidas. 

A piada personalizada de Draco era chamá-lo de oxigenado, e Harry sempre conseguia encaixar aquilo em tiradas novas, o que fazia com que nunca perdesse a graça. Hermione caiu na gargalhada e Malfoy apenas mostrou o dedo do meio ao amigo, e pelo resto da tarde eles organizaram juntos o aniversário de Teddy, que teve uma síncope animada quando chegou da casa dos avós perto das cinco horas e viu tudo decorado.

— Você é o melhor dindo do mundo! 

Ele se jogou nos braços de Harry, que prontamente o colocou nos ombros e ajudou a segurar na decoração mais alta na sala, sorrindo como se não estivesse com a coluna doendo e as mãos ardendo de talco de balão.

— Criança é um bicho ingrato mesmo, né? E eu, Teddy? E o tio Draco, você não gosta de mim também? Eu sou, tipo, seu tio-primo, seu malandrinho… venha cá!

Mas Teddy estava muito entretido com Harry para fazer algo mais além de mostrar a língua para Draco.

— Perdeu, Malfoy. - riu-se Ron, chamando Draco para ir embora com ele e Hermione. - A gente se vê no Três Vassouras então, Harry?

— Sete horas eu estou lá! - gritou ele em resposta, dando atenção ao afilhado.

***

Ginny não estava muito certa se aquela era uma decisão boa.

Quando ela pensava em James, e na felicidade com que o menino tinha passado o dia ao arrumar suas coisas para dormir na casa do melhor amigo, na primeira festa do pijama de sua vida, nada a fazia ter mais certeza de que precisava se desapegar um pouco dele e deixá-lo viver. No entanto, fazia tanto tempo que eram só os dois, só ela e James, que era estranho pensar em voltar para casa e passar a noite sozinha.

Fazia séculos que Ginny não tinha algum tempo só para ela, e se ela pensasse bem, conseguia se imaginar bebendo um pouco de vinho e assistindo à algo de sua escolha na minúscula sala/cozinha de seu apartamento.

— Não precisa se preocupar, Ginny. - disse Tonks, tirando-a momentaneamente dos inúmeros pensamentos que a rondavam. - Teddy vive chamando amigos para dormir aqui… você acha que James vai ficar com medo?

James estava entretido, vestindo uma máscara de um super herói que Ginny não recordava o nome e correndo ao redor de Victorie Weasley e de Arthur Bones, colegas de escola.

— Nah, ele vai ficar ótimo! Só não tenho muita certeza quanto à mim. - Tonks riu, sentando-se no braço do sofá ao lado de Ginny.

— Vamos servir pizza para eles daqui a pouco, e Remus está preparando um forte de lençóis para eles assistirem filme. Seja lá o que isso significa! - Ginny sorriu, observando o filho brincar com os amigos. - Mas estamos muito felizes que você deixou James vir, Ginny. Ele vai se divertir muito, e pode ficar tranquila… eles vão passar bem a noite. Vamos ficar acordados, por segurança.

Tonks era o tipo de pessoa que Ginny queria ser, quando era mais nova e pensava, em um futuro distante, em ser mãe. Tonks era uma mãe ‘radical’, que assumia oito crianças dormindo em sua casa em uma noite do pijama, e fazia bolos com confetes coloridos, e deixava que usassem tinta guache na sala - uma ideia que causava ansiedade em Ginny só de imaginar. 

Naquele momento, Ginny sentia-se metade exultante de seu filho ter amizades que proporcionavam aquelas experiências, e metade frustrada, porque ela não se sentia metade da mãe que Tonks era. Não dava um terço daquela atenção à James, nem era tão divertida, nem podia se dar ao luxo de fazer noites do pijama como aquelas. Não era a vida que a Ginny sonhadora de dezesseis anos tinha pensado para si, com todos aqueles planos mirabolantes de vida e carreira, mas era o que ela conseguia fazer com o que tinha.

— Ele adora você, sabia? Teddy. - ela confessou, encarando Ginny como se lesse os pensamentos dela. - Acha você o máximo por ser enfermeira! Vive falando que quer ser doutor e cuidar das pessoas, como você… impossível competir com estetoscópios e palitos tutti-frutti.

Ginny riu, achando graça que Tonks entendesse tão bem suas inseguranças.

— Filho às vezes enche os nervos mesmo, e tá tudo bem. - confessou, prendendo os cabelos cor de chiclete no alto da cabeça. - Sempre que achar que vai explodir, despacha o James para cá e vai encher a cara um pouco… meu Deus, eu sei que certamente seria uma mãe muito menos responsável sem o Remus, que dirá na sua idade!

Ela não conteve uma gargalhada, porque era exatamente assim que se sentia às vezes, só que sem alguém com que compartilhar esse sentimento sem ser julgada. Tonks era alguém que Ginny definitivamente desejava se aproximar mais.

— A gente some um segundo e essa casa fica cheia de pirralhos, é? - alguém comentou, descendo as escadas, e se Ginny não estivesse apoiada no alisar da porta, teria caído de susto.

Harry vinha, acompanhado de Remus, carregando cordas e rolos de fita que aparentemente tinham sobrado da construção do forte de lençóis. 

— A doce ironia é que eu falava a mesmíssima coisa para o Prongs em todos aqueles anos enchendo balão para suas festinhas, sabia? Se chama karma, mini prongs. - Ginny sorriu ao ouvir Remus comentar enquanto dava tapinhas no ombro de Harry, achando graça da diferença de gerações.

— Só que na minha época a gente era bem mais pirracento, né, Moony? - Harry retrucou risonho, pegando o afilhado no colo e pendurando-o de cabeça para baixo. - O que vocês acham? A gente pendura o Teddy pelo pé no topo da escada?

As crianças fizeram uma algazarra, puxando Harry e empurrando-o em direção ao sofá, e arremessando almofadas nele, fazendo os adultos rirem. 

— Vai mesmo abandonar a gente essa noite, Harry? - perguntou Tonks, implicando com ele. - Eu estava pensando em deixar o turno da madrugada por sua conta…

Harry revirou os olhos, achando graça.

— Minhas funções de padrinho não se estendem tanto… mas eu prometo que bebo uma por cada um de vocês.

— Vai sair? 

— Com o pessoal, é… vamos só jogar conversa fora e beber alguma coisa no Três Vassouras, como sempre. Draco vai embora amanhã também… - ele explicou, sua atenção dividida entre conversar com os adultos e observar as artes marciais que Teddy exibia para ele.

— Você não quer arrastar a Ginny nessa não? - Tonks sugeriu, indicando Ginny com a cabeça. - Deus sabe que toda mãe precisa de um pouco de álcool e uma noite sem filhos de vez em quando…

Harry desviou o olhar para Ginny, que parecia não saber onde enfiar a cara pelo convite repentino, e se limitou a dar um sorrisinho amarelo. Era bem verdade, ela estava precisada de álcool e um pouco de diversão adulta, com pessoas da sua idade e que falassem de qualquer coisa que não fosse Frozen, no entanto, sair para beber com seu crush supremo, na companhia do namorado dele, não parecia um tipo de programação muito atraente.

Na verdade, uma cama de pregos parecia mais agradável.

— A gente vai adorar você lá, bora? - convidou Harry, com um sorriso simpático. Tudo em Harry sempre era simpático.

No dia seguinte ela não seria capaz de explicar a si mesma o que a tinha feito responder tão rapidamente, nem porque o sorriso dele deu um nó em seu estômago, mas Ginny disse de pronto.

— Claro! Vai ser ótimo!

***

— Antes tarde do que nunca! - disse Draco, levantando seu copo de cerveja assim que Harry e Ginny chegaram ao Três Vassouras.

Além dele, de Ron e de Hermione, havia uma outra mulher à mesa, igualmente à vontade e aparentemente muito próxima de todos eles.

— Foi mal… Teddy sempre me prende uns minutinhos a mais, vocês sabem. - Harry se desculpou, puxando uma cadeira para Ginny e sentando-se na outra vazia, ao lado de Draco. - Hoje vamos ter companhia especial… Ginny vai beber com a gente!

Hermione comemorou, sorrindo para a amiga, e Ron logo sinalizou para que o garçom trouxesse mais dois copos para a mesa deles.

— James vai dormir na casa do Teddy, Ginny? - Ron perguntou, iniciando uma conversa amigável.

— Vai sim… acho que estou mais nervosa do que ele. 

Draco deu um risinho e Hermione comentou que ficaria tudo bem.

— Seu filho, né? - a garota de cabelos muito escuros que estava sentada entre Draco e Hermione comentou com um sorriso doce. - Eu sou apaixonada por criança! Mimo meus sobrinhos o quanto posso…

— Gin, essa é a Astoria, antes que os mal educados aqui esqueçam de apresentar para você… a responsável por eu não ser a única mulher nesse grupinho, antes de você se juntar à nós. - explicou Hermione, bebendo um pouco. 

Ginny não tinha entendido bem qual era o papel de Astoria no grupinho - amiga de escola? Prima de um deles? -, mas a informação de que Hermione incluía ela, Ginny, no grupinho de amigos deles era o suficiente para que ficasse satisfeita.

Os copos dela e de Harry chegaram, e por alguns minutos seguintes Ginny bebeu animadamente, conversando com Astoria sobre crianças e compartilhando um pouco de suas experiências com a maternidade, ignorando até mesmo a fome crescente no fundo do estômago.

Houve uma porção de petiscos em algum momento, e Ginny estava adorando o jeito como o assunto rendia e fluia fácil com eles. Ron era muito engraçado, e Ginny se divertia aos montes com as histórias dele sobre os irmãos gêmeos e a vida de treinador do time de lacrosse. Um assunto ia emendando no outro, e, de repente, Ginny sentia como se conhecesse todos eles há muito tempo.

Perto das dez, Tonks mandou uma mensagem avisando que James estava escovando os dentes para ir deitar, seguida de fotos das crianças dentro de sacos de dormir, com pulseiras de luz fosforescente. Ela respondeu alguns emojis, agradecida, mas a verdade era que sua cabeça tinha esquecido completamente do filho naquelas horas. Sua cabeça estava era muito bem concentrada nos assuntos ali no pub.

Já tinha perdido as contas de quantas cervejas tinha tomado, embora não achasse que estivesse bêbada. As piadas de Draco, no entanto, pareciam muito mais engraçadas àquela altura, e o cabelo de Harry estava muito mais atraente do que quando eles haviam deixado a casa de Tonks, horas atrás.

— Mas então quer dizer que você realmente é solteira, Ginny? - Ron perguntou em algum momento, e ela confirmou com a cabeça, tomando outro gole de sua cerveja.

— Solteiríssima! - sua língua estava esquisita para falar direito. Era até engraçado, pensando bem. - E você, Ron? Você é solteiro também?

Harry deu uma gargalhada que Ginny não entendeu, e Draco repetiu a pergunta, claramente tirando sarro da cara de Ron, que avermelhou.

— Uhm… eu. É. Eu estou me recuperando do término de um relacionamento bem longo… mas, sei lá… opções em aberto.

Ginny assentiu com a cabeça, olhando dele para Hermione, e então decidiu que fazia sentido falar o que pensava.

— Eu acho que você e Hermione deviam namorar, sabia? - Hermione teve um acesso de tosse, e Draco gargalhou alto, enquanto Harry sorria, aturdido com a repentinidade do comentário. - Ah, eu acho… eles não seriam bonitinhos juntos, Astoria?

— Acho que seriam lindos mesmo, Ginny. - ela respondeu sorrindo. - Quem sabe eles já tinham algo e só estejam escondendo de nós, não é?

Ron concentrou-se em abrir um pacote de palito de dentes para pegar outra batatinha frita molenga da porção que havia sido servida, com as orelhas quase tão vermelhas quanto o cabelo ruivo dele. Houve um momento em que a cabeça de Ginny inclinou-se para o lado, pensativa, observando o que Astoria havia dito, e então ela deitou a cabeça sobre os braços na mesa, bebendo outro gole de cerveja.

— Eu ficaria muito brava com Hermione se ela estivesse saindo com Ron e não tivesse me contado! - afirmou, em um tom quase de birra. - Porque Hermione é minha melhor amiga. Depois de Luna, claro, mas Luna não conta porque vocês não a conhecem… eu já comentei da Luna com vocês?

Ela achava que Hermione já tinha ouvido falar de Luna, e talvez até Harry, mas como ninguém se opôs, Ginny tagarelou sobre sua única amiga fora de Godric’s Hollow.

— A Luna é tipo, sensacional, sabe? Ela é uma amigona, e eu tenho tanto orgulho dela! Ela escreve, sabe? Tipo, para ser escritora e tal… ela vai conseguir, ela escreve muito bem! - Ginny pegou o celular e mandou um áudio para Luna, achando graça de como sua voz estava soando. - Ei, Luney! Só para dizer que estou falando de você para meus amigos de Godric’s Hollow! Eu amo você, viu? E estou com saudades, quando você vai vir me ver?

Ron perguntou um pouco mais sobre Luna, ignorando o tom altamente bêbado da conversa, e Hermione insistiu em saber se Ginny estava se sentindo bem, porque ela parecia alterada.

— Acho que você devia beber uma água, Gin. - sugeriu Harry, amigável e solícito.

— Nada! Eu estou ótima, é como a Tonks disse, uma mãe precisa de uma noite de diversão e álcool. - ela riu da própria piada, e perdeu o sorriso preocupado de Astoria em sua direção.

— Mas então, Ginny… o que era mesmo que você falava sobre Hermione e Ron? 

Draco perguntou algum tempo depois, trazendo o assunto novamente à tona, a contragosto de Hermione.

—  Ah! Sim, Hermione é minha melhor amiga e eu conto tudo a ela… seria injusto que ela não me contasse. - ela pareceu ponderar um momento. - Mas acho que tudo bem… você está feliz de estar namorando com Ron, Mione? Ele transa bem?

A cara de Hermione atingiu tons inimagináveis de vermelho, e Harry e Draco pareciam estar se divertindo muito. A inocência de Ginny deixava claro que era uma pergunta sincera, embora Ron estivesse se sentindo completamente exposto e envergonhado naquele momento.

— Não estamos namorando, Gin… eu diria a você se estivéssemos. E, pelo amor de Deus, ninguém vai falar de transa. - respondeu em voz baixa, puxando o copo de cerveja para longe de Ginny. - Vamos suspender sua cerveja, okay?

Ginny não pareceu muito consciente, porque concordou, mas tempos depois tinha puxado o copo de volta para beber mais. O assunto prosseguiu, com risos e conversas amenas, provocações de Draco e Ron, e tudo parecia divertidíssimo. Ginny tirou algumas fotos com eles, fazendo caretas, e com o copo de cerveja na mão, rindo de sua própria língua engrolada.

— Eu estava pensando… Mione, você é muito sortuda! - comentou em algum momento.

— Ah, é, Gin? Por quê?

— Olha quantos amigos gatos você tem?! Ron é gato… não é meu tipo, mas é gato. Não vou roubar ele de você, Mione.

Harry riu alto, divertindo-se da situação.

— E depois Harry e Draco… chega a ser injusto!

— Por que é injusto, Ginny? - insistiu Draco, rindo, disposto a fazê-la tagarelar mais.

— Porque uma coisa dessas não acontece comigo, ué! Porque se eu tivesse um amigo como Harry eu já teria dormido com ele há muito tempo! Olha essa carinha de gostoso! - respondeu com simplicidade, fazendo Astoria engasgar com a água que bebia.

Ron deu um assobio, rindo, e Hermione boquiabriu-se.

— Ginny… chega, você está bêbada!

— Não! Claro que não estou! - ela retrucou, arrumando o cabelo antes de falar. - Eu diria isso de qualquer jeito, Harry é gostoso, e eu super pegaria ele. Com todo respeito, Draco, claro…

Foi então que Ron gargalhou alto, batendo as mãos na palma da mesa. Harry estava com o rosto completamente afogado de vermelho, e Draco ria, confuso.

— Respeito…?

— Eu só quis dizer que se vocês não namorassem eu super já teria dado uns pegas em Harry… e é verdade, Harry. Vou fazer o quê? Gostoso! Você é gostoso… - ela confirmou, repetindo algumas vezes aquilo e concordando com a cabeça, apertando as bochechas de Harry até ele fazer um biquinho e dando outro gole na cerveja.

— Gin… - Hermione comentou, rindo constrangida. - Harry e Draco não são gays. Draco namora com Astoria!

Ginny olhou de Draco, com as orelhas vermelhas, para Astoria, que ria achando graça da situação. Harry estava mordiscando os lábios, meio sem graça, meio risonho, e a situação toda se desenrolava como uma piada na cabeça enevoada de Ginny.

— Ah, jura?! Eu tinha certeza de que vocês namoravam… 

— Não… a gente é só amigo, Gin. - Harry acrescentou, rindo.

— Ah! Nossa, que bom, então! Posso achar você gostoso sem culpa… você e Astoria ficam bonitinhos, Draco! Shippo muito… é. É… Eu pegaria você se você me desse uma chance, Harry. Agora que sei que não é gay. Você não é gay, é?

— Não, Gin… não sou gay.

— Muito bom isso, inclusive, sabia? Não de um jeito homofóbico, tá tudo bem ser gay… só, só é legal que você não seja porque posso achar você gosto. E a gente pode ficar, alguma hora.

— Ahm… é. Que legal saber que você… uhm… se interessa por mim, Ginny. Eu fico… lisonjeado. - ele respondeu, sorrindo sem saber o que falar.

Em uma circunstância normal, qualquer pessoa teria ficado constrangida, mas Ginny estava muito bêbada para isso, então ela apenas riu. Riu por muito tempo, e continuou conversando como se nada tivesse ocorrido, e horas depois saiu trôpega para o carro de Harry, que a levaria em casa.

— Amanhã nos falamos, Gin… - Hermione disse ao se despedir, rindo. - Vai ser uma noite e tanto para você se lembrar.

O caminho até em casa foi rápido, porque Godric’s Hollow era minúscula, e Ginny foi tagarelando aleatoriedades até lá. Harry a ajudou a pegar as chaves de casa na bolsa, e entrou com ela no prédio, acompanhando-a para que não caísse nas escadas até o segundo andar em que ficava seu apartamento.

Ginny destrancou a porta dando risada de algum comentário que ela mesma tinha feito, sentindo arrepios na nuca, onde a respiração quente de Harry roçava em sua pele.

— Bem vindo ao meu apê! - ela disse, gesticulando o ambiente para Harry. - Mas não repara a bagunça, porque James sempre deixa tudo fora do lugar.

— É um lugar muito legal, Gin. - Harry comentou. - Vou servir uma água para você, okay?

Ela concordou, sentando-se no sofá para tirar os sapatos, enquanto Harry servia um copo d’água para ela. Ele se acomodou na poltrona ao lado e ficou encarando Ginny enquanto ela se recuperava. Os olhos castanhos dela estavam meio perdidos, afundados no álcool, e, no entanto, ela permanecia tão estupidamente bonita que Harry sentia-se como um idiota, apaixonado por ela.

Ginny se esticou na direção dele, falando olhando diretamente nos lábios de Harry, como num convite.

— Eu falei sério sobre você ser gostoso, sabe? Que eu pegaria você, se você não fosse gay… e se me desse uma chance.

Harry fechou os olhos, sentindo o calor subir pelo corpo ao ouvir Ginny comentar aquele tipo de coisa. Pensar parecia quase impossível, porque a boca da garota estava tão perto, e falando tão baixo, e a luz estava tão suave naquela sala…

— Eu vou adorar dar uma chance a você, Gin. - ele murmurou, de olhos fechados. - Mas quando você estiver em condições de querer uma chance. 

Ela não pareceu desapontada, nem brava, e Harry teve ainda mais ciência de que ela não estava em seu juízo perfeito. O olhar dela era sonolento, e certamente Ginny não estava em condições de querer nada além de uma noite de descanso. Já tinha tido emoções demais, e coisas vergonhosas o bastante para lidar depois, de ressaca.

— Você precisa descansar agora, tudo bem? - e ela concordou, fechando os olhos. - Vou levar você para cama. 

Ele a segurou pela cintura e a guiou pelo minúsculo corredor até o final, chegando no quarto que ela dividia com James. Harry deitou-a e cobriu-a com o lençol, voltando depois para deixar um copo de água na mesa de cabeceira.

— Harry… - ela chamou, sonolenta. - Eu realmente estou a fim de você, não é porque eu estou bêb-

— Já tá bom por agora, Gin… vamos ter tempo para falar disso amanhã, certo? Durma bem. - e beijou a testa dela, indo embora em seguida com um sorriso dolorido no rosto.

Sabia que estava muito interessado em Ginny, que o tipo de coisas que ela tinha dito naquela noite tinha mexido com todos os hormônios e sentimentos dele, e seria uma tortura ficar algum tempo a mais. Eles mereciam uma conversa sóbria antes de uns amassos, mas era bom saber que Ginny o achava gostoso.


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Notas finais do capítulo

Tonks eleita mamys radical do ano, Ginny bêbada, consequências pós alcool vindo... alguém tem ideia do que vem por aí?
Vejo vocês nos comentários! Beijoooos ❤



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