Floriografia escrita por Fanfictioner


Capítulo 3
O fim completo (do meio), o começo (do fim) e o começo e o meio (do começo)


Notas iniciais do capítulo

Uma semana é um tempinho quase razoável para atualizar, vai?
Agora que toda a minha vida adulta e fora do mundo fanfiqueiro finalmente está entrando nos eixos eu posso dar atenção à Floriografia, então devemos ter atualização na quarta-feira (YAY!)
Muitíssimo obrigada a todo mundo que está acompanhando, favoritando e, principalmente, comentando! Vocês são tudinho!
Ainda não consegui dar a atenção devida a todos os comentários, mas estarei cuidando disso essa semana, então não sejam tímidos e vamos conversar :))))

Esse capítulo tem muitas explicações da vida da Ginny, e muito da nossa família Potter/Lupin/Black, então espero que gostem!



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O FIM COMPLETO (DO MEIO)

Durante aquela semana, Harry usou todo seu arsenal de memórias sobre o dicionário de significado das flores (que ele inclusive alugou novamente na biblioteca da cidade) para continuar enviando mensagens anônimas para Ginny através de arranjos e buquês. 

Na terça ele enviou camélias brancas (perfeito encanto) e na quarta foi um belíssimo arranjo de tulipas vermelhas (declaração de amor), mas se Ginny estava ciente do que aquelas flores significavam, ou se sequer sabia que era Harry que as estava enviando, era uma incógnita. Ela não havia mencionado as flores em momento algum nos almoços dos dias seguintes, ou comentado algo sobre algum admirador secreto.

Uma parte insegura de Harry tinha certeza de que Ginny estava ignorando completamente suas investidas ‘emocionadas demais’ e tendo a cortesia de não falar nada a respeito daquilo para não constrangê-lo ou fazer a amizade deles ficar esquisita. No entanto, Hermione estava bastante convicta de que nada daquilo tinha fundamento.

— Imagine, de repente flores aleatórias começam a ser entregues na sua casa, sem sequer um cartão… é claro que Ginny iria pensar que foi você quem mandou, né, Harry? - ironizou ela depois do almoço de quinta-feira, em que a pauta tinha sido um restaurante novo que tinha sido inaugurado na cidade.

— Talvez porque eu seja o dono da única floricultura da cidade?

— E só você pode comprar flores, não é mesmo? 

— Você acha que eu devia parar? - ele perguntou, parando de trabalhar com a tesoura de poda.

— Eu já estaria de saco cheio de receber flores de um anônimo. Na verdade, eu estaria com um pouco de medo de quem é esse stalker esquisito me enviando coisas sem dar a menor brecha de quem é… - ela comentou, cruzando as pernas sobre a cadeira de rodinhas do balcão. - Por que você só não chama ela para sair?

Harry torceu a cara, não muito satisfeito com aquela ideia.

— Não é, tipo… comum demais? Só chamar para sair?

— Então continue com seu plano super funcional de anonimato. Quem é que não se apaixona por um desconhecido que envia flores segundo um código da era Vitoriana, não é mesmo? - ela debochou, revirando os olhos e fazendo Harry rir.

Claramente os dois tinham abordagens distintas no que dizia respeito às investidas para seus interesses afetivos. Enquanto Harry era sutil e muito chegado ao romantismo, clichês e meiguices (‘um emocionado’ conforme Hermione), ela era prática e gostava de ir direto ao ponto. Geralmente eles funcionavam como um meio termo um para o outro.

— E se eu mandasse um cartão junto? Convidando para um café? - ele sugeriu algum tempo depois, enquanto mudava algumas plantas de lugar nas prateleiras. 

— Qual a diferença de fazer isso pessoalmente?! Pegue a merda da flor e entregue para ela quando ela sair do plantão hoje! - ela resmungou, impaciente, saindo para receber um carregamento de papéis de presente.

Aquela ideia pareceu agradável a Harry, e apesar da falta de coragem para abordar Ginny pessoalmente, ele escolheu um par de amores-perfeitos - que significavam ‘estou pensando em você’ - e embalou em um papel pardo, escrevendo um cartãozinho (Assim como ontem, amor-perfeito. H.).

Ele não tinha certeza sobre Ginny conhecer sua letra, mas o uso da sua inicial no final do bilhete deixaria claro que era ele quem falava. Harry se deu conta de que ainda não possuía o número de Ginny para sequer mandar uma mensagem inocente - embora nada inocente - no dia seguinte. No fim, depois de pensar demais e de passar quase uma hora de seu horário de fechar a loja, ele atravessou a rua e deixou a entrega para Ginny no balcão da recepção do trabalho dela, e afirmou que era uma entrega.

E não era uma mentira.

***

O COMEÇO (DO FIM)

— Eu vim ver Lily Potter. - pediu Harry, levemente afobado, na recepção do posto de saúde.

O dia nem tinha passado das dez da manhã e já estava a pleno vapor e virado do avesso. Harry havia combinado com Hermione que iria de carro até Ottery St. Catchpole buscar as encomendas da loja. Catchpole era uma cidadezinha completamente rural, a duas horas de Godric’s Hollow, em que ficavam a maioria das fazendas dos produtores de flores que abasteciam a floricultura.

Nos planos de Harry, ele iria sair muito cedo, acompanhado de Ron, e até às nove horas estaria de volta com todas suas encomendas. No entanto houve uma série de imprevistos e atrasos, e quem acabou acompanhando Harry foi Draco, em seus últimos dias na cidade. Pouco depois de chegarem à segunda fazenda de produtores de flores, o celular de Harry tocou, com um péssimo sinal de telefonia, e tudo que ele entendeu do áudio picotado foi que sua mãe tinha passado mal.

— Quem gostaria? - perguntou a moça da recepção, excessivamente arrumada para aquela hora da manhã.

— Harry Potter, filho dela. - informou, impaciente. - Pode acelerar, por favor? 

A mulher levantou os olhos do computador e encarou Harry com presunção, continuando seu trabalho com ainda mais vagareza e tirando-o do sério. Draco havia ficado na loja, descarregando as flores do carro com Hermione, enquanto ele tinha corrido para o posto de saúde do outro lado da rua, na espera de que sua mãe estivesse ali, e não sido tranferida para o hospital em Plymouth.

— Ela está em observação no quarto dois. - disse a mulher em um tom monótono. - O senhor pode ir até lá, senhor Potter.

Harry não esperou um segundo convite, e saiu depressa pelo corredor do pequeno (e único) posto de saúde da cidade atrás do quarto de observação em que sua mãe estava. O aviso na parede recomendava silêncio e higiene (coisa que as roupas de Harry estavam longe de aparentar, cheias de manchas de terra e lama), e ele usou seu último centavo de  paciência para higienizar as mãos com álcool antes de entrar no quarto.

Lily Potter estava deitada em uma maca, recostada e rindo de alguma coisa com bastante leveza, e se não fosse pelo acesso conectado em seu braço, ligado a uma bolsa de soro que pingava suavemente, ninguém diria que ela não estava bem.

— Harry, querido! - ela disse sorrindo quando a porta abriu. Havia apenas ela naquela enfermaria até então.

— Que susto foi esse, mãe?! - entrou, preocupado, cumprimentando o pai que estava sentado na cadeira de acompanhante. - Eu vim o mais rápido que pude, o que aconteceu?

— Ah, bobeira! Você sabe como seu pai é exagerado! - ela respondeu, revirando os olhos para James, que discordou, aparentemente preocupado. - Não foi nada sério, e a Ginny aqui foi uma doce desde o começo!

Só então Harry reparou na enfermeira que atendia sua mãe. Ginny estava ao lado da cadeira de James, com os cabelos presos alto na cabeça e um estetoscópio pendurado no pescoço, sobre o jaleco. Ela segurava uma prancheta contra o peito e parecia meio tímida com a aparição de Harry, e ele momentaneamente corou à lembrança das flores da noite anterior.

— Gin! Nossa, mas que… uhm… surpresa! 

— Hey, Harry! - ela cumprimentou. - Não se preocupe, eu juro que cuidei bem dela.

Ginny deu uma piscadinha amigável enquanto Harry se sentava na beira da maca, pedindo por mais informações do que tinha acontecido com a mãe.

— Uma queda brusca de pressão, por falta de glicose. Agora a senhora vai se recordar de não sair às compras sem um café reforçado, Sra. Potter. - ela brincou, e Harry olhou severamente para a mãe.

Lily então contou que havia saído para ir comprar frutas para o café da manhã e começou a ter tonturas no mercado, e que fora uma feliz coincidência que Ginny estivesse ali no momento. A garota havia prestado os primeiros socorros quando observou Lily tendo vertigens, e a acompanhou de carro até o posto de saúde, onde realizou todos os procedimentos.

— Foi mesmo uma grande sorte, mamãe. Imagine se Ginny não estivesse estado lá?!

— James teria feito um escândalo! - ela riu, fazendo Harry não acreditar na leveza da mãe sobre o assunto. - Não foi nada grave, querido. Prometo que não vou mais dar sustos… e como foi a viagem? Draco ajudou você com as flores?

Ginny logo pediu licença para voltar ao trabalho, e avisou que retornaria em breve para conferir como Lily estava e liberá-la para casa. Harry continuou ali, conversando amenidades com os pais, ciente de que Hermione bem poderia se virar sem ele por uma manhã. Quando Ginny voltou para dar alta à Lily, o clima do quarto de observação já era leve e James estava fazendo piadinhas sobre tudo.

— E a senhora vai, por favor, tirar o dia de repouso hoje, tudo bem? Conseguimos um atestado de liberação para o seu trabalho, caso precise.

Ela e Lily emendaram assuntos variados, e Harry não percebeu o quanto estava distraído observando-as até sentir a palmadinha do pai em seu ombro e o risinho presunçoso dele. De alguma maneira, James Potter sempre sabia os sentimentos de Harry, e o lia como uma folha de papel quando se tratava dos interesses afetivos do filho.

— Seremos sempre muito gratos a você por cuidar do nosso Lírio, Ginny. 

— Ah, não por isso. É o meu trabalho, senhor Potter. - ela enrubesceu, e Harry achou que a cor ficava maravilhosa no rosto dela.

— Seria um prazer receber você para um almoço em casa, querida. - convidou Lily, solícita. - Você disse que é nova aqui em Godric’s Hollow… venha almoçar em casa, para não ficar sozinha!

Ginny sorriu, constrangida, jogando o material hospitalar no lixo, meio atordoada em como responder à oferta.

— Ah, não! Por favor, não se incomode!

— Mas ora, não é incômodo algum! Uma forma de retribuir seu cuidado, vamos! É coisa de cidade do interior, de todo mundo se conhecer… apareça no domingo, para o almoço!

— Eu… eu tenho um filho pequeno, sra. Potter. Eu detestaria ser um incômodo. Não se preocup- - esquivou-se, rindo de constrangimento.

— Que, por um acaso, é o melhor amigo do Teddy, mãe! - acrescentou Harry depressa, interrompendo-a, sorrindo diante da perspectiva de receber Ginny em sua casa. - Remus e Tonks, os pais do Teddy, vão adorar ter você lá com a gente, Ginny.

— Então está combinado! - finalizou James. - Você e seu filho…?

— James, senhor Potter.

— Está brincando?! - James riu diante da coincidência do nome. - Já estamos todos em família, então. James vai ser mais do que bem vindo para um banho de piscina na nossa casa, no almoço de domingo. 

— Podemos esperar você então, querida? Uma pequena retribuição a esse cuidado…

Ginny hesitou alguns segundos, passando o olhar de Lily para Harry, que sorria confortavelmente com a situação. 

— Sim, senhora. - respondeu levemente tímida. - Estaremos lá.

— E, por favor, me chame de Lily! Vou me sentir uma velha se me chamar de senhora!

Ela acompanhou a família Potter até perto da saída, e Harry se demorou apenas alguns segundos a mais, deixando os pais avançarem na frente.

— Almoço hoje?

— Como sempre. - ela sorriu, e Harry tentou ignorar a movimentação deliciosamente promissora em suas entranhas. 

— Legal! Até logo menos, Gin. 

O sorriso de satisfação com os planos do final de semana não saiu do rosto de Harry um segundo naquele dia, mesmo quando Ginny não mencionou as flores no almoço - ele concluiu que a presença de Draco e sua tagarelice a tinham intimidado - ou quando Colin derrubou uma prateleira de suculentas inteira no chão - deixando Hermione a beira de um ataque de nervos. Nada poderia estragar aquele dia, agora.

***

O COMEÇO E O MEIO (DO COMEÇO) DURANTE O COMEÇO (DO FIM)

— Espero não estar adiantada demais. - comentou Ginny em tom de desculpas assim que James abriu a porta para ela.

O sol estava brilhando forte aquele dia, e o céu estava de um azul maravilhosamente bonito. Um domingo agradabilíssimo de final de abril era, realmente, o momento ideal para um almoço entre amigos.

— Chegou na hora certa! E você deve ser meu xará! James? - o homem cumprimentou, estendendo a mão para um soquinho de James.

— Você se chama James também? - ele perguntou, olhando do pai de Harry para Ginny enquanto entrava na casa.

James Potter riu, arrumando os óculos no rosto. Ginny percebeu que o charme de Harry era uma herança familiar, porque a combinação dos olhos expressivos de Lily com a elegância natural dos traços de James tinha sido a melhor possível para formar o filho maravilhoso (em muitos sentidos!) que eles tinham.

— Trouxe uma torta gelada, para a sobremesa. - ela comentou, sinalizando a travessa em suas mãos.

— Lily vai saber melhor que eu aonde você deve deixar isso, Ginny. - James confessou, rindo. - Teddy já está lá fora, na piscina, James. Você quer vir comigo?

James olhou para a mãe com uma expressão pedinte silenciosa, e Ginny sorriu antes de autorizá-lo a acompanhar o pai de James até o quintal, enquanto ela se dirigia à cozinha, na porta ao lado.

Hermione já estava lá, acompanhando Lily na tarefa de preparar uma salada, e houve uma instantânea interação entre as três, que pareciam velhas conhecidas. A conversa fluiu com naturalidade, e Ginny logo percebeu de onde vinha a simpatia contagiante de Harry. Quando o preparo dos acompanhamentos ao churrasco ficou pronto foi que, finalmente as três se dirigiram para o quintal com os demais.

— Finalmente! Eu achei que ia morrer de fome aqui, Ruiva! - um homem de cabelos compridos comentou em tom de provocação, se aproximando de Lily com uma cerveja em mãos.

— Eu nem vou dizer nada, Black… - ela respondeu, revirando os olhos e sorrindo. - Ginny, esse é o padrinho de Harry.

Esse é o Padfoot, Gin! - gritou Harry de dentro da piscina, dando uma piscadinha em cumprimento.

Ginny já tinha ouvido tantas histórias sobre o famoso Padfoot, que era um momento quase lendário conhecê-lo. Todos pareciam muito à vontade no quintal dos Potter. O pai de Harry assava hambúrgueres em uma churrasqueira elétrica, enquanto o casal Lupin, pais de Teddy, estavam à mesa, animadamente conversando com todos. 

Remus tinha uma expressão suave e amável, e algumas cicatrizes no rosto que faziam Ginny se perguntar o que ele já tinha passado na vida, enquanto Tonks tinha os cabelos curtos e pintados de rosa chiclete, com um ar de roqueira e criativa que a fazia parecer fenomenal.

Draco e Ron bebiam cervejas com os demais, ocasionalmente jogando a bola de praia de volta para a piscina, e Harry estava muito empenhado em ser o tiozão divertido que brincava com James Sirius e Teddy na água. Mais do que isso, Ginny registrou mentalmente, Harry estava absurdamente empenhado em ser maravilhoso!

O jeito como o cabelo escuro dele havia ficado espetado em várias direções, e como a água escorria pelo rosto e pescoço dele quando mergulhava com o afilhado, provocavam pensamentos acalorados em Ginny, de maneira que ela não recusou a cerveja gelada que Padfoot lhe estendeu em oferta.

— Gente, essa é a Ginny. - apresentou Hermione enquanto colocava a salada na mesa. - Dá para afastar, Ronald? Sua bunda gigante tá ocupando metade do banco!

— Hey, Ginny! - a mulher de cabelos cor de chiclete cumprimentou, batendo sua garrafa de cerveja na dela. - Camisa maneira, você gosta de indie, então?

A estampa já meio desbotada da camiseta de Ginny era a capa de um álbum da sua banda indie favorita da adolescência. Com dezesseis anos ela havia gasto todas suas economias para pagar pela roupa e pelo ingresso para o show de Florence and The Machine que acontecera em Londres, e a memória afetiva era forte demais para se livrar da camisa velha.

— Ah! - comentou meio constrangida pela escolha. - Ahm… já curti mais. Coisa da adolescência…

— Sempre que eu escuto a geração de vocês falar de adolescência, eu me sinto velho.

— Mas você é velho, Pads. - disse James Potter, e o assunto rendeu em torno daquilo.

Ginny aproveitou-se do fato de Harry estar de olho nas crianças e se reservou alguns minutos de folga do olhar de escrutínio sobre o filho, no entanto, quando James Sirius começou a inventar brincadeiras de correr pela borda da piscina, ela se viu obrigada a intervir antes de um acidente acontecer.

— James, por favor, não corra. - pediu na primeira vez.

— James, mamãe está falando sério. Não é para correr, você pode se machucar… - repetiu minutos depois, largando a cerveja e sentando-se virada para a piscina, para observar.

Na terceira vez, ele escorregou e caiu, e apesar de nenhum machucado e de logo ter levantado - sem nem chorar, porque sabia que seria repreendido -, Ginny ficou extremamente irritada e constrangida.

— Você é um Santo, né, James Sirius?! Anda, vem para cá! Chega de piscina até a hora de comer! Tudo com você tem que ser falado três vezes para obedecer?

O garoto não ousou contrariar a mãe, e apenas foi até ela, com uma cara tristonha e com as coxas ficando vermelhas pela queda. Ginny o enrolou em uma toalha e estendeu um copo de água. Só então ela notou que quase todos os mais velhos a encaravam.

— Você disse… qual nome? - perguntou Remus, curioso.

— James? - ela devolveu, confusa.

— Não, não… o nome todo. - insistiu o padrinho de Harry, com as sobrancelhas arqueadas.

— James Sirius. James Sirius Prewett.

O pai e o padrinho de Harry deram risinhos incrédulos, e Ginny não entendeu coisa alguma.

— Qual a probabilidade disso?! - comentou Tonks, rindo.

— Qual a probablidade do quê, gente?

— Padfoot se chama Sirius, Gin. - explicou Hermione, achando graça.

Era uma coincidência curiosa e até engraçada, Ginny tinha  que admitir. Sirius não era lá um nome comum. O humor de Sirius, e as histórias que Harry já tinha contado sobre o padrinho, porém, deixavam claro que havia mais semelhanças do que apenas os nomes. James Sirius também era um excelente baderneiro espertinho.

— Como você acabou chegando nesse nome?! - perguntou ele, puxando uma cadeira e sentando-se em reverso nela, apoiando os braços no encosto. - Eu achava que era eu especial e diferenciado.

Ginny riu, bebendo antes de responder. 

— Foi por causa da carreira que eu queria, na verdade. Queria estudar astrofísica, e seguir na astronomia… tinha a estrela Sirius, e eu achava o nome interessante. Nada demais - ela explicou, sorrindo ao passar a mão pelo cabelo do filho.

— É um nome muito melhor que James, se quer saber. - implicou Sirius em tom de confissão à James Sirius.

— Me respeita, Pads! - retrucou o pai de Harry, rindo e revirando os olhos.

— Astrofísica, Ginny? Sério? - comentou Tonks, maravilhada. - Loucura, mas muito, muito maneiro!

— E como cê acabou num hospital? - Ron perguntou.

— História interessante essa. E longa também. - ela confessou, deixando que James Sirius voltasse à piscina, completamente sem vontade de ser enfática no castigo.

— Atiçou a curiosidade desses dois, agora vai ter que contar. - disse Lily em tom de brincadeira, referindo-se à James e Sirius.

Ginny riu e aceitou uma segunda cerveja antes de começar a contar. Seu pai tinha ido embora de casa antes que ela nascesse, e sua mãe a havia criado sozinha, de maneira que recursos financeiros sempre tinham sido regrados. Acabou sendo natural que Ginny não tivesse dinheiro para ir para Oxford, sua faculdade dos sonhos, para cursar astrofísica quando acabou o ensino médio.

— Mas eu jogava tênis muito bem, e um college de Surrey me aceitou com bolsa integral. Não tinha nada perto de astrofísica, mas tinha enfermagem, e eu acabei aceitando porque havia o dinheiro, e na época a gente precisava. - ela explicou. 

— Você acabou gostando da área, ou… - perguntou Remus, interessado. - Porque Lily comentou como você é delicada e habilidosa. Gosta da enfermagem?

Ela corou diante do elogio de Remus, e aquilo não passou despercebido, pois Sirius tirou piadinhas e logo o clima estava leve novamente.

— Hoje eu gosto, claro. Uma coisa foi levando à outra, e quando eu vi, estava dentro de um hospital, atendendo as pessoas. Gosto desse contato humano, de ser útil… e sem a enfermagem eu não teria o James.

—  O pai do James é da área da saúde também, então? Maravilha! Essa criança nunca vai ter o perigo de os pais serem como eu e darem antialérgico no lugar de remédio para febre. Teddy só está vivo por conta do Remus... 

Eles riram do comentário de Tonks, e Ginny percebeu que a mulher era exatamente igual a ela: estabanada. Remus gentilmente tomou a mão da esposa, rindo, e deu um beijinho, o que Ginny achou uma fofura. 

— Você teve o James bem nova então, né, Ginny? - perguntou Ron.

— E lá vem o troglodita mal educado. Mione, controle seu animal de estimação. - provocou Draco, revirando os olhos rindo e fazendo Ginny rir junto.

Hermione mostrou o dedo do meio ao amigo.

— Tá tudo bem, as pessoas perguntam o tempo todo. Eu tinha vinte anos quando o James nasceu, e foi no meu plantão, na real. - ela explicou, achando graça.

— Você pariu no meio do plantão?! - perguntou Draco, chocado.

— Tá brincando, Gin! - gritou Harry da piscina. - Você tava trabalhando na hora?

— Como foi isso, Gin?!

— Minha filha! Como deu um plantão sentindo contrações? - perguntou Lily, em completo estado de choque.

Ginny gargalhou, porque as reações das pessoas eram sempre ótimas quando ela contava essa parte da história. Nunca houvera alguém que, de cara, tivesse entendido certo.

— Eu não pari no meio do plantão, gente. - ela respondeu, rindo. - Eu era da equipe que trabalhou no parto do James.

Então houve alguns segundos até todos entendessem: James era filho não biológico de Ginny.

— A mãe dele não resistiu às complicações, e na verdade ele mesmo foi um milagre. Enrolado no cordão e entrando em sofrimento, a cesárea de emergência foi o que o salvou. O pai não quis nem olhar para ele quando soube que a namorada tinha morrido no parto, começou a fazer escândalo no hospital, que ‘aquela coisa’ tinha matado o amor da vida dele… foi horrível!

— Por que alguns homens são tão sem noção?! - perguntou Ron de maneira retórica, indignado.

— James ficou na UTI para bebês por dez dias, e eu passava lá sempre. - Ginny continuou. - Toda folga do plantão eu corria lá e ficava no vidro, olhando, pedindo que ele resistisse. Não sei explicar, foi a experiência mais intensa da minha vida. Eu tinha seis meses trabalhando, só. O pai dele não apareceu nenhum outro dia, não havia outros parentes próximos vivos, e James seria entregue para tutela do Estado. Então, mesmo mal sustentando eu e a mamãe, eu pedi a guarda dele.

Lily estava com os olhos marejados, assim como Hermione, e havia um sorriso gigante no rosto de Tonks, que também estava emocionada. Os homens estavam em silêncio, mas Remus esticou a mão sobre a mesa e fez um carinho no dorso da mão de Ginny.

— Você é completamente louca, Ginny Prewett. E eu sou seu fã por isso! - Sirius disse algum tempo depois, levantando-se com os olhos cheios de água e deixando um beijo no topo da cabeça de Ginny. - Você é a maior mãe que eu já conheci. Desculpa, Ruiva. - ele brincou.

— Posto completamente cedido! - Lily acrescentou, secando os olhos. - Você é tão forte querida… deve ter sido difícil, mas sua mãe deve ser tão orgulhosa!

— Ela era sim. - todos registraram o verbo no passado. - A gente se mudou para cá depois que ela faleceu no ano passado, mas ela era apaixonada no James. Foi ela quem sugeriu o nome James, aliás, porque era o nome do obstetra que fez a cesárea, então pareceu uma homenagem legal. E eu adicionei o Sirius… - ela concluiu, terminando a garrafa de cerveja em alguns goles para evitar se emocionar.

— Você é foda, Ginny! - disse Draco, encarando-a admirado. - Apenas isso, foda!

— Eu só convivo com mulheres maravilhosas! - gritou Harry da piscina, fazendo os demais rirem.

— Mini prongs, você não caiu longe do pé mesmo. - comentou Sirius, arrancando alguns risinhos e indo brincar com as crianças na beira da água.

O assunto logo ficou mais ameno e Ginny pode conhecer mais dos anfitriões. Conheceu a história de James - que era arquiteto - e de Lily - professora de pintura -, e descobriu que Tonks era quatorze anos mais nova que Remus e que haviam se conhecido porque ela era prima de Sirius e de Draco (‘casos de família de cidade do interior’ dissera Draco, fazendo piadas). 

As conversas renderam por algum tempo antes do almoço, e foi hora de tirar as crianças da água para irem comer. Ginny estava concentrada servindo o prato de James Sirius e nem se preocupou em observar Harry saindo com ele e Teddy da piscina, o que se mostrou um erro quando, segundos depois, ela quase teve uma síncope.

Harry Potter tinha um tanquinho. 

Um tanquinho absurdamente gostoso e invejável, com todos os músculos no lugar. Os cabelos espetados escorriam água pelo rosto e peito de Harry e, por Deus, Ginny sentia seu rosto pegar fogo. Ela continuou suas atividades, muito agitada por dentro, e enrolou James em uma toalha, colocando o prato de comida à frente dele e indo se servir.

Harry fez gracinhas de ir abraçar a mãe estando molhado, e Ginny nunca desejou tanto na vida trocar de lugar com a outra ruiva quanto naquele momento. Sentou-se à mesa com todos e nem mesmo reparou que ficara observando Harry sem camisa, com uma toalha enrolada na cintura, sentando-se ao lado de Draco.

Deus, aquele homem!

— Mamãe, tem baba aqui. - James estendeu um guardanapo a ela, para limpar a fina baba que se acumulara no canto de sua boca.

Naquele segundo, Ginny se sentiu a pessoa mais estúpida e cheia de karma no mundo inteiro. Não era o suficiente que Harry Potter fosse simpático, educado e tivesse um cabelo (e olhos, e sorriso…) impossivelmente sexy, ou a voz deliciosamente macia, ou um tanquinho abdominal invejável ao ponto de fazê-la literalmente babar na frente não só dele, mas daquele monte de gente. 

Não. O karma, Ginny pensava enquanto se levantava da mesa para pegar água, tossindo e tentando esconder o rosto terrivelmente vermelho de embaraço, tinha escolhido colocar na vida de Ginny um homem como Harry Potter e não dar a ela chance alguma com ele. Porque se tinha algo que Ginny tinha certeza, era de que aquele homem era gay, e de que Draco, o rapaz estupidamente louro, engraçado e de sorriso convencido, sentado entre ele e Hermione, era o namorado dele.

Ninguém havia notado coisa alguma, felizmente, e o almoço seguiu sereno, embora Ginny vez ou outra retomasse a cena embaraçosa em sua cabeça e desejasse sumir. Algum tempo depois Harry se retirou para colocar roupas secas, antes da sobremesa, e Ginny deu graças pelo privilégio de a porta da casa estar justamente em seu campo de visão e ela poder admirar todas as curvas sexys e musculosas de Harry.

Ela tinha que estar em seu período fértil, nada além disso justificava tamanho fogo!

— Ginny, querida, você não buscaria sua sobremesa para a gente? - pediu Lily pouco depois, servindo mais suco para James Sirius. - As colheres estão na primeira gaveta, e tem pratinhos na despensa.

Ginny foi até a cozinha e separou a sobremesa sobre o balcão, além das colheres de doce, e entrou na despensa atrás dos pratinhos, que não pareciam estar em lugar algum.

— Cadê você, pratinho? - perguntou ela retoricamente, falando sozinha.

— Uma ajudinha? 

— Harry! Que susto! Pratinhos de sobremesa, sua mãe pediu. - ela explicou, ciente de que seu coração não estava acelerado apenas pelo susto, e que o calor que sentia não era de vergonha.

— Ah, você não vai achar… eu precisei deles e tirei daí. Estão aqui fora.

Ela saiu da despensa e pode ver Harry abrindo a porta de um armário ao lado do fogão e tirando de dentro um pacote de pratos descartáveis de papel. Harry estendeu o pacote para ela e se ofereceu para ajudar, Ginny se virou para indicar a travessa de sobremesa e, de alguma forma, de repente, os dois estavam perto.

Muito perto.

— Eu quem fiz a sobremesa. - ela murmurou, sem saber direito como raciocinar, porque os olhos de Harry a estavam deixando maluca.

— Bem gostosa. - ele respondeu, encarando Ginny intensamente, um sorrisinho de canto de boca presente. - A sobremesa, claro.

Talvez fosse sua cabeça alucinando, porque, afinal, Harry era gay, mas Ginny teve certeza de que aquilo era um flerte. A mão dele se apoiou na bancada e, de repente, ele estava perto demais. Perto o suficiente para Ginny observar todos os detalhes de seu rosto, e, por Deus, Ginny podia jurar que Harry estava olhando para sua boca.

Ela queria desesperadamente beijar aquele homem, e ficou na ponta dos pés para fazê-lo, então:

— A sobremesa se perdeu ou o quê? - resmungou Ron e tom de brincadeira, pegando a travessa de torta de cima da bancada. - Harry traz o copo do Homem de Ferro para o Teddy!

Tão súbito como se aproximara, Harry sumiu, pegando o copo para Teddy e saindo rindo, atrapalhando os cabelos como era de costume.

— Vem, Gin! - ele chamou, assobiando uma música qualquer.

Ginny achava que morreria de vergonha. Não só tinha babado em público e agido como uma idiota em frente a Harry, ela também quase o beijara. Quase tinha beijado um homem gay comprometido, porque havia dado voz às paranoias de sua cabeça de que ele estava flertando com ela, e encarando sua boca com desejo.

— Você é patética, Ginny! Patética, carente e sem noção! - murmurou para si, saindo para o quintal com as colherzinhas na mão.


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Notas finais do capítulo

Eu vejo vocês nos comentários? :)))



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