Exatos quarenta e cinco minutos depois do cochilinho, o despertador de Shun começou a soar com a música “New Rules” da Dua Lipa, uma música que ele gostava por causa da letra sobre listas. Despertou sorrindo, logo foi sacudir as redes dos amigos.

Ainda podiam ouvir os gritos na casa de Áries, Mu estava reclamando que Kiki não queria comer os rabanetes na hora do almoço dos arianos. Ficaram pasmos ao perceber aquilo.

— Como ele não acorda? — Shiryu colocou a mão na cintura, encarando o anfitrião que estava até roncando, parecia um trator.

— Grande pedagogia nesse Santuário… — O russo deu as costas. — Vamos logo! Acabei de ver que a chama de Touro se extinguiu e a chama de Gêmeos está bem mais suave!

O grupo subiu as escadas e ao chegarem em Gêmeos se depararam com dois templos, um ao lado do outro. Para pouparem o pouco tempo que lhes restaram, os jovens decidiram dividirem-se em duplas: Seiya e Shiryu foram para a esquerda, já Hyoga e Shun foram para a direita. Dentro dos dois templos, os cavaleiros se depararam com a figura da armadura de Gêmeos e elas apontavam para uma escritura na pilastra. 

— “Fale aqui fofocas maldosas”? — leu Seiya — Isso não faz sentido! Vamos tentar avançar — viu a armadura entrar em modo de ataque — Tá bom! Tá bom! Eu conto essas porcarias! Ahn… — pensou um pouco. — Melhor, Shiryu, pode cantando as fofocas do mal que tu sabe.

— Mas, isso é errado Seiya! Não devemos espalhar fofoca.

— É isso ou ficamos presos aqui.

— Está bem… quando eu estava na China, uma vez por mês íamos até a cidade grande reabastecer coisas domésticas, e teve uma vez que o Mestre Ancião começou a flertar com uma mulher que vendia panelas. A Shunrei precisou arrastar o velho pra longe porque ele estava quase pedindo o número de telefone dela, sendo que a gente nem tinha telefone lá em casa.

Já no templo à direita…

— “Fale aqui fofocas bondosas”? — leu Shun — O que é uma fofoca bondosa?

— Fofoca é fofoca e não presta. Coisinha desnecessária, viu? Fofoqueiros são uma raça de merda, nenhum presta! Me recuso fazer o papel de fofoqueiro, mesmo que seja algo “positivo” — o aquariano fez as aspas com as mãos.

— Outra dimensão! — berrou Saga lá do templo do Grande Mestre, ele estava puto com o comentário do cavaleiro de Cisne — Fofocar é maravilhoso! Seu viadinho!

Os dois cavaleiros sentiram o chão tremer e tudo começar a mudar. Era uma mistura de céu, planetas e estrelas. Shun gritou e usou suas correntes para se prender no terceiro templo.

— Espera! Eu fofoco pra você!

— Fofoca porra nenhuma, Shun! Quer ficar com fama de fofoqueiro, Xnove’? — disse se segurando no ombro do amigo, usando o cosmo para manter-se firme. — É isso que ele quer!

— Não tem jeito! E aqui só terá fofocas do bem, nada que vai manchar a reputação dos envolvidos.

— Quer saber? Eu desisto de você, não serei um fofoqueiro! — soltou-se do ombro do amigo — Vou morrer com meus ideais! — sua voz ecoava distante.

— Não! Hyoga! — esticou sua corrente para tentar alcançar o colega, mas o cavaleiro de Gêmeos impediu.

— Deixe esse fraco para lá, o mundo precisa de mais fofoca! — a voz ecoou pela armadura, então tudo voltou ao normal. Shun se viu sentado no chão do templo, mas logo se levantou, batendo a mão nas pernas e no bumbum para tirar a poeira. — Conte-me tudo!

— Tá… fiquei sabendo que a Saori fez uma doação anônima para um grupo de crianças carentes… Acabei ouvindo sem querer… 

— Mais duas fofocas e eu te deixo passar.

— Uma vez eu vi o Tatsumi ser gentil com um cachorro de rua.

— Rapaz, tá faltando vontade pra contar essas fofocas, viu? Muito fraquinhas.

— É difícil pensar em fofocas do bem, senhor. Perdoe-me.

— Realmente, você tem um ponto aí. Só mais uma e vaza!

— Ahn… Meu irmão uma vez me deu um pedaço de chocolate porque eu estava triste.

— Perdão?

— É, mas eu não comi porque já tinha comido bolo, e não queria focar em muita coisa gordurosa.

— Isso não é fofoca! Quer saber? Te deixo passar se me contar uma fofoca de verdade, um bafão, o suficiente para fazer aquela menina tremer na base de tanto medo!

— Ahw… Tá, mas essa é pesada mesmo! Você nunca mais vai ver o Seiya da mesma forma! Está preparado?

— Lança pro pai! — por trás da projeção, Saga estava sorrindo em seu templo.

— Uma vez eu vi o Seiya na frente do quarto dele… E ele estava coçando o saco! Até aí é “aceitável”, mas depois que ele acabou de coçar ele… ele CHEIROU a própria mão? — encolheu-se, arrepiado. — Ele coça o saco e cheira! É isso!

O Santo de Ouro sentiu como se tivesse acabado de broxar com uma gostosa. Só uma cafungada no saco e aquele virginiano achava que era a melhor fofoca do mundo? Suspirou desapontado.

— Só? Andrômeda, isso é normal entre homens. Quero uma FOFOCA.

— Isso é porquice!

— Fica nessa frescura que eu vou arrastar sua cara na lama! Uma fofoca, eu não estou pedindo muito. Sei lá, uma coisa que você viu seus amigos ou a garota Deusa fazendo, deve ter algo aí que você possa me contar.

— Calma senhor! Tudo menos lama! Eu vou pensar em algo — coçou o queixo, torcia para que algo viesse a sua mente — Já sei!

— Vai ser sobre alguém coçando a bunda ou o saco outra vez? — Ele negou. — Então pode dizer.

— Uma vez a Saori dormiu no sofá, o Seiya ergueu a cabeça dela e depois apoiou no colo dele… E ele fez cafuné nela sem que ela soubesse. Um pouco depois que eu saí, ouvi um berro da Saori, porém acho que o Seiya se fez de desentendido.

— Quer saber? Essa foi até razoável. Pode passar. — E a projeção se desfez.

Shun estava extremamente mal por contar o segredo de seu amigo assim na cara dura de uma outra pessoa. Porém ainda assim, ajeitou o elmo da armadura e encarou a próxima escadaria.

(...)

Hyoga percebeu que havia voltado ao “Mundo real” quando caiu de costas em um piso, tão forte que sentiu a coluna estalar. Resmungou de dor e se levantou, arregalando os olhos quando viu a pessoa à sua frente:

— Mestre Camus?