Algum tempo antes…

Saori estava na Casa de Áries já agoniada com as tantas brigas de Mu e Kiki, a gritaria parecia não se findar nunca e esperar os cavaleiros de bronze cumprirem uma “simples” tarefa a estava deixando ansiosa. Ao monitorar os cosmos dos cinco cavaleiros teve uma surpresa ao notar que estavam em templos diferentes, mas não era como se estivessem gravemente feridos, como a própria, ou mortos. Eles pareciam bem, apesar do ódio do cavaleiro de Fênix em Virgem ou da tranquilidade de Andrômeda em Peixes.

O único que havia conseguido chegar ao patriarca foi o Pégaso e parecia estar com problemas. No momento que Mu deu mais um berro, apesar da intervenção de Aldebaran, foi o auge do estresse para a jovem deusa que retirou aquela flecha na marra.

— CHEGAAAA! CARALHO! NÃO DÁ MAIS, PARA DE GRITAR! PARA!

— Olha! O Seiya conseguiu! — Touro sorriu.

— Conseguiu bosta nenhuma! — A mulher se levantou e tirou a flecha do próprio peito, jogando-a no chão e pisando em cima. — Fala sério! Precisava ficar gritando O DIA INTEIRINHO? Eu estava flechada, queria silêncio e repouso! 

— Olha só, eu fiz um favor para aqueles moleques cavaleiros de te permitir aqui, NA MINHA CASA, para não ficarem te carregando feito um saco de cimento escadaria acima, as quais a senhorita poderia SE MACHUCAR FEIO e agora eu que sou o errado? — o ariano estava possesso.

— Do que adianta? Eu poderia ter ficado em Touro e acordado sentindo cheiro de comida!

— E do que iria servir sentir cheiro de comida sem poder comer? — Kiki colocou a mão na cintura. Ninguém comprava briga com Mu na frente dele.

A de cabelos liláceos respirou fundo. Ergueu sua cabeça e limpou a poeira do vestido, quase chorando ao perceber a mancha gigante de sangue em seu peito. Fechou os olhos e olhou os cavaleiros.

— Vamos subir, estou sentindo Pégaso apanhando e não quero nenhum cavaleiro meu com a cara inchada.

— Então vamos logo, pois está quase hora de dormir — disse o taurino — Uma boa noite de sono fará bem para todos vocês.

— Dormiu o dia inteiro e quer dormir mais?! Nem sei porque ainda tenho esperanças em você, Aldebaran. — E pela primeira vez, Saori viu Mu gargalhar no meio de uma frase, sem gritar ou ficar irritado.

— Posso ir junto?

— Lógico que não! Porque daqui três lances você vai começar a pedir colo, e…

— DEIXA ELE, EU NÃO QUERO MAIS DISCUSSÕES, MU! QUAL PARTE DISSO VOCÊ NÃO ENTENDEU?

— QUERO VER VOCÊ SEGURANDO ESSE PIVETE, ELE É PESADO PRA CARALHO!

— TÁ ME CHAMANDO DE GORDO?

— Eu juro que arranco as línguas de vocês se continuarem — a virginiana ponderou mais um pouco — Melhor, vou inibir esse sentido, pois esteticamente ficariam horríveis.

E assim subiram os lances de escadas. Passaram por Touro e seu guardião só pensava em sua caminha enquanto cruzavam o salão. Gêmeos e Câncer estavam vazias, apesar de sentir o cosmo do guardião da Quarta Casa próximo do Santuário. Ao chegarem em Leão viram o grande banner de Aioria na porta e o leonino parou sua sessão de autoadmiração apenas porque seu pequeno bajulador havia chegado e uniu-se aos demais na subida.

— Mestre, eu quero colo… 

— Eu avisei, eu avisei… Problema seu — resmungou o ariano se controlando para não dar outro berro perto da deusa. Repetia mentalmente o seu mantra: “calma entra, raiva sai”.

 — Não tem problema, Kiki. Vem cá! — Aioria sorriu e fez uma pose fisiculturista, logo ouvindo os risos e o rapazinho correndo até ele, se pendurando no pescoço do leonino.

Mu cerrou os punhos e já sentiu uma veia estalando em sua testa, quando o grande touro tocou seu ombro, pedindo calma.

— Você sabe que ele só pede colo por manha. Ele é só uma criança, Mu. Relaxa um pouco.

— E você também sabe que esse… esse gato viralata fica fazendo isso apenas para ser bajulado e esfregar na minha cara que o Kiki não…

— NÃO PISEM! NÃO PISEM, O PISO ESTÁ MOLHADO! — Ouviram Shaka gritando.

— E como a gente passa então?

— Deem a volta por fora!

— NEM FODENDO! VOCÊ SABE COM QUEM ESTÁ FALANDO, SEU INSOLENTE? Esse seu último comentário me pareceu um tanto insolente, você sabe quem eu sou?

— Uma garota sem um pingo de empatia com quem está fazendo faxina e que por azar encarnou como Athena! Não me importo, não vai sujar o chão da minha casa de novo, quer limpar tudo sozinha? Quer?

— Ai, tudo bem! Eu sinto muito. Não sou um monstro que destrói a faxina alheia — a jovem fez um sinal de paz — Vamos contornar por fora pessoal! Apenas peço que os dois se juntem a nós, pois é importante.

Deram a volta no templo, na saída Saori quase fez xixi de tanto rir ao ver o Ikki, tão nervoso que estava até com tique no olho esquerdo. A parte da calça que cobria seus joelhos estava molhada e desgastada.

Ao sentir o cosmo de Máscara da Morte se aproximando, o indiano comunicou telepaticamente para que ele fizesse o contorno na casa e o canceriano feliz e super compreensivo deu a certeza de que atenderia ao apelo do colega cavaleiro.

— Shiryu e Seiya salvaram a Deusa? Bom vê-la, senhorita! — O canceriano comentou indo para perto dela, estava sorridente com diversas marcas de batom no pescoço.

— Não salvaram. E você deveria limpar o pescoço, marca de batom pode manchar e vai ficar feio.

— São as marcas do meu amor!

— Você tá namorando? — Kiki olhou por cima do ombro de Aioria. O sorriso quase deixou o rosto do italiano.

— Bem… quase lá. Vamos tentar reatar até esse ponto.

O grupo cruzou rapidamente a Casa de Libra e quando chegaram à Escorpião viram o anfitrião preparando o projetor para uma palestra, pelo menos foi isso que entenderam ao ver o slide de exibição.

— Olá pessoal! Vocês todos também estão convidados para a palestra que vai acontecer aqui. Provavelmente será de manhã, em vista que todos devem estar cansados e…

— Nós já entendemos, Milo. — Shaka cortou.

— Apenas suba conosco, está bem? Depois pensamos sobre essa sua palestra sobre "pimentas"? — perguntou a jovem curiosa sobre a imagem.

— É uma palestra um tanto "picante", por isso coloquei a imagem de pimenta para ilustrar. Uma forma de amenizar o tema pesado que quero retratar nessa palestra, visto que ainda há muito tabus sobre nudez, mesmo quando ela é artística. Engraçado, porque isso vem sendo censurado ao longo dos anos e…

— CALA A BOCA, PORRA! Eu vou te amordaçar!

— Dessa vez eu concordo… Você sabe se eles ficam de mordaça? — perguntou discretamente, próximo ao ouvido do virginiano, que apenas deu de ombros.

Quando resolveram parar com aquela discussão, eles subiram e passaram por Sagitário numa boa, já que a armadilha havia sido desarmada pelos cavaleiros de bronze. Apenas a rinite do Shaka e Saori atacaram ao passar por um lugar tão sujo e empoeirado como aquele. O cavaleiro de Virgem cogitou em chamar o irmão educado de Fênix para dar uma limpeza básica por aquele lugar, apenas para ficar melhor transitável e depois os servos que lutem em manter aquilo ali limpo.

Em Capricórnio, Shura e Shiryu estavam encostados na pilastra do lado de fora do templo, conversando e esclarecendo algumas dúvidas que o mais jovem tinha em relação ao mercado de trabalho e sobre investimentos na bolsa. Estava realmente cogitando em apostar em algumas ações o espanhol.

— BONITO, QUE BONITO! Eu lá, morrendo em Áries, e você aqui!

— Minha deusa! Bem, é que, eu…. ahwn…. Shura, me ajuda!

— Ele precisava de uma conversa esclarecedora, tomar um rumo na vida. Se a senhorita visse o olhar perdido desse jovem quando adentrou a minha casinha...

— Só que nessa ele perdeu o foco, né?

— Os outros garotos conseguiram avançar e a Deusa me parece bem.

— Com esse vestido furado e manchado? Com esses cabelos desgrenhados? Você está de sacanagem com a minha cara, só pode!

— Desculpe! — O capricorniano estava com receio de perder seu cargo e status de dourado, logo se prontificou a ajudar — Nós podemos seguir, caso a senhorita assim desejar.

— Pois então vamos logo. Posso sentir dois cosmos na próxima casa.

Subiram até Aquário e Aldebaran cobriu as orelhas com as mãos ao ouvir a música indie que tocava no ambiente.

— Sai fora, Camus! Todo dia isso! Coloca, sei lá, um pagode, um funk, um forró! Melhor do que essas músicas chatas aí, sempre o mesmo cantor!

— Claro que não, Debas. Pessoas normais não entendem a grandiosidade de uma banda pouco conhecida, como Imagine Dragons, por exemplo… você sabe, eu sou diferente das outras pessoas.

— Eu gosto… — Máscara da Morte estava com os olhos fechados, batendo o polegar na armadura com o rítmo da música.

— Vocês… vocês… puta merda! Um estava pelo menos tentando enfiar algum conhecimento dessa cabeça oca, vocês dois só estão ai, penteando o cabelo e ouvindo música? Eu sou uma piada pra vocês?

— Sim. Desse modo nós fortalecemos a nossa conexão mestre-discipulo, trabalhamos nossas habilidades psicossociais para assim quem sabe, nosso querido Cisne consiga melhorar suas relações interpessoais.

— Mestre Camus, o senhor está me expondo novamente ao ridículo.

— Pardon, mon petit.

— Mestre, o que é “psicossoci…” alguma coisa aí? — Kiki novamente olhou Mu, que estava bem mais calmo comparado ao início da subida.

— Significa que o Camus é um metidinho que quer se achar superior aos outros porque sabe palavras difíceis. Vamos subir, vocês dois! 

—  Está precisando de um livro de pedagogia? Posso te emprestar um da minha biblioteca particular, só se comprometer em conservar em bom estado, é claro.

— Eu sei muito bem como estou criando meu pupilo, Camus. Então você pode pegar esse livro e enfiar no seu...

— Não tava nessa "vibe pedagógica" quando colocou o patinho no esquife de gelo… — comentou o escorpiano venenoso.

— Eu estava estressado, até o melhor professor do mundo teve um dia ruim — virou-se para o discípulo — Nós já nos acertamos, não é, Hyoga?

— Estamos caminhando para isso — comentou brevemente — Vamos subir? Consigo sentir o cosmo de Seiya agitado, já o de Shun está estranhamente calmo...

— Espero que ele esteja bem, se não aquele cavaleiro de Peixes vai se ver comigo! — Ikki estava com um ar bem mais agressivo. Os virginianos e aquarianos reviraram os olhos.

— Com esses bracinhos de macarrão? Tenta a sorte. Vamos logo, estamos perdendo tempo e eu tenho que ligar o videogame! — O cavaleiro de Leão sorriu, a criança esperneou de alegria em seus braços.

Mu estava com ciúmes, mas por questão de orgulho, não falou nada.

Hyoga, Ikki, Kiki, Saori e Shiryu, os mais novos, ficaram atordoados com o cheiro diferente que vinha da casa de Peixes. O libriano começou a tossir imediatamente.

— O que esse cavaleiro guarda aqui? É um templo de incenso ou coisa parecida?

— Nem queira saber. — Aldebaran cobriu o nariz com a mão. — Afrodite inventa cada coisa…

Seguiram adiante até a encomenda de rosas. Lá viram dois cavaleiros deitados dormindo no início das escadas.

— Logo você, Shun? O mais responsável dos cinco, aqui tirando uma soneca? Inacreditável — falava a virginiana incrédula.

— A culpa não é dele — resmungou o cavaleiro de Peixes despertando de seu breve sono — Esse jovenzinho estava tão tenso em cumprir com seu dever que parecia estar à beira de um colapso nervoso — dramatizou — Então eu apenas o ajudei a relaxar um pouco, pobrezinho.

— Pobrezinha de mim que estava com uma flecha no peito, mas darei um desconto dessa vez. Shun estava já estressado antes de virmos pra cá. Eu havia percebido pelo plástico bolha no jato.

— Vocês precisam de uns bolinhos…

— Deixa os bolinhos pra depois! Vamos logo! — Hyoga cortou, determinado. Aldebaran ficou chateado, porque os bolinhos de Afrodite eram deliciosos. Percebendo isso, o pisciano segurou Shun em seu colo, aproximou-se do touro e sorriu:

— Guardo uns para você depois!

Os presentes então continuaram a subida após serem advertidos pelo pisciano que precisavam relaxar um pouco, que mesmo utilizando seu cosmo o próprio não poderia aliviar tanto o efeito daquelas rosas. Eles viram Marin pelo caminho, mas ela alegou precisar de alguns minutinhos para se recompor. O leonino mais jovem analisava seus "braços de macarrão" e nem percebeu que seu irmão caçula era carregado por Afrodite.

Ao chegarem no templo do grande mestre, alguns ficaram chocados com a cena de Seiya apanhando. Saori não aguentou em ver seu crush secreto daquele jeito, então logo se fez ser ouvida:

— ACABOU COM ESSA MERDA! Não precisa mais lutar Seiya, ou apanhar. Enfim, já estou bem e consegui tirar essa porcaria de flecha que furou e manchou o meu lindo vestido de sangue, porém essa não foi a pior parte!