—“Em um recipiente coloque as asas de fadas e com o pilão quebre-as até que se formem grânulos menores” —Oliver leu em voz alta ao ver que Ilíria parecia distraída encarando o livro, quase como se ele houvesse dado um tapa em sua bochecha rosada, e concluiu que deu certo ao ver os olhos escuros lhe encarando, ela puxou um pequeno pote de baixo do balcão, juntou com o pilão e por último o frágil vidro com asas de fada. —Você quer...?

—Não. —respondeu rápido, cortando-o, mas estendeu os objetos para ele antes que pudesse ficar irritado. —Não acho que devam arrancar asas de uma criatura pra gastar com algo idiota, então prefiro não ser eu a triturá-las. —deu de ombros como se fosse algo comum, porém mesmo o grifinório admitiria que não o era.

—Imagino a reação do professor ao ouvir isso. —fez um gesto discreto com o queixo.

—Ele ouviu isso. —comentou, seu tom era estranhamente tranquilo enquanto picotava algumas folhas com uma faca, parou ao notar que Oliver a observava curioso. —Teve uma reação muito agradável, se você quer mesmo saber. —o sorriso sarcástico se abriu novamente quando ela completou: —Ele tem fortes discordâncias e eu mal respirei nessa aula durante dois anos.

—Ficou com tanto medo assim? —estava interessado na história, não poderia negar.

—Sou mestiça. —pontoou como se isso explicasse tudo, Wood quase soltou o acendedor, ela não era sangue puro? Ilíria poderia não ser conhecida, mas o sobrenome Saint dizia algo no mundo bruxo. Sentiu-se mal por ter uma reação tão óbvia, porque tinha certeza que ela leu tudo em seu rosto. —Meu pai é trouxa.

O jeito como os dedos dela tremeram ao dizer isso, os olhos se tornando nublados, tudo fora um grande indício de que o assunto chegara ao fim. Não sabia dizer o que exatamente os levara a ter uma conversa tão tranquila, e foi quando começou a pensar que o jeito desdenhoso com o qual ela falava era até engraçado que Oliver decidiu que aquilo era demais para ele. Observou então Heather, ela estava há apenas duas mesas de distância e fazia dupla com alguma garota também da Sonserina, viu o momento em que um garoto passou um bilhete para ela e ela piscou. Frustrante, foi como definiu antes de finalmente acender o fogareiro e começar a misturar as asas de fada à água.

O silencio perdurou por alguns minutos, até que a água fervesse e a garota se esticasse para misturar gotas de orvalho ao líquido, então ela seguiu seus olhos para Heather e arqueou as sobrancelhas quando o Wood a encarou incomodado. Sabia que não tinham nada, também sabia que muitas pessoas se interessavam pela loira, mas estava apaixonado por ela e não deixava de ser incômodo vê-la flertar abertamente. Estava apaixonado? Deu de ombros ao pensar que era provável, ela tinha um magnetismo, algo que o atraía para perto como se ela fosse o Sol e Oliver orbitasse em torno dela.

—Ela é linda. —se surpreendeu pela honestidade na voz de Ilíria, concordou com um aceno, não adiantava tentar negar seu interesse quando fora até ela em busca de alguma ajuda. Querendo ou não, ela lhe dera. —Mas você sabe algo sobre Heather além disso?

—É claro! —exclamou indignado, mas o jeito como ela o olhou mostrava que não acreditara nem um pouco. Ah, era por isso que não gostava dela. —Sei que ela sente enjoo quando voa, que gosta de jujubas rosa... —sua lista chegou ao fim muito mais rápido do que o esperado, mas quando parou para pensar (tentando evitar a expressão de “como eu disse” da garota), se lembrou que haviam conversado muito pouco. Mais um pouco e já poderia dizer que conversara mais com Ilíria do que com Heather.

—Por qual motivo exatamente se interessa por ela? —mergulhou na poção pétalas de rosa junto com as folha que fatiara, então o observou novamente, e cuspiu nele uma sinceridade quase maldosa. —Porque eu poderia jurar que você só está interessado por ela ser bonita e ter todo aquele charme. Quer dizer, Heather é uma pessoa realmente incrível, mas o que você poderia dizer sobre isso se tudo o que sabe é que ela gosta de jujubas rosa?

—Eu não estou interessado pela aparência dela. —comentou, queria poder dar uma resposta mais firme e que calasse Ilíria, mas não tinha uma, então seu mau humor teria que bastar.

—Não é como se eu estivesse discutindo isso. —até o jeito como ela mexia os ombros estava o irritando, então assumiu a poção, misturando pelos de unicórnio e a pasta de raiz de gengibre. Mais alguns minutos e ficaria pronta, então seria obrigado a esperar por mais algum tempo antes de se livrar da garota. Não sabia se ainda estava com humor para convidar Heather para sair naquele mesmo dia, talvez fosse melhor voar um pouco primeiro, para esfriar a cabeça.

Os minutos finalmente se passaram, a poção estava tão arroxeada quando deveria estar e o silêncio continuava entre os dois. Oliver observou silencioso o jeito como ela encarava a poção, quase como se tentasse decidir se a odiava ou se queria mergulhar dentro dela, não soube o porquê decidiu que seria ele a experimentá-la, não devia nenhum tipo de gentileza a ela, mas pareceu cruel pedir que bebesse.

No fim das contas valeu a pena tomar, se sentia meio estranho, como se seu corpo formigasse, mas pelo jeito como as pessoas o encaravam parecia ter dado certo. Viu Heather olhá-lo, molhando os lábios logo antes de piscar, e esqueceu completamente o quão frustrado ficara apenas alguns minutos antes. Quando se virou para Ilíria, ela mexeu a cabeça quase confusa, então disse que não era nada. Não teve tempo para pensar na reação estranha dela (e nem queria pensar), porque assim que foram dispensados Heather chegou perto, falou algo qualquer para a amiga, e abriu um sorriso sexy, o puxando para fora da sala pela mão.

Todas as garotas o olharam, mas Wood não se importou.