Não sabia dizer o que exatamente estava errado, mas algo incomodava o Wood. Alguns dias se passaram sem que tivesse tido qualquer grande contato com Heather, quer dizer, não era como se não tivessem se falado mais, porque trocavam algumas palavras sempre que se viam nos corredores entre uma aula e outra, ela ainda piscava charmosamente para ele e abria aquele sorriso que prendia completamente a atenção do grifinório, mas não aconteceram mais beijos, sequer voltara a esperar por ele em algum lugar, e assim Oliver descobriu que ela era muito mais difícil de encontrar do que ele poderia imaginar.

Mas naquele dia o garoto tinha um plano: sentaria com ela na aula de poções que teria em conjunto com a Sonserina. Não que a aula de Severo Snape fosse o que ele chamava de lugar ideal para o que queria, mas era o único lugar onde tinha certeza que ela estaria. E foi assim que Oliver Wood chegou o mais cedo possível, ainda mais bonito que o normal, os cabelos perfeitamente arrumados, o perfume amadeirado fazendo as garotas no corredor se virarem para ver quem era o garoto que cheirava tão bem (como se elas já não se virassem o bastante para ver o Capitão do time de quadribol, Wood precisava admitir que fazia certo sucesso).

Sabia que ela se sentava sempre na terceira fileira: o lugar perfeito para não ter que ficar perto demais do professor sombrio, mas também não longe o bastante para que ele desconfiasse de algo, ela também gostava de se sentar no canto da janela, mesmo que estivessem sempre fechadas de um jeito que nem uma pontada de luz vinda de fora pudesse entrar. Quando entrou a sala estava quase vazia, mas Heather já estava ali, o capuz do uniforme cobrindo os fios loiros, o rosto bonito apoiado contra a madeira da mesa, deveria estar dormindo. Quer dizer, Oliver não vira nenhum desses detalhes uma vez que o rosto dela estava virado para a parede, mas aquele ela o lugar dela, e no chão estava à mochila dela, parecia certo acreditar que aquela era Heather Smith, exceto pelo fato de que não era.

Oliver era uma pessoa atenta, costumava prestar tanta atenção aos detalhes quanto o fazia em suas partidas, mas curiosamente estava tão ansioso naquela manhã que não se ateve a um importante: Ilíria se sentava ao lado de Heather sempre. Sequer se preocupou com isso, ela poderia sentar com alguma outra amiga daquela vez, porque a loira também iria gostar de passar algum tempo ao lado do grifinório, ao menos era o que parecia. E foi por isso que ficou absurdamente surpreso quando a garota ao seu lado levantou o rosto da mesa, comentando alguma coisa sobre não ter dormido bem, e ele finalmente se deu conta de que aquela não era Heather. A voz dela morreu ao olhá-lo, entortou a cabeça como se se perguntasse o que tinha de errado com sua amiga, em sua defesa, estava morrendo de sono.

—Tudo bem? —ela perguntou com a voz incerta, como se isso tivesse sido a única coisa em que fora capaz de pensar.

—Eu pensei que você fosse a Heather. —Oliver respondeu também em um tom estranho, o momento só teria sido mais constrangedor se Ilíria não soltasse um:

—É, eu também pensei que você fosse a Heather. —sorriu involuntariamente ao perceber a incredulidade no rosto dela, como se ainda estivesse tentando entender o que tinha de errado com a amiga, o único problema era que definitivamente não estava falando com ela. Oliver achou engraçado como ela parecia lenta quando estava com sono, diferente do pensamento rápido que usara para lançar ofensas contra ele, mas então se lembrou de quem ela era e o fechou, e pensou que ela também se lembrara de quem era ao dizer: —E você não vai embora não?

Mas antes que pudesse responder (ou ir, o que fosse mais proveitoso), a oportunidade foi arrancada das mãos dele, porque o professor de poções entrara na sala logo atrás de Heather e outros alunos que estavam no corredor. Wood ainda tentou pegar sua bolsa e trocar rapidamente de lugar, nem precisava mais sentar com a loira, um membro de sua casa já bastaria, mas a voz de Snape fez eco na sala, o forçando a voltar a se sentar. Viu a loira dar um aceno para ambos, e pode ver de relance o gesto que a Saint-Sallow fez de volta, como se estivesse se enforcando. Também gostaria de enforcá-la, então se limitou a ignorar.

Por longos minutos o homem falou, e falou e falou. Oliver costumava manter o máximo de atenção possível nas aulas, dedicava a maior parte de seu tempo ao quadribol, então gostava de aprender rapidamente para não ter que se ocupar tanto, contudo, era difícil se focar quando tudo dera lamentavelmente errado. Não que Ilíria estivesse feliz, uma mão segurava seu rosto entediado ao mesmo passo em que ela usava sua pena para rabiscar coisas aleatórias, algumas eram palavras ditas pelo professor, no canto direito tinha uma flor e então um pomo de ouro. A falação chegou ao fim e começariam a fazer as próprias poções, Wood abriu a página 235 para ver o que usariam, mas Ilíria já saíra da mesa para pegar o caldeirão e qualquer ingrediente que poderiam precisar, não saberia dizer quando ela abriu o próprio livro.

Quando voltou para sua própria bancada pousou o recipiente sobre o fogareiro ainda apagado, e enquanto o garoto tirava os ingredientes que ela enfiara dentro caldeirão, Ilíria voltou a olhar o livro aberto sobre a mesa. Tinham tudo o que precisariam, desde água até pelo de unicórnio, embora ela se perguntasse quem era o infeliz que arrancava asas de pobres fadas para fazer uma poção tão estúpida quanto aquela, seus olhos voltaram forçosamente para o nome da mistura: Poção da Beleza. Balançou a cabeça levemente, se perguntando quantas daquela precisaria beber para se parecer ao menos um pouco com Heather, mas nunca teria sua resposta.