Ilíria e Oliver se viraram para as portas do Salão Principal ao ouvir passos e conversas, alguns dos jogadores da Lufa-Lufa chegavam para o café da manhã, e sinceramente não sabiam que já havia passado tanto tempo desde que começaram a conversar. Wood não pode deixar de se sentir um pouco amargo ao perceber que era mais fácil conversar com a garota que o chamara de “masoquista desgraçado” do que com Heather, os assuntos fluíam mais naturalmente com a Saint-Sallow, os silêncios não eram sufocantes, não se sentia na obrigação de pensar em algo para dizer. Talvez tivesse algo a ver com o fato de que estava interessado na loira, ou fosse culpa da personalidade atiçadora da morena, que sempre tinha algo a dizer, e ainda poderia ser sua culpa. Foi desperto dos pensamentos ao ver que ela começava a se levantar da mesa, e já estava pegando a vassoura quando ele voltou a falar.

—Pra onde ‘tá indo? —perguntou antes que pudesse se controlar, ela contraiu as sobrancelhas sem entender.

—Eu não acordei essa hora só para conversar com você não. —pontuou confusa, e continuou assim quando ele levantou, juntos seus papéis e andou como se a estivesse acompanhando, cada um de um lado da mesa.

—Você ainda não respondeu todas as minhas dúvidas. —se explicou, e quando chegaram ao fim da mesa Oliver caminhou mais para o lado de Ilíria.

—Eu não sei o que você está pensando que eu sou, Oliver Wood. —tudo, desde a expressão até o tom dela, mostrava indignação e arrogância, mas bastou um leve contrair de lábio para que ele soubesse que era mais uma piada do que uma reação sincera, e por isso não hesitou antes de soltar um:

—Minha consultora de relacionamentos, é claro. —Ilíria chegou a travar quando processou a resposta, o encarou boquiaberta com a ousadia, então soltou uma risada que balançou o óculos em suas bochechas.

—Não tenho uma resposta para isso, mas saiba que não acabou por aqui. —foi a vez de ele rir, sem saber se estava mais embasbacado por estarem tendo uma conversa divertida ou porque começava achar que ela era engraçada, o rosto desdenhoso e a maneira esperta como mexia os lábios pareciam estar virando traços de um senso de humor que ele não estava acostumado muito mais do que sinais de uma arrogância desmedida.

—Ainda não me disse por que acordou tão cedo. —comentou querendo sair da linha de pensamentos que entrara, caminhavam tranquilamente para o campo agora vazio.

—E você ainda não me disse quais são suas dúvidas. —devolveu sem se importar.

—Uma delas é por que você acordou tão cedo. —ela o olhou revoltada, Oliver não saberia dizer por que insistia em um assunto que não era problema dele, provavelmente era porque não vinha falando muito com ninguém sobre algo que não fosse quadribol, então render a conversa parecia bom.

—Vocês grifinórios são todos intrometidos assim? —desconsiderou a ofensa, estava realmente se intrometendo, então ficou surpreso quando a viu sacudir a vassoura. —Vou ter treino hoje e minha vassoura quebrou, preciso experimentar a antiga.

—Você não voa desde aquele dia? —Wood estava surpreso, saia para voar quase todos os dias e não esperava que alguém que jogasse quadribol pudesse ficar sem fazer isso por tanto tempo, mas a exasperação dele constrangeu Ilíria mais do que tudo, porque a verdade era que se sentia um pouco insegura depois do acidente.

—Não, fiquei ocupada. —deu de ombros como se não se importasse, e Oliver não sabia como, mas tinha certeza que ela mentia.

Ilíria não tinha medo de voar, não tinha medo de jogar e não tinha medo de cair, só tinha um problema: ela definitivamente tinha medo de ficar pendurada mais uma vez, e sabia que não tropeçara para fora da vassoura em pleno ar, pensar que a mesma pessoa que a azarara uma vez poderia fazer de novo a perturbava um pouco, vira sua vassoura favorita se partir, e realmente não queria que seu pescoço fosse a próxima coisa a ficar em pedaços. Mas teria treino e deixar o time não era uma opção, brigara para entrar e só sairia por cima do próprio cadáver, e embora a perspectiva de que isso poderia ser real não a agradasse muito, naquela manhã se levantara pronta para tomar coragem e fazer o que precisava ser feito.

—Agora diga suas dúvidas que não tem a ver com a minha vida. —propôs em seu tom mais dissimulado, já estavam fora do castelo.

—Ok, você acha que se eu ignorá-la ela vai querer ir pra Hogsmeade ainda esse fim de semana? —Oliver perguntou sem muita certeza, quer dizer, se ele tinha tão pouca chance quanto a Saint-Sallow dizia, isso não era rápido demais?

—Depende. Se você não se aproximar, mas continuar encarando Heather como se ela fosse a própria Taça de Quadribol que criou pernas e saiu andando, ela não sairia com você mesmo que passasse sua vida inteira tentando. —cortante e sincera, já estava começando a se acostumar com como a morena era direta, e ainda assim se impressionava todas as vezes que ela abria a boca. Taça de Quadribol que criou pernas, no mínimo fora inesperado.

—Preciso ficar longe dela então. —concluiu.

—Isso... A menos que alguma garota esteja atrás de você, aí pode ficar perto o bastante para ela ver. Heat é competitiva. —Ilíria franziu os lábios como se lembrasse de algo que dera muito errado. —Mas se você estiver muito perto de uma garota, Oliver Wood, não ouse olhar para Heather. Ela é mais esperta que você.

—E que garota seria essa? —haviam chegado ao campo, a menina apoiou a vassoura em um banco antes de tirar seu par de luvas da bolsa e jogá-la no mesmo.

—Se vira, eu não vou resolver tudo não. —os dois reviraram os olhos, e reviraram mais uma vez ao ver que o outro também fizera isso, e quando ambos abriram a boca, desistiram de falar qualquer coisa, porque definitivamente se recusavam a dizer o mesmo.