Todos os Erros escrita por Lizzy Di Angelo


Capítulo 14
Cuidando de um oponente




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Prendeu as luvas com facilidade, no segundo ano demorava cerca de vinte minutos se Heather não estivesse ali para abotoar, mas com o passar do tempo se tornou fácil segurar o botão com dois dedos e usar os outros para prender no lugar certo. Esticou os dedos sentindo o material grosso se ajeitar, firmou o óculos e o rabo de cavalo, e finalmente voltou a encarar o Wood.

—Mais alguma coisa? —perguntou se abaixando um pouco para pegar sua vassoura de volta, não era uma Nimbus 2001, mas era boa o bastante. O cabo tinha suas iniciais e a madeira estava conservada apesar dos riscos em sua lateral, segurou com as duas mãos e olhou-o de novo, ainda esperando uma resposta.

—Acho que não. —Oliver deu de ombros, e contrariando as expectativas, se sentou no banco.

Vira como Ilíria o encarou, quase como se fosse perguntar por qual raio de motivo ele sentou, e quando apenas voltou a olhar para os próprios papéis, ela caminhou para o meio do campo. Espiava o céu volta e meia, apenas para ter certeza de que ela parecia perfeitamente bem dando voltas rápidas, assistiu até mesmo como em uma mudança súbita ela se guinou para cima, subindo tão alto que não poderia enxergá-la. Não tinha tido a intenção de ficar ali, contudo, os pequenos sinais de apreensão dela o mantiveram preso no lugar, o jeito como mentiu, o leve tremor nos dedos ao pegar a vassoura, o apertar em seu cabelo já perfeitamente firme, tudo isso o manteve ali, querendo oferecer alguma segurança.

Em sua primeira partida de quadribol um balaço o derrubara em apenas dois minutos, e depois de uma semana na enfermaria seria muito pouco crível dizer que simplesmente voltara normal, e embora não tivesse contado para ninguém, estava nervoso ao ter que subir na vassoura novamente. Entendia o que Ilíria sentia, a ansiedade, o resquício de medo que brigava contra sua determinação, o orgulho que o impedira de pedir ajuda e agora fazia o mesmo com ela, e só por isso não voltou ao castelo: queria dar a ela o apoio que nenhum dos dois seria capaz de pedir, recuperar a sensação de que estava segura no ar.

O primeiro impulso foi o mais difícil, Ilíria subiu lentamente, se mantendo em baixa altitude por um tempo, apenas sobrevoando o campo. Então subiu um pouco mais, querendo ter uma visão de tudo, e quando concluiu que não havia mais ninguém no campo além do Wood, seu coração errou a batida. Era estranho que quisesse que ele fosse embora e que continuasse ali ao mesmo tempo? A verdade era que a presença dele facilitara sua missão, saber que alguém que realmente faria algo para ajudá-la estava ali lhe dera um empurrão a mais, e ao mesmo tempo parecia destruir uma camada que levara tempo para ser erguida. Não estava acostumada com esse tipo de cuidado, claro que Heather a ajudava em muitas coisas, mas a proteção despretensiosa do grifinório a enviava para um lugar fora de sua zona de conforto.

Guinou a vassoura para cima, seguindo em um ritmo tão veloz que guardava para as partidas, mas seu medo se esvaíra e agora precisava de algo que estivesse acostumada, que fizesse parte de sua rotina quase tanto quanto respirar. Sentiu o vento frio raspar com força contra sua pele, e se inclinou ainda mais para frente, ganhando mais velocidade a cada segundo, e então quando sentiu que era hora de descer, agarrou o cabo com a mão enluvada, se empurrando de volta para trás e esticando uma das pernas, usando ela para cortar o ar e forçar a vassoura a um giro. Se não se segurasse tão intensamente teria sido arremessada, mas era justamente o que vinha trabalhando: podia ser rápida e talentosa, mas isso não valeria de nada se uma trombada fosse o suficiente para tirá-la do jogo, precisava aguentar o impacto. Por vários minutos ficou repetindo o mesmo percurso, subindo e descendo até quase a grama, empurrando a vassoura de um lado para o outro em desvios bruscos, se tornando mais rápida e resistente.

Assistiu-a tranquilamente, voltando as estratégias de jogo quando ela se afastava, e se permitindo avaliar sua técnica quando estava próxima o suficiente. Ilíria escolhia um tipo de jogo perigoso, transformando suas desvantagens até que elas fossem úteis, se aproveitando dos pontos fracos de outros jogadores, não pensando duas vezes antes de assumir uma situação. Talvez um jogador comum acreditasse que o melhor sobre ela era a velocidade, mas Oliver era o capitão de uma equipe e fã fanático de quadribol, poderia afirmar com certeza que o que a Saint-Sallow tinha de especial se tratava da sua vontade absurda de vencer, ela assumia riscos, fazia manobras, se pendurava no ar se fosse necessário, mas assegurava a vitória de seu time. Teria gostado de tê-la jogando pela Grifinória, estaria disposto a contornar o gênio difícil pelos pontos extras que ela conseguiria, mas Ilíria definitivamente não nascera para a casa de leões.

Levantou-se do banco, caminhando para fora do campo quando viu que ela começava a descer, porque estava convencido de que preferiria voltar sozinha a sentir como se precisasse de alguém a vigiando, Oliver teria escolhido o mesmo. Os pensamentos sobre o próximo jogo tomaram-no a mente, fariam o que fosse necessário para vencer a Lufa-Lufa e garantir seu lugar no Inter-Casas, treinariam cinco dias da semana se fosse necessário, mas Wood conseguiria a Taça que almejava há tanto tempo. Suspirou baixo ao pensar que por mais que a Grifinória tivesse um time melhor do que qualquer outro, isso não valeria de nada se Harry Potter não conseguisse agarrar o pomo de ouro antes de Cedrico Diggory, e embora o garoto tivesse um histórico de ganhos invejável, Wood não tinha coragem de contar com a vitória, todas as vezes que fizera isso a derrota viera rápida e esmagadora. Sequer percebeu quando um de seus pensamentos mudou, dizendo que Diggory poderia ser bom, mas apenas Ilíria tinha talento de verdade.


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