A New Order escrita por TiiaMeddy


Capítulo 17
Preparativos




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Com a chegada de Abril, Hito anunciou a primeira semana de provas da classe, a classe ganhando uma aura depressiva e desesperada. E aumentou ainda mais quando Hito disse que começaria um novo assunto, o moreno sorridente indo ao quadro enquanto apenas Erwin permanecia com os olhos focados no professor. Realizando alguns esboços de almas e adicionando algumas poucas informações sobre elas, Hito vira-se e chama a atenção dos alunos com poucas palmas, o que foi o suficiente em meio ao silêncio mórbido de sua sala.

 

—Bem, sei que estamos tendo aulas de estudo de almas a alguns meses, porém devem aprender a classificá-las. Não é apenas porque uma alma é vermelha ou azul que vocês podem dizer que devem ou não caçar. É um conhecimento que vocês, se passarem para a EAT, devem dominar, então mesmo sendo recente, ele estará na prova que se aproxima.

 

A aura depressiva piora, não imaginavam que a face doce de Hito esconderia um profissional sádico ansiando pela reprovação de seus alunos. De fato, não escondia, Hito era um doce, mas no momento eles não conseguiam lembrar do amável professor que conheciam a poucas horas.

 

—Bem, vamos começar com a alma humana...

 

Iniciando os breves, porém detalhados, resumos, a aura da sala melhorava aos poucos. Tantos anos como professor o faziam cativar até mesmo o menos interessado dos alunos, suas palavras sendo compreendidas por quase todos os presentes. Da humana, foram para as almas de arma, e então as de ovos de kishin, a classe surpreendendo-se que não apenas elas estavam presentes na lista do Shinigami, como também algumas poucas humanas. Segundo Hito, o critério para estar na lista variava muito, porém o principal era ser uma pessoa que o Shinigami-sama considere perigosa para a Ordem atual.

Seguiram então para algumas menos conhecidas pelas crianças, entrando em detalhes pela primeira vez sobre uma alma bruxa e ligando à historia de criação de armas, retornando a Arachne e aos Nakatsukasa, usando como exemplo os próprios descendentes diretos que apenas assistiam a aula como qualquer outro presente. Enfim, chegou à alma Grigori, a alma de anjo extremamente rara de Maka Evans, que a permitia voar acompanhada de sua deathscythe, arrancando expressões de surpresa de todos os presentes.

 

—E para finalizar por hoje... – Hito se afasta do quadro, dando a volta por sua mesa e encostando-se nela, os alunos desconfiando um pouco de sua reação. – Temos uma alma que, até antes da grande guerra com as bruxas, era considerada uma lenda pelas armas e artesãos. – Algumas das bruxas começaram a murmurar entre elas, Akira recebendo um brilho incomum nos olhos ao ouvir aquelas palavras.

—Sensei! Sensei! – O moreno Star ergue a mão, extremamente animado, parecendo que acabou de ganhar um suprimento infinito de doces do mundo inteiro. – Ela é mesmo real!? A alma dokeshi!? Sério mesmo!? – Hito solta um breve risinho, voltando ao assunto.

—Sim, Akira. Os “dokeshi” não são apenas fictícios, como nos quadrinhos de Charisma Justice¹. São casos raríssimos, embora não tão raros como a alma grigori, e foram estudados pelas bruxas por muitos anos. Mesmo visualmente semelhantes à alma humana, os possuidores dessa alma acabam despertando o uso de magia em meio a um forte desejo de viver nascido no desespero, seu “nascimento” variando de acordo com as circunstâncias. Mas algo comum a todos é que são fontes naturais de insanidade, e precisam contê-la cumprindo uma certa condição que varia de “dokeshi” para “dokeshi”.

—Pode nos dar um exemplo, sensei? – LianYu ergue a mão, apenas vendo seu professor sorrir como resposta.

—Está olhando para um. – Neste segundo, o sinal do fim das aulas toca, e disfarçado pelos comentários múltiplos simultâneos da sala, mal podia-se ouvir o lápis que Erwin segurava partir-se em dois com a força do garoto, um tanto surpreso e estático. – Bem, continuamos amanhã. E espero que revisem o que viram hoje em casa. Até mais.

—Hey, sensei! Como assim “está olhando para um”!?

—Você é um dokeshi!? Como conseguiu sua alma!?

—É por isso que cobre seu corpo quase todo!? É sua condição!?

—Hey, a aula já acabou. A maioria dessas perguntas serão respondidas nas aulas de Maka-sensei, então tenham paciência. – E Hito sai da sala, sereno, deixando sua classe imersa no caos. Mas ao dobrar uma esquina na direção da sala dos professores, ele encosta na parede, arfando. Os comentários dos alunos o fizeram lembrar, e não conseguiria entrar em detalhes sobre como “conseguiu sua alma”. Não ainda, ao menos. Mesmo tendo se passado vinte anos... Mas aguentou bem por hoje, não preocuparia seus alunos queridos. E, após poucos minutos se recompondo, retornou seu caminho.


******

 

Com o fim das aulas, Katherine teve a ideia de organizarem um pequeno grupo de estudos para se prepararem para as provas que estavam a caminho, o grupo olhando para ela como se perguntasse “o que fizeram com a verdadeira Kath?”. Por mais que estivessem estranhando a atitude da arma, acabaram cedendo e se encontrando no Deathbucks. O que não esperavam era que o “pequeno grupo” chegasse a dez pessoas. O bate-boca correu entre alguns membros da sala, e ao Erwin, Kath e Keith chegarem no local combinado, encontraram também os invasores: Tsuki, Akira, Ártemis, Erin, Oliver, LianYu e Erika. O loiro quase conseguiu fugir, mas Keith o puxou até a mesa, e por mais que ele sorrisse, sabia que ele estava pensando algo como “nem por um caralho eu vou aturar eles sozinho”.

Por mais que tentasse se concentrar no meio do caos daquela mesa, Erwin via que Keith estava um tanto desconfiado. Estava sempre encarando ao redor e trocando sussurros com a irmã, este último ele quase não presenciando no curto período que eram parceiros. Embora ele só os visse na Shibusen. Estava tudo muito estranho, e de alguma forma, sabia que a louca que se jogou escada abaixo sentia o mesmo, por mais que ela estivesse extremamente distraída com uma fatia de torta. Os demais estavam imersos em seus próprios assuntos, Akira tentando explicar a Oliver algo sobre história das armas, Tsuki e Ártemis desfrutando dos doces como Erin, e Erika encarando LianYu de uma forma nada discreta, parecendo um personagem de desenho ao ver uma moça bonita.

Keith fazia o possível para aturar aquele grupo de literalmente idiotas (salvo apenas algumas poucas pessoas), de certo modo precisava de testemunhas caso continuassem a segui-lo. Mas sabia que eles não seriam burros de ser tão indiscretos enquanto estivessem acompanhados. Por sorte, Katherine usou os poucos neurônios que ainda tinha para sugerir esta sessão de estudos. E por ter espalhado, apareceram mais que o necessário. Pelo menos aqueles idiotas o faziam rir. Mas por mais que fossem discretos, deveriam seguir com seu plano, e para isso precisavam chamar o mínimo de atenção possível.

Ao fim da sessão de estudos, que acabou demorando mais que o esperado por Kath realmente ter dúvidas, o grupo se divide em dois, a família Star indo para um lado com Erika e LianYu enquanto os gêmeos, Erwin, Oliver e Erin iam na direção oposta. A casa dos gêmeos ficava no caminho para o dormitório feminino, e Oliver havia pedido para o loiro o ajudar com algumas novas receitas que poderiam interessá-lo. Próximos de seu destino, ambas as parcerias são cercadas por homens que obviamente não pareciam ser de Death City, estes sacando pistolas de dentro dos blazers. Oliver entrou em pânico, claro. Não era todo dia que via cerca de seis ou sete homens armados apontando em sua direção. Erwin estava um pouco chocado, mas não completamente surpreso. Erin claramente estava sendo segurada para não se jogar em um, e os gêmeos apenas suspiraram.

 

—Não deu certo, Kath. – Keith inicia, arrumando seus óculos.

—Que droga. – Ela bufa, inflando as bochechas e cruzando os braços, apenas fazendo seu busto avantajado parecer ainda maior. – São dos nossos?

—Não. Devem ser o famoso clichê italiano.

—Vocês dois... o que querem dizer com isso? – Erwin já estava no limite, reunindo a paciência que não tinha.

—A baixote estava certa, e esses aí são de uma família rival. Acho. Não lembro do rosto da grande maioria, mais ainda inúteis impacientes que nem se escondem direito.

—Espera, vocês são mesmo mafiosos!? – Oliver e Erwin simultaneamente, o moreno transformando o braço em foice a tempo de defender uma bala.

—EU DISSE, CARALHO!! – Erin gritava vitoriosa, ignorando a situação que se encontravam. Como sempre.

—Katherine é a terceira líder da família Hamilton. Meio que foi umas surpresa pra a gente sermos armas, mas pensamos que seria o melhor vir para aumentar a fam...

—Podemos conversar enquanto não estivermos na mira de pistolas!? – Oliver retruca, defendendo uma Erin risonha de mais outras balas.

—Ookay! – Sorrindo, Katherine, assim como seu irmão, vão em direções opostas, os braços em forma de arma, belas lâminas de espadas de cavaleiro.

 

Disparando, as balas eram bloqueadas pelas lâminas assim como Oliver havia feito pouco tempo atrás, e com o mesmo sorriso gentil de antes, Kath desestabiliza um dos homens armados parando a centímetros de seu rosto, o acertando com um taser que guardava escondido em suas roupas, Keith preferindo usar seu lado arma para ferir gravemente dois deles, Kath chutando um quarto que tentava ajudar o amigo apagado no chão. Erwin perguntava-se se seria útil naquele momento já que seus ditos parceiros massacravam os homens de uma família rival em sua frente, na verdade, perguntava-se por que eles o queriam como parceiro, acordando apenas ao ver Erin se livrando de Oliver e ajudando os gêmeos. Ao encarar o moreno, apenas o viu dar de ombros, dizendo “ela merece” como se lesse seus pensamentos.

Não demorou muito para que eles batessem em retirada, os poucos acordados levando seus companheiros como podiam. Comemorando, Kath abraça Erin no impulso, aproveitando para agradecer a ajuda da menor, a pequena albina mexendo-se desesperada pelo busto avantajado da arma em sua frente estar sufocando-a, desistindo de lutar pouco depois. Na realidade, quase apagada, sendo segurada com mais cuidado por Kath enquanto recuperava o ar que lhe faltava. Erwin imediatamente foi até ambos, com a mesma expressão de sempre, mas Keith já imaginava o que aquilo significava.

 

—Respostas, certo? Tudo bem... vamos lá pra casa.


******

 

Caminhando pelas ruas da deserta Pripyat, a morena com seu corpo envolto em magia seguia para onde suas semelhantes a aguardavam. A bela cidade conhecida pelo acidente na usina de Chernobyl tinha seu charme para a bruxa polvo, hoje sendo usada como esconderijo para o novo círculo das bruxas, ReBirth. Admirava a inteligência da líder de seu grupo, os artesãos nunca pensariam em procurar em um lugar como esse, principalmente por não poderem suportar a radioatividade que ainda existia naquele lugar, aquela cidade sendo o esconderijo de centenas de bruxas apenas pela magia que sua pequena seguidora desenvolveu. Era simplesmente o local perfeito, por vezes o comparando com a Lost Island onde antes estava o “BREW”.

Ryuunei, a responsável por toda ReBirth, a havia chamado de Rummu Karjäär² para se atualizar em relação às pesquisas da bruxa polvo. Visto que Sayuri não desejava unir-se a ela, a bruxa dragão a havia ordenado para estudar e desenvolver magias úteis para toda a ReBirth, indo desde a simples cobertura mágica de radiação a novas magias destrutivas, e Hyaci a prometeu retornar com uma magia poderosa que superava o soul protect. Isso obviamente chamou a atenção de Ryuunei, visto que cada vez mais surgiam artesãos que conseguiam ver através da magia em questão, devido a convivência com as bruxas. A leitura de almas estava se tornando mais poderosa na nova geração de artesãos, e receber esta noticia de Hyaci era um grande passo para a queda de Death City, embora sua primeira tentativa não tivesse dado certo.

Já adentrando o antigo hospital que agora era usado como base oficial da ReBirth, por mais que a cidade inteira agisse como uma, Hyaci era cumprimentada por algumas companheiras enquanto seguia na direção da sala principal, onde Ryuunei a esperava, sendo acompanhada por uma pequena bruxinha de cabelos tão prateados que se fossem mais claros seriam transparentes, os olhos igualmente claros, porém azuis, sempre apreensivos e preocupados. Em seus braços, longas luvas, impedindo-a de tocar diretamente nas pessoas. Problemas que algumas das suas passavam, representantes de animais venenosos.

Sendo acompanhadas por Lyze, uma espécie de aprendiz e secretária de Ryuunei pela maior parte do trajeto, o trio para em frente a uma porta dupla, a bruxa lagarto de cabelos roxos entrando primeiro para anunciar sua chegada, abrindo a porta em questão de poucos segundos. A azulada as aguardava, tendo preparado um chá pouco tempo atrás, para a conversa que teriam. O grupo sentou-se ao redor da mesa, Lyze servindo a bebida para todas antes de também tomar seu assento.

 

—Não nos vemos pessoalmente a bastante tempo, não, Ryuunei? – Hyaci inicia, agradando os cabelos da jovem bruxa albina ao seu lado.

—Quase dez anos, não? Se bem que para uma bruxa, este tempo se assemelhe a poucas semanas. Mas é uma pena que tenha fracassado em trazer Sayuri para nosso lado.

—Em todas as vezes que tentei falar com ela, Sayu recusou por ter responsabilidades com seu novo lar. E na última, fui impedida de entrar por seus cães de guarda. Apenas pessoalmente para você acreditar, mas ela aceitou um ex-artesão entre seus moradores.

—Ah sim, o bichinho atual de Medusa, não? E imaginar que ela deixou a linha de frente... mas enfim, não viemos falar sobre eles. Como anda sua pesquisa? Obteve sucesso?

—Estamos em fase de testes. Enviei hoje duas cobaias para Death City antes de vir até seu encontro. Devo receber o primeiro relatório amanhã pela manhã. Mesmo eu tendo alguns artesãos como cativos em Rummu, nenhum deles consegue ver através do soul protect, então são inúteis no momento.

—Entendo. E o desenvolvimento de venenos?

—Perfeitamente bem, graças a Kaiji. Mesmo tão nova, ela possui bastante talento. Imagino o quanto ela irá evoluir até atingir seu primeiro século de vida. – A dita Kaiji se encolhe na cadeira, escondendo o rosto envergonhada enquanto Hyaci sorria por conta de sua reação. – Trouxemos algumas amostras conosco e já as entregamos para sua divisão de desenvolvimento de armas.

—Perfeito. Dessa forma, será questão de tempo para a nova ordem do Shinigami ruir. Também andamos tendo algumas novas recrutas, gostaria que desse uma olhada nelas para ver quais seriam úteis com você em Rummu Karjäär. – Ryuunei estava sentindo-se um tanto estranha, disfarçando arrumar uma mecha de cabelo enquanto enxugava o suor que escorria por sua testa, fracassando, pois Lyze percebe que havia algo errado, levantando-se até ela. Não era possível ver devido à xícara em frente ao seu rosto, porém Hyaci alargara seu sorriso.

—Ryuunei-sama, o que houve? – A bruxa lagarto encosta no ombro da azulada, resultando em um alto e agudo grito de dor de Ryuunei, esta vomitando pouco depois e caindo curvada ao lado de sua cadeira do lado oposto, suando ainda mais. Tentou levá-la até uma cadeira para analisá-la melhor, mas o simples contato com seus membros ou torso a fazia contorcer-se mais de dor.

—Oh, síndrome de Irukandji. – Ao ouvir aquilo, Lyze vira-se para Hyaci, esta sorrindo satisfeita enquanto apoiava o pires em um dos tentáculos amarelos com círculos azuis que podia criar a partir de suas tatuagens nas pernas, pousando a xícara nele antes de continuar. – Espero que aqui ainda tenha equipamentos que funcionem, talvez vão precisar entubar.

—O que fez, Hyaci!?

—Eu? Literalmente nada. Ryuunei deve ter encostado em um fio de cabelo de minha querida aprendiz que voou pela sala. Sabe... irukandjis são terrivelmente venenosas. Sério, ela precisa de tratamento médico urgente, ou não irá sobreviver. – Furiosa, Lyze sai correndo pela porta, a procura da equipe médica. Um outro tentáculo se ergue saindo debaixo da mesa, segurando um lenço e, entre o tecido, um fio tão fino que mal podia-se ser visto, soltando-o pela sala e entregando o lenço para a jovem bruxa ao seu lado. – Felizmente, deu tudo certo... Kaiji, obrigada pela ajuda.

—F-Foi um prazer, Hyaci-sama.


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Notas finais do capítulo

1 – Charisma Justice e Dokeshi são seres de um outro mangá de Atsushi Ohkubo, B.Ichi. Os Dokeshi são seres que são capazes de usar quase 60% de seu cérebro, ganhando poderes sobre-humanos ao passarem pelo desespero tendo um forte desejo, e caso não cumpram sua condição para usar este poder, eles perdem algo precioso para eles. A alma dokeshi apresentada nesse capítulo é apenas uma homenagem não oficial ao mangá. Como curiosidade adicional, Charisma Justice faz uma breve aparição no episódio 9 de Soul Eater, como um quadrinho que BlackStar está lendo na biblioteca, e também no episódio 12, em um poster junto ao protagonista Shotaro na casa de Maka e Soul.

2 – Rummu Karjäär é uma pedreira estoniana que abrigava a única prisão submersa do mundo, localizada a 40km da capital Tallinn. Localizada ao lado de uma mina de calcário, os condenados faziam extração do material em um trabalho forçado, como adicional a sua pena. Após seu fechamento em 1991, não havia mais ninguém para drenar o local, a água invadindo-o e hoje sendo um ponto turístico onde se realizam mergulhos, além de desfrutar da praia formada.



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