Butterfly - a Tale Of Love And Death escrita por Kyra_Spring


Capítulo 3
Capítulo 2: I.V.


Notas iniciais do capítulo

Nota da autora: Esse capítulo será uma songfic. A música, I.V., é do X Japan (ou seja, nem preciso dizer mais nada), está na trilha sonora do filme Jogos Mortais 4.



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A chuva veio no fim daquela tarde triste, depois de um dia todo de tempo nublado e escuro.

A cerimônia foi muito simples, mas igualmente bela. A pira funerária estava enfeitada com flores – um pedido especial do próprio Miroku. Quando as chamas foram acesas, o perfume delas se misturou à fumaça. Ele não ficou até o final, e saiu pouco depois de começar. A própria Kaede a levou adiante, e ao anoitecer todos já tinham ido embora. Só as lanternas permaneceram acesas, no templo.

Foi somente depois que a maioria das pessoas havia ido embora que Kagome, trajando um kimono cerimonial de luto, percebeu, e cutucou Inuyasha discretamente, perguntando:

–Você viu o Miroku? Eu não o vi sair...

–É mesmo... – o meio-youkai olhou em volta, procurando – Tomara que ele não faça nenhuma besteira... vou atrás dele, me espere aqui.

Ela assentiu, em silêncio. Estava sendo muito difícil para ela lidar com a morte da amiga, mas ela sabia que era ainda mais difícil para Miroku. Ela sabia dos sentimentos que o monge nutria pela exterminadora, e desde aquela noite, o rapaz parecia completamente perdido, como se não soubesse mais nem que ritmo dar à própria respiração. Ele não havia dito uma única palavra, e só chorou quando encontrou o corpo dela. Depois disso, só havia uma coisa nos olhos dele.

Ódio. O puro e simples ódio. E desejo de vingança.

Ela só esperava que o coração dele pudesse se acalmar, antes que ele acabasse se destruindo, mas algo lhe dizia que isso não aconteceria... Pelo menos não até que desvendassem as circunstâncias da morte de Sango, e do significado da borboleta de seda. Era um trabalho de rara delicadeza, belo, que poderia até ser usado como acessório para cabelo se não fossem as circunstâncias macabras em que fora encontrado.

"Ache-o logo, Inuyasha", pensou ela, observando a chuva, "ache-o logo... por favor... antes que ele faça uma besteira sem tamanho."

o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o

O que valia a vida, agora que ele estava sozinho?

Era o que Miroku se perguntava, enquanto, na taverna da cidade, pedia mais uma dose de saquê. A partir da oitava, já havia perdido a conta, mas sinceramente não dava a mínima. Tudo o que queria era ficar lá e beber até desmaiar ou o dono expulsá-lo. Talvez, se o álcool conseguisse nocauteá-lo, aquelas centenas e centenas de agulhas que o perfuravam desde o momento em que encontrara a sua Sango morta parariam de doer.

Mas talvez era apenas uma forma otimista de dizer que elas não parariam nunca.

O cajado jazia no chão, ao seu lado, esquecido. Naquele momento, nem se lembrava mais de qual era o significado dele. Na verdade, não se lembrava de muita coisa. Tudo o que sabia era que iria ficar ali o máximo de tempo que pudesse, e beberia o máximo que agüentasse. E depois... depois, não faria diferença alguma. Nada mais faria. Nunca mais.

Needles are piercing through my skin (Agulhas estão perfurando minha pele do começo ao fim)
I'll tell you the feeling what it's like
(Eu vou te contar a sensação como isso é;)
Is life just all about deception?
(A vida toda é apenas sobre decepção?)

–Ei, você... o monge com cara de idiota... venha aqui – ele ouviu alguém o chamando, e virou-se molemente. Deparou-se com um sujeito alto e forte, claramente querendo briga.

–Você já tem uma bela cara de idiota, senhor – respondeu ele, voltando-se para o seu copo – Não precisa usar a minha como parâmetro de comparação. Agora, se me dá licença...

Ele sabia que o homem não iria dar licença. Aliás, sabia que muito provavelmente estava provocando a maior surra da sua vida. Mas ele não se importava, algo que não sabia se deveria atribuir ao álcool ou aos acontecimentos recentes. E percebeu quando ele se aproximou, ameaçador, bufando como um touro furioso.

–Senhor, estou tentando terminar a minha bebida – ele disse, num tom controlado, apesar da voz pastosa e arrastada – E o senhor está me atrapalhando, então sugiro que tire a sua carcaça fedorenta de perto de mim e me deixe em paz, se não quiser se arrepender.

Não houve tempo. A resposta foi um soco diretamente no rosto do monge, que cambaleou, e caiu. Apanhou o cajado e revidou, mas a visão estava tão dobrada que não conseguiu acertar, e foi atingido de novo. Já se preparava para o terceiro golpe quando ouviu uma voz atrás dele, dizendo:

–Deixe ele em paz... ou vai se ver comigo.

Ele se lembrava vagamente daquela voz... quem seria? Acabou se desequilibrando e caindo novamente, e acima de sua cabeça ouviu alguns barulhos de luta. Depois, sentiu que alguém o arrastava rudemente para fora. Na certa, o valentão do bar havia vencido e iria terminar com ele do lado de fora do bar...

–Droga, Miroku, o que diabos pensa que está fazendo?

–Inuyasha...? – ele, então, reconheceu o dono da voz. Levantou os olhos e viu o hanyou o encarando, severo. Então, forçou-se a levantar – Inuyasha, é você?

E então, começou a rir. Era um riso frio, de desespero, de loucura. O meio-youkai assistia desconcertado ao amigo rir e cambalear daquele jeito, sem saber o que fazer. Só pôde dizer:

–Você está agindo como um perfeito imbecil, sabia?

–Eu devia agradecê-lo, Inuyasha-sama! – ele notou o escárnio na voz embargada e pastosa do outro, que se curvava numa reverência – Então, eu deveria abraçá-lo e dizer "meu herói, você me salvou!", não é? Só me perdoe se não consigo me curvar direito.

–Você está bêbado... – concluiu o outro, sem emoção – Me perdoe pelo que vou fazer agora, mas isso é para o seu próprio bem – e enfiou um soco direto no estômago do monge, que arquejou. Mas ele não parou de rir... em vez disso, a risada dele foi se transformando, e mudando, até se tornar choro... Talvez era isso que ele queria fazer, chorar... Inuyasha sentou-se no chão, e o obrigou a sentar-se ao seu lado.

–Não está sendo fácil para nenhum de nós – ele disse, num tom ameno que, segundo os padrões dele, poderia ser considerado gentil e amável – Mas precisamos de você bem... entende? Duvido que Sango iria querer ver você enchendo a cara e se matando em brigas de bar... a propósito, que tipo de idiota é você para enfrentar um cara daqueles, hein?

Ele não respondeu. Só ficou ali, a cabeça apoiada nos próprios joelhos, chorando. Inuyasha preferiu deixá-lo em silêncio, mas não saiu do lado dele. Era o máximo que podia fazer. E esperou, por um longo tempo, até que o próprio Miroku começasse a falar:

–Eu pensei que duraria para sempre... – ele enxugou o rosto na luva – Achei que nada aconteceria a ela. Ela era forte, destemida... nunca pensei que alguém fosse estúpido de fazer mal a ela... e agora...

–Agora o quê? – Inuyasha percebeu a pausa, e incentivou-o a continuar.

–Agora quero descobrir quem a matou – a voz dele, apesar de ainda comprometida pelo excesso de bebida, demonstrava uma firmeza incomum – Quero pegá-lo, quero destruí-lo... quero fazer com que pague pelo que fez a ela, na mesma moeda.

–Era disso que eu tinha medo... tem certeza, Miroku? – Inuyasha pensava nessa possibilidade. É claro que queria também descobrir quem tinha matado sua amiga, mas sabia que Miroku estava cego pelos sentimentos, e isso o preocupava – Pode ser perigoso...

–Eu não me importo – disse ele, dando de ombros – Agora não me faz muita diferença viver ou morrer, eu só quero ter a certeza absoluta de que vou levar comigo o desgraçado que matou a minha Sango. E vou sozinho – acrescentou, ao ver que Inuyasha pretendia cortá-lo – Nem pense em me seguir, nem você, nem a Kagome. Vocês têm a própria missão para continuar, e essa é a minha.

–Você tem noção do quanto isso soa estúpido? – o hanyou tentava levá-lo à luz da razão – Não pode ir sozinho, nem sabe quem é essa pessoa.

–Eu não me importo – repetiu Miroku, colocando mais ênfase nas palavras – Peço que não tente me impedir, porque não vai adiantar. Eu aceitei isso – ele parou. Havia parado de chover, mas o céu continuava nublado – É o único jeito de fazer a minha vida e a morte dela valerem a pena. E estou preparado para as conseqüências. Se eu ficar pelo caminho, tudo bem. Mas preciso tentar – voltou o olhar ao amigo. Ele já não chorava mais, e parecia já ter se livrado de todo o desespero. Agora, Inuyasha constatava no olhar do amigo apenas uma tristeza profunda e inatingível, e determinação – Por favor, me ajude, mas me deixe ir sozinho.

Ele parou, e pensou um pouco. E, por fim, tomou a sua decisão:

–Tudo bem, eu aceito – ele não estava satisfeito com aquilo, mas não tinha outra escolha – Mas, deixe que eu te ajude. Precisamos descobrir quem foi, e depois você poderá ir atrás dele.

Os dois se encararam, e assentiram mutuamente. A decisão estava tomada. E agora, ele não poderia mais voltar atrás.

Please don't be a part of a fairy tale, (Por favor, não faça parte de um conto de fadas,)
but you're so young to play with thy own will
(Mas você é tão jovem para brincar com a própria vontade)
Should I trade the breath of my life for freedom?
(Eu deveria trocar o sopro da minha vida por liberdade?)

o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o

"Olá, Miroku... senti a sua falta..."

"S-S-Sango? Onde você está?"

"Bem aqui... não está me vendo?"

"Não... na verdade, não estou vendo nada..."

"Eu estou aqui... venha... estou te esperando..."

"Onde você está? Não consigo te encontrar..."

Ele continuava andando, em meio à névoa, continuava ouvindo a voz dela, à distância. Mas não a encontrava... E procurava, e andava, e a névoa ia ficando mais e mais densa, até que...

Um vulto. Ele conhecia aquele vulto, poderia identificá-lo a quilômetros de distância. O mesmo cabelo, o grande osso voador nas costas, a mesma roupa... mas havia algo diferente, e ele se aproximou um pouco, e foi se aproximando e aproximando até ver o que era. E, quando viu, deu um passo para trás, horrorizado.

Sim, era ela. Mas sangrava. A pele estava branca. E os olhos derramavam sangue. Ela estendeu os braços na direção dele, e ele recuou.

"Não me reconhece, Miroku?", ela dizia, com um olhar maníaco. "Não me reconhece? Sou eu, Sango... quero levá-lo comigo... venha..."

Ela estendeu a mão. E ele, respirando fundo, pegou. Ela estava fria, e rígida. Mas ele não temia. Apenas a observava, com tristeza, e perguntou:

"O que houve com você?"

"O mesmo que haverá com você, meu amor", ela respondeu. Ele não entendeu, a princípio. Uma borboleta pousou na mão dela, e ele a observou. Era tão bonita... os desenhos nas asas pareciam uma pintura... Entretido nessa visão, não percebeu mais nada.

E não percebeu também que algo penetrava em seu corpo, pelas costas, atravessando seu coração. Quando percebeu, já era tarde demais...

(In the rain) I'm calling you, dear ((Na chuva) Eu estou te chamando, querida.)
(Find the way) Can't you see me standing right here?
((Encontre o caminho) Você não consegue me ver bem aqui?)
(Feel my pain) Life's bleeding from fear
((Sinta minha dor) A vida está sangrando do medo.)
(Find its place) I will give it straight from my vein
((Encontre o lugar) Eu te darei isso direto da minha veia.)

o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o

Kiyone esfregou os olhos, assim que o sol nasceu naquele dia. A chuva havia diminuído, e agora já havia até um pouco de sol entrando pela janela. Levantou-se, como todos os dias, mudou de roupa, trançou o cabelo e saiu para mais um dia de trabalho no campo. Antes, porém, conferiu sua caixa de pertences. Ela ficava escondida num alçapão sob a esteira em que dormia, trancada à chave. Certificou-se de que estava seguro e saiu, caminhando despreocupada.

-Ohayou, Kiyone-chan – disse uma senhora – Suas olheiras estão horríveis... noite difícil?

-São os malditos mosquitos outra vez, Ukita-san – Kiyone deu de ombros – Eles não me deixaram dormir quase nada essa noite... Mas vamos começar logo!

O trabalho no campo era difícil, mas Kiyone gostava. Ela dividia suas atenções entre o trabalho e os estudos. Havia um senhor bondoso no vilarejo, o sr. Takeuchi, que ensinava as pessoas a ler e escrever, e mostrava livros e contava sobre a vida no mundo. Vários jovens eram instruídos por ele, e Kiyone gostava disso. Inclusive, sempre que visitava vilarejos maiores, procurava outros livros. Ela também era boa com lutas, habilidade aprendida aos poucos ao longo da vida e aperfeiçoada por ela própria, que sempre treinava, mesmo sozinha.

Mas, apesar de parecer uma pessoa pacata, calma, que apreciava a vida simples, não era assim.

Pelo menos não desde aquele dia...

E aquelas olheiras definitivamente não eram por causa dos mosquitos à noite...

Mas ela não tinha medo. Só não podia ser descoberta. Para todos os efeitos, ela era apenas Kiyone Hokora, uma jovem normal de uma pequena vila de agricultores. No mais, nada a assustava. Nem a morte. Não até que sua missão estivesse concluída. E, quando estivesse, poderia enfim se revelar ao mundo. Ela não era apenas Kiyone. Ela preferia seu outro nome, aquele que usava à noite, quando saía...

Butterfly.

Needles are piercing through my skin (Agulhas estão perfurando minha pele do começo ao fim.)
I don't fear the fucking life b
(Eu não temo a merda dessa vida.)

o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o

Miroku acordou banhado em suor, ofegante e pálido. Aquele pesadelo maldito... sempre que conseguia cair no sono, o que estava sendo muito difícil, ele vinha à sua mente...

Já fazia cinco dias. Se ele tivesse dormido cinco horas em todo esse tempo, seria muito. A princípio, era a insônia, mas depois, quando conseguia cair no sono, aquele pesadelo enevoado surgia novamente. Sem alternativa, levantou-se e saiu. O vento gelado chocou-se contra seu rosto e seu peito nus, enquanto ele tentava restabelecer o controle da respiração.

Já havia conversado com várias pessoas, e tudo o que descobrira era que vários assassinatos como aquele haviam acontecido nas redondezas. Ninguém havia visto quem os cometia, e a tal borboleta de seda apareceu em todas as cenas. Geralmente, eram ricos fazendeiros, ou donos de minas, sempre pessoas ricas de famílias tradicionais. Não sabia que atitude tomar.

"Seja quem for, nunca virá atrás de mim, a menos que eu dê um motivo", ele pensava, enquanto sentava-se na porta. Havia lua naquela noite, e o vento que soprava era úmido e muito frio, devido à chuva dos dias anteriores. Observou a luva púrpura que revestia sua mão direita, e pensou que, pela primeira vez, aquele maldito buraco do vento lhe traria algum benefício. Iria encontrar aquele assassino, fosse quem fosse, e mandá-lo para o inferno através daquela maldição. Se fosse arrastado junto, não se importava. Seria até uma maneira justa de eliminá-la do mundo, impedindo que outras pessoas sofressem por conta dela.

E a teimosia de Inuyasha... mesmo dizendo que não interviria, ele viva passando indiretas. Kagome, pelo menos, era bem clara ao se posicionar contra essa idéia. Os dois deveriam ter consciência de que isso não adiantaria nada, absolutamente nada. Ele costumava sumir por horas, para tentar descobrir mais sobre os assassinatos, e tomava o cuidado de dizer o mínimo possível aos amigos. Quanto menos soubessem, menos chances teriam de ir atrás dele.

This never meant I can't sit by (Isso nunca significou que eu não posso ficar indiferente.)
They say as if it takes me somewhere
(Eles falam como se isso me levasse a algum lugar.)
Just let me swallow the faith by injection
(Apenas me deixe tragar minha fé por injeção.)
Life better be rushing to my head, my love
(Uma vida melhor está passando pela minha cabeça, meu amor.)

Apesar de o caso ainda estar envolvido numa névoa densa, pelo menos algumas coisas já tinham ficado claras. O assassino parecia uma espécie de justiceiro, pois matava os senhores de terra mais tiranos e cruéis. O único assassinato que fugia do padrão era mesmo o de Sango, mas por quê?

Espalhar um boato, por aqueles lados, era muito fácil. Bastava dizer para alguém dizer para alguém que havia uma pessoa que queria a cabeça do assassino. Fizera isso nos vilarejos mais próximos, que se encarregariam de espalhar a notícia. Em breve, o próprio matador ouviria, e iria atrás dele. Não seria difícil. E, quando estivessem frente a frente...

Quando estivessem frente a frente... ele receberia a justa punição pelos seus pecados. E assim, talvez, ambos pudessem receber a sua redenção.

I've played with this game before to find a piece of my true self! (Eu estava nesse jogo antes para encontrar um pedaço do meu verdadeiro eu.)
I'm lost within!
(Eu estou perdido por dentro!)

o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o

–Do que você está falando? – mais um dia de trabalho duro, mas muito proveitoso, havia terminado, e agora ela desfrutava o merecido descanso jantando na porta de casa e conversando com as amigas.

–Não se fala de outra coisa na cidade – disse uma delas, com a boca cheia de arroz – Comenta-se que tem um monge querendo pegar o tal assassino que está matando os senhores feudais...

–Um monge? – Kiyone ergueu uma sobrancelha – Pensei que monges fossem pacíficos...

–Eu também, mas ele tá querendo briga de verdade – outra garota deu de ombros – Acho que o assassino deve ter matado alguém de quem ele gostava, ou algo assim.

–Alguém disse o nome do monge? – falou uma terceira – Esse cara pode se considerar morto! Duvido que esse assassino deixe alguém falar essas coisas e sair ileso.

"Não exatamente", pensou ela. "Isso depende só dele. Talvez ele não entenda que fiz isso pelo bem maior. Vou atrás dele, e talvez possamos chegar a um acordo."

–Não sabem – respondeu a primeira garota – Tudo o que sabem é que ele usa uma luva roxa na mão direita. Andei falando com uns viajantes e parece que o mesmo boato está correndo por várias vilas.

Logo mudaram de assunto, e pouco tempo depois, Kiyone foi deixada sozinha. E pensava...

Como alguém poderia não entender o que estava fazendo? Como alguém ousava enfrentá-la? O que fazia era justo, ela havia sentido na própria pele... e os fizera pagar, não fizera?

Fechando a janela, e certificando-se de que ninguém a via, tirou a roupa. Bem ali, bem na altura do peito, um pouco acima dos seios... aquela marca odiosa... e ainda doía tanto... não só fisicamente, mas a dor que infligia à sua alma era maior e mais insuportável do que qualquer dor física. E as lembranças... ela tentava apagá-las da sua mente, sem conseguir.

Era por isso que Butterfly existia. Para impedir que outras sofressem o mesmo que ela.

Às vezes, ela tentava conversar, dizer que não era justa a vida, que tão poucos tinham tanto e a maioria só sofria e sofria, mas todos diziam, tudo bem, o que podemos fazer? A vida é assim... Mas ela não acreditava nisso. A vida inão era/i assim. Ela iestava/i assim. E, se alguém pudesse se levantar contra isso e mudar o mundo, fazê-lo um lugar mais justo, aí sim, poderiam dizer: a vida é assim. E é assim que queremos viver.

E, se aquela missão era dela, então ela mesma deveria eliminar os empecilhos. Estava claro que aquele monge era perigoso. Ela precisava encontrá-lo, neutralizá-lo. Mas ela o faria ver que o caminho que escolhera era certo, que as pessoas que matara realmente precisavam morrer para que as coisas melhorassem. Quem sabe, assim, o mundo mudaria. Quem sabe assim, haveria mais luz. Quem sabe...

Aquela noite seria decisiva. Precisava encontrá-lo. Esperou que todos dormissem. E, então, abriu a caixa sob a esteira e tirou de lá a sua máscara.

I'm feeling my pain (Eu estou sentindo minha dor,)
Do you feel where it's been
(Você percebe de onde isso vem?)
Can you cope with history of the world, when it's sad part of life?
(Você pode enfrentar a historia do mundo, quando isso é uma parte triste da vida?)
Can set the shadows fade, forever fade away b
(Pode-se fazer as sombras desaparecer, para sempre desaparecer...)
o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o

Mais uma noite. E não conseguia dormir.

Desta vez não ficou tentando forçar o sono. Miroku simplesmente vestiu a túnica púrpura e apanhou seu cajado, e saiu andando calmamente pela floresta. A lua brilhava, e iluminava fracamente o caminho, por entre as árvores.

Ele ainda esperava, de uma certa forma, que ela surgisse entre as árvores...

Desde o dia da bebedeira, seus sentimentos estavam, no mínimo, estranhos. Na verdade, agora sentia-se tão seco e vazio por dentro que se perguntava se, um dia, seria capaz novamente de nutrir algum sentimento bom. Só sentia raiva, e indiferença pelo resto do mundo. Nem sabia dizer se estava triste ou não.

Ficou andando por um longo tempo, sempre em linha reta. Quando o dia raiasse, ele voltaria para o vilarejo, para não preocupar os outros. Era até uma forma de acostumá-los, para quando chegasse o dia do encontro com o assassino, para o caso de ele não voltar.

"Eu estou aqui... venha... estou te esperando..."

Por que não conseguia esquecer aquele maldito pesadelo? Por que ainda ouvia a voz dela?

E então, ouviu algo que não estava na sua mente. Algo bem real.

Eram passos leves, às suas costas.

Ele quase chamou, inconscientemente, por Sango, mas sabia que aquilo era ridículo. Em vez disso, segurou o cajado com mais força, prendendo a respiração e fechando os olhos, procurando ouvir com o máximo de atenção de onde vinha o som.

-Você – então, ouviu uma voz feminina, austera e decidida – É você o monge de quem falam?

"Então estou lidando com uma mulher?", ele pensou, sem responder. "Venha, meu bem... me encontre... não está me vendo? Eu estou aqui, te esperando... Te esperando, para mandá-la para o inferno de uma vez por todas!"

E então, abriu os olhos. E, parada na sua frente, estava ela. A assassina que tanto ansiava em encontrar.

I'm calling you, dear. (Eu estou te chamando, querida.)
Can't you see me standing right here?
(Você não consegue me ver bem aqui?)
Life's bleeding from fear.
(A vida está sangrando do medo)
I'll give it straight from my vein.
(Eu te darei isso direto da minha veia.)


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