O Segredo de Pendragon escrita por Dandy Brandão


Capítulo 18
Capítulo 17 - Preparativos I




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Capítulo 17 - Preparativos I

 

Reino de Pendragon

“Eu confio em suas palavras, Ezarel. O primo Ahriman é alguém prepotente e tem suas artimanhas. Peço-lhe que continue em guarda quanto a isso.

Atualmente descobri provas sobre o paradeiro do meu irmão que não podem passar desapercebidas. Encontrei fios de cabelos do Valarian em um riacho. Zayin conseguiu provar que eram dele, através de uma solução alquímica.

 É uma mecha nova, como se tivesse acabado de ser cortada.

 Permanecerei aqui por mais alguns dias. Estou confiando em você, em nossas valquírias e o exército para guardar o nosso reino em segurança.

 Em breve estarei de volta e com novas informações sobre o meu irmão.

 Atenciosamente,

 Valkyon de Pendragon.”

 

 Ezarel não conseguiu voltar seus olhos estreitos ao normal depois de ler aquela carta. Eles permaneceram muito abertos por alguns segundos a fio, seu corpo inclinado sobre a mesa do laboratório, cercado de frascos e substâncias coloridas. Claire estava à sua frente, curiosa para saber o conteúdo da carta do rei, mas contida demais para lhe perguntar sobre o que ela tratava. Já estava acostumada a adentrar no laboratório do elfo – com a permissão dele, claro – mas nunca tinha ficado para ler as correspondências.

 Ao ver a reação dele, no entanto, sua curiosidade falou um pouco mais alto

 — Mestre Ezarel... — disse, cuidadosa — O que houve...?

 O olhar esmeralda de Ezarel finalmente se contraiu e ele levantou a cabeça para observar a valquíria. Estendeu a carta para ela sem dizer-lhe absolutamente mais nada, que a segurou na ponta dos dedos, como se fosse algo precioso.

 Logo Ezarel tomou outra carta do bico de Sowa, que permanecia quieta sobre a mesa, aguardando as próximas ordens. Esta era da princesa.

“Valkyon perdeu a razão, Ezarel! Ele não me escuta e está decidido a seguir nas buscas. Sinto a energia de perigo rondando todo esse castelo, o poder de Zayin é imenso... Você não tem noção. Eu desisti de convencer Valkyon a voltar... Mas vou recorrer a outros meios! Quero colocar esforços em descobrir mais sobre o Zayin e descortinar suas artimanhas.  Tenho para mim que ele e Ahriman está envolvido no desaparecimento de Valarian e está para fazer o mesmo com o Valkyon... Preciso provar de que ele está usando este fragmento do dragão para enfeitiçá-lo.

 Não consigo compreender quais os objetivos deles. Tomar o reino de Pendragon? As nossas terras? Por que trazê-lo para cá e continuar com essa performance de detetive? E ainda tem o seu discípulo Sig... Um rapazinho franzino, novo, creio que nem passou dos vinte anos e já sabe ir e vir em portais. Tão misterioso quanto seu mestre.  Ah, Ezarel sua astúcia faz falta por aqui!

 Conto com você! Até estou perdendo um pouco de medo da Sowa, ela tem sigo paciente comigo.

 Atenciosamente,

 Aisha Mazda"

 

Quando terminou a carta de Aisha, o sentimento que trespassou a mente de Ezarel era uma mistura de raiva e frustração. Ele bateu o punho sobre a mesa e sorriu, mas sem qualquer divertimento em seu rosto. Claire estava assustada demais com a carta de Valkyon para ter qualquer reação com aquele barulho repentino.

— Isso quer dizer que... — Claire pôs uma mão sobre a boca, os lábios trêmulos, emocionada demais para completar sua frase.

— Nada. — disse Ezarel, convicto.

— Como assim? Sua majestade diz aqui que encontrou fios de cabelo! — ela pousou a carta sobre a mesa, ainda em choque.

— É muito fácil o Valkyon encontrar o cabelo do irmão no território de Zayin, e este mesmo duque suspeito provar que os cabelos são de Valarian! Zayin está usando o ponto mais fraco dele! — disse, Ezarel com muita convicção em suas palavras.

Claire franziu o cenho, meneando a cabeça. Ela realmente sentia dificuldades em entender.

— Mas o que o Zayin ganharia com tudo isso? Qual o objetivo deles?

— É o que pretendo descobrir com sua ajuda e de...

Batidas na porta soaram por todo o cômodo e Ezarel logo se levantou para abrir a porta, como se já soubesse quem era. Claire deu passou para frente, pondo a mão sobre o cabo da espada, pronta para puxá-la caso necessário.

— Pensei no diabo... — um sorriso surgiu por detrás da porta e o cheiro flores invadiu o ambiente levemente — Adrian.

A pele tão brilhante quanto o castanho-escuro de uma brilhante cornalina destacava-se entre os seus cabelos verde-jade, presos em uma trança correndo por seus ombros. Em suas mãos trazia uma bolsa feita de trançados de palha, algumas flores cor de rosa escapuliam dela.

Ezarel deu espaço para ele entrar e sua presença não era uma surpresa para Claire: naquele outro dia, o “amigo” que ele fora visitar era Adrian. Ela se sentiu até mais segura e tranquila em lidar com alguém que já conhecia, pois, ao ouvir o tom misterioso com o qual Ezarel disse aquilo, chegou a cogitar ser algum negócio ilícito.

De certa forma, aquele homem trazia um pouco do mundo de Ezarel para dentro do castelo, mundo este que era um tanto desconhecido e até mesmo distorcido por moradores do reino.

— Olha se não é a mesma guerreira de antes. — o olhar verde dele trazia cortesia e ele lhe ofereceu um sorriso que Claire devolveu com um aceno de cabeça.

— Trouxe algo que vai nos ajudar a investigar o Zayin. — como se já conhecesse o local, ele se aproximou da mesa, enquanto Ezarel fechava a porta.

Logo os três já estavam ao redor da mesa, observando um objeto reluzente de borda detalhada em prateado que refletia a imagem de três pares de olhos.

— Um espelho? — Ezarel franziu o cenho, desviando a atenção para o amigo — Eu te falei um item que nos ajude a descobrir quem ele é, não um item de beleza.

Adrian respirou fundo, soltando o ar com força, de forma dramática.

— Você sabe muito bem o que eu pretendo fazer.

— Não, eu não sei. — Ezarel cruzou os braços, meneando a cabeça — Se for aquela ideia sem pé, nem cabeça...

— Que ele é um ser das brumas? — respondeu Claire, olhando diretamente para Adrian, cujo rosto se iluminou completamente ao ouvir as palavras dela, sorrindo — Podemos ser objetivos?

Ezarel não conseguiu evitar revirar os olhos e sentou-se em uma cadeira abandonada no laboratório.

— Sim, minha querida. — o elfo verde pegou o espelho — parece só um espelho comum, mas ele ainda não foi conjurado para ser um item mágico.  Assim que eu o colocar na luz da lua por três dias, ele pode nos revelar a verdadeira forma dele.

— Nosso tempo é de ouro, Adrian. Precisamos de algo concreto. — disse Ezarel inclinando-se para frente, colocando seus cotovelos sobre os joelhos.

— Ezarel, eu sei que você não acredita, mas o resto do time está de acordo, então eu vou prosseguir. — ele encolheu os ombros enquanto Ezarel revirava os olhos. Claire não sabia o porquê, mas uma confiança enorme crescia dentro de si quando pensava naquela ideia que Adrian trazia consigo, pensava ter algum fundo de verdade naquilo... Poderia chamar a sensação de intuição?

— Como você está pensando em testar isso nele? — perguntou o elfo conselheiro, dizendo, balançando os ombros, debochado — Vai chegar no duque e dizer “Olá, posso verificar se você é um ser lendário que sumiu há séculos?”

— De jeito algum, eu já pensei em tudo. — ele lustrou o espelho com um pano também retirado da sacola de palha. — Seres de brumas costumavam ser bastante noturnos, seguindo para suas terras escondidas, por trás das névoas, sempre no final da noite, para não serem percebidos...

— Terras escondidas? — perguntou Claire, recostando-se sobre a mesa.

Adrian parou de lustrar o espelho e encarou, Claire, com um ar de professor.

— Sim. Assim como os elfos têm seus próprios domínios mágicos, os seres das brumas também possuíam, mas apenas eles tinham a chave dos mistérios desse lugar. Apenas eles sabiam “abrir as brumas” — ele colocou as palavras entre aspas, bastante enfático — Eu quero surpreendê-lo... Em algum momento desses.

Claire remexeu nos bolsos de seu casaco pegando um pequeno frasco com um líquido verde esmeralda dançando dentro dele.  Ela estendeu o frasco para Adrian que parou o seu trabalho no mesmo instante, observando o objeto.

— Essa poção pode ajudar, não? — disse ela, vagueando o olhar para os dois.

— A poção de invisibilidade.

Adrian estreitou os olhos, observando o objeto nas mãos de Claire. Ele a tomou delicadamente das mãos dela, interessando naquela poção como se nunca a tivesse visto.

— Onde você conseguiu isso? Já sei que não foi você quem fez. — perguntou ele a Ezarel.

— Sim, fui eu! — disse o elfo azul, franzindo o cenho, com certo ar de indignação na voz — Está duvidando de minhas habilidades? — ele sorriu, arqueando uma das sobrancelhas.

— Ei! Eu vi você comprar! — Claire apontou o dedo para ele, desmontando o seu jeito polido de lidar com o elfo. Percebendo os olhares dos elfos sobre si, ela recuou no mesmo instante, e os dois caíram em gargalhadas.

— É... Eu...

— Tudo bem, Claire, impossível manter a compostura com esse chato. — disse Adrian, dando uma batidinha amigável nos ombros da guerreira.

Ezarel crispou os lábios e, como se não tivesse escutado aquilo, simplesmente puxou um pergaminho da lapela de seu casaco, esparramando-o sobre a mesa.

— Então... Temos muito a fazer. — Ezarel abrindo-o sobre a mesa.


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