O Segredo de Pendragon escrita por Dandy Brandão


Capítulo 19
Capítulo 18 - Preparativos II




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Capítulo 18 – Preparativos II

Aisha estava parada em frente à cerejeira onde na noite anterior tinha vivido um momento especial com Valkyon. Era manhã e os raios de sol incidiam sobre as folhagens rosadas da árvore, transformando-a em uma copa reluzente em meio ao jardim verde. Ela conseguia lembrar-se, vívida, dos lábios dele sobre os seus e das mãos fortes do rapaz em seu corpo. Uma sensação que há muito tempo esperava receber... Porém, pensava consigo mesma que aquele não foi o melhor momento para acontecer.

 Valkyon se preparava com o duque para buscar mais informações sobre os fios de cabelo, e ela ausentou-se do debate, pois sua mente estava inquieta demais para contribuir com algo que não conseguia mais suportar.

Então, decidiu direcionar sua inquietação para outro objetivo.

Ela logo ouviu passos atrás de si e, quando olhou para trás, as três Valquírias que acompanhavam na viagem surgiram em seus uniformes e armadas. As três estavam ociosas, na espera de novas ordens, mas sempre em alerta ao redor do castelo.

A princesa tinha convocado as três para a cerejeira sem dizer-lhes absolutamente nada sobre qual assunto gostaria de tratar com elas. Apenas pediu que a encontrassem naquele lugar.

— Alteza — as três disseram, quase em uníssono, curvando-se para a princesa.

— Vocês sabem que não precisam se curvar a mim, certo? — Aisha sorriu, unindo as mãos sobre o colo. Ela não era uma princesa de Pendragon, mas de um reino inexistente.  — Ainda mais nesse momento, que precisamos ser parceiras de luta.

— Ah, que isso, alteza... Você sempre vai ser princesa. — Elizabeth cruzou os braços, sorrindo de volta. Caméria e Malena concordaram, assentindo.

Aisha suspirou, preparando o que tinha a dizer para elas. Precisava ser rápida, pois a qualquer momento alguém poderia aparecer para convocá-las.

— Meninas — ela andou alguns passos, desatando as mãos. Soltou as palavras quase sussurrando. — Digam-me que não sou apenas eu que não confio no duque.

Malena e Elizabeth sobressaltaram, quase em sincronia, só Caméria que soltou um riso discreto, mas maroto, que Aisha captou a cumplicidade no mesmo instante. A líder das valquírias se aproximou da princesa e, com os olhos semicerrados, disse:

— Acho que já estava na hora de alguém dizer isso. Eu nunca confio em qualquer coisa vinda do príncipe Ahriman.

Aisha quase suspirou de alívio quando a guerreira disse aquilo. Ela juntos as mãos sobre o peito, quase lhe fazendo uma reverência. Sabia que teria pessoas para contar com seus planos. Elizabeth se aproximou, ainda meio intimidada, e disse:

— Do que vocês estão... falando? — atrás dela, Malena piscava os olhos como se também tivesse dificuldades de processar o que estava acontecendo.

Sem tempo para maiores explicações, Aisha resumiu rapidamente as suas desconfianças contando com a ajuda de Caméria que reiterava as suspeitas. Após as breves explicações, as duas valquírias tinham o cenho franzido, ambas preocupadas e convencidas de que algo realmente estava errado em toda aquela história.

— Então, meninas, eu tenho um plano e preciso da ajuda de vocês.

— O que pensa em fazer? — Caméria cerrou os olhos, agora mais concentrada

— No momento, uma investigação no castelo. Eu preciso encontrar algum livro ou

Artefato que convença o Valkyon de que ele está sendo enfeitiçado por aquele fragmento vermelho. Ou qualquer coisa que incrimine o duque.

— Mas a senhora acredita que ele deixaria por aqui? — disse Malena, de forma quase muda.

— Sim — ela balançou a cabeça, convicta. — Bruxos sempre mantêm por perto seus objetos de estudo e feitiçaria, esse castelo é grande, ele pode ter alguma “toca” escondida.

— Como o laboratório do senhor Ezarel? Onde ele guarda aranhas, lagartos,  mosquitos e toda coisa do tipo? — A careta que Elizabeth fez por trás de seus cabelos ruivos fez Caméria prender o riso para não chamar muita atenção.

Aisha riu discretamente, toda mística que envolvia o laboratório do elfo era uma lenda no castelo.

— É parecido, mas não tem animal algum por lá ou pelo menos não deveria ter — ela encolheu os ombros e, quando seu olhar vagueou para cima, ela notou Valkyon e o duque discutindo algum assunto no salão. Deveria se adiantar.

— Eu vou explicar o plano a vocês, não podemos demorar aqui.

A princesa deu os detalhes do plano para as Valquírias que assentiram prontamente, dispondo-se a ajudar.

Uma pequena, mas poderosa aliança, começava a insurgir naquele momento. Pelo bem sua majestade.

 

Dentro do castelo de Cohen....

Os olhos dourados de Valkyon estavam um tanto seduzidos por um fascínio. De pé, em meio ao salão de armas de Zayin, que gentilmente o convidou para conhecer antes de partirem para mais uma caçada de pistas. O rei não sabia para qual arma olhar, como uma criança em uma loja de doces. Em todos os cantos havia espadas, adagas, lanças, alabardas, machados com diferentes detalhes e cores, algumas mais brilhantes, outras marcadas com ações de batalhas e demonstrando as ações do tempo. Sua vontade era pegar cada uma delas e testar alguns golpes. O duque estava atrás dele, de braços cruzados, sorrindo orgulhoso de sua coleção.

— São tantas... Em Pendragon temos muitas no salão das Valquírias, mas... não tantas quanto aqui. Como conseguiu tudo isso?

— Eu sou colecionador, então viajo bastante a procura de armas lendárias, de algum valor histórico. — Ele andou alguns passos, ficando ao lado do rei.

Valkyon apenas assentiu passando os olhos nas espadas estendidas à sua frente, na parede alta,

— Quero testar uma delas. 

— Quantas sua majestade quiser. — ele estendeu a mão, convidando-o para escolher a espada que lhe interessasse.

De olhos atentos, o rei vasculhou todo o salão, buscando a arma que mais lhe chamava atenção. Em verdade, praticamente todas eram de seu interesse, até que seus olhos alcançaram um lábris, um machado duplo no qual, em suas duas lâminas, as asas estendidas de um dragão estavam entalhadas. Tranquilo, ele andou até o machado e o levantou pela haste.  Zayin observava cada movimento do rei, como se soubesse cada passo que ele pensava em seguir.

Mais do que as asas de dragão, entre as lâminas, um pequeno fio vermelho brilhante se destacava, como uma joia entalhada na arma. Ainda, na haste de ferro estavam gravados signos que o rei não conseguiu ler.

— O que tem escrito aqui? — ele olhou para o duque, que permaneceu no mesmo local. 

— Eu sabia que você ia pegar esse lábris. — ele se aproximou do rei mais uma vez, e passou os dedos sobre a haste do machado — quando comprei este, disseram que é uma linguagem ancestral... Dos dragões. Não há mais ninguém que possa traduzir o que está escrito aqui.

A informação passou pelo corpo de Valkyon como eletricidade. Ele sentiu o peso daquela arma em suas mãos e seus dedos apertaram a haste com força e, quase por reflexo, testou um golpe para o lado, zunindo em seu ouvido o som da lâmina cortando o vento.  

Estendendo o machado sobre o ar, aquela arma se ajustava tão bem a si mesmo que não queria abandoná-la.

— Há quanto tempo eu não via uma arma tão bonita... Ela foi forjada pelos dragões, então?

Zayin meneou a cabeça, sorrindo discretamente. Valkyon não entendeu a sua resposta: se aquela arma possuía os escritos de uma linguagem ancestral dos dragões, por quem mais ela teria sido forjada?

— Quando eu a comprei... Contaram-me que ela foi forjada da presa de um dragão por um homem que possuía o sangue deles e sabia sua linguagem. Não sei se me entende... — o duque piscou muito os olhos, tentando dizer algo nas entrelinhas.

A respiração do rei suspendeu por um instante. Um povo com sangue draconico? Nem nas lendas mais antigas de Pendragon sabia-se de tal coisa.

—  Você quer dizer... Um homem que herdou o sangue de dragão...? — Ele segurou a arma com ambas as mãos.

— Sim. Isso mesmo. Eu até cheguei a investigar um pouco mais sobre isso, mas o vendedor nem mais ninguém no mercado possuía qualquer informação sobre o assunto.

Valkyon deu mais uma olhada no lábris, impaciente para usá-lo em qualquer ocasião. Porém, o tempo passava e precisavam partir para mais um dia de buscas, ainda mais depois de encontrar fios de cabelos – REAIS – de seu irmão naquelas buscas do dia anterior. Seu coração pulsava, vibrava em uma intensidade que ele mal conseguia se manter parado.

— Você gostou muito dela... — murmurou Zayin, despertando o rei de sua contemplação. O olhar esverdeado do duque estava interessado no sentimento que a arma despertou em Valkyon. Aquilo não o impressionava.

— Sim, muito. Mas agora precisamos ir. — ele estendeu a arma, pronto para coloca-la de volta em seu local, até que o toque firme do duque em seu ombro fez Valkyon parar no mesmo instante.

— É sua. — Valkyon baixou a arma no mesmo instante, surpreso. O duque continuou — Nada mais justo do que um Pendragon ser o mestre dessa arma.

 — Tem certeza? Ela tem um valor histórico para você.

— Mas com certeza parece muito mais importante para sua majestade. Fique com ela.

No mesmo instante, o lábris voltou para perto do rei, e ele agradeceu ao duque, surpreso, mas extremamente feliz com aquele agrado. Um sorriso se formou em seu rosto como pouco tinha demonstrado naqueles últimos meses. 


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