Forever Unchanging escrita por Kamui Nishimura


Capítulo 11
Eleven - Manicômio


Notas iniciais do capítulo

Eu não sei se posso classificar esse capítulo como 'pesado', mas pode incomodar alguém, então já deixo avisado que algumas partes eu tive que descrever, mas tentei não detalhar tanto.
ps. Capitulo de 'memória'

Boa leitura.



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Tentou explicar-se.

Tentou argumentar, mas de modo algum fora escutado.

Apenas o registraram na pequena prisão e o levaram preso em uma carroça mal conservada.

Desesperado, rendeu-se ao choro, agarrado as barras frias, vendo a paisagem ainda obscura pela madrugada.

Sentia frio, fome, mal chegara a aquele vilarejo e já se afundara mais uma vez em problemas. A vida estava sendo cruel com ele novamente, e ainda não entendia o porquê.

Perdera todo o acalento de sua família, perdera o conforto de uma casa. Passava todos os dias caminhando e dormindo ao relento desde que a vida, injustamente entregara toda sua família á peste.

Não entendia por que sobrevivera apenas para sofrer.

Já estava cansado da luta diária dos últimos dois anos. Das incertezas, dos medos, e das situações horríveis que tivera que escapar por conta própria, sempre ferindo-se, seja fisicamente como emocionalmente.

O céu já estava claro, quando a carroça parou no percurso. Estavam em meio á uma pequena floresta, haviam muitas arvores, e a sensação térmica era horrivelmente gélida, devido ao inverno intenso que se aproximava.

Se encolheu abraçando o próprio tronco, suas roupas eram finas para a situação, precisava se aquecer, mas o guarda abriu a carroça, e o puxou pelos cabelos, arrastando até o imenso casarão, o entregando a dois homens vestidos com roupas escuras.

— Mais um louco para coleção de vocês. Acredita nas criaturas noturnas que sugam sangue humano, e matou uma mulher tentando provar isso. – caçoou jogando o garoto na direção dos homens

— ah, saberemos como lidar com a situação, senhor guarda.  – sem que pudesse reagir e fugir, e Yuu fora arrastado casarão adentro, passando por diversas ‘celas’ repletas de pessoas gritando, chorando ou apenas agindo de forma estranha.

Aquilo lhe causou náuseas,  havia um cheiro relativamente ruim por todo o corredor que fora levado.

Fechou os olhos, esperando que todo aquele terror interno diminuísse se não visse a situação ao seu redor e quando menos esperou fora jogado em uma cela úmida, onde havia um amontoado de tecidos que parecia ser o local onde dormiria.

Se levantou, e antes que alcançasse a porta, os homens a fecharam, e trancaram, rapidamente.

— Sou inocente! – implorou. – Eu não matei aquela mulher! Estava tentando socorre-la! – bateu os punhos sobre o metal maciço por longos minutos, mas o que ouvia era apenas o eco de seu desespero.

Estava isolado dos outros, e isso era ainda mais assustador.

Observou o local onde estava com mais atenção, a porta tinha apenas uma pequena abertura, quase acima de sua cabeça, por onde provavelmente viriam lhe vigiar e trazer alimento.

Não havia nada além dos tecidos amontoados, e a umidade.

— Quero ir embora...  Deixem-me ir...  – pediu já em prantos para o nada.

(Dia seguinte...)

Despertou sendo arrastado pelos braços para fora da cela, por um homem alto, vestido em roupas claras, e com uma mascara em seu rosto. E com seu pouco conhecimento, julgou ser um dos médicos do lugar. E por alguns segundos sentiu-se aliviado por estar sendo levado daquele lugar extremamente frio.

— Hoje terá um grande dia, pequeno assassino. – o jogou em uma sala repleta de coisas desconhecidas para si.

Olhou para todos os lados, o local não tinha janelas, como a cela que permanecera durante o dia anterior.

— Não sou assassino... – disse em tom baixo, ouvindo os risos alheios.

— A filha de um nobre foi assassinada por andarilho louco, se bem que uma donzela andando sozinha pela noite não fosse adequado. – disse um homem que se aproximara, e analisava sua altura, seu porte.

— Ah pobre donzela apenas havia voltado de suas boas ações, com gente como esse imundo. Gente assim deveria ser jogada na fornalha – disse o outro homem, que permanecia distante de ambos.

— E a pena que sofrerá leve, já que o nobre é alguém de bom coração, então primeiramente levará algumas chibatadas, e depois iniciaremos o tratamento de loucura.

Chibatadas.

Ao ouvir as palavras do homem, Yuu levantou-se desesperado para escapar dali, mas fora segurado pelo outro que o trouxe, que permanecia parado diante da porta.

— Poderá sair, daqui á uma hora. Você retorne para levar o paciente de volta ao seu aposento. – disse em um tom irônico o que se mantinha afastado deles.

A porta fora fechada, e o outro homem se aproximou do garoto, o puxando até a parede onde haviam algumas algemas presas a mesma.

Antes que reagisse, fora preso á parede. As algemas eram pesadas e abaixo de onde seus braços alcançavam, seus pulsos não aguentavam o peso, fazendo com que curvasse seu corpo para evitar um possível ferimento nos mesmos.  Por mais que soubesse que sentiria dor pior. 

As pernas estavam tremulas, não conseguia conter o desespero crescente em seu peito.

E antes mesmo que sentisse algo, já estava aos prantos.

— Temos um escandaloso... – o homem reclamou, e o outro apenas balançou os ombros, preparando a punição do garoto.

O chicote tinha pequenas pontas de ferro, o que causaria ferimentos a partir do primeiro golpe.

Um sorriso de escarnio surgiu no rosto do homem, ao erguer o braço e volta-lo com fúria, fazendo com que o chicote pegasse em cheio no meio das costas do garoto, rasgando sua roupa já envelhecida, e fazendo imediatamente marcas em sua pele.

Yuu gritou com a ardência, tentando escapar das algemas e proteger-se de alguma forma. Suas pernas já tremiam visivelmente, e o seu choro aumentou.

Sem dar-lhe tempo para ‘acostumar-se’ com dor, o homem desferiu mais alguns golpes, até que o garoto começasse a sangrar.

— Isso é o que queria. Pois bem, irei deixa-lo se divertindo com o assassino. Mas não exagere, ele tem que estar vivo quando tivermos a inspeção; O lorde ficará muito irritadiço se matarmos a criaturinha.

— Sinto-me tão vazio ao saber que  pena de morte á ele fora deixada de lado. – disse dando uma pausa nos golpes, ainda ouvindo o choro do garoto.

— O lorde não deseja ter mais mortes envolvendo sua família. Termine logo, e o leve para a cela.  – o outro saiu, e o homem voltou á desferir os golpes.

Bateu no garoto, rindo a cada grito que ouvia, e gargalhando ao ver que de tanta dor o garoto se urinou. 

O torturou até que o mesmo não aguentava mais manter-se em pé ali e nem gritava e chorava mais.

— Foi um vampiro que matou a donzela? – se aproximou do rosto do garoto, que já não conseguia mais prestar atenção em nada mais além da profunda dor que sentia. As palavras não vieram, e o homem sorriu largando o chicote.

O soltou, o vendo cair mudo de dor.

— Por hoje é somente isto. Terá um descanso, amanhã á noite voltaremos ao seu castigo. – o arrastou até a porta. Entregando para o outro mais alto, que trouxera o garoto até ali.

[...]

Continuava choroso, com dor, vergonha e fome. Não conseguia mover-se, somente conseguia desejar que tudo aquilo acabasse, que seu sofrimento acabasse ali.

Suas costas ardiam como se tivessem arrancado a pele com uma faca, e a ideia de que provavelmente aquele castigo se repetiria o deixava ainda mais em pânico.

Ouviu um gotejar próximo a si, e com dificuldade ergueu o rosto, vendo a goteira pingando intensamente próxima a parede.

Continuou observando a situação, até que notasse que ali formava uma poça, e iria encharcar os tecidos que havia ali.

Passaria frio, talvez ficasse doente por conta disso. Imaginou que o local era feito para esse proposito, matar sem sujar as mãos.

— Porque não me levaste junto com minha família? Porque tenho que sofrer tanto em vida? – chorou.

Chorou até adormecer de cansaço. Algo quase rotineiro, as lágrimas encherem seus olhos durante a noite, mas desta fez o motivo era muito mais doloroso fisicamente.

Despertou com o barulho da porta metálica, e com o aviso de que estava na hora do banho matinal.

Não conseguia levantar-se, então fora arrastado para fora, pelos braços mais uma vez e depois carregado pelo seu agressor.

Vira todos os outros pacientes em pé, com suas camisolas sujas, em uma fila de lamúrias.

Fora colocado no chão e antes que se preparasse, algumas enfermeiras se aproximaram e o despiram, e logo viraram um balde de agua fria sobre ele , o fazendo gritar de dor.

 O que desencadeou a gritaria dos outros pacientes, agitados.

Levou um chute, sem saber de qual direção, e aquilo lhe fez morder os próprios lábios, para evitar outro grito e outro castigo.

Fora esfregado, sem cuidado algum, o que fizera suas feridas voltarem a sangrar.

Sem demora, foi levado de volta, agora para uma cela menos precária, mas mesmo assim fria e sem um local para que dormisse direito.

Fora vestido por uma outra pessoa da qual não prestou atenção na face. Só prestara atenção na fina camisola que lhe fora dada, lhe deixava ainda mais com frio do que suas roupas rasgadas.

Sentou-se no chão, com dificuldade, e voltou a chorar em tom baixo, balançando-se para aquecer seu corpo.

O som do choro e gritos alheios ia aumentando gradativamente, conforme os pacientes voltavam á seus lugares.

Não notou quanto tempo se passou, mas fora novamente arrastado para fora da cela, mas desta vez preso á uma cadeira de rodas, e guiado á uma sala limpa, e pode observar algumas pessoas bem vestidas em um canto, com lenços tapando o nariz, e feições de nojo.

A cadeira fora levada proximo a um aparelho assustador que nunca havia visto e amarraram os pulsos, pernas e amordaçaram, o encostando com hastes finas de ferro.

Suas costas doíam mais do que antes, mas não conseguia ajeitar-se para nao sentir. O homem se aproximou e começou a girar uma manivela, e as hastes começaram a lhe dar choques.*

Sentiu o desespero em tentar escapar daquilo, seu medo de morrer ali, fora tão grande que desmaiou.

[Semanas depois]

Ouviu a cela ser aberta, mas não tinha coragem  para erguer o rosto, tinha medo de ser levado á mais um castigo, cada vez que dizia algo, ou olhava pedindo misericórdia, parecia despertar ainda mais a fúria dos ditos médicos do local. Seu corpo já estava repleto de feridas, não aguenta mais nada daquilo.

— Precisas se alimentar.... – ouviu uma voz suave. – Senão não aguentará correr...

— correr?... – sussurrou, finalmente olhando o rosto da pessoa que falava com ele. Era um rapaz, de cabelos curtos e olhar doce, não conseguia ver muita coisa na escuridão, mas ele parecia um dos funcionários do local.

— Sim correr... Aguenta levantar-se? – manteve o tom baixo.

Sem entender a situação, assentiu. Tendo a ajuda do rapaz.

— Vou te levar até lá fora... Enquanto isso coma isto. – entregou uma fruta, e na escuridão identificou como uma pêra. - Você correrá somente em frente, não fará nenhuma curva... Não demorará a encontrar abrigo... Mas seja discreto.

— Porque estás á ajudar-me? – questionou, temendo que de alguma forma aquela situação o levasse a mais castigos.

— Não és louco, não és assassino... Não deves continuar a ser torturado por crimes alheios.

Deixou um sorriso esboçar em seu rosto, e as lágrimas de esperança encherem seus olhos pequenos. Não conseguia imaginar que um anjo viria assim, lhe tirar daquele tormento. Suas preces haviam sido escutadas, demoraram, mas haviam sido escutadas.

Alguém ali teve compaixão por sua fraqueza, por sua inocência. E isso deixava-o aliviado.

Com esforço, seguiu atrás do funcionário, que o guiava sem se importar com o estado deplorável do garoto. Foi degustando a fruta, há estava á dois dias sem comer, e qualquer coisa seria bem vinda naquele momento.

O coração disparou ao ver o lado de fora pela primeira vez em quase três semanas trancafiado.

— Vá... Não pare por nada, não deixem o verem.... – avisou. – Manterei todos ocupados para que possa se afastar o suficiente.

— Obrigado, senhor... Obrigado por fazer isto por mim...

— Não agradeça-me, apenas siga... – apontou a direção e cambaleante o garoto seguiu, floresta adentro.

Estava livre, alguém o livrara daquela situação horrenda.

Estava livre!


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Notas finais do capítulo

~Não me matem por ser malvada com o Yuu...

*sobre a maquina que dá choques, como se passa numa epoca antiga (mesmo eu nunca tendo especificado qual) ainda não havia eletricidade. E essa parte no original ficava muito sem sentido. Então tive a liberdade poetica de fazer essa maquina 'a manivela' para que a cena continuasse ali, e não ficasse tão fora do real, espero que isso não incomode vocês. *

Enfim, agora que sabem o que aconteceu e como o nosso protagonista fofo chegou á mansão, algumas coisas vão fluir mais fácil daqui por diante!
Bom, obrigado por lerem, beijos e até amanhã ~



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