| FLASHBACK OFF |

Malfoy foi puxado de volta para a realidade, quando sentiu um gosto metálico em sua boca. Ele havia mordido tanto os lábios, que chegou a sangrar. Seu corpo estava quente. Pena que aquele calor eram apenas de lembranças, e não do corpo de Harry grudado ao seu. Percebeu que sua calça, agora, encontrava-se um pouco apertada abaixo do seu umbigo. Se mexeu na cadeira, tentando ignorar aquele desconforto, e voltou a rabiscar no pergaminho.

 “Tanto pra acertar.. O tempo pra curar.. A mágoa que ficou pra trás.. Valeu minha vida inteira.. ”

Como sentia falta de Harry. Não só do corpo do moreno, mas de tudo. Da presença. Das conversas. Das risadas. De Harry Potter. O seu Harry Potter. 

— Merda! - gritou Malfoy, batendo com os punhos fechados na mesa. Por que que tinha que ser um maldito sonserino orgulhoso? Afinal, se ele e Harry não estavam mais juntos, a culpa era dele. Bufou com raiva de si mesmo, passando as mãos pelo cabelo que, diferente de antigamente, agora se encontrava todo bagunçado.

| FLASHBACK ON |

Draco aparatou na entrada da casa de Harry, do lado de dentro. Estava cansado. Tinha sido um dia difícil no St. Mungus. Muito estresse e dor de cabeça no trabalho. Ele havia assumido o cargo de medibruxo chefe haviam 4 meses, mas ainda recebia olhares tortos pelo corredor do hospital. 

Encontrou o namorado sentado no sofá, de costas para a porta. Notou que assim que se aproximou dele, o moreno dobrou algo correndo e escondeu atrás das costas. Potter achou que tinha sido rápido e discreto o suficiente, mas óbvio que Malfoy havia notado. — O que foi, o que você tem aí? - perguntou ao da cicatriz.

Harry levantou do sofá, passou os braços em volta do pescoço de Malfoy, e abriu um sorriso gigante, tentando o distrair. — O que eu tenho aqui são saudades do meu namorado.. — disse Harry, distribuindo beijinhos pelo rosto do loiro. 

Se Potter achou que aquilo ia distrair Malfoy, estava completamente enganado. Pra falar a verdade, fosse outro dia qualquer, talvez ele  realmente conseguisse, porque Draco sempre se rendia aos seus encantados. Mas hoje não era esse dia. Então, sem fazer muita força para não machucar o outro, Draco o empurrou para o lado, e levantou as almofadas, encontrando o que havia sido escondido ali: o jornal Profeta Diário. Na primeira página, em letras gigantes, podia-se ler.

“AMOR DE VERDADE OU INTERESSE? EX-COMENSAL DA MORTE, DRACO MALFOY, UTILIZA DA INFLUÊNCIA DO SALVADOR DO MUNDO BRUXO, PARA CONSEGUIR CARGO COMO MEDIBRUXO CHEFE NO ST. MUNGUS.”

— O-o que? - Draco gritou, incrédulo, olhando para a matéria do jornal. — Eu lutei muito por essa vaga! Isso não tem nada a ver com você!

— Eu sei, meu amor.. E todo mundo que conhece a gente sabe disso.. Todo mundo sabe o quanto você estudou e correu atrás para conseguir esse cargo. - falava Potter, enquanto tentava se aproximar do outro, mas sem sucesso.

— Então de onde tiraram essa merda? - dizia Draco, andando de um lado para o outro, enquanto sacudia o jornal no alto.

— Eu não sei, Draco.. Você sabe como essa gente é maldosa.. Devia estar acostumado - falou o moreno, com sinceridade, enquanto recolhia os ombros.

Malfoy encarou Harry, e ficou em silêncio por alguns instantes. — Isso é mentira, não é, Harry? Quero dizer, eu me esforcei muito para conseguir isso.. Você não usou dessa sua faminha de salvadorzinho do mundo bruxo para eu ter privilégio nenhum, certo? Tô cansado de ser só o namorado de Harry Potter. Eu sou Draco Malfoy! - gritou o loiro quase cuspindo em tom de deboche e raiva. 

Agora foi a vez de Harry encarar Draco. Os olhos verdes pareciam estar com o tom mais forte ainda do que o normal, enquanto encarava os olhos azuis. A raiva vibrava pelo corpo de Harry. Demorou alguns segundos até Potter conseguir se controlar o suficiente para não explodir, pois apesar de ser um grifinório impulsivo, sabia como palavras ditas sem pensar, poderiam causar um grande estrago. Estava sentindo aquilo na pele aquele momento. Então, reuniu todo seu autocontrole e falou.

— Se é assim que você se sente, não entendo porque ainda está comigo então. - falou Harry, tentando manter a voz neutra, encarando Malfoy.

Vendo a expressão de mágoa no rosto do seu amado, Draco viu a merda que tinha feito. Tentou abrir a boca, mas não conseguiu produzir som nenhum. Agora foi a vez do loiro tentar se aproximar do outro, mas Harry se afastou. Ficaram se olhando alguns segundos, quando em um suspiro, Potter disse: — Acho melhor você ir embora, Draco.. 

Ouvir isso saindo da boca do homem que amava, fez Draco cair em si. Não era isso que ele pensava! Claro que não! Ele amava Harry, amava muito! Queria gritar que tinha falado tudo aquilo da boca pra fora, que estava com raiva, que seu ego estava ferido, que era um covarde. Encarou, novamente, o homem a sua frente. Ele havia magoado Harry, ele tinha certeza disso, podia ver o olhar magoado em seu rosto. Então, sem saber como lidar com a situação, Draco aparatou, deixando Harry ali sozinho.

| FLASHBACK OFF | 

As lágrimas haviam retornado para o rosto de Malfoy, e dessa vez caiam sem parar. Depois daquela briga entre ele e Harry, há 1 mês e meio atrás, Draco mandou inúmeras cartas ao (ex) namorado, mas nenhuma delas teve resposta. Com isso, nunca teve coragem de encará-lo pessoalmente. Suspirou fundo: era mesmo um covarde.

A pena voltou a deslizar pelo pergaminho.

“Não há chance de apagar.. deixa demorar.. Lembrar você é bom demais, vivemos tanta coisa. Lembra?”

Ele lembrava. Não tinha como esquecer. Terminou de escrever e ficou encarando a carta. Leu, releu. Tantas lembranças. "Merda, o que foi que eu fiz?" Um sentimento forte encheu o peito de Draco, e em um surto de coragem ele levantou da cadeira, agarrou a carta que acabara de escrever: a iria entregar pessoalmente.