P.O.V. Freya

Tia Claire saiu pela porta da sala e me vi sozinha sem nada para fazer. Meu celular estava carregando ainda e eu não estava a fim de ver nada. Liguei a TV e passei por alguns canais, sem me interessar por muita coisa. Deixei em um canal infantil onde estava passando uma série que assistia quando criança.

Entretenimento vazio parecia interessante naquele momento, ver tudo sem absorver nada.

Meus olhos então foram desviados para os livros na estante, um em especifico atraindo minha atenção: Um dos livros que vovó me emprestou.

Me levantei e peguei ele, retornando para o sofá. Me ajeitei, abaixei o volume da TV e abri o livro.

O livro era basicamente um compilado de misturas de ervas, propriedades “mágicas” de cristais, anotações sobre supostas entidades e criaturas e alguns sigilos e feitiços.

Me interessei momentaneamente nos sigilos e passei a ler suas descrições.

Um dos tais sigilos, prometia esclarecimento de sonhos e sinceramente, se tinha uma coisa que eu precisava, era esclarecimento. Precisava saber quais das muitas visões e sonhos que tive eram reais e quais eram apenas sonhos fruto do meu cérebro que tentava entender toda a confusão.

O processo era aparentemente simples, eu devia fazer um tipo de reza, desenhar o sigilo colocando a intenção e meditar com ele, mas meu medo estava em por algum motivo sumonar algum tipo de espirito ancião raivoso no processo. Eu não sei bem como essas coisas funcionam, mas vai que eu acabo possuindo um ursinho de pelúcia.

Me levantei, e fui até a cozinha, pegando uma vela e isqueiro. Na sala encontrei uma caneta e papel, peguei meu celular do carregador e junto ao livro, levei tudo para meu quarto. Eu queria privacidade.

Fechei as janelas e cortinas, posicionei a vela a minha frente, o livro aberto na página do sigilo, e o resto em volta. Deixei a luz do quarto acesa, pois parecia macabro demais apagar ela.

Parei para ver o horário e ao ver que era 21:21, me senti estranha. Foco, Freya.

Coloquei uma música de meditação no youtube, me ajeitei e comecei a reza, pedindo as coisas que eram exigidas no ritual, como clareza, sabedoria e proteção. Acendi a vela e tentei desenhar no papel, mas a caneta não pegou, risquei o canto da folha tentando obter alguma tinta, mas foi só quando risquei a palma da mão que a tinta saiu. Retornei para o papel e nada, virei a folha, tentei até mesmo rabiscar o livro, mas a tinta só saia na minha mão.

Decidi desenhar o sigilo no pulso, vencida pela frustação. Desenhei no meu pulso esquerdo e então decidi desenhar no direito também, o que foi um pouco difícil, visto que não era ambidestra, mas consegui.

Fechei os olhos tentando relaxar, do jeito que vovó havia me ensinado. Relaxei o máximo que pude, porém notei através das minhas pálpebras a luz do quarto piscando algumas vezes e então se apagando, meu coração se acelerou e quando abri os olhos, percebi que a luz realmente estava apagada. Ok, pode ter sido uma queda de energia, a luz do hospital também piscou hoje, pode estar acontecendo alguma manutenção na linha que abastece a cidade.

Voltei a fechar os olhos e a me concentrar. Relaxei o máximo que pude novamente, deixando os pensamentos virem e irem embora, tentei lembrar do símbolo, como ele se parecia e como eu gostaria de receber uma explicação para tudo que havia visto.

Senti então uma leve mudança de temperatura no ambiente que foi se intensificando aos poucos. Um vento frio parecia consumir o quarto e comecei a sentir arrepios pelo corpo. Abri os olhos e tudo parecia um pouco mais escuro, se é que isso era possível. A fonte de luz ali era a vela. Senti então um formigamento e aquecimento nos meus pulsos, na região onde o sigilo estava desenhado.

Decidi continuar o procedimento, mesmo me sentindo assustada. Tentei relaxar e pensar em coisas boas e felizes, tentei pensar em minha tia, Madelaine, vovó Alden e fui relaxando novamente, comecei a deixar os pensamentos fluírem e então lembrei dos Cullen. Lembrei levemente do que havia visto mais cedo em relação a minha vida anterior até que me senti sendo sugada para mais uma visão.

— Eu acho que posso entender porque você só se lembra de uma história – Disse o homem com pele avermelhada e olhos intensos, cheios de raiva e frustração.

A imagem balançou

— Você honestamente não sabia? - ele me perguntou, sua voz ficando áspera. - Fui eu quem te contou o que ele era?

Como que ele...

A imagem desmanchou e então tudo se retorceu.

— Você levou ela também Bella, você não tinha o direito de fazer isso – A mesma voz ecoou de lugar nenhum – Eu preciso que você volte, eu preciso voltar, nós precisamos... Não tinha que ter sido assim.

Então fora da visão ouvi um rosnado alto. Abri os olhos e dentro do quarto, uma criatura enorme, parecia um urso, porém algo me fazia ter quase certeza que era um lobo. Seu rosto era iluminado pela vela. O fogo da vela subiu em fúria, virando uma alta e fina chama que crepidava em resposta ao meu medo, minha respiração se acelerou em terror.

Fechei os olhos esperando que aquilo parasse. Tentei buscar a resposta dentro da minha mente, mas senti que o fogo estava agarrando meu pulso em um círculo eclipsado estranho, como uma mordida, não poderia ser o lobo pois 1) A mandíbula dele claramente era maior que meu braço inteiro e 2) Estava quente demais.

O fogo pareceu entrar por dentro do meu braço, se esticando por minhas veias.

— Eu sou Jacob Black – O rosto do que parecia ser o homem, porém alguns anos mais jovem apareceu - Você comprou a caminhonete do meu pai.

Subitamente, tudo pareceu se silenciar de uma vez só então.

O fogo parou, o rosnado, o frio, tudo. Abri os olhos e a chama da vela estava normal. Eu estava tremendo, sentindo meus braços e pernas pesados.

Senti então saudade, saudade do homem e sem nem saber o porquê. Pobre Jacob, o que eu havia feito a ele?

A luz do quarto se acendeu sozinha.