P.O.V Freya

O brilho forte das luzes do quarto me cegaram momentaneamente quando abri os olhos. Porque luzes de hospital deviam ser tão fortes?

— Olha só quem acordou... – Ouvi a voz de Madelaine ao meu lado esquerdo.

Respirei fundo e tentei virar minha cabeça em direção ao som, porem uma dor aguda atrás de minha cabeça me fez soltar um ganido e voltar para a posição anterior.

— Vá com calma, você no momento tem 3 pontos atrás da sua cabeça – Sua mão alcançou minha testa e ela apareceu no meu campo de visão, tampando de forma muito necessária parte da luz cegante.

— 3? Meu deus... – Soltei fechando os olhos.

— É, você meio que bateu com bastante força no chão... Mas o lado positivo é que seu cérebro tá perfeitamente bem e você não quebrou nada. O corte foi mais por ter sido no asfalto, você sabe que aquele asfalto do estacionamento é pura pedra, da pra se machucar só de tropeçar.

— Sim... O que aconteceu mesmo? Eu só... – Imagens confusas sobre a van rodando no gelo vieram até mim. Pera... Gelo? Oh sim, as imagens da visão.

— Você não lembra de nada? Talvez eu deva chamar o médico – Madelaine olhou para trás e eu vi Edward então passando rapidamente para o lado de fora do quarto. Provavelmente ele foi chamar Carlisle. Senti a ansiedade de conversar com ele. Eu tinha tantas perguntas, mas a primeira deveria ser sobre a visão. Eu tinha que ter certeza que era verdade e que não estava ficando louca ou apenas sonhando com coisas inexistentes.

— Eu lembro da van... – Virei indo pelo lado seguro, ainda parecia confuso o que pertencia a visão e o que pertencia a realidade, porém a Van era uma constante nas duas.

— Bem, você basicamente quase virou purê entre o carro do Logan e a Van descontrolada do Nate. Aquelas folhas empapadas com óleo no chão não ajudaram o freio prejudicado e os pneus meio carecas dele. Ele disse que não conseguia freiar de jeito nenhum e sinceramente ele não devia estar dirigindo um carro naquelas condições...

— Ele está bem? – Me senti preocupada com o garoto.

— Ah sim, ele ta bem machucado, mas pelo que eu soube são só cortes superficiais no rosto e nas mãos. Muitos cortes – Ela tremeu um pouco - ele sangrou uma quantia meio assustadora, ele saiu daquela van parecendo um personagem de filme de terror, mas não foi nada demais. Ele deve estar em algum canto do pronto socorro tirando os cacos de vidro ainda. Mas enfim... Edward te tirou do caminho. Ninguém viu ele exatamente perto de você, mas de acordo com ele, ele já estava caminhando até você- Bem, isso é uma mentira, eu sabia.

— Wow... – Foi a única coisa que consegui dizer.

— Wow mesmo... Ele teve que ficar tomando uns remédios para dor, mas aparentemente ele tá bem melhor que você e o Nate. Foi o único que não foi amarrado em uma maca. – Ela deu uma pausa e apertou os lábios. Então falou mais baixo: Ele ganhou uns pontos de respeito comigo, por você sabe, ter te salvo e etc – Ela parecia relutante em admitir isso.

— Acho que ele também ganhou uns pontos comigo – Eu ri, mas a dor me fez parar. Aparentemente qualquer expressão e movimento faria minha cabeça doer por enquanto.

Ouvimos duas batidas leves na porta e então Carlisle entrou sorrindo com Edward atrás de si. Meu coração poderia explodir de felicidade e alivio por estar vendo eles.

— Com licença senhoritas. – Ele sorriu seu sorriso mais amável. – Freya – Ele disse olhando minha ficha e vindo até meu lado. – Como estamos?

— Com um pouco de dor – Disse tentando me sentar, ele me ofereceu apoio então e imediatamente suas mãos frias começaram a tatear levemente minha cabeça, e me encolhi quando ele alcançou a parte mais dolorida.

— Bem tudo dentro do normal, é a região do corte que está sensível. Vou receitar um anti-inflamatório para isso, além disso, sem lavar a cabeça com shampoo e cremes, por enquanto, e se for lavar com agua, lave com cuidado, sem esfregar e de preferência use algum recipiente em vez de deixar a agua do chuveiro bater diretamente... Além da dor na cabeça, você sentiu alguma tontura? – Ele então apontou uma lanterna para meus olhos. Na minha última internação uma enfermeira simpática explicou que servia para observar a dilatação das pupilas e detectar algum problema neurológico.

— Nada, por enquanto tudo certo. – Eu disse.

— Ela esqueceu o acidente – Madelaine se enfiou na conversa, jogando sua preocupação em Carlisle.

— Ok, você sente que esqueceu de mais alguma coisa? – Carlisle voltou ao seu modo preocupado – Que dia é hoje?

— Não eu só estava confusa quando acordei, hoje é 16 de setembro, meu glorioso aniversário de 17 anos... – Revirei os olhos.

— Seu nome? – Carlisle seguiu suas perguntas.

— Freya Ward e eu não estou com amnésia.

— Onde você estava na hora do acidente?

— No estacionamento da escola, eu já lembrei do que aconteceu... – A última parte eu disse olhando para Edward que parecia se divertir com o questionário.

— Bem, parece então que tudo certo, nós vamos mantê-la aqui no entanto para observação, mas serão por apenas 12 horas, seus exames estão perfeitos – Carlisle concluiu sorrindo para mim – Em breve uma enfermeira virá para administrar mais uma dose de medicamentos.

— Obrigada – Suspirei. Eu não estava exatamente feliz de ter que ficar no hospital por 12 horas, no entanto, estava satisfeita que não seria um tempo maior ainda.

— De nada, bem, deixarei vocês agora... – Ele deixou a ficha presa ao pé da maca e então olhou para mim – Fico feliz que você esteja bem. – Eu novamente tive aquela sensação: Como se ele estivesse deixando algo nas entrelinhas. Se a visão fosse uma realidade, fazia todo sentido minha teoria.

Eu tinha tantas perguntas que me sentia perdida e quando Carlisle saiu pela porta eu senti que meu corpo estava afundando.

— Maddy... – Pedi – Você pode me dar um tempo a sós com Edward?

Ela pareceu relutante, mas concordou com a cabeça.

— Eu vou lá em baixo tomar um café... – Ela disse e então saiu do quarto, mas não sem antes parecer hesitante na porta.

Um silêncio poderoso então circulou o quarto. O único som vinha dos monitores que estavam ligados a mim. Olhei para baixo, para minhas mãos e mexi nervosamente em minhas cutículas, como se fosse algo importante.

— Ela não saiu do seu lado desde que você chegou no hospital – Edward começou sorrindo torto.

— Você... – Comecei baixo - Também não tinha saído. - Olhei para cima e Edward parecia congelado.

— Não... Entendi?

— Olha, tem duas opções aqui, ou eu estou ficando louca, o que é verdadeiramente uma opção dado tudo que aconteceu comigo no último ano... – Fiz uma pausa – Ou você sabe bem do que eu estou falando.

— Freya, você bateu a cabeça com alguma força, ainda está confusa certo? – Ele fez uma expressão de preocupação, mas não se aproximou. Abaixei meu olhar de voltar para minhas mãos, sentindo meu rosto ferver e minha garganta se embolando. Agora eu estava com raiva. Raiva de mim, raiva dele. Eu bati mesmo a cabeça? Eu estava praticamente certa do que tinha visto quando Carlisle estava dentro do          quarto, mas agora parecia que tudo estava confuso de novo.

Ele não queria que eu lembrasse? Talvez ele quisesse uma versão diferente de mim. Afinal, ele me abandonou da última vez. Meus olhos não demoraram a arder.

— Eu estou confusa? Boa pergunta Edward – Levantei meu olhar para ele, orgulhosa e inflamada – Pode ser que eu esteja confusa mesmo afinal tem tanta coisa acontecendo porque essa hora no ano passado eu estava feliz com meu aniversário de 16 anos que caiu em um domingo e minha mãe e meu pai e minha irmã estavam comigo e agora eu to PUTA da vida porque eu estou me sentindo sozinha e triste e tem um corvo me seguindo e eu estou tendo cada vez mais sonhos estranhos de uma vida que não é minha, mas que você tá lá e você... – Você é um vampiro. Você não me ama. Mas eu te amo tanto que tirei minha própria vida por não aguentar uma existência sem você. Mas aqui está você, cheio de sorrisinhos, provavelmente querendo se divertir de novo comigo e depois me jogar fora. Por Deus Edward, tudo que eu quero é você de novo, mas quantas vezes isso aconteceu conosco?

— Freya... – Ele se aproximou e segurou meu rosto delicadamente com suas mãos gélidas – Se acalme. – Seu hálito doce bateu em meu rosto, varrendo toda a ordem do meu raciocínio. Senti as lágrimas caindo. Eu não estava exatamente bem.

— Desculpe... – Podia ser confusão mesmo afinal. Eu devia estar louca.

— Eu que lhe devo desculpas, eu passei os últimos 26 anos em um inferno por ter escolhido por você – O choque percorreu todo meu corpo - Eu achei que estava te protegendo, mas acabei sendo egoísta pois eu não queria sentir dor. Eu que não queria ver você se machucando porque isso me machucaria e eu tirei sua vida. Tirei a minha também. Eu te amo com cada fibra e célula do meu ser.

Olhei para ele e o bip caótico do monitor voltou a ser o único som da sala. Ele parecia torturado e eu acredito que eu também. Nós dois éramos peças massacradas de um jogo idiota. O pior tipo de romeu e julieta. Senti então um pouco de tontura.

As luzes do quarto se enfraqueceram e voltaram a acender algumas vezes. O dia estava tão estranho que não estranharia um apagão.

— Eu preciso de remédio pra dor agora. – Disse. Teríamos outro momento para discutir isso. Edward se esticou e apertou o botão para chamar a enfermeira.

— Eles já vem trazer.

— Você não vai embora de novo, vai? Quer dizer...

— Eu só vou embora o dia que você me mandar embora – Edward me interrompeu.

— Da última vez não foi assim...

— E eu aprendi com a última vez e você pode saber que paguei por absolutamente todos os meus pecados.

O som da porta interrompeu nossa conversa.

— Olá querida, está com dor? – A enfermeira atenciosa do começo do ano entrou. Me senti feliz e triste de ver ela, tudo ao mesmo tempo, porém emoções mistas eram só um detalhe de toda a bagunça que minha vida estava virando.

— Sim, minha cabeça tá bem sensível – respondi em afirmativo. Ela então pegou dentro de um armário um vidrinho e puxou para dentro de uma seringa. Fiquei feliz em ver que ela não espetaria a agulha em mim, mas colocaria no soro que já estava ligado ao meu braço. Ela foi rápida e logo anunciou:

— Prontinho, em 5 minutos a dor vai passar, pode ser que você sinta um pouco de sonolência, mas é normal, aproveite para dormir, assim o tempo passa mais rápido. – E então ela arrumou o medicamento dentro da caixa, o guardando no armário e saiu do quarto.

Edward e eu nos mantivemos em silêncio, segurando as mãos um do outro. A estática dançava entre nós, e a troca de temperatura era mais do que bem-vinda. Nosso amor era intenso demais para explicar em palavras e caber em uma vida só e era muito difícil colocar todas as explicações e emoções que nós dois precisávamos em uma conversa só. O sono aos poucos foi me alcançando. Não era como se eu estivesse sendo sedada e forçada a dormir, era mais como um sono leve, tranquilo e acabei bocejando.

— Talvez seja melhor você dormir... – Edward disse.

Não lutei contra, apenas me deitei na maca com cuidado.

— Você vai estar aqui quando eu acordar, certo? – Pedi.

— Se essa for sua vontade, sim – Ele acariciou minha bochecha com as costas dos dedos, como se estivesse tocando algo delicado.

— É o que eu quero... – Bocejei novamente.

— Durma meu amor, eu vou estar aqui por toda a eternidade – Fechei os olhos e senti o sono me levando, mas não antes de sentir seus lábios contra minha testa – Minha Bella...