— E como era sua mãe? Se não for muito invasivo – Edward questionou enquanto eu mastigava mais um pedaço do meu hambúrguer.

Já era quinta e a segunda vez que almoçávamos juntos nessa semana. Quer dizer, que eu almoçava e Edward ficava olhando.

— Bem – Comecei depois de engolir – Fisicamente, éramos totalmente parecidas, em personalidade, ela era absolutamente adorável, um pouco brava, mas... Ela era a melhor mãe que alguém poderia ter. Ela ouvia a gente.

— Você sente falta dela pelo que vejo – Ele observou.

— Muita. E do meu pai também. – Eu senti um certo aperto no peito. Minha mãe adoraria Edward e meu pai também.

— Me fale mais dele.

— Ele era uma peça a parte – Sorri lembrando – Ele era... Um fashionista – Eu soltei a característica que sempre surpreendia a todos. Edward levantou as sobrancelhas.

— Ele trabalhava com moda?

— Não, mas ele era um amante de arte e ele tinha um olho bom para cores e padrões então se todo mundo de casa se vestia bem e se a casa é bem decorada, é tudo mérito dele. Minha mãe brincava que a melhor forma de “punir” ele – Fiz aspas com os dedos – quando ela estava irritada, era com certeza mudar a harmonia de algo. Se você visse minha mãe com uma blusa xadrez e uma calça de bolinhas verde, podia ter a certeza que ela estava brava com meu pai. – Eu ri e Edward abriu um sorriso lindo que ainda me tirava o folego. Me perguntei se algum dia eu deixaria de olhar ele assim.

— Ele chegou a trabalhar com isso? – Perguntou interessado.

— Oh não, ele dizia que a arte era um hobbie que ele não queria estragar caso tivesse um chefe ruim, o que ele tinha nos empregos que ele teve, mas ele trabalhava com TI.

— Algo bem distante...

— Sim, mas de acordo com ele, foi o que permitiu que ele criasse muito bem as 3 filhas, acho que ele não ligava muito. E eu até mesmo acredito que ele gostava. Apesar de dizer que os chefes irritantes arruinavam toda a experiência – Conclui rindo.

— Eles pareciam ser pessoas incríveis. Bem, eles criaram uma pessoa incrível. – Edward disse a última parte de uma forma um pouco mais intensa e isso me deixou corada. Me deixava confusa a forma como ele conseguia colocar tanta energia nas palavras.

— Eu acho que sim, quer dizer, eles separados eram muito bons, mas acho que o fato deles estarem junto os fazia realmente incríveis, o casamento dos dois era saudável e dada a amostra que tenho de outros amigos, parece algo um pouco raro.

— Bem, o caso dos meus pais é um caso de sucesso também, mas realmente é raro relacionamentos bons... Você sente que isso influenciou seus relacionamentos? – Oh, parece que estamos chegando em algum lugar.

— Bem, tirando as paixões platônicas, eu só tive dois relacionamentos que eu não chamaria de bem sucedidos – Disse fazendo uma careta.

— Me contaria sobre eles? – Ele pediu.

— Eu conto, mas só se você falar sobre os seus primeiro, afinal eu mereço saber algumas coisas sobre você também – Mordi meu hambúrguer quase esquecido novamente. Eu tinha certeza que ouviria quase um podcast sobre todas as garotas que foram apaixonadas por ele. Edward definitivamente não era o tipo de cara que passava despercebido e eu acredito que ele tenha tido todas as garotas que já quis em seus pés, tirando as que não chegaram a conhecer ele ainda ou as completamente insanas.

— Bem – Ele pareceu melancólico e um pouco em dúvida – Eu só tive um relacionamento – Eu entrei em choque já ai.

— Você diz tipo – interrompi ele – um relacionamento sério, mas você meio que ficou com muita gente né? – Questionei, fazendo ele levantar as sobrancelhas.

— Não, porque diz isso? – Ele pareceu preocupado.

— Olha pra você! Você é tipo, o cara que se quiser que alguma garota só precisa respirar perto dela – Eu disse e em seguida me arrependi, pois ele sorriu torto e eu virei um pimentão. Vou ter que fugir pro México e mudar meu nome para Roberto depois dessa.

— Eu tenho esse efeito em você? – Ele perguntou, apertando os olhos. Bem, pode me chamar de Roberto Gonzales desde já.

— Hãn bem uh – Tentei colocar alguma ordem nos meus pensamentos, mas só saia um monte de balbuciadas. É assim que crianças se sentem? – Você não terminou de responder minha pergunta eu te interrompi – Eu falei rapidamente e voltei a me concentrar no hambúrguer que já estava em seu fim.

— Como eu estava falando então, eu só tive um relacionamento. Mas já faz algum tempo. – Ele pareceu melancólico de novo e alguma parte de mim começou a se contorcer em ciúmes. Ele ainda gostava dela.

— Mas você ainda gosta dela. – Constatei.

Houve um momento de silêncio então, Edward parecia decidir quais palavras usar e o meu hambúrguer parecia pesar uma tonelada no meu estomago. Tomei um gole de suco para tentar empurrar a sensação de náusea.

— Eu amei ela. Verdadeiramente. E ainda amo – Ele ponderou olhando para a mesa e eu me senti acabada. Como se meu coração estivesse sendo espremido nas mãos dele. – Eu acreditei por muito tempo que nunca mais sentiria algo do tipo, ela era absolutamente tudo, mas bem. Eu também não acreditava em milagres ou santos ou nenhum tipo de Deus, mas esses conceitos todos tem mudado para mim – Ele olhou para mim novamente, algum tipo de devoção parecia queimar ele – Talvez eu possa ter uma segunda chance.

Tentei procurar alguma palavra na minha cabeça. A parte mais racional da minha cabeça só gritava que eu devia fazer uma piada como “Meu deus garoto, você só tem 16 anos, para de ser emo”, mas eu sentia que algo mais profundo estava sendo falado. As engrenagens na minha cabeça não paravam de rodar, tentando se encontrar no meio do caos.

A pele dele é tão gelada.

Senti minha vista ficar turva e voltar. Um apito leve começando a sobrar em meus ouvidos.

Todos tão lindos, não são parentes, mas são parecidos de alguma forma.

— Porque vocês terminaram? – Tentei formular a pergunta, pois Edward parecia preocupado já com meu silêncio.

Tão brancos.

Olhei em seus olhos.

Os olhos dourados.

— Ela se suicidou – Ele disse simples e pareceu mórbido.

Ela morreu a alguns anos atrás.

Bella? Mas...

Anos. Você só tem 16.

Não pode ser ela. Deve ser outra menina, eles não citaram como Bella morreu.

Os sonhos. Você precisa lembrar.

Comecei a sentir falta de ar.

— Eu sinto muito – Disse com sinceridade.

— Está tudo bem agora, como eu disse, alguns conceitos tem mudado na minha cabeça. Talvez exista uma segunda chance para todos nós – Ele sorriu docemente.

Depois disso, lembro apenas de convidar Edward para ir comigo na casa de Jonathan na sexta, mas ele recusou. O resto do dia passou como um borrão e eu me sentia enjoada.

A noite, uma cansaço me tomou e eu basicamente apaguei. Não me lembro nem mesmo de jantar. Mas meu inconsciente seguia trabalhando bravamente.

Era uma cozinha. Os armários pintados de um amarelo descascado e Edward estava sentado com os cotovelos apoiados na mesa. Eu percebi que estava vestida com uma saia cáqui comprida e horrorosa.

— Na verdade, eu tinha a impressão de que você era algo mais - eu disse olhando para a mesa.

— Bem, nós não temos que massacrá-lo com todos os detalhes agora. – Que detalhes?

— Você vai ficar? - eu perguntei. - Você vai ficar aqui mesmo?

— Até quando você me quiser - ele me assegurou. E senti meu coração se acelerando.

— Eu sempre vou querer você - eu avisei. - Pra sempre.

Pra sempre. Sempre um cordeiro idiota. Sempre voltando para você.