Flores escrita por Miss A


Capítulo 3
Girassol




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Não me virei para ver quem era que abria a porta da estufa.

O único que me perturbava ali era James.

— O que você está fazendo?

— Só algumas anotações.

James espiou por sobre os meus ombros.

— Já usou o seu excremento de unicórnio?

— Não ainda, mas vou usar com as minhas sementes de ervas azuis – Sorri para ele, mesmo que ele não entendesse minha empolgação.

— Você parece animada.

— Ervas azuis e excremento de unicórnio são extremamente raros e eu tenho os dois, James. Os dois.

— Incrível.

Revirei os olhos.

— Qual é a ideia afinal?

— Erva azul serve para poções de cura, suas folhas são bem poderosas. O excremento do unicórnio potencializa essas propriedades curativas. Junte os dois e...

— Cura para licantropia?

— Quem sabe? Como esses ingredientes são raros não há muito na literatura. Quero criar uma poção e escrever um artigo sobre até onde os poderes de cura desses dois componentes podem ir.

— Parece incrível, mas como você vai testar isso?

— Vou deixar um cérbero me morder.     

Ele ergueu as sobrancelhas.

— Você está brincando, não é?

Eu ri.

— É claro, James. Eu não sou uma lunática.

— Às vezes não tenho certeza.

— Acho que vou procurar por um lobisomem durante a lua cheia, você topa?

— Melhor programa para o fim de semana.

Sorri.

— Ainda não pensei nessa segunda parte do plano, mas em último caso eu posso te deixar ser pisoteado por centauros.

— Você está muito engraçadinha.

— Estou de bom humor.

— Que estranho.

Empurrei o seu ombro.

— Eu deveria te deixar à mercê do meu arbusto tremulante.

— Isso é algum tipo de metáfora?

— Não. É uma planta que dispara espinhos.

Ele olhou ao redor, procurando-a.

— Por que você tem isso aqui?

— Eu não tenho – Menti.

Ele estreitou os olhos, sabia que eu estava mentindo.

— Plantas venenosas são incompreendidas pelos bruxos.

— Disse a amante das plantas. 

Ignorei sua tentativa fracassada de ofensa.

— O que você está fazendo aqui?

James cruzou os braços e se encostou na bancada.

— Vim te oferecer ajuda.

— No que?

— No que você quiser.

Geralmente, eu negaria qualquer tipo de ajuda, mas o meu bom humor precisava de companhia.

— Já que você está sendo tão generoso assim, vou aceitar.

— O que você quer que eu faça?  

— Lily quer lírios – Falei, enquanto abria a gaveta para pegar as sementes – E não são lírios de fogo.

— Por que ela iria querer lírios de fogo? 

— Por que ela não iria querer?

— Porque eles cospem fogo?

— Eu vejo como um charme. Pegue dois vasos de tamanho pequeno – Pedi, enquanto colocava o saco de terra na mesa.

— Esses são bons? – Ele me passou um dos vasos.

— Perfeitos.

— Não acredito que você vai me deixar tocar nas suas plantas.

— Você vive por aqui, está na hora de ajudar.

— Eu só me ofereci dessa vez. Posso colocar a terra?

— Pegue o excremento de dragão antes.

— Essa coisa fede.

— É excremento. Você queria que cheirasse a flores? 

— Eu queria que não cheirasse a nada.

— Você vai precisar misturar com a terra.

— Sério?

— Sério. Misture com a mão.

Observei, tentando não rir, quando James começou a misturar. Sem luvas.

Nojento.

— Talvez fosse melhor você usar uma luva?

Ele me olhou, indignado.

— Por que você não me disse antes?

Eu ri.

— Pensei que fosse óbvio!

Ele bufou e foi lavar as mãos na pia.

— Por que Lily quer lírios mesmo?

— Porque ela não ia querer flores?

— Ela é alérgica.

— Ela quer presentear uma garota com algo que a faça se lembrar dela.

Ele revirou os olhos.

— Quem é a garota?

— É uma garota da sonserina que eu não conheço.

— Qual o nome?

— Não lembro.

— Você é péssima em fofocas, Rose. 

— Não tenho culpa se minha memória escolhe lembrar-se de coisas mais importantes.

— Como o nome científico da mandrágora?

— Ou quando você vomitou no Albus no seu primeiro porre.

Ele torceu o nariz.

— Eu só me lembro da sensação iminente de morte. Não é uma boa memória.

— Me faz rir até hoje.

— Você é meia sádica, Weasley.

— Claro que não. Minha personalidade é como a de uma margarida.

— Margaridas têm personalidade?

— O que você pensa quando olha para uma margarida? – Apontei para o vaso de margaridas que estavam na janela.

— Eu penso em... gentileza. Mas você não é gentil.

Estreitei os olhos.

— É claro que eu sou.

— Eu só estava brincando – Ele sorriu – Você é, mas não é a sua característica mais forte.

— De fato. Para ser gentil tem que ter algum manejo social.

— Exato – Ele riu.

— As margaridas não precisam de muito para florescer. Elas se contentam com o simples. Eu gosto disso.

— Então, são margaridas que você daria para o crush?

Rolei os olhos.   

— E você?

— Eu o que?

— Não se faça de desentendido.

— Eu acho que... narcisos? Por causa do mito grego. Narciso era bem gostoso.

— Assim como você?

— Obrigada pelo elogio – Ele piscou.

Tentei não sorrir, mas foi impossível.

— Acho que você seria mais um girassol.

— Por que eu sou alto e bonito?

— É o girassol que segue o sol ou será que é o sol que segue o girassol?

— É um enigma?

Não respondi, só sorri e voltei a mexer na terra.

Era hora de encher os vasos.

— Você vai me explicar porque eu sou um girassol?

Girassóis eram grandiosos. Imponentes. Atraiam todos os olhares para si.

— E precisa de explicação, James?

— Claro, eu quero que você alimente o meu ego.

— Achei que o seu ego fosse autossuficiente.

— Você me subestima. Eu tenho sentimentos, sabe, Rose.

— Sério? - Ironizei.

Ele ergueu as sobrancelhas.

— Você realmente não me leva a sério.

Mordi o lábio para não sorrir.

— Você quer ser levado a sério?

— Por você? Eu meio que quero.

Era uma resposta com ambiguidade.

Eu ri para esconder meu desconforto e algo além que eu ainda não conseguia identificar.

— Pode colocar as sementes agora – Falei, enquanto procurava minha poção de crescimento para plantas.

— Você sabia que lírios são venenosos? – Voltei a falar, procurando um assunto mais neutro.

— Lily quer envenenar a garota?

— Claro que não. A flor só é nociva se você a mastigar.

— Uma vez conheci um garoto que comia pétalas.

— Não é o caso... Acho. E se Lily quisesse envenenar alguém, eu lhe daria uma beladona e não lírios.

— É bom saber que você apoia a minha irmã até em envenenamentos.

— Hipoteticamente falando – Corrigi-me e dei um sorriso amarelo.

Pinguei algumas gotas da poção nos dois vasos.

— E agora?

— Nós esperamos.

— Quanto tempo?

— Vinte e quatro horas.

— O que? Achei que seriam cinco minutos.

Segurei o riso.

— É magia, não é milagre de natal.

— Eu nunca vi um milagre de natal.

— Nem eu.

— Sendo assim, será que eles não são lentos?

Maneei a cabeça.

— Talvez.

— O que a gente faz enquanto esperamos as flores ficarem com vontade de crescer?

— Você quer plantar a erva azul comigo?

— É seguro?

Eu ri com gosto.

— Eu não vou te matar, James.

— Você não, mas as suas plantas parecem serem capazes de tudo.

— As “perigosas” – fiz aspas no ar – Estão lá em cima. Além disso, elas estão protegidas.

A estufa tinha um segundo andar, onde eu deixava as plantas menos...sociáveis.

— Não são elas que precisam ser protegidas.

— Pensei que você fosse corajoso, grifinório.

— Eu sou, mas eu prezo pela minha vida.   

— Eu prometo que sua vida estará segura.

James estreitou os olhos, provavelmente duvidando da minha sinceridade.

— Não acredita em mim?

— Eu costumo ser enganado por rostos bonitos.

Rolei os olhos.

— Pobre, James.

— É sério. Eu não bom em ler as pessoas.

— É por isso que eu prefiro plantas. Bem mais fáceis de entender.

— Mas são o suficiente?

— Depende.

— Do que?

— Do meu humor.

— Isso explica porque você me deixou ficar aqui a tarde inteira e ainda tocar nas suas plantas.

— É que as plantas não riem das minhas piadas.

— Nem humanos riem das suas piadas, Rose.

Escancarei a boca dramaticamente.

— Acho que é hora de você ir embora, Sirius.

James riu.

— Eu vou... Mas só porque estou com fome. Vou trazer algo para você – Ele se aproximou e roçou um dedo na minha bochecha. Fiquei confusa, mas percebi que estava só tirando resquícios de terra – Volto já.

— Bem, já que você vai voltar com comida, vou abrir uma exceção e deixar você entrar. 

— Admita, Rose. Eu sou melhor do que suas plantas.

— Eu não usaria a palavra melhor. Tão bom quanto, talvez.

— Eu sei que você só não quer dizer em voz alta para que elas não escutem.

Dei um leve empurrão nele.

— Vá buscar nossa comida logo, James, ou eu vou ser sufocada pelo seu ego.

Ele saiu rindo.

Provavelmente feliz por ter tido o ego massageado.

 


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