Flores escrita por Miss A
Não me virei para ver quem era que abria a porta da estufa.
O único que me perturbava ali era James.
— O que você está fazendo?
— Só algumas anotações.
James espiou por sobre os meus ombros.
— Já usou o seu excremento de unicórnio?
— Não ainda, mas vou usar com as minhas sementes de ervas azuis – Sorri para ele, mesmo que ele não entendesse minha empolgação.
— Você parece animada.
— Ervas azuis e excremento de unicórnio são extremamente raros e eu tenho os dois, James. Os dois.
— Incrível.
Revirei os olhos.
— Qual é a ideia afinal?
— Erva azul serve para poções de cura, suas folhas são bem poderosas. O excremento do unicórnio potencializa essas propriedades curativas. Junte os dois e...
— Cura para licantropia?
— Quem sabe? Como esses ingredientes são raros não há muito na literatura. Quero criar uma poção e escrever um artigo sobre até onde os poderes de cura desses dois componentes podem ir.
— Parece incrível, mas como você vai testar isso?
— Vou deixar um cérbero me morder.
Ele ergueu as sobrancelhas.
— Você está brincando, não é?
Eu ri.
— É claro, James. Eu não sou uma lunática.
— Às vezes não tenho certeza.
— Acho que vou procurar por um lobisomem durante a lua cheia, você topa?
— Melhor programa para o fim de semana.
Sorri.
— Ainda não pensei nessa segunda parte do plano, mas em último caso eu posso te deixar ser pisoteado por centauros.
— Você está muito engraçadinha.
— Estou de bom humor.
— Que estranho.
Empurrei o seu ombro.
— Eu deveria te deixar à mercê do meu arbusto tremulante.
— Isso é algum tipo de metáfora?
— Não. É uma planta que dispara espinhos.
Ele olhou ao redor, procurando-a.
— Por que você tem isso aqui?
— Eu não tenho – Menti.
Ele estreitou os olhos, sabia que eu estava mentindo.
— Plantas venenosas são incompreendidas pelos bruxos.
— Disse a amante das plantas.
Ignorei sua tentativa fracassada de ofensa.
— O que você está fazendo aqui?
James cruzou os braços e se encostou na bancada.
— Vim te oferecer ajuda.
— No que?
— No que você quiser.
Geralmente, eu negaria qualquer tipo de ajuda, mas o meu bom humor precisava de companhia.
— Já que você está sendo tão generoso assim, vou aceitar.
— O que você quer que eu faça?
— Lily quer lírios – Falei, enquanto abria a gaveta para pegar as sementes – E não são lírios de fogo.
— Por que ela iria querer lírios de fogo?
— Por que ela não iria querer?
— Porque eles cospem fogo?
— Eu vejo como um charme. Pegue dois vasos de tamanho pequeno – Pedi, enquanto colocava o saco de terra na mesa.
— Esses são bons? – Ele me passou um dos vasos.
— Perfeitos.
— Não acredito que você vai me deixar tocar nas suas plantas.
— Você vive por aqui, está na hora de ajudar.
— Eu só me ofereci dessa vez. Posso colocar a terra?
— Pegue o excremento de dragão antes.
— Essa coisa fede.
— É excremento. Você queria que cheirasse a flores?
— Eu queria que não cheirasse a nada.
— Você vai precisar misturar com a terra.
— Sério?
— Sério. Misture com a mão.
Observei, tentando não rir, quando James começou a misturar. Sem luvas.
Nojento.
— Talvez fosse melhor você usar uma luva?
Ele me olhou, indignado.
— Por que você não me disse antes?
Eu ri.
— Pensei que fosse óbvio!
Ele bufou e foi lavar as mãos na pia.
— Por que Lily quer lírios mesmo?
— Porque ela não ia querer flores?
— Ela é alérgica.
— Ela quer presentear uma garota com algo que a faça se lembrar dela.
Ele revirou os olhos.
— Quem é a garota?
— É uma garota da sonserina que eu não conheço.
— Qual o nome?
— Não lembro.
— Você é péssima em fofocas, Rose.
— Não tenho culpa se minha memória escolhe lembrar-se de coisas mais importantes.
— Como o nome científico da mandrágora?
— Ou quando você vomitou no Albus no seu primeiro porre.
Ele torceu o nariz.
— Eu só me lembro da sensação iminente de morte. Não é uma boa memória.
— Me faz rir até hoje.
— Você é meia sádica, Weasley.
— Claro que não. Minha personalidade é como a de uma margarida.
— Margaridas têm personalidade?
— O que você pensa quando olha para uma margarida? – Apontei para o vaso de margaridas que estavam na janela.
— Eu penso em... gentileza. Mas você não é gentil.
Estreitei os olhos.
— É claro que eu sou.
— Eu só estava brincando – Ele sorriu – Você é, mas não é a sua característica mais forte.
— De fato. Para ser gentil tem que ter algum manejo social.
— Exato – Ele riu.
— As margaridas não precisam de muito para florescer. Elas se contentam com o simples. Eu gosto disso.
— Então, são margaridas que você daria para o crush?
Rolei os olhos.
— E você?
— Eu o que?
— Não se faça de desentendido.
— Eu acho que... narcisos? Por causa do mito grego. Narciso era bem gostoso.
— Assim como você?
— Obrigada pelo elogio – Ele piscou.
Tentei não sorrir, mas foi impossível.
— Acho que você seria mais um girassol.
— Por que eu sou alto e bonito?
— É o girassol que segue o sol ou será que é o sol que segue o girassol?
— É um enigma?
Não respondi, só sorri e voltei a mexer na terra.
Era hora de encher os vasos.
— Você vai me explicar porque eu sou um girassol?
Girassóis eram grandiosos. Imponentes. Atraiam todos os olhares para si.
— E precisa de explicação, James?
— Claro, eu quero que você alimente o meu ego.
— Achei que o seu ego fosse autossuficiente.
— Você me subestima. Eu tenho sentimentos, sabe, Rose.
— Sério? - Ironizei.
Ele ergueu as sobrancelhas.
— Você realmente não me leva a sério.
Mordi o lábio para não sorrir.
— Você quer ser levado a sério?
— Por você? Eu meio que quero.
Era uma resposta com ambiguidade.
Eu ri para esconder meu desconforto e algo além que eu ainda não conseguia identificar.
— Pode colocar as sementes agora – Falei, enquanto procurava minha poção de crescimento para plantas.
— Você sabia que lírios são venenosos? – Voltei a falar, procurando um assunto mais neutro.
— Lily quer envenenar a garota?
— Claro que não. A flor só é nociva se você a mastigar.
— Uma vez conheci um garoto que comia pétalas.
— Não é o caso... Acho. E se Lily quisesse envenenar alguém, eu lhe daria uma beladona e não lírios.
— É bom saber que você apoia a minha irmã até em envenenamentos.
— Hipoteticamente falando – Corrigi-me e dei um sorriso amarelo.
Pinguei algumas gotas da poção nos dois vasos.
— E agora?
— Nós esperamos.
— Quanto tempo?
— Vinte e quatro horas.
— O que? Achei que seriam cinco minutos.
Segurei o riso.
— É magia, não é milagre de natal.
— Eu nunca vi um milagre de natal.
— Nem eu.
— Sendo assim, será que eles não são lentos?
Maneei a cabeça.
— Talvez.
— O que a gente faz enquanto esperamos as flores ficarem com vontade de crescer?
— Você quer plantar a erva azul comigo?
— É seguro?
Eu ri com gosto.
— Eu não vou te matar, James.
— Você não, mas as suas plantas parecem serem capazes de tudo.
— As “perigosas” – fiz aspas no ar – Estão lá em cima. Além disso, elas estão protegidas.
A estufa tinha um segundo andar, onde eu deixava as plantas menos...sociáveis.
— Não são elas que precisam ser protegidas.
— Pensei que você fosse corajoso, grifinório.
— Eu sou, mas eu prezo pela minha vida.
— Eu prometo que sua vida estará segura.
James estreitou os olhos, provavelmente duvidando da minha sinceridade.
— Não acredita em mim?
— Eu costumo ser enganado por rostos bonitos.
Rolei os olhos.
— Pobre, James.
— É sério. Eu não bom em ler as pessoas.
— É por isso que eu prefiro plantas. Bem mais fáceis de entender.
— Mas são o suficiente?
— Depende.
— Do que?
— Do meu humor.
— Isso explica porque você me deixou ficar aqui a tarde inteira e ainda tocar nas suas plantas.
— É que as plantas não riem das minhas piadas.
— Nem humanos riem das suas piadas, Rose.
Escancarei a boca dramaticamente.
— Acho que é hora de você ir embora, Sirius.
James riu.
— Eu vou... Mas só porque estou com fome. Vou trazer algo para você – Ele se aproximou e roçou um dedo na minha bochecha. Fiquei confusa, mas percebi que estava só tirando resquícios de terra – Volto já.
— Bem, já que você vai voltar com comida, vou abrir uma exceção e deixar você entrar.
— Admita, Rose. Eu sou melhor do que suas plantas.
— Eu não usaria a palavra melhor. Tão bom quanto, talvez.
— Eu sei que você só não quer dizer em voz alta para que elas não escutem.
Dei um leve empurrão nele.
— Vá buscar nossa comida logo, James, ou eu vou ser sufocada pelo seu ego.
Ele saiu rindo.
Provavelmente feliz por ter tido o ego massageado.
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