Too Late escrita por ro_dollores


Capítulo 5
Capitulo 5




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Catherine estava uma pilha de nervos, maldita hora para afastar Grissom do caos que estava acometendo o laboratório. Apesar de estar com um humor dos infernos, qualquer um admitiria que ele era a base rígida daquele lugar, a cabeça mais extraordinária que conhecia! Ter um trabalho como aquele não era para mentes medianas, ou você era um quase gênio, ou fora! E Grissom estava acima de qualquer um ali, ele era o próprio gênio! 

Toda aquela qualificação não o fazia arrogante, ele era discreto, quase nunca saía da linha, não gastava energia com asneiras e, talvez aquele fosse o ponto! Pela centésima vez ela só queria que ele saísse fora de sua armadura de homem da ciência e vivesse o mundo lá fora! Ela queria que ele bebesse de vez em quando, fizesse alguma loucura desvairada ou tivesse um hobby como qualquer pessoa normal. Mas não ele! 

Naquela noite ele destratou Nick, ignorou Greg ao invadir a cozinha e tomar seu café havaiano, que ele guardava a sete chaves e pulverizou as tentativas dela em descobrir o que realmente estava o devorando. Ele estava ácido, amargo e parecia tão sem paciência que ela teve vontade de lhe dar um safanão. 

Ele havia solicitado, ou era melhor dizer, exigido sua presença em sua sala para jogar a bomba que era sua ausência por tantos dias! Talvez ele até precisasse de novos ares, mas o momento era tão inoportuno. Por fim, decidiu que ele estava mais do qualificado para a tarefa, só lhe restava rezar aos céus para que ele valorizasse o tempo fora e repensasse sua falta de jeito que estava minando o bom convívio.

Ela estava aliviada por saber que Sara estaria de volta. 

Pensar nela trouxe um aviso luminoso em sua mente, ele estava diferente desde o primeiro dia de sua ausência. 

Catherine tinha um faro apurado, alguma coisa estava o incomodando, ela ia calibrar seu radar, prestar mais atenção na relação deles, a resposta talvez estivesse mais perto do que imaginava

Assim que ela estacionou o Prius, a primeira coisa que notou foi a ausência do sedã prata de Grissom, sua vaga estava livre.

Ela entrou e foi recepcionada por todos, um salve, um olá mais efusivo, abraços e votos de boas vinda.

“Você parece bem …”

“Sim … estou bem. Dar um tempo me ajudou a organizar algumas coisas. Energia renovada, Cath!”

“Bem … você chegou e Gil … se foi, ele estará fora por três semanas, vai liderar um  seminário de atualização e um caso em tempo real. Isso trará, quem sabe, um sopro de paz na acidez dele. Está insuportável.”

Catherine estava atenta à reação dela e o peixe fisgou no anzol. Não foi com surpresa que notou o esforço para parecer natural, toda aquela tensão em seu maxilar, os olhos que reagiam ao simples nome dele.

Sara desviou sua atenção para a mesa na sala de descanso, os meninos estavam sentados, esperando suas atribuições, rindo de alguma coisa que Greg estava falando. Ela não disse uma só palavra!

“Vamos trabalhar …”

Os casos chegaram aos montes, e eles se envolveram completamente, o nome de Grissom foi dito dezenas de vezes, e ela imaginou se o mesmo havia acontecido com a ausência dela. Ela só queria trabalhar e fazer seu melhor e, se pudesse não ficar ouvindo o nome dele a cada segundo, seria muito mais confortável!

Ao finalizar naquela manhã, ela só queria ir para casa e dormir, o cansaço físico era mínimo diante do emocional, mesmo com suas baterias recarregadas.

Calebe foi empurrado para o fundo de suas prioridades, com tanto trabalho, ela mal teve tempo de jogar suas frustrações no relacionamento recente. Enquanto aguardava sua embalagem do café da manhã para viagem, ela se surpreendeu com o arranjo que seu coração estava tentando. Ele não era uma fuga, usar uma vida para cobrir a outra, um esforço para cobrir um fracasso só dava certo quando pessoas não estavam em causa.

Ela sabia que teria muitos momentos como aquele e apenas fingir que não existiam, não ia dar certo. 

Grissom precisava deixar de ser, trabalhando um dia após o outro, sua esperança era que os degraus para Calebe seriam conquistados passo a passo. Ela desenhou uma escada mental e se viu conseguindo o primeiro , mas se desequilibrando quando barrava em uma verdade indiscutível, ela ainda o amava!

Enquanto ainda dirigia de volta para casa, ela ouviu seu telefone. Ela leu o nome de Calebe e esperou até que chegasse em casa.

Depois de estacionar ela ligou de volta.

“Oi querida …”

“Oi … forasteiro!”

“Ainda no laboratório? Como foi seu turno?”

“Chegando em casa … foi o de sempre ...uma loucura! E você?”

“Tive alguns problemas que os seguranças resolveram logo, o de sempre.” - ele repetiu a fala dela e apertou o canto dos olhos com o polegar e o indicador. O problema não tinha sido tão rotineiro, foi um pouco além e ele estava estressado, mas nada como ouvir a voz dela. - “Vou deixar que descanse, quando puder me retorne, após o almoço começarei a preparar as peças. Vão ficar ótimas!”

Ele bem que tentou um tom entusiasta mas não conseguiu.

“Você está bem … parece cansado!”

“Estou cansado, estressado e soltando fogo pelas orelhas …” - ele ouviu um pequeno riso gostoso do outro lado e riu também. - “... tenho certeza que imaginou isso não foi?”

“Sim …” - não tinha como disfarçar.

“Vou te perdoar desta vez … porque você é linda …”

“Então da próxima não serei linda?”

“Continuará linda, mas com problemas!”

“Ai meu Deus, estarei em apuros … vou dar uma passada mais tarde, posso? Mas será rápido, não quero atrapalhar!”

“Você pode me ver quando quiser … sempre!”

“Mas não é pra te ver … quero saber das minhas peças …”

Grissom saiu do auditório para se encaminhar ao seu dormitório quando ouviu seu nome.

Ele estava um tanto esgotado, com a viagem, a carga emocional de todo início de trabalho, e sua mão estava doendo muito. Sua boa sorte era que ele usava as duas mãos quase em igual capacidade, então se virou devagar para ver uma garota que deveria ter no máximo 20 anos, andando apressadamente em sua direção. 

“O que houve com sua mão?”

“Um acidente!”

“Eu … posso fazer um pedido? Será que pode dar uma olhada em meu material, são pouco mais que cinco páginas …”

Ele ergueu suas sobrancelhas, e olhou para o lado, depois para a garota, quase juvenil.

“Material?”

Ela tinha um olhar profundamente intimidante, era como se quisesse atravessar sua alma. Ele achou estranho porque não havia notado nenhum tipo de interação dela durante suas apresentações.

“Sim … sobre as mais diversas evidências físicas, categorizadas em três intervalos: antemortem, perimortem e postmortem. Eu … tenho algumas ideias e conclusões, seria interessante que me desse sua opinião. Espero por isso há anos, eu … já li todos seus artigos, tenho todos os seus livros, eu … confesso que … estou muito nervosa por falar com você, doutor Gilbert Grissom!

Ele não tinha ideia de como conduzir aquela interação, ela parecia realmente ainda estar na adolescência, sua maneira de olhar para ele era constrangedora, tinha a impressão que ela estava perto demais, e dizer sobre nervosismo não parecia de todo verdadeiro, não era o que aparentava e ele sabia muito bem “interpretar” pessoas. A deficiência dele estava apenas quando uma certa pessoa estava em causa.

“Você … sabe … que temos … um programa on line, basta acessar o link que receberam na inscrição e … interagir …”

“Eu posso insistir para que dê pelo menos uma olhada … eu posso se quiser, ir ao seu dormitório!”

“Não … desculpe mas não funciona desta forma …”

Ela deu um passo em sua direção, se aproximando ainda mais, se é que havia espaço, mais alguns centímetros e ela poderia beijar seu queixo!

“Você pode abrir uma exceção … posso fazer valer a pena!”

Ele olhou ao redor, o campus estava vazio.

“Sem exceção, eu preciso ir …” - ele foi taxativo e se virou para continuar seu caminho.

“Não vou desistir tão fácil, te vejo amanhã!”

Era só o que faltava! Suas apresentações tinham sido, em sua concepção, satisfatórias e muito bem aceitas pelo seu público, ele estava verdadeiramente realizado, este era seu objetivo, não havia nada além! Uma criança! Ele balançou a cabeça e fechou a porta, imediatamente seu pensamento foi para Vegas. 

Sara estaria de volta, ele sabia que com ela, as coisas eram mais dinâmicas, todos seus subordinados eram extremamente capacitados, mas ela tinha algo que se alinhava com ele, sua mente funcionava em perfeito acorde. Como tinha sido sua volta?

“Está ficando tudo tão lindo, Calebe!”

Ele bicou seus lábios e segurou em sua mão para que desse uma boa olhada nos detalhes primorosos da mesa lateral que ele acabara de eliminar os últimos resquícios de tinta velha.

“Olhe bem de perto os desenhos geométricos que estavam ocultos sob as camadas grosseiras de demãos mal feitas.”

Ela notou pequenos detalhes que lembravam uma mandala. 

“Acho que nem mesmo o vendedor notou isso, com certeza é um mobiliário indiano, minha mãe saberia te dizer imediatamente.”

Ela olhou para ele disfarçando a surpresa que aquela frase causou. Não queria conhecer a mãe dele, ainda era cedo, tudo ainda era muito cedo. Nem sequer sabia se as coisas dariam certo, ela tinha certeza que ele pensava da mesma forma e ela esperava sinceramente, que tinha sido apenas um comentário casual.

“Se quer saber, podemos mudar para deixar a cor natural do carvalho, apenas um selador fosco, que combinaria com o branco que você quer para o armário da sala, ia dar um toque contemporâneo.”

“Gostei da ideia … o vidro fosco tiraria o detalhe tão rico!”

“Sem vidro, a não ser que troquemos por um transparente com uma espessura mais fina, ia valorizar ainda mais.!”

“Feito! Você é bom!”

“Sou bom em muitas coisas …”

Ela o empurrou com o ombro e tocou em seu nariz.

“Convencido!”

Sara o ajudou em algumas pequenas tarefas, depois esperou que ele tomasse um banho, enquanto fazia uma jarra de suco de laranja.

“O cinema está de pé, não é? Você acha que podemos nos ver antes de sábado?” - Ele saiu do banheiro vestindo calças de brim e uma camiseta preta, os cabelos molhados e um cheiro bom de colônia amadeirada. 

“Eu não sei … o trabalho no laboratório está um tanto atropelado sem Grissom e…”

“Onde ele está?”

“Em um seminário …” 

Calebe se sentia estranho quando ela pronunciava o nome dele, a maneira como fluía de seus lábios era tão diferente. Não era paranóia de sua cabeça e ele não queria sentir aquilo, era só que estava fora de seu controle. 

Ele sabia bem o que Grissom sentia por ela, isso o incomodava, mas por outro lado, ele é quem estava invadindo o espaço confortável que o CSI possuía. Ele tinha Sara por perto, era um tanto covarde, era fato, mas com ela tão próxima, que riscos ele correria? Em algum momento ele ia ser obrigado a tomar coragem, e esperava sinceramente que Sara estivesse com os pés mais para o lado dele da linha de embate, do que de seu supervisor! Na verdade, Calebe teria que ser um estrategista se quisesse a morena dentro de seus braços e teria que ser por vontade própria.

Ele tinha uma vantagem, ser o que ele era, simplesmente! Honesto, oferecer segurança, e colocar Sara acima de qualquer prioridade. O tempo ajudaria construir sua fortaleza, mas acima de tudo, tinha que deixar o portão sem trancas, prender uma mulher como Sara não seria inteligente, e no jogo mental com um cara tão espetacular como Grissom, ele precisava se superar.

Ele concordou consigo mesmo que insistir no passo a passo era a melhor maneira de cruzar a linha de chegada. Ela era seu desafio, mas não era um brinquedo, ele tinha se apaixonado por ela imediatamente, muito diferente de qualquer outra mulher por quem havia se envolvido. Ela era verdadeiramente uma pedra preciosa!

“O que foi?”

“Hã?”

“Você parece distante …”

“Não … apenas …”

“Cansado, não é? Eu vou embora … nos falamos mais tarde …”

“Hei ….” - Sara foi puxada para dentro de seus braços e beijada profundamente. - “Eu estou feliz que esteja aqui … pode parar com isso …”

“Você cheira bem …”

“Você também …”

Calebe acariciou suas costas e a beijou mais uma vez. 

Sara estava começando a gostar bem mais do apenas ter a presença dele, era um entusiasmo que poderia facilmente se transformar em desejo.

Ele acariciou seu pescoço com o polegar e ela se arrepiou.

“Hum … seu ponto fraco …”

Ela não respondeu e atacou os lábios com certa volúpia, ela tinha o pescoço sensível demais, e não se responsabilizava pelas consequências se continuasse com seus carinhos.

“Calebe … querido, você está aí?”

Eles se separaram imediatamente como se tivessem fazendo algo errado.

“Minha mãe!”

Sara imediatamente foi até a pia e começou a mexer no suco de laranja, Calebe foi ao encontro de sua mãe, que estava no meio do jardim, olhando para as peças.

“Onde conseguiu isso? É maravilhoso.”

“Não é meu …”

“Eu fiz a torta que você ama, trouxe as meninas na natação e resolvi dar uma passadinha …”

“Veio me espionar, não é? Como vê está tudo em ordem … estou com …”

“Você disse que não é seu … mas é uma belezura essa mesa … adorei, esses detalhes … parece uma peça vintage.” - Ela virou de cabeça para baixo e logo descobriu. - “Bangladesh.” - Sara percebeu que ela gostava de falar, mal deixava ele concluir suas frases. Ela riu, mas estava nervosa.

Quando Sara se virou, ele estava ao lado dela, a puxando pelo braço, enquanto sua mãe ainda estava no quintal.

“Sei que é um pouco de surpresa, desculpe, mas não vou te esconder …” - ele pegou em sua mão e a levou até ela. - “Mãe, esta é a Sara … nós estamos nos conhecendo …”

Ela recebeu a notícia com muita surpresa, as reaçẽes ficaram suspensas por segundos, logo a mãe dele estava com um sorriso largo, a abraçando efusivamente.

“É um prazer conhecer você, sou Susan, seja bem vinda …”

“O prazer é todo meu, Susan.”

“Esse danadinho não me disse nada …”

“É como disse , mãe … estamos nos conhecendo e tem sido muito bom …”

Sara ficou corada sem saber o que dizer.

“Oh querida … você vai se acostumar com essa espontaneidade dele.”

“Eu já estou me acostumando.”

O telefone dela tocou e ela pediu licença para atender.

“Oi Sara … nós estamos em frente à sua porta, onde você está?”

“Oi Nick … precisei sair …”

“Nós voltaremos outra hora …”

“Nem pensar, podem me esperar, estarei aí em pouco tempo!”

Ela se virou para Calebe e Susan.

“Desculpe, alguns amigos estão me esperando … sinto muito!”

“Tudo bem … gostei de você … espero nos vermos mais vezes …”

“Com certeza.”

Calebe a acompanhou até seu carro.

“Os meninos estão me esperando, uma visita surpresa …”

“É legal isso … vá sem culpa … eu ...peço desculpas por conhecer minha mãe dessa maneira, não era assim que gostaria que fosse …”

“Não foi culpa sua …”

Ele segurou em suas mãos e beijou cada uma delas.

“Vá com cuidado … querida … nos falamos mais tarde …”


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