Too Late escrita por ro_dollores


Capítulo 4
Capitulo 4


Notas iniciais do capítulo

Tentando ...



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Sara decidiu que daria total atenção ao seu novo apartamento e não parou um segundo. Ela não queria admitir que beijar Calebe tinha sido em parte, um sentimento de agradecimento, mas também prevaleceu sua vontade. Ela sentiu a facilidade que aquele contato poderia acontecer e não se desviou dele. Mas tinha uma pequena voz dentro dela, aquela bem lá no fundo que a confundia.

O tempo gasto no chuveiro a fez pensar e repensar se estava mesmo pronta para assumir algo mais com ele. Ela amava seu supervisor, mas o momento recente era que ela não deveria. Se havia um antídoto que pudesse aplicar em si, seria alguém como Calebe. Se seu romance com ele iria progredir, ela não sabia.

No balanço de tudo, tinha uma certeza. A qualidade de vida dela havia melhorado consideravelmente. Isso era um fato claro e não havia espaço para dúvidas!

Se Calebe quisesse, ela levaria adiante a tentativa de se apaixonar por ele.

Ela estava em seu novo sofá, usando um programa de simulação de ambiente. A parede destinada ao novo armário baixo ficaria ótima. Ela tinha montado com facilidade a estante que instalou no corredor, incluiu alguns livros e pequenos objetos de decoração, e aprovou o arranjo.

O telefone dela tocou e ela se levantou para buscar no balcão da cozinha.

“Sara?”

“Grissom?”

“Oh … desculpe … eu … eu liguei sem … querer … eu …”

“Tudo bem ... “

Era muito estranho, eles estavam tão sem jeito, tão constrangidos.

“Desculpe …” - ele repetiu, a voz dele estava baixa, sem forças, quase inaudível. Ela podia imaginar perfeitamente os olhos azuis, baixos, os lábios apertados. A última imagem que tinha dele ainda continuava fresca.

“Eu me esqueci que …”

“Não tem problema … fique em paz …”

“Você está bem?”

“Sim … e … você?”

“Também … Calebe me disse que você está de mudança?”

“Estou … está quase tudo terminado, faltam alguns detalhes mas foi um tempo muito útil, eu não ia conseguir se estivesse trabalhando.”

“Que bom que … as coisas deram certo.”

Houve alguns segundos de silêncio, depois ele quem se despediu.

“Te vejo em breve!”

“Te vejo em breve!” - ela repetiu.

As mãos dela tremiam, a boca estava seca, o coração palpitando! Sara foi até a geladeira e bebeu de uma só vez uma das garrafas de água mineral, tentando acalmar toda aquela tremenda sensação de ansiedade.

Um amor como aquele não seria fácil de ser apagado de seu coração, de sua alma!

Naquela noite, bem mais tarde, Calebe tentou ligar para ela, mas sem sucesso. Sara havia visto uma lanchonete bem na esquina de seu prédio e resolveu arriscar um sanduíche de queijo que havia visto em um cartaz.

O telefone havia ficado em sua cabeceira de propósito, ela queria ficar um pouco sozinha. Ao atravessar a rua para voltar ao seu apartamento, ela esperou um carro para atravessar do outro lado.

“Hei gata … quer uma carona?”

“Não acredito que você está aqui. Eu vou fingir que não te conheço.”

“Eu te liguei e … fiquei preocupado, ia estacionar ali atrás mas vi você antes. O que foi? Parece triste!”

“Estou cansada, eu tinha visto uma lanchonete, resolvi arriscar … eu gostei!”

“Bom .... já que está tudo bem, eu vou voltar para … o bar!”

“Faça isso, vou tomar outra ducha e acordar só amanhã.”

“Vamos nos ver? Podemos … ter pizza … amanhã o bar estará fechado para dedetização.”

“Podemos ter pizza amanhã, meu último dia de folga.”

Calebe queria sair do carro e se despedir com um beijo, mas precisava ir devagar …

“Boa noite, cavalheiro.”

“Boa noite, querida dama …”

Ela sorriu e atravessou a rua.

Seu telefone registrou a chamada de Calebe e outra de Nick, imediatamente ela retornou.

“Hey Cowboy …”

“Oi Sara … eu queria saber se deu tudo certo, se precisa de algo … eu sinto muito por não podermos ajudar, puxamos um triplo … as coisas estão pegando fogo aqui …”

“Não se preocupe, tudo deu certo, eu sei que se pudessem, teriam me ajudado, tinha muito pouco a fazer, esta semana consegui adiantar muita coisa. Agradeça aos meninos por mim. Logo podemos nos reunir … ficou perfeito! Quero te agradecer por ter me apresentado ao apartamento, nada pareceu bom depois dele.”

“Se está feliz, nós estaremos também … até breve e … durma com os anjos! Jim está mandando um salve e quer conhecer seu apartamento também.”

“Ah … que bom ouvir isso, diga ao Jim que sempre será bem vindo, bom trabalho a vocês … logo nos veremos!”

Grissom estava absorto mais uma vez em seus pensamentos.

O que ele tinha feito? O turno triplo que estavam enfrentando enfraqueceu sua capacidade de pensar?

Ele tinha tido um pequeno surto de ausência, tinha pego o telefone e, fantasiando que tinha o direito de ligar para ela, apertou a tecla correspondente a discagem rápida.

Estava feito.

Ouvir a voz e desligar.

Mas não teve forças.

Que fraco!

Ele estava contando os turnos para ter Sara de volta, como também estava apavorado com o pensamento de que ela voltaria diferente. Como poderia dar uma chance aquele sentimento? Ele não tinha o direito. Como estaria se tivesse cedido ao desejo de um encontro? Como fariam para manter seus empregos, conquistados à duras penas? Estaria aquele amor com  força suficiente para suportar as intempéries? Ele tinha que ser a razão, ele sabia que Sara era o coração! Seus olhos diziam, a forma como se magoava quando preterida. Ele sabia que não daria certo, era inoperante com sentimentos, com responsabilidades emocionais, mas também poderia ter outra razão. Não queria magoar sua subordinada, mas também não queria ser magoado. Ela lhe daria uma vida, depois, sua inabilidade a ajudaria a tomar de volta. 

Precisava traçar uma estratégia se quisesse voltar a dormir, a ter atenção apenas em seu trabalho e voltar a vida linear que sempre tivera. Talvez um dia tudo aquilo passasse e ele pudesse respirar sem pensar mais nela.

Calebe segurou em sua mão por cima da mesa. Os pratos estavam vazios e a caixa de pizza com alguns pedaços sobrando.

“Isso pode ser chamado de um primeiro encontro?”

“Primeiro?”

“Bem … depois que  .. que … nos beijamos eu deduzi em minha cabeça cheia de esperanças que estamos começando algo.”

Ele era direto e, pela centésima vez, ela pensou que aquilo era algo que precisava se acostumar. Quando ele chegou com uma jaqueta de couro, camiseta branca e calças bem ajustadas, ela teve vontade de agarrar seu pescoço com cheiro bom, mas se conteve, ia parecer uma oferecida.

“Vamos combinar uma coisa, podemos começar algo, mas preciso de um tempo para nos conhecermos melhor.”

“O que quer saber de mim que ainda não sabe?”

“Que tipo de relacionamento acha que podemos ter?”

Ele juntou suas sobrancelhas e ela caiu na risada quando ele escondeu o rosto nas mãos. 

“Do tipo que a gente tem quando está se apaixonando por alguém!”

Ela ficou séria, mas foi por segundos, até ele espiar apenas com um olho pela abertura entre  os dedos!

“Você é uma brincalhão, Calebe!”

“Sou uma pessoa bem humorada, tenho facilidade com as palavras, não gosto de me esconder, sou transparente, um bom ouvinte. “

“Me diga seus defeitos.”

“Isso é uma competição e estamos ao vivo em algum canal de relacionamentos?” - Ele olhou para cima, dos lados e através dela como se procurasse câmeras. - “Eu sou o candidato que número?”

Como ela poderia levar a sério um palhaço como ele?  Se ela algum dia idealizou um relacionamento produtivo, não seria com ele, com toda certeza. Mas essa seria a escolha da Sara antes de algumas decisões. Ela poderia mudar, a mágoa e o desamor que sentia de quem mais lhe confiaria a vida, estava pesando em sua decisão. Calebe era como uma cabana depois de uma tempestade. 

“Você tem algumas jardas de vantagem.”

“Isso me faz pensar que não devo responder essa última pergunta. Eu posso passar?”

“Não!” - Sara balançou a cabeça, claro que jamais faria uma pergunta como aquela, as coisas em um relacionamento aconteciam aos poucos, as descobertas ficariam por conta do dia a dia, do passo a passo. Ela esticou a mão e tocou os cabelos dele. - “Vamos descobrir as coisas devagar, ok?”

Ele apertou os lábios e ela se lembrou das gêmeas. 

“Ok!”

“Eu tenho certa dificuldade com horários, isso seria problema para você?”

“Eu também tenho, mas nós vamos arranjar uma maneira.”

“Tem algo que gostaria que soubesse!”

“Eu devo me preocupar?”

Muita séria, ela olhou diretamente em seus olhos, ele também ficou sério, devolvendo o olhar.

“Eu não compartilho.”

Ele se mexeu na cadeira. Era óbvio que ela falava sobre a facilidade com que seu trabalho tinha em arranjar mulheres. Ele não era do tipo, mas entendeu a sinceridade dela.

“Eu já imaginava. Eu não gosto de traições, Sara! Convivi de perto e sei que essa coisa nunca dá certo. Minha mãe não conseguiu e nossa casa, por um tempo virou de cabeça para baixo, amaldiçoei meu pai por perder o controle do barco, deixando o casamento à deriva. Ele poderia ter tentado não destruir o que tiveram de tão bonito por anos. Eu sei que ele se arrependeu, mas era tarde demais, o dano estava feito.”

Aquilo foi profundo e ela sentiu toda a angústia que ele guardava em suas palavras.

“Eu sinto muito por isso.”

“Eu também.”

“Ok … me ajude a arrumar a louça, eu odeio!”

“Eu faço … eu adoro!” - Ele se levantou com os pratos nas mãos.

“Hum … interessante … bem … eu também não tenho muita habilidade na cozinha, mas vou me esforçar.”

“Eu me viro bem, não sou um super chef, mas tenho alguns segredinhos para não passar fome. Podemos descer e tomar um sorvete.”

“Eu tenho sorvete, mas acho a ideia deliciosa.”

Sara ajeitou a mesa e ficou olhando Calebe. As roupas caíam bem, ele era esbelto, bem definido, não como Nick, mas tudo estava no lugar. 

“Eu já volto …”

Ela ajeitou os cabelos, retocou a maquiagem suave que havia escolhido e sorriu, brincando com o espelho.

Calebe estava de pé, olhando a arrumação do apartamento, começaria a reforma dos dois objetos que recebera da loja, logo no dia seguinte. Ficariam perfeitos!

“Vamos?”

Ele se virou com um sorriso lindo no rosto bem feito, esticou a mão para ela e a puxou para si, beijando seus lábios.

“Você é linda e estou feliz que estejamos juntos!”

“Eu também.”

Quando os dois desceram, Calebe passou um dos braços sobre os ombros dela e ela segurou em sua cintura.

Aquela sensação de pertencer fez seu coração se encher de esperanças.

Os dois conversaram por quase uma hora sentados em uma mesa exposta na varanda, havia grades e alguns seguranças. 

Ela descobriu que ele gostava de todo tipo de música, futebol americano, era alérgico a gatos, mas amava cães. Sua mãe tinha um golden de seis anos chamado Paco, ele tirou uma foto da carteira e mostrou a ela, o cão tinha um chapéu de aniversário que Sara não conseguiu pensar em algo mais fofo. 

Ela contou que quando criança seus pais nunca quiseram que ela tivesse um. Mas  costumava passar em um canil municipal para brincar com alguns. Eles preenchiam sua necessidade de carinho como ninguém. Ela havia levado um deles para casa certa vez, mas haviam descoberto. Seu pai fez com que devolvesse imediatamente e lhe prometeu uma surra se descobrisse que ela tinha voltado ao canil.

Calebe pensou em uma garotinha magra com feições tristes, e se comoveu.

“O que há com seus olhos?”

“O quê?”

“Você está chorando?”

“Eu … não .. eu … está bem, eu estou e não tenho vergonha de dizer. Você foi uma garota muito triste, não é?”

Sara tocou seu rosto e por cima da mesa, ofereceu seus lábios para um pequeno beijo.

Ele era adorável.

“Fui feliz por algumas coisas, mas muitas lembranças se perderam nos fatos ruins que passamos, hoje já não me afetam mais, Calebe, não se entristeça por isso.

“Ok …”

Calebe confirmou que estava realizando um sonho, ele gostava de ser professor de história antiga, mas estava complicado nos dias atuais, estava estafado, seu rendimento comprometido e ele confessou que não gostava de fazer nada pela metade. Se aquilo estava lhe fazendo mal, ele não se resignaria a arrastar algo que não lhe dava mais prazer, mesmo que seu salário fosse extraordinário.

Sara contou sobre os dias de faculdade, sobre suas preferências musicais, seus escritores favoritos.

Tinha sido um encontro revelador.

Ao retornar para seu apartamento, ele a beijou no meio da calçada e eles não notaram a mercedes prata parada no sinal.

...

Grissom jogou suas coisas em cima do balcão da cozinha, se despiu e entrou no chuveiro. O rosto estava áspero, mas ele não tinha ânimo para se barbear. Sara voltaria no próximo turno e ele se ausentaria por pelo menos três semanas, tinha seu convite para as aulas de atualização em Los Angeles e o apoio em um caso cruzado.

Para o laboratório, ele faria uma falta danada, pois na festa do departamento não estaria presente, mas não estava fazendo a mínima questão. Ele esfregou o shampoo nos cabelos encaracolados como se quisesse se punir. Então, eles estavam juntos, agora não tinha mais dúvidas. Poderia ter sido ele naquela calçada. Poderia ter sido ele beijando sua boca.

Ele socou o azulejo e uma dor aguda acometeu sua mão, seu sangue estava fervendo e ele achou que se ignorasse, logo passaria, logo seria suportável, mas não foi o que aconteceu. Assim que estava arrumando as malas, a dor foi potencializada. 

“Droga!”

Grissom usou um spray anti inflamatório e foi para a cozinha, explorar a geladeira, depois decidiu pedir comida chinesa. A mão estava doendo demais, estava vermelha e inchada e ele resolveu dirigir até o hospital há alguns quilômetros dali.

“Hey dr. Grissom, o que o traz aqui?”

“Minha mão.”

“E o que aconteceu?”

“Uma briga!” - E tinha sido, consigo mesmo.

O médico olhou para ele, não acreditando naquela desculpa, além do mais ele sabia que o bom cientista era uma pessoa pacífica.

“Foi uma estátua ou um cara de aço?”

Ele não respondeu, a dor estava realmente insuportável.

“Vamos fazer uma radiografia e podemos consertar isso.”

Quase uma hora depois ele atravessava as portas de vidro, com uma mão imobilizada e duas semanas de cura.

Isso era o que ganhava por ser um idiota!

Quando Ecklie o surpreendeu com a antecipação do ciclo de aulas de atualização e o convite em nome de Grissom, ele quis dizer não. Havia acontecido um acidente com o professor convidado, o nome dele foi jogado como primeira opção e a recusa lhe traria péssimas consequências, além do mais, adorava ensinar. Só não imaginou que fosse por um período mais longo. O caso que estavam cruzando era exatamente a grade de seu ensino, ele poderia ter seu tempo real, e a participação de novatos. Era um forte apelo a quem precisava de tempo, além de um valor considerável em sua conta bancária.

Agora ele podia ter toda certeza que não havia nada mais providencial do que aquela situação. Se bem que, maldita hora em que precisou sair no meio de seu expediente para mudar sua rotina, e ver aquela cena que destruiu seu controle.

Calebe subiu com Sara para pegar as chaves de seu carro e quem sabe mais alguns momentos de carinho, eles se sentaram no sofá bem juntos.

“Como resolveu ser CSI?”

As mãos juntas, seus corpos se tocando, ela ligou o som e ficou olhando para a reação dele.

“Gosto de Pink Floyd!”

“Eu também. Bem … eu estava saltando pelas matérias e os cursos, então me deparei com uma palestra de … Grissom!” - Quando percebeu que havia dito, era tarde demais. Se bem que era verdade.

“Aqui, em Vegas? Há quanto tempo isso?” - Ele parecia um pouco nervoso com a menção do nome dele. As palavras pareciam atropeladas.

“Em São Francisco, há alguns anos, logo consegui uma vaga em um laboratório criminal …  depois,  recebi … um convite para Vegas e aqui estou!”

Calebe imaginou que Grissom estava envolvido na vinda dela também, mas se calou.

Eles conversaram sobre o bar, alguns clientes assíduos que se tornaram amigos dele.

“Um bar é um divã com balada!”

Ela ria muito fácil com ele, e era bom.

“Seu sorriso é contagiante!”

“O seu também é … eu gosto de seu bom humor … de sua espontaneidade!”

Os dois se beijaram por um longo tempo, até perceberem que ou avançariam ou recuariam.

“Acho melhor você ir …”

“Tudo bem … vamos devagar …”

“Isso … devagar … eu acho que é mais … interessante!”

“Desde que não seja quase parando!”

“Calebe! Contenha-se!”

“Desculpe … nós podemos nos encontrar no sábado à tarde. Você gosta de cinema não é?”

“Muito … podemos sim … vai ser delicioso!”

Eles se despediram e ela demorou apenas alguns minutos para dormir. Talvez uma nova fase de bons sonhos estava começando!

Algumas horas mais tarde, ela precisou mudar de ideia, havia sonhado com Grissom e acordado com palpitações e muita ansiedade. Ele estava discutindo sobre alguma coisa com ela, a expressão muito severa e rude. Algo caiu no meio do corredor e algumas pessoas saíam em debandada, gritando fogo. Suas pernas não conseguiam sair do lugar e ela sentiu que os dois estariam presos nas labaredas. Neste instante ela acordou.

Tinha sido horrível, mas era apenas um sonho ruim.


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