Dark End Of The Street escrita por Minerva Lestrange


Capítulo 38
Vislumbre




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Agora que seus poderes pareciam quase os mesmos de antes, a exaustão não o tomava como quando vinha sendo assolado pela Força de Aceleração.

O pátio da Universidade de Princeton continuava perfeitamente igual ao que se lembrava, com o jardim claramente bem cuidado mesmo àquela hora da noite, e as paredes de pedra se mesclando a avisos modernos da vida estudantil. Checando o relógio, percebeu que a aula de Caitlin terminara há poucos minutos, inclusive alguns alunos deixavam o auditório conhecido.

Dessa vez, não usou qualquer tempo para parar e analisar demais o que faria, apenas seguiu na velocidade do Flash até vê-la arrumando suas coisas junto à grande lousa digital completamente lotada pela letra miúda da doutora. Mesmo preenchido pela Força de Aceleração, sentiu o alívio alcançá-lo completamente ao encarar o perfil distraído e os cabelos em castanho-claro caindo ao redor dos ombros na postura profissional da doutora, que usava um vestido verde esmeralda de mangas longas e sapatos altos demais.

Era a primeira vez que a via em semanas e, por isso, precisou estacar por um instante, ainda que não fosse o plano inicial, fazendo com que todos os papéis e objetos leves sobre a mesa voassem descontroladamente ao redor antes de cair no chão. Caitlin levantou a cabeça assustada e Barry não se impediu de segurá-la pelos ombros, respirando fundo para tentar retomar o fôlego ofegante pela corrida de Central City até Nova Jersey.

— Barry! – Ela arregalou os olhos castanhos demais olhando ao redor e abaixando o tom. – Alguém pode te ver.

— Precisamos conversar.

Declarou, mal se preocupando com a possibilidade de realmente ser visto. Então, sem dar tempo de ouvir uma resposta negativa a julgar pela forma como ela meneou a cabeça e abriu a boca para contestar, a segurou e correu novamente ouvindo um suspiro irritado e mal contido da doutora que, simplesmente, esperou.

Naquele instante, porém, já se sentia completamente perdido pelo perfume feminino rodeando-o por completo pela primeira vez desde o dia anterior ao procedimento. Parecia ter acontecido há tempo demais considerando a maneira como a distância se estabelecia entre eles e a forma como Caitlin se encontrava completamente tensa contra ele, mesmo durante a corrida que, antes de tudo, era sempre bem aceita.

Segundos depois, estacou exatamente onde havia planejado, a ajudando a se equilibrar em razão do salto combinado à velocidade sobrehumana. Adorável, Caitlin ajeitou os fios caóticos dos cabelos bagunçados pelo vento e olhou ao redor, absorvendo com um suspiro de anuência e um apertar de lábios o local onde estavam.

— Porquê estamos aqui?

A casa em Emerald City continuava completamente vazia, exatamente como a havia conhecido meses antes. Na semiescuridão da noite, os cômodos eram iluminados somente pela luz que vinha da rua, adentrando o lugar pelas janelas espaçosas do andar de baixo e do fim do corredor logo depois da escada, que permitia uma vista ampla para a sala e a entrada da cozinha abaixo.

Sabia por quê a Força de Aceleração havia escolhido para manipulá-lo um local tão próximo de sua própria realidade. Precisava de algo palpável, além de Caitlin, para acreditar minimamente naquele conto tão cruelmente orquestrado e desejar que fosse realmente seu tão intensamente. Os lapsos daquela casa ainda pareciam vívidos em sua mente e não sabia por quanto tempo seria assim, mas precisava seguir em frente – sendo ali ou não.

— Eu sinto muito, Caitlin. Pela forma como a decepcionei nas últimas semanas. – Começou da forma que achava que ela merecia num rompante. Era a verdade. – Desde o dia do procedimento, no Cofre do Tempo... No instante em que saiu, quis que tudo fosse diferente, por que... Você estava certa.

— Barry...

A castanha se remexeu, olhando ao redor de maneira desconfortável. A casa vazia fazia com que a conversa, mesmo em tom baixo, parecesse alta e incômoda demais -da forma como sabia que seria. Contudo, se não tentasse naquele instante, não sabia quando teria coragem ou oportunidade de dizer a ela tudo o que queria e sabia – e sentia – como o passar do tempo poderia ser cruel.

— Naquele dia, perguntou porque não era capaz de escolhê-la... E acho que esse é o motivo: eu não sabia o que fazer com tudo isso... O que vi nos lapsos, o que sinto, o que quero... – Hesitou, não conseguindo evitar se envergonhar pela forma como agiu depois do procedimento. – Então, eu coloquei a decisão sobre você porquê... Se o que sentia fosse algo internalizado em mim por causa dos lapsos, pela Força de Aceleração, então não teria responsabilidade sobre... Tudo.   

Dessa vez, ela sorriu em amargor balançando a cabeça em negação, conhecendo exatamente como sua linha de raciocínio funcionava e não acreditando que insistia em seguir por ela.

— Como se eu não o conhecesse o suficiente para não saber disso. – Caitlin fez menção de lhe virar às costas e se afastar, ao menos um pouco, mas Barry a segurou pelos ombros mantendo-a no lugar.

— Sim, mas... – Engoliu em seco, acompanhando o brilho magoado e irritado nos olhos dela, pelo qual era realmente responsável. Quando se tratava de Caitlin, já havia notado, nunca adiantaria tentar mascarar a realidade do que eram, especialmente porque o esmagava por dentro ver a decepção tão presente em suas feições quando fazia uma besteira. – Eu não considerei que o que aconteceu entre nós foi... Além de mim. Você não estava sendo manipulada por lapsos e sonhos de uma vida que não era sua e ainda assim... Permitiu essa possibilidade de nós dois. A todo o momento, eu a vi permitindo e anuindo e escolhendo nós dois e... Se você foi capaz disso, de nos ver para além dos lapsos, quero que saiba que eu também sou. Agora sou.

Caitlin o analisou por um instante, realmente ponderando o que dizia sob a natural camada de desconfiança que se instalara nela, até abaixar o rosto para esconder os olhos lacrimejantes, os dedos se apertando e se movendo contra si mesmos antes de cruzar os braços contra o corpo, como que para evitar a ansiedade do gesto.

Esperava que Cisco estivesse certo, que a doutora realmente houvesse feito uma escolha e estivesse esperando que fizesse a sua, porque, naquele instante, as chances que tinha de deixá-lo no chão eram imensas. Por baixo de toda a compreensão, ela jamais o perdoaria se houvesse qualquer dúvida, qualquer chance de ser machucada, especialmente por quê o avisara que não queria estar sempre colocando as prioridades de Barry acima de si mesma.

— E... Por que estamos aqui? Nessa casa?

Ela insistiu de maneira firme, consciente de que, se ele queria dar um passo para além dos lapsos, estar ali não ajudava muito, então Barry encarou a longa parede do corredor do segundo andar, logo ao lado de onde se encontravam, repleta de sinais de um tempo onde quadros deveriam estar dispostos, estampando momentos de toda uma vida.

— Nos lapsos, essa parede era cheia de quadros que retratavam a vida de um casal... Muito parecido com... Nós dois. Às vezes, gostaria que pudesse ver ou sentir para compreender quando falo disso, mas... – Começou pensativamente, estreitando os olhos. Ainda não havia conseguido se desvencilhar totalmente da arrebatadora realidade que uma versão dele desfrutava naquela casa, com aquela versão de Caitlin e daquele bebê perfeitamente adorável. Era atrativo e jamais negara isso, porém, não era um fato, mas um lapso de vida que não pertencia a ele. E, se ela era parte tão essencial de uma realidade minimamente parecida com aquela, a chance estava bem à sua frente, tão maravilhosa quanto nos lapsos. A fitou novamente, não conseguindo se impedir de acariciar a pele macia dos ombros nus pelo modelo do vestido. – Nós não precisamos ser como esse casal. Nem como ninguém. E nem precisamos ser aqui, nessa casa, se não quiser. Podemos construir nossa própria realidade.

— Como, de repente, pode ter tanta certeza disso se há semanas não conseguia nem distinguir o que sentia como sendo parte de você ou da Força de Aceleração?

Ela insistiu na postura aparentemente firme. Depois de arriscar em todos os passos, ceder novamente era como colocar o coração numa bandeja e entregar a Barry e compreendia isso.

— Durante o procedimento, a Força de Aceleração frisou como, às vezes, não hesito nem por um instante em ser egoísta com as pessoas que amo e... Eu não duvido disso. – Deu de ombros, levemente. – Eu não quero ser essa pessoa com você. Não quero que pense que me deve algo por causa desse... Vislumbre de nós dois.

— Não é o que penso.

A castanha o corrigiu rapidamente, quase de maneira sussurrante e defensiva. Sem que pudesse se impedir, seus dedos se moveram para o pescoço, percorrendo um caminho leve sobre a pele antes de se encaixar na curva quente junto à nuca. Deus, como sentira falta da pele macia dela, constatou agradecendo silenciosamente que aceitasse a proximidade e o contato, ainda que todo o corpo dela gritasse relutância.

— Acredite, não foi de repente. – Caitlin expirou deixando os ombros caírem no que esperava ser uma meia rendição tácita, apesar de ainda apertar os braços contra si mesma, fechando os olhos ao senti-lo tão perto. Antes que pudesse fazer menção de abaixar o rosto, Barry apoiou a testa contra a têmpora dela, concentrado no perfume que exalava dos cabelos macios preenchendo todos os seus sentidos, como havia sido desde o primeiro instante. – Eu sinto sua falta todos os dias. Sinto falta da sua voz, do seu cheiro, da sua presença, de você por inteira, Caitlin. E isso não tem nada a ver com os lapsos... Só com você.

Ainda relutante, a castanha o encarou de maneira chorosa, analisando se o que dizia combinava com o que via, se, dessa vez, podia realmente confiar em Barry e no que ele sentia. Porque, agora, tinha certeza que sentia, embora soubesse que não merecia qualquer incerteza sobre o que eram ou o que poderiam ser. Caitlin merecia tudo o que ia além disso, por inteiro, sem questionamentos.

Então, quase sem acreditar, a viu se esticar hesitante e fechar a distância entre seus lábios. E, por mais que fosse apenas um selinho, era mais e melhor do que superficial, pois parecia fazer séculos que não a beijava. Seus dedos se fecharam apropriadamente ao redor do rosto delicado, respondendo imediatamente ao contato e a necessidade de tê-la ainda mais próxima, mas Caitlin se distanciou um pouco para fita-lo seriamente, olhos castanhos muito brilhantes cravados diretamente nos dele.

— Pare de nos definir como um vislumbre. – Ela declarou seriamente, tão próxima de sua boca que a respiração quente se misturava à sua da maneira mais íntima que conhecia. – Antes de saber sobre os lapsos... Eu já havia escolhido você. Não porque supostamente lhe devo algo, não por causa desses devaneios que nunca foram nossos, mas porquê... É você. Então, nós não somos apenas um vislumbre. Estou bem aqui.

Barry, por sua vez, sentiu seus próprios olhos molhados, a vontade de chorar de alívio e agradecê-la por entendê-lo e aceitá-lo daquela forma quase latente demais para que segurasse no bolo da própria garganta. Porém, apenas concordou com um aceno e um murmúrio baixo.

— Okay.

Ela ainda o encarou por um longo momento antes de se render num suspiro e descruzar os braços para rodear seus ombros, apoiando-se com familiaridade para que pudesse beijá-lo apropriadamente. Finalmente. Suas mãos deixaram o rosto dela para tatearem a linha da cintura e da coluna, feliz por tê-la completamente contra seu corpo novamente, enquanto a língua rodeava a sua cada vez mais lentamente conforme seu coração ganhava mais e mais tranquilidade.

Aquela não era uma última, mas uma primeira vez, se deu conta ao sentir a mão se instalando firmemente em sua nuca no que parecia denotar a intenção de Caitlin não se afastar, prolongando o momento, embora precisassem respirar. Ela era sempre firme em seus desejos, sorriu brevemente contra a boca macia, antes de rodear a cintura com os braços e alinhar a altura dela com a sua. Caitlin apenas sorriu entre lábios irresistivelmente avermelhados e ajeitou os braços, penteando seus cabelos por um momento até segurá-los na altura da nuca, levantando os olhos castanhos

— Eu também senti sua falta todos os dias.

Murmurou beijando-o logo em seguida de maneira a fazer todos os seus sentidos rodarem. Aquela mulher seria sua ruína, tinha certeza, desceu os beijos da mandíbula para o pescoço consciente do corpo ofegante e agora arrepiado contra o seu.

— Estamos bem?

Caitlin mordeu os lábios de seu jeito mais característico enquanto o fitava, as mãos percorrendo um caminho abstrato por sua barba. Tanto quanto não conseguia parar de tocá-la agora que podia, para ela parecia exatamente a mesma sensação. Então, ela selou sua boca mais convictamente, se recusando a se afastar ao mesmo tempo em que a apertava ainda mais no abraço, ainda completamente perdido no retrato irresistível que ela fazia ali – e no fato de que ela estava realmente ali.

— Nós vamos ficar. 

Barry concordou sem ressalvas. Era como começar de novo, dessa vez do jeito certo. E talvez, por isso, soasse como algo totalmente desconhecido, sem o peso de linhas do tempo que não faziam parte dele de verdade, pois sua única realidade estava bem à sua frente, completamente embrenhada em cara poro seu... Alcançável, finalmente. 


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Notas finais do capítulo

Então... Último capítulo dessa história!

E é claro que teria muito snowbarry porque é sempre sobre eles - e não eles dos lapsos. Então, se você quiser me deixar saber se gostou, essa é a hora, pois o próximo é o epílogo! ;)

Até breve ♥



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