The Answer Is In The Stars escrita por Foster


Capítulo 4
About Valentine’s day, amortentia and extra classes


Notas iniciais do capítulo

Eu simplesmente AMO esse capítulo porque morro de orgulho do Albus, sério ♥ É o penúltimo, então não vou me estender muito!
Espero que gostem!



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13 de fevereiro

 

— É óbvio que não vou com você à Hogsmeade, Lysander. 

— Por favor, Al! É meu primeiro encontro público com o McLaggen, vou morrer se tiver que ir sozinho até lá. 

— Fala sério, você que se enrosca com o brutamontes da Grifinória e eu que tenho que resolver suas merdas e ficar segurando vela?

Lysander largou os livros com força, atraindo alguns olhares de alunos próximos. Estávamos no meio da biblioteca e se ele continuasse com o tom de voz exasperado não demoraria dois minutos para sermos expulsos dali e eu realmente queria estudar em paz, já que em qualquer outro canto do castelo só se falava no maldito dia dos namorados. 

— Só porque ele joga quadribol não significa que ele seja escroto então não o chame de brutamontes. E não é segurar vela, é me acompanhar. 

— Se ele não é escroto, por que não vai com você até lá? Ele não quer ser visto pelos amigos, isso sim. — resmunguei elevando o livro na altura do meu rosto, mas Lysander o abaixou com tudo.

— Justin vai almoçar com a avó, que mora lá. Eu e ele vamos para o Três Vassouras depois, tomar umas cervejas amanteigadas, um local bem público, se quer saber, então é óbvio que ele não está tentando esconder nosso relacionamento. 

Olhei com ceticismo para meu amigo. Com um pouco de ressentimento, talvez, porque era uma tradição que eu, ele e Scorpius passássemos a data juntos, rindo da estupidez dos casais. Ele fora da equação implicaria em Scorpius e eu sozinhos. No dia dos namorados, depois de quase dois meses evitando qualquer assunto relacionado à Rose ou à minha tatuagem. Em outra situação eu até poderia conseguir me controlar melhor, mas com minha tentativa de esquecê-lo sendo mais difícil do que eu pensava, eu não confiava nada em mim. 

— Tá, eu acompanho você. Mas você precisa me arranjar alguém para fazer companhia.

— O que tipo um encontro? — ele se sentou à minha frente, interessado no assunto. Revirei os olhos.

— Não, estou querendo ficar longe disso. Só algum amigo para me fazer companhia.

— Mas você tem Scorpius… — lentamente Lysander foi arqueando as sobrancelhas e fez uma careta de compreensão. — Ok, acho que Lorcan talvez esteja disponível. Ou você pode pedir à Lily, sabe como ela odeia essas coisas.

— Ótimo, passar o dia dos namorados com minha paixão platônica, seu irmão que eu mal converso e minha própria irmã. Pior do que isso só ficar em Hogwarts tendo que aturar as peças do Pirraça. 

— Ou você pode ir sozinho com o Scorpius e soltar um “eu te amo” nos primeiros cinco minutos, que tal?

Nos encaramos fervorosamente por alguns segundos até que eu finalmente cedi, bufando, ao passo que ele apenas deu um sorrisinho satisfatório. 

— Você vai superar o Scorpius, eu tenho certeza.

— Passar o dia dos namorados com ele não é o melhor caminho, isso com toda certeza. — passei a folha do livro com força demais, o que fez Lysander tirá-lo de minhas mãos. 

— Então arranje um encontro! Amanhã é o dia perfeito pra isso.

— Primeiro encontro no dia dos namorados? Sinceramente o quão desesperado você acha que eu estou? — não precisei sequer terminar de falar para que sua expressão se tornasse mortífera. — Você e o McLaggen são diferentes, você sabe. Estão se agarrando às escondidas desde a sua festa de aniversário.

Lysander sorria, com o rosto apoiado nas mãos.

— Sabe, às vezes ter um irmão na Grifinória que é super hétero é uma boa coisa, porque nem todos os amigos e colegas de time dele são tão héteros assim, então dá pra ter uma boa diversão.

Franzi o cenho, interessado no assunto, já que para mim era praticamente uma verdade absoluta que na Grifinória os gays simplesmente não existiam.

— Você não imagina o quanto de enrustidos existem. Eu posso te garantir. 

— Por que você tem mais sorte do que eu? Se eu beijei três caras na vida foi muito e você… Beija três todo mês!

Lys começou a rir realmente alto, o que fez com que algumas pessoas nos mandassem ficar quietos, mas ele simplesmente não parava. 

— Três no mês… Gosto de saber que você ainda possui uma imagem pura de mim.

— Por Merlin, desde quando você é o James versão gay? Até ano passado mal falávamos sobre sua sexualidade e agora isso.

— Vamos dizer que muitos caras quiseram comemorar meu aniversário em grande estilo. E relembrar depois. — ele me lançou uma piscadinha e eu balancei a cabeça negativamente. — Me encontre na saída da Torre da Corvinal às onze horas, quero passar na Zonkos antes do encontro.

— Nem ferrando vou subir tudo isso pra te pegar lá. E às onze estarei na estufa de Herbologia. Eu prometi ao Rigel que terminaríamos o projeto amanhã, sem falta. É importante para sustentar nossa teoria. — falei um pouco mais baixo, como se não tivesse nada demais, mas Lysander não deixou aquela passar facilmente.

— Se você diz. — ele deu de ombros, sorrindo perversamente. — Meio dia, então. Prometo avisar quando eu chegar pra não atrapalhar nada. — Lysander saiu dali antes que eu conseguisse lhe acertar com o livro. 

 

14 de fevereiro

 

— Potter, você sabia que não podia movê-las nem dois centímetros para fora do vaso. Eu não consigo nem dizer mais a respeito, porque é algo que você sabia. Sério. Não tem desculpa.

E realmente não tinha, exatamente por isso eu não estava falando nada. Em minha defesa não havia sido eu que havia puxado uma mandrágora ainda não desenvolvida para fora do vaso. Havia sido Scorpius, que me visitou vinte minutos antes de Rigel chegar para tentar falar, de uma maneira bem vergonhosa, inclusive, sobre ter chamado mais pessoas para se juntarem à nós em Hogsmeade. Ele não havia acreditado quando eu disse que mandrágoras recém-nascidas não faziam barulho igual à forma que aprendemos no segundo ano, com elas ainda bebês. Não deu tempo o suficiente para impedi-lo de fazer aquilo que eu e Rigel sabíamos que poderia comprometer o crescimento, quando eu vi ele já tinha puxado ela para fora. 

Eu poderia contar à Rigel, mas não queria dizer que aquilo foi por pura distração minha devido à presença de Scorpius. Eu preferia ouvir seu sermão gigante e encará-lo ficar irado, enquanto vestia uma de suas dezenas de camisetas floridas - que acabei reparando mais depois do aniversário de casamento dos meus pais. 

— Esse projeto precisava ficar perfeito. — resmungou, largando-se no banco enquanto encarava as folhas murchas da mandrágora. — Poções é meu nêmesis, ter convencido o professor Slughorn a me dar uma chance fazendo soros de mandrágora, desde que fossem com toda a cultivação inicial, era minha única chance. Ele até me indicou seu melhor aluno. — lançou-me seu pior olhar, daqueles que poderia congelar a alma e eu apenas engoli em seco. 

— Eu posso falar com ele e explicar tudo. 

— Como se isso fosse ajudar. Slughorn garantiu que era isso ou tentar tirar um Excede Expectativas em Poções, coisas que nós três sabemos ser impossível. — Rigel colocou a cabeça entre as mãos, bufando alto e eu me sentei ao seu lado, me sentindo horrível. Tudo culpa do meu coração idiota.

— Desculpe, eu deveria ter sido mais atento. Juro que vou falar com ele e, por garantia, te ajudo com poções. Até você conseguir um Excede Expectativas. 

Quando Rigel ergueu os olhos cor de mel não havia ironias ou dúvidas pairando por ali. Havia um brilho diferente, seguido de um sorriso enorme que eu sempre o via abrir para outras pessoas e nunca antes para mim. 

Arrisquei um sorriso também e desviei o olhar para as folhas murchas da mandrágora.

— E ainda tem chances dela crescer bem. Talvez fique um pouco menor que as outras e não renda muito soro, mas mesmo assim… 

— Vocês ainda estão aí? — Scorpius entrou pela porta, acompanhado de Lysander, que nos olhava com apreensão. 

Dei um salto, percebendo que a proximidade que eu e Rigel estávamos parecia suspeita, e me arrependi instantaneamente, porque eu simplesmente não devia nada a ninguém. A verdade é que a cada dia eu me sentia mais estúpido. 

— Rigel, você sabia que mandrágoras não desenvolvidas não gritam? 

— Sério? — eu estive na companhia de Rigel Thomas-Finnigan por tempo o suficiente para entender que aquilo era um questionamento retórico, ainda mais com o peso do olhar que ele sustentava sob mim naquele instante. 

— Até tirei uma do vaso pra comprovar, é bizarro. 

Rigel cruzou o braços, lambendo os lábios como geralmente fazia quando estava prestes a metralhar sobre algum assunto. Mas ele estranhamente não o fez. Apenas disse:

— Eu sei, eu estou nesse projeto com o Albus.

— Oh, achei que estivesse aqui para irmos em grupo para Hogsmeade.

Eu não podia acreditar que o conhecido que ele havia chamado era Rigel. Mas que diabos?

— Mudança de planos, eu tenho um encontro. 

Naquele momento tudo que eu queria perguntar era “com quem?”, “como?”, “onde?” e “por quê?”, e eu sequer sabia a razão disso. 

O caminho em direção à Hogsmeade foi torturante, porque eu tive que observar Rigel rindo de absolutamente tudo que Roxy dizia. Sério, eles formavam um casal bizarramente bonito, mas não tinham nada em comum. E, logo mais adiante, Scorpius batia papo com Lorcan e Alice Longbottom. 

Na realidade eu agradecia por ele estar distante, já que eu podia reclamar em paz com Lily e Lysander, que estavam à par de toda a situação. 

— Desde quando a Roxy dá moral pra ele? O cara flertou com ela e com o irmão!

— E com o primo, que agora está com dor de cotovelo. — Lily acrescentou numa tentativa infame de fazer piadinha.

— Você e o Lysander são dois lunáticos que vêem coisas onde não têm. 

— Tudo que eu vejo aqui é você morrendo de ciúmes pelo Rigel estar saindo com a Roxy que nem percebeu que o Scorpius pode estar em potencial encontro com a Alice.

Pela primeira vez eu notei o quanto Lorcan tentava empurrar meu amigo para cima da garota e franzi o cenho. Eu geralmente sempre notava quando havia uma possibilidade de faísca entre Scorpius e outras garotas, mas o lance com Alice me passou batido. 

— O quão merda é ver meus dois ex-peguetes em um encontro disfarçado? — Rose comentou quando me levantei do show de horrores que estava sendo aquela mesa com Scorpius e Alice conversando e Lorcan tentando dar em cima da minha irmã, que parecia querer morrer. 

Virei-me para ela, que olhava com certa mágoa para os dois pombinhos. 

— A merda de ser bissexual é que você meio que sofre quando vê um casal junto e não sabe quem você tem mais vontade de beijar. 

— A merda de você ser gay é se apaixonar pelo seu melhor amigo e ver ele flertando com a ex-peguete da ex-peguete dele, que por ventura vem a ser minha prima favorita.

Rose me olhou, tentando reprimir um sorriso, mas logo passou o braço pelos meus ombros. 

— Sinto que vou me sentir eternamente em dívida por ter beijado o cara que você gosta.

— Gostava. — corrigi, desviando o olhar do casal que agora cochichava ao pé do ouvido e a encarei. — Quero dizer, eu acho que sim. Eu nem tinha percebido que eles estavam em uma paquera até Lily esfregar na minha cara. Acho que estou superando aos poucos.

— Vocês chegaram a conversar? — Rose perguntou enquanto indicava ao barman o que iria querer. Sinalizei pedindo o mesmo, cervejas amanteigadas, para variar. 

— Não. E sinceramente talvez tenha sido melhor assim. 

Perdi completamente o fio da meada quando Rigel passou por nós dois, abanando-se e com uns dois botões da camisa abertos. Foi inevitável não encarar a região e corar por aquilo, principalmente quando Rose o chamou e ele voou com os olhos para cima de mim. Dei graças a Merlin que pude ocupar metade do meu rosto dando um gole enorme na cerveja amanteigada que havia acabado de deslizar pelo balcão. 

— Já que está aqui me ajuda a levar as outras cervejas.

— Vim aqui justamente te socorrer, todo mundo disse que você sempre se perde no caminho do bar e posso ver que é verdade. — um sorriso travesso brincava em seus lábios. Franzi o cenho ao ver mais ou menos seis copos. Roxy e Rigel não deveriam estar em um encontro… Sozinhos?

— Você deveria vir conosco e trazer a Lily e o Lorcan, talvez. Deixar os dois ali. 

— Hm, vocês também vieram com um grupo enorme?

— Eu disse que tinha um encontro pra me livrar de vocês. — Rigel disse com a maior naturalidade, dando de ombros. — Desculpe, mas você e o Scorpius ficam esquisitos perto um do outro e Roxy me chamou em cima da hora hoje, então me pareceu a oportunidade perfeita. Não queria ficar no meio do drama de vocês.

— Não tem nenhum drama. — falei rápido demais e os dois, que viravam as costas para voltarem para a mesa, me olharam de maneira ansiosa. — Não estou… Mais afim dele. 

Rose soltou uma risadinha e a cabeça de Rigel tendeu para um lado, me analisando dos pés a cabeça.

— Interessante. 

Apenas isso. Uma tombada de cabeça e um comentário superficial, com direito a uma saída triunfal, que me rendeu um arrepio irritante, e Rose fazendo um barulho estranho enquanto dava mini pulinhos perto de mim. 

— E nasce Algel! 

— Mas que porra....

— Pode ser Rigus. Você que sabe. — piscou e girou nos próprios calcanhares, indo embora com sua leva de cervejas. 

 

2 de março

 

Ao fim da aula de poções, a qual conseguimos finalmente fazer uma poção do amor - que Slughorn havia informado que só nos ensinaria depois do dia dos namorados, considerando que já teve muitas dores de cabeça com presentes de Natal e da data romântica que envolviam a poção - eu fiquei, como de costume, para ajudar Rigel nos reforços de Poções, já que a mandrágora realmente não estava se desenvolvendo mais. 

Notei que Slughorn estava parado na porta, conversando com Scorpius, que havia ficado estranhamente quieto durante todo o preparo. Quando nossos olhares se cruzaram eu os desviei, retirando a colher da poção e levantando o cheiro dela. Pergaminho novo, chocolate e pêssego. O último cheiro me intrigou, porque eu realmente não fazia ideia de onde o havia sentido, mas pouco me importava, eu queria me ver longe de confusões amorosas e estava indo bem até então, mesmo com Rigel-idiota-Thomas-Finnigan flertando comigo propositalmente e dando indiretinhas sobre eu não ter superado Scorpius coisíssima nenhuma toda vez que estávamos sozinhos. Bom, ao menos ele tinha o senso de não fazer isso em público. Infelizmente a piadinha se estendia toda vez que estávamos na companhia de Rose, Lily ou Lorcan, então a coisa toda andava um pouco frequente demais para meu gosto. 

Mas naquele dia Rigel voltou do armário de Slughorn, que ficava próximo da porta, com uma expressão péssima. Não soltou a piadinha de sempre de “e aí, muito nervoso de ter passado os últimos cinquenta minutos na companhia do seu amor supostamente superado?” e considerando que hoje era o dia da poção do amor, que ele havia me irritando há semana a respeito, era muito estranho ele não ter soltado. 

Assim que se sentou ao meu lado suspirou profundamente e depois pareceu que queria simplesmente não respirar mais, já que fez uma careta e tampou o nariz. 

— Quer, por favor, fechar essa merda?

— Sentindo o cheiro da pessoa amada? Ou talvez das pessoas, já que você flerta com todo mundo que respira. — provoquei como de praxe, mas Rigel não parecia aberto à piadinhas. 

— Não sou como seu amiguinho ali. — ele indicou o local que Scorpius conversava com Slughorn, mas eles não estavam mais na porta. Franzi o cenho e Rigel revirou os olhos ao virar as costas e constatar que eles já não estavam mais lá. — Pensaram em um lugar privativo só agora, ótimo. 

— Que merda você tá falando? — eu estava ficando irritado com todo aquele mistério e mau humor nada usual do Thomas-Finnigan.

— Parece que o Malfoy achou muito curioso sentir cheiro de lavanda e de capim-limão na mesma poção. 

— Não tem nada de estranho nisso, geralmente sentimos três cheiros.

— Esqueci de mencionar que ele também sentiu o de chuva e o de amaciante. — o sorriso que ele abriu foi cortante. — E pense mais um pouco sobre quem cheira à lavanda e quem cheira à capim-limão. 

Meu pesadelo se reiniciava ali mesmo, sem aviso prévio algum, apenas uma bomba no meu estômago. Tia Fleur fazia essências personalizadas para cada um de seus sobrinhos. Eu não precisava nem verbalizar que lavanda era a de Rose e capim-limão a minha. Rigel aparentemente sabia e aquilo de alguma forma o irritava. 

Não abri a boca, pois tinha medo do que eu poderia dizer, e resolvi apenas começar a esmagar algumas vagens. Rigel juntou as sobrancelhas, passando as páginas dos livros.

— Aqui diz especificamente para cortá-las.

— Sai mais suco se amassá-las e é bem mais fácil. — falei dando os ombros e ele apenas riu pelo nariz.

— Sorte sua que você é realmente bom em poções. 

— Está mais para sorte sua. — arrisquei uma piadinha, que dessa vez foi bem recebida. 

Rigel me encarou por alguns segundos e eu sabia que ele esperava ver algum traço de reação minha ao perceber que Scorpius basicamente estava enfiado em um dilema amoroso com dois primos, mas eu simplesmente não queria ir naquele lugar agora. 

 

15 de março

— Acho que precisamos conversar. 

E foi com essa frase que eu soube que a conversa com a qual eu sonhei - e também temi - estava prestes a se tornar realidade.

Scorpius Malfoy demorou exatos treze dias para abrir a boca, já que sumia praticamente o dia todo e quando conversávamos era somente sobre seu dia extremamente cansativo e como ele precisava cair na cama. Se trocamos oito palavras nesses dias, foi muito.

Lysander me aconselhou a interrogar o garoto, mas Lily disse que seria humilhação demais perguntar se ele havia mesmo sentido meu cheiro e, sinceramente, eu estava com Lily naquela. Rigel apenas fingiu que aquele dia não existiu e parou de fazer piadas a respeito da minha paixão nem-tão-platônica assim, o que havia tornado as coisas muito mais fáceis. 

A ausência de Scorpius me fez perceber muitas coisas, na verdade, mas naquele exato momento eu apenas queria que ele finalmente tirasse tudo aquilo do peito e fosse sincero comigo e consigo mesmo. Só assim para podermos dar o próximo passo livremente.

— Eu primeiro quero te pedir desculpas por ter sido um idiota nos últimos dias… Ou meses. Acabei te enfiando em uma loucura e não foi nada justo.

Scorpius se sentou em sua cama, que ficava ao lado da minha e eu me ajeitei para que ficássemos de frente um para o outro. Foi ali que, meses antes, em três de dezembro, tivemos nossa última interação não-esquisita. Parecia há muito mais tempo do que realmente era, inclusive.

— A minha ficha caiu, finalmente. Na real era uma coisa que eu desconfiava, mas tinha dúvidas demais a respeito. E… Quando eu soube que tinha uma chance de eu ser correspondido, só estraguei as coisas mais ainda. 

Meu coração parecia que ia saltar pela boca. Precisei secar minhas mãos na calça de tanto que eu suava. 

— Eu… Gosto de você. — pausa exageradamente dramática. — Mas também gosto da Rose. — outra pausa exagerada. — É muito confuso, porque eu jamais imaginei que você fosse gay, ou sequer eu fosse bi… Achei que o que eu sentia, inclusive, era só um carinho muito forte e… Do nada Rose apareceu e… Não, não foi do nada. — ele passou a mão pelos cabelos, nervoso. — Ela sempre esteve aqui, mas eu passei a vê-la de modo diferente e… Aconteceu. Mas aí teve o aniversário, sua tatuagem e… Sua reação ao todos saberem da tatuagem. Aquilo realmente mexeu comigo, porque pareceu… Como se fosse algo para mim e… Eu revivi toda aquela confusão de sentimentos, o que não foi nada justo com Rose, por sinal, que sempre era tão descontraída mas parecia que tinha duzentos quilos nas costas… Eu me afastei de você, depois tentei ser normal, mas aí reparei que você estava próximo demais do Rigel e veio a maldita poção do amor que se Slughorn tivesse nos apresentado mais cedo, como fazia com todos os outros anos, talvez eu tivesse compreendido meus sentimentos mais cedo… E agora eu estou aqui. 

Scorpius puxou o ar profundamente depois de metralhar tudo isso em mim. No fim não era tão surpreendente assim, porque Lily e Lysander confabulavam sobre essa história o tempo todo e basicamente acertaram tudo, mas era um verdadeiro alívio finalmente ouvir tudo aquilo. 

— Eu me sinto um idiota por ter comprometido minha amizade com vocês dois. E… Eu não sei exatamente o que fazer. Porque eu realmente estou confuso sobre… Merda, eu me sinto um idiota em ter me envolvido emocionalmente com dois primos. Não quero magoar ninguém. Eu só estou confuso e querendo saber o que vocês sentem também e… Pedir desculpas. Mas fora isso… Eu não sei o que fazer. 

— Rose já sabe disso?  — foi a primeira coisa que eu quis saber. Scorpius coçou o meio entre as sobrancelhas e assentiu positivamente. — Então você já sabe o que fazer.

— O quê?

— Você foi até ela primeiro. Isso significa alguma coisa. 

— O quê? Albus, claro que não. 

Não sei se eu estava preparado para remoer meus sentimentos de novo. Seria uma mentira deslavada dizer que eu o havia esquecido totalmente, no entanto eu definitivamente não sentia a mesma coisa que antes. E, mais do que isso, não queria magoar Rose. Aquilo que minha mãe havia dito sobre ela sentir mais do que realmente diz não saía da minha cabeça.

Por um instante eu quis ter vontade de explodir com Scorpius. Mas eu simplesmente não sentia essa urgência, como sempre achei que fosse sentir quando ensaiava mentalmente nossas conversas. Não queria gritar, expor meus sentimentos ou fazê-lo sentir o mesmo que eu senti. 

Mamãe e Rigel estavam certos. Dar tempo ao tempo era essencial e prezar pela amizade mais importante ainda. 

Respirei fundo, abrindo espaço no emaranhado de lembranças dos meus sentimentos amorosos por Scorpius para tentar colocar de maneira assertiva o que eu realmente estava sentindo. 

— Olha, Scorpius, eu prezo nossa amizade demais, e acho que ela deva se manter assim. Demorei tempo demais para começar a me desapegar de você e não quero entrar nessa montanha russa de novo. Ainda mais porque tem Rose. E Alice. — relembrei com a sobrancelha arqueada e ele pareceu ficar incomodado.

— Mudaria alguma coisa se eu tivesse falado com você primeiro? Porque, sinceramente, Al, foi pura questão de logística. Eu a encontrei primeiro e falei tudo… 

— Não, não mudaria. — aquilo me surpreendeu tanto quanto à Scorpius. Respirei fundo e engoli em seco. — A tatuagem tem um pouco a ver com você, é claro, mas é muito mais sobre mim e sobre eu descobrindo quem eu sou. Talvez minha paixonite por você tenha sido só o impulsionamento pra fazer, na real. Inclusive, se não fosse por Sibila Trelawney eu provavelmente não teria ficado tão fissurado em você como fiquei. — comentei aos risos e Scorpius deu um sorriso mínimo, talvez um pouco decepcionado por eu o estar rejeitando dessa forma, entretanto algo simplesmente não se encaixava muito bem na ideia de eu dar corda para aquele sentimento que me assombrou por anos e agora finalmente dava adeus. — Na verdade, é um paradoxo engraçado, porque se não fosse ela eu também não teria me desapegado de você. 

Era um sentimento libertador dizer tudo aquilo. Por anos eu desejei ouvir que Scorpius gostava de mim, mas sejamos sinceros: ele estava dividido entre Rose e eu, o que já era um indício péssimo de que aquela relação já começaria à base do sofrimento de outra pessoa. Rose Weasley poderia bancar a sagitariana desapegada que fosse, mas eu sabia que ela tratava Scorpius de maneira diferente. Não era como ela tratava Anthony Zabini ou Richard Macmillan, como se nunca os tivesse beijado antes e vez ou outra fazendo piadinha sobre o assunto em festas. Ela ficava tensa na presença dele, o que indicava que ele provavelmente tinha sido mais importante do que ela gostaria. 

Além do mais, eu via com muito mais clareza que eu precisava do meu amigo, e a imagem de amor platônico e de melhor amigo estavam cada vez mais desassociadas para mim. A cada dia que eu conseguia superar minha paixão, mais falta da amizade tranquila de Scorpius eu sentia, ao passo que antes eu estava feliz em evitá-lo por aí. 

— Você está gostando de… 

Scorpius não teve coragem de terminar a frase e eu soube o porquê. Ele não se sentia em direito de perguntar nada daquilo, pois havia me deixado no escuro por meses. Mas eu não faria o mesmo. Seria claro sobre meus sentimentos e, principalmente, pensamentos. 

— Alguém com fragrância de pêssego aparentemente, que não estou minimamente afim de procurar por aí. Aprendi que temos que dar tempo ao tempo. E vai ser bom para mim, sabe, não gostar de alguém por um tempo. Não de maneira consciente, pelo menos. Passar três anos amando o melhor amigo em segredo é uma merda.

Scorpius tinha a feição de quem havia cometido um grave crime. Levantou os olhos para mim, ainda muito sem graça, e sorriu minimamente. 

— Acho que está cedo demais pra essas piadinhas. Vou esperar mais alguns meses. 

— Não, tudo bem, eu aguento. 

Eu sabia que ele não aguentaria. Seu ascendente em câncer queria provavelmente gritar e chorar comigo agora. Por mais que no fundo eu quisesse ser um pouco malvado, eu sabia que não conseguiria realmente.

— Independentemente do que for acontecer, quero que você saiba que eu espero que nossa amizade nunca mude. E em partes é por isso que, mesmo eu não tendo te superado totalmente, que eu não quero arriscar nada. Não é legal entrar em algo que você não tem certeza.

— Principalmente quando nesse caso são os dois. — ele observou mordendo o lábio inferior e eu assenti, olhando para o chão. — Eu não vou correndo para a Rose também, se quer saber. Aliás, depois de tudo isso acho que não iria dar certo de qualquer forma.

— Você nunca sabe o dia de amanhã. — respondi com um sorriso e ele assentiu, rindo pelo nariz.

— É estranho eu ter começado essa conversa totalmente nervoso e esquisito, fora  a parte de ter ficado envergonhado com a rejeição, mas agora estar feliz por você estar me dando um conselho clichê incrivelmente muito bom? 

— Na verdade é excelente. Seria péssimo se nós saíssemos daqui totalmente esquisitos sobre essa conversa. 

Apesar de todo o restante ter sido agradável seria uma mentira dizer que as coisas voltaram ao normal logo de cara. Foram necessários alguns meses para que ele parasse de me olhar com cara de cachorro sem dono toda vez que me via pela primeira vez no dia e mais alguns outros até que ele finalmente começasse a sair com uma garota da lufa-lufa, já que o lance com Alice também não tinha ido para frente. 

Rose havia me dado todo o suporte e aos poucos estava tratando Scorpius cada vez mais como um antigo peguete de quem ela gostava de rir junto quando estávamos todos em grupo. Rigel estava aos poucos largando todas as piadinhas e implicâncias comigo, pois estávamos realmente perto dos exames finais e apesar, dele ter progredido muito, ainda havia muito a ser feito. Era uma boa distração para minha mente, além de uma excelente revisão. Aos poucos tudo ia se ajeitando novamente.


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Notas finais do capítulo

Aaaa o que foi esse momento Scorbus? Sabe eu pensei muito em sobre como faria esse encontro dos dois, porque tem muita coisa não dita, mas ao mesmo tempo já se passaram MESES e muita coisa foi digerida. As palavras acabam se perdendo no caminho, sabe? Al de um ou dois meses antes não agiria assim. Tenho orgulho demais dele em ter lidado de maneira tão adulta, sabe. Penso que Scorpius imaginou algo mais... Emocionante, talvez até envolvendo um beijo. Mas ele soube respeitar o espaço do Al e, sinceramente, um beijo talvez estragasse um pouco as coisas entre eles. No fim não é culpa de ninguém, são as eternas travessuras do coração.
Tô indo revisar o último capítulo agora, guardo mais apontamentos para lá!



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