Se eu voltar escrita por Lilium Longiflorum


Capítulo 7
Rosas




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Senti que aquelas lágrimas queriam me dizer algo. O que estava me intrigando é que as mãos de Liang que acariciavam as minhas aparentavam ser tão geladas, mas estavam quentes. A presença dele me trazia um bem-estar, ele olhava para mim e era como se quisesse dizer algo, mas não conseguia. Vi aquela enorme cicatriz no lado direito do seu rosto, ele não a tinha quando o conheci, provavelmente ele adquiriu em algum evento que desconheço. Ali eu via um homem que, apesar de todos os sofrimentos que caíram sobre ele, não deixou que a dor o cegasse com ódio e vingança, usou as dores como uma escada para se tornar uma pessoa melhor. Acho que ele tem muito a me ensinar.

Ele começou a falar comigo e prestei atenção:

— Kitana, uma mulher tão forte... Matou tantos guerreiros renomados, lutou tanto pela verdade e hoje se encontra prostrada no leito de um hospital, com o corpo, agora, frágil e suplicando pela vida.

Deu uma pausa, respirou fundo e voltou a dizer:

— Mesmo sendo não tão próximo, princesa, sempre admirei a sua coragem de ser justa e compassiva. Espero que você seja forte para conseguir voltar ao nosso convívio.

Ainda não consigo explicar, mas aquelas palavras me davam uma alegria e uma reflexão para eu pensar na decisão tão difícil que tenho que tomar. Percebi que ele estava com as palmas de suas mãos, uma contra a outra e começava a se formar uma pedra de gelo, ele rapidamente começou a lapidar aquela pedra e de lá saiu uma linda rosa de gelo. Realmente não o conhecia, mas ele estava me surpreendendo com aquela habilidade artística. Ele colocou aquela rosa numa pequena câmara fria de vidro e a deixou ao lado do meu leito e disse:

— Pode ser que essa flor derreta e desapareça por completo, mas a minha admiração por você nunca irá acabar.

— Sub zero – disse Bo’Rai cho se aproximando.

Kuai olhou para trás, o viu e disse:

— Não vi que você estava aqui.

— Conversou muito com ela?

— Olha o que eu fiz. – disse Kuai mostrando a obra de arte que tinha acabado de fazer.

— Bela escultura, Kuai! Com certeza se ela visse isso lhe daria um beijo na testa

Sub zero deixou uma risada escapar. Bo’Rai Cho deu uma olhada de relance na janela e viu que já estava escurecendo, voltou o olhar para Sub zero e percebeu que ele não parava de me olhar.

A diferença entre Kuai Liang e Bi-han era imensa, nem parecia que haviam recebidos a mesma educação, que vinham do mesmo ventre. Bi-han era arrogante e prepotente, qualquer coisa para ele era motivo de rixa. Agora consigo enxergar que Kuai está honrando o nome que, antes, era de seu irmão.

(...)

Depois da morte de Bi-han a minha relação entre eu e a Jade mudou um pouco, ela andava isolada e quando estava junto a mim, como guarda-costas, não dizia nada. Eu pensava em puxar assunto, mas hesitava em falar algo para ela.

Estava eu sozinha no porão, junto ao meu cravo tentando compor uma melodia para tocar para o Liu Kang. Até que ouvi passos, me levantei e me escondi atrás do cravo até que ouvi a voz da Jade:

— Pode sair daí, sou eu.

Sai com um pouco de dificuldade dali e disse:

— Finalmente veio falar comigo.

Jade baixou a cabeça, sem graça, aproximou-se do cravo e pegou a folha em que eu estava escrevendo a partitura, perguntou:

— Vai tocar essa peça para o Liu?

— Pretendo, mas não sei se está boa.

Ela depositou a folha em cima das teclas, voltou-se para mim e disse:

— Antes de eu falar o que me pediram... Eu quero te pedir perdão por ter escondido o segredo de você.

— Jade

Fui em direção a ela e a abracei, depois eu disse:

— Eu entendo você, Jade... Deve ser duro ver alguém que ama morrer assim.

— Acho que não era para ser, Kit. Ele era muito prepotente, com certeza havia várias mulheres ao seu redor quando voltava para o Lin Kuei. Acho que eu simplesmente seria mais uma... Não quero me casar com um homem assim.

— Ah, nenhuma mulher deseja um homem assim. Mas estou feliz por estar superando tudo isso.

— Kit, eu ia me esquecendo. A Sheeva está esperando para irmos ao Plano Terreno de novo.

— E agora para quê? Vamos ver quem vai morrer?

— Talvez Liu Kang.

— O que?

— Ele foi o campeão no Plano Terreno e agora ele vai lutar com Shang Tsung. Você sabe como esse feiticeiro é poderoso.

— Ah você não confia no potencial do Liu Kang?

— Sei lá, Kit. O Shang Tsung é muito poderoso... Nunca vi ninguém vencê-lo...

— Pois hoje vamos ver Liu como vencedor.

Dizendo isso eu fui junto com ela para o quarto, nos trocamos e fomos para o Plano Terreno junto com Sheeva que, desta vez, estava de bom humor. Chegamos uma hora mais cedo e lá encontrei todos os guerreiros do Plano Terreno. Comecei a procurar por Liu Kang com o olhar, mas não o encontrava. De repente senti uma mão puxando o meu braço para fora da sala de treino de Shang Tsung, quando eu ia gritar vi que era Liu fazendo um sinal de silêncio, eu disse:

— Você me assustou. Por que fez isso?

Ele me levou para uma varanda, de onde se podia ver uma linda paisagem, apesar de estar chovendo, aquela vista estava simplesmente indescritível. Eu olhei para ele e vi em suas mãos uma linda rosa branca, ele disse:

— Eu colhi para você.

Eu corei, olhei que em suas mãos havia machucaduras feias e percebi que aquela rosa não tinha espinhos, perguntei:

— Olha como você está machucado, não precisava tirar os espinhos.

— E arriscar em ver os seus dedos sangrando? Para mim é um sacrifício que vale a pena.

Deixei escapar um sorriso, peguei a rosa e tinha um perfume simplesmente maravilhoso. Liu pegou em minhas mãos, ergueu a minha cabeça levemente e depositou um doce beijo em meus lábios, nunca conseguiria explicar aquela sensação, só podia dizer que era maravilhosa. Nós nos separamos e ele me disse:

— Se eu não sair vivo desse combate, saiba que eu te amo muito.

— Não diga uma coisa dessas. Eu confio em você e sei que vai conseguir vencer esse feiticeiro.

Ele sorriu para mim e disse:

— Ainda quero ver você tocar.

— Estou preparando uma peça para você, assim que estive pronta eu marco o dia.

Liu beijou novamente os meus lábios e disse:

— Vamos, senão irão descobrir nosso segredo.

(...)

Kuai sentou-se e começou a acariciar as minhas mãos e a segurá-las com firmeza. Bo’Rai Cho apoiou a mão no ombro de Sub zero e disse:

— Acho que acabou o horário de visitas.

— Por mim eu dormiria aqui com ela.

— Mas você bem sabe que não pode.

— Eu sei.

Dizendo isso Liang se levantou e beijou levemente a minha testa, depois me disse:

— Volte logo, princesa.

Novamente percebi que uma tímida lágrima escorria em seu rosto, mas ele limpou logo. Bo’Rai Cho disse:

— Vamos comer alguma coisa, Kuai. Você deve estar faminto.

Kuai assentiu, indo em direção a porta voltou-se para mim e disse:

— Até mais, princesa.

Os dois saíram e fiquei ali olhando os dois irem pelo corredor. Fui em direção a rosa de gelo que o Sub zero havia me dado e comecei a admirá-la, era incrível a riqueza de detalhes ali naquela escultura. Continuava intacta.

(...)

— Eu te disse que ele ia ganhar. – eu disse para Jade, que até então ainda não acreditava na vitória de Liu Kang.

Coloquei a rosa que ele tinha me dado em um pequeno jarro com água e ficava olhando-a sem parar. Jade disse:

— Esse rapaz merece o meu respeito, mas me diz, foi ele que te deu essa rosa?

— Sim, foi ele... E me deu mais uma coisinha.

— Ai Kit. O que ele te deu?

— Ele me beijou... Que beijo doce...

— Pronto! Agora eu vou ter que aturar uma donzelinha apaixonada.

— Ah Jade, não começa.

— Eu só espero que o seu pai nem imagine que rolou isso entre vocês.

(...)

Fui até a janela próxima do meu leito e fiquei olhando a cidade pela janela. A noite estava sem nuvens e consegui ver a lua – que por sinal estava cheia e bela. Quantas emoções nesse dia, mas estou descobrindo coisas que, se eu estivesse acordada, nunca teria descoberto. Não vou negar que o que Sub zero fez por mim hoje mexeu comigo, mas eu não conseguia esquecer Liu Kang. O que será que devo fazer para esquecê-lo de vez?


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