Se eu voltar escrita por Lilium Longiflorum


Capítulo 6
Segredos




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Esperei que Sub zero dissesse algo, mas foi em vão a minha espera, ele permaneceu calado. Johnny aproximou-se dos dois

— O que é que os senhores tanto conversam? Posso saber?

— Não é nada, Johnny. – disse Raiden – aliás, onde está Sonya?

— Está tomando medicação, deve ter passado mal devido ao estresse. E você conversou com o Liu?

— Conversei. Ele foi um estupido ao fazer aquilo. Tento entender...

— Raiden – Sub zero interrompeu– Esqueça, os nossos comentários. Não ajudarão em nada. O que importa é que Kitana vive.

O que me intrigava era a preocupação vinda de alguém que eu mal conhecia, eu não sabia sua origem e sua história. Mas eu tinha certeza que ele possui um bom e nobre coração.

Fui em direção à janela e percebi que Liu estava sentado em um banco de uma praça que tinha em frente ao hospital. Sinceramente eu não sabia o que sentir por Liu.  Raiva, pena, tristeza, ódio... Naquele dia pude perceber que ele não acreditava mais em mim, sou uma página virada para ele. Será que ele me amou de verdade? Ou era só uma atração? Pode ser que Liu só me queria por causa da minha linhagem na Exoterra. Qual é o cara que não gostaria de casar com uma princesa? Tornar-se-ia da realeza e poderia comandar um exército, pessoas ao redor lhe servindo, um amor puro de uma princesa. Mas agora uma princesa a beira da morte, que valor ela tem? Só está dando gastos e não serve senão para lembrar-se de bons momentos e vitórias conquistadas ao seu lado.

De repente eu vi novamente a jovem que estava ao meu lado, assim que eu fui entubada, fui até ela e toquei em seu ombro, ela disse:

— Pensei que já havia decidido.

— Decidido o que?

— O seu destino.

— Como assim?

— Há um segredo nisso tudo: você que decide se vai morrer ou não.

— Eu não consigo ver motivos para voltar...

— Tem certeza? Vai embora só porque o Liu Kang te deixou? Antes de conhecer Liu Kang você existia e vivia bem sem ele.

— O que quer dizer?

— Você não pode entregar a motivação da sua vida para uma pessoa. É muita responsabilidade para ela.

Fiquei pensativa sobre o que ela falou e perguntei:

— O que devo fazer?

— Não centralize suas emoções em uma só pessoa, veja como os outros vivem sem você. Às vezes é necessário que isso aconteça para que te deem valor. Nesse tempo você descobrirá quem te ama de verdade e aqueles que te viam apenas como uma memória.

— E quanto ao Liu Kang? O que devo pensar dele?

— Você decidirá o que fará com esse sentimento que você tem para com ele.

(...)

Eu e Jade passeávamos no jardim do palácio e acabei contando a ela que o Liu Kang descobriu o nosso segredo musical, ela ficou apavorada:

— Kitana, e agora? O que vamos fazer?

— Calma, Jade! Ele não vai nos entregar. Pediu para que eu tocasse para ele.

— Sério? E quando você vai tocar?

— Vou marcar um dia, não sei ainda.

— Espero que Shao Khan não saiba. Ele ficaria furioso.

— Eu queria tocar como minha mãe tocava. Sinto tanta falta dela.

Jade pôs a mão no meu ombro e disse:

— Sua mãe deve estar lhe assistindo de algum lugar, e deve estar orgulhosa de você.

Dei um sorriso para Jade e abracei. Fomos interrompidas por Sheeva, uma shokan, que possuía quatro braços, tinha olhos e habilidades semelhantes à de um dragão.

— Vocês terão que ir para o Plano Terreno agora.

— Por quê? – perguntei.

— Terá uma reunião com todos os combatentes

Jade revirou os olhos e disse:

— O que vai ser dessa vez?

— Andem logo, meninas! – disse Sheeva – Lá não toleram atrasos.

Eu e Jade estávamos de vestido. Fomos trocar de roupas e entramos num portal que dá para o Plano Terreno. Chegamos à sala de treino de Shang Tsung e todos os guerreiros do torneio estavam lá, logo achei Liu Kang e ficamos trocando olhares de longe. Vi ali também dois guerreiros Lin Kuei, Cyrax e Sektor que conversavam entre si, foi quando apareceu Scorpion. Ele agora voltou a ser humano, mas ele estava como um espectro e buscava se vingar de Sub zero pela morte do seu clã e de sua família. Sektor e Cyrax travaram uma batalha com o espectro, mas foram vencidos pelo guerreiro Shirai Ryu. Uma porta da sala se abriu e entrou Bi-han, com um olhar altivo e sagaz, estava prestes a derrubar a todos que passassem pelo seu caminho. Nós já lutamos algumas vezes e uma vez ele feriu minha coxa com uma adaga de gelo, fiquei afastada do torneio por uns quinze dias. Ele e Scorpion se desafiaram, mas Scorpion levou-o para um lugar que eu não sei bem onde era. Lá demoraram por algum tempo. Pela primeira vez eu comecei a me preocupar com aquele guerreiro Lin Kuei, começaram a demorar e todos começavam a comentar sobre isso. Jade me cutucou:

— Ai Kit, estou sentindo uma coisa ruim no meu coração.

— Jade, fique calma, vai ficar tudo bem.

— Eu quero ir embora.

— Calma! Se contenha.

Vi um clarão surgindo do centro da sala e Scorpion surgiu, mas estava sozinho. Coloquei a mão no coração e vi que Jade ficou aflita, perguntou:

— Onde está Bi-han?

Não precisei responder, Scorpion estava segurando um crânio. Jade pôs as mãos no rosto e baixou a cabeça. Olhei para ela e a amparei, ela disse:

— Eu sabia que isso iria acontecer, mais cedo ou mais tarde.

Jade sempre foi sensível, mas eu nunca a vi assim. A levei para um lugar fora da sala, comecei a me perguntar se ela estava tendo alguma relação com Bi-han. Olhei firme em seus olhos e perguntei:

— Por que você ficou desse jeito, Jade?

Senti que ela não queria falar, baixava a cabeça para fingir que não era com ela, mas insisti:

— Jade, eu sempre contei tudo para você. E agora você está me escondendo algo e exijo que você me conte.

Ela olhou para mim timidamente e disse:

— Eu sempre senti algo por ele, Kit. Mas nunca contei para ninguém por medo e vergonha.

— Mas nem para ele?

— Nunca! Eu nutria um amor platônico por ele, só isso...

Fiquei boquiaberta com toda aquela revelação, nunca iria imaginar que Jade estava apaixonada por aquele ninja Lin Kuei. Perguntei:

— Quando que começou isso?

— Desde uma vez que treinamos juntos.

— E por que você sentiu vergonha de me contar?

Jade abaixou a cabeça e chorava em silêncio, depois de alguns segundos me disse:

— Me desculpe Kitana! Pensei que a minha afetividade não importava muito para você, por isso nunca te contei nada.

Eu a abracei forte e ela retribuiu, eu disse:

— Você não é, simplesmente, meu guarda-costas, você é minha amiga e eu me importo com você, sempre me importei.

Liu Kang se aproximou de nós e me perguntou:

— Está tudo bem?

Vi que Raiden também se aproximou, tomou Jade consigo e disse:

— Vou toma-la de você por um momento.

— Sim, Raiden!

Fiquei olhando minha amiga indo junto ao Raiden desolada. Mas meu coração estava apertado por saber que aquela que eu considerava a minha melhor e única amiga tinha vergonha de mim. Será que ela pensava que eu ia caçoar dos sentimentos dela ou coisa parecida? Depois eu precisava conversar com ela sobre isso. Agora estava só eu e Liu Kang naquele lugar, ele me perguntou:

— E então, quando eu vou ver você tocar?

Tapei a boca dele e disse:

— Você é louco de falar isso para todo mundo ouvir?

— Ninguém ouviu Kitana.

Os outros guerreiros estavam saindo pela porta, muitos com olhares pesarosos. Johnny chamou:

— Vamos, cara! Precisamos treinar para o torneio.

— Eu já vou.

Liu os deixou irem à frente e disse:

— Já tem uma data certa?

— Eu tenho que ver ainda, mas será breve.

Ele me deu um beijo no rosto, sorriu e se despediu de mim. Da porta vi sair Sheeva, com um ar esbravejado perguntou:

— Onde está a Jade?

— Ela estava com o Raiden...

Não terminei de falar e ela voltava, Sheeva pegou no braço dela com violência e disse:

— Vamos logo, garota.

— Me solta – disse Jade puxando o braço – eu sei o caminho.

Sheeva foi a nossa frente e perguntei a Jade:

— Jade, o que está acontecendo? Não te reconheço mais.

— Vamos para a Exoterra e te direi tudo.

Entramos no portal e paramos no corredor do meu quarto. Sheeva disse:

— É melhor vocês treinarem para o torneio de amanhã ao invés de ficarem com conversinhas.

— Sheeva – a chamei – deixe-nos, quando eu precisar de você eu te chamo.

A criatura fez uma feição de desaprovação, mas fez o que lhe ordenei. Disse a Jade:

— Vamos para o meu quarto.

— Mas...

— É uma ordem!

Ela olhou com um jeito sem graça, eu a puxei pelo braço e fomos para o quarto. Tiramos o véu que cobriam a parte inferior do nosso rosto e comecei:

— Jade, você não confia em mim? Por que escondeu isso? Nunca imaginei...

— Kitana!  Você já tem problemas demais para se preocupar comigo. Sou uma reles guarda-costas...

— Você é minha amiga, Jade! Considero-te muito, crescemos juntas, esteve ao meu lado depois da morte da Sindel... Confiei a você todos os meus segredos... Você devia ter me contado.

(...)

As pessoas que vivem ao meu redor sempre tiveram a doce mania de me esconderem segredos e verdades. Depois daquela lembrança me veio muitas perguntas: Será que Liu mentiu para mim o tempo todo? Escondeu que tinha uma pretendente no Plano Terreno e me queria só como garantia? Se até a Jade me escondia segredos, aquela que quase vi nascer, imagina um cara que eu mal conhecia e que quase me matou.

Confiar nas pessoas. Era um dilema para mim depois de tudo o que eu já havia passado, uma decepção atrás da outra. A consciência voltou a falar comigo:

— Você não tem muito tempo para tomar a sua decisão. Analise bem, pois será um caminho sem volta.

Eu olhava para cada um que estava naquela sala de espera: Jacqui Briggs, Takeda, Johnny, Cassie, Raiden, Bo Rai Cho e Sub zero. Qual seria a motivação deles de estarem ali, esperando algo de mim? Resolvi voltar para a UTI, aproveitei que a porta estava aberta, entrei e sentei em uma cadeira próxima. Novamente eu estava ali, contemplando o meu corpo imóvel, cheio de aparelhos em volta, ferido. Estava eu ali sozinha, como sempre estive em minha vida, comecei a refletir se realmente as pessoas estavam ao meu redor me amavam de verdade ou somente estavam interessados em minhas habilidades e na minha influência na Exoterra.

De repente ouvi um barulho na porta, me virei e vi que era uma enfermeira trazendo um visitante. O homem entrou e ficamos somente eu e ele naquele lugar, olhei-o bem e vi que era Kuai Liang. Os olhos dele não paravam de fitar o meu corpo em cima daquela cama fria, timidamente ele sentou numa cadeira ao lado e tocou as minhas mãos, deixou uma lágrima tímida escorrer pelo seu rosto e disse:

— Quanto tempo demorou em eu fazer isso.

E sorriu.


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