Keep Out escrita por Crica


Capítulo 6
Capítulo 6




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Resumo: Algumas pessoas não sabem quando parar. São tão obstinadas que não conseguem enxergar quando o perigo as ronda ou quando afastam aqueles que amam, por mais que avisos em letreiros luminosos gritem diante de seus olhos.

Classificação:  K+, pelas expressões impróprias  muito próprias das personagens.

Categoria/gênero: Sobrenatural, aventura, amizade e humor, um pouco de cada coisa.

Disclaimer: Nada disso me pertence, é tudo gratuito e blá, blá, blá.

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No capítulo anterior...

A centímetros de distância de um Dean Winchester atônito, o baque surdo do choque do corpo de Sam com o fundo fez seu coração tremer. Uma grande quantidade de cascalho e poeira se espalhou pela superfície, enchendo os pulmões dos dois de uma aspereza dolorida.

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 Capítulo 6:

Um acesso de tosse irrompeu das entranhas do Winchester mais velho, fazendo seu corpo sacudir violentamente. O pó de cimento ardia em seus olhos e prejudicava a visão.

Sam estava estirado no chão, coberto pela poeira cinzenta, imóvel e silencioso.

Ao, finalmente, focalizar a visão, Dean arrastou o corpo para perto de seu irmão. Posicionou a palma da mão à frente das narinas do outro, sentindo o bafejar morno em sua pele.

Tomou tempo para si, para respirar novamente. Desde que tinha se deparado com a figura inerte do mais moço, havia se esquecido de respirar e seu coração saíra completamente do compasso, socando sua caixa toráxica  como  se pudesse sair dali.

_ Sammy? – o ar saiu arranhando sua garganta _ Sammy, pode me ouvir?- tossiu mais uma vez.

O jovem Samuel piscou os olhos ao sentir o toque das mãos do irmão de encontro ao seu rosto.

_ Está ferido? – Dean tateou os braços e o tronco de Sam em busca de algum osso partido.

_Minha... ai... cabeça... – os dedos de Sam passaram por dentro dos fios de cabelo empoeirados, exibindo a mancha vermelha _ Caramba...

_ Você machucou a cabeça, Sammy, vai com calma – Dean impediu que o mais novo levantasse.

_  O que aconteceu? – estava confuso e meio zonzo.

_ Alguma coisa se soltou lá em cima e você se esborrachou feito um saco de batatas, cara.

_ Mas que merda... – apertou a têmpora direita _ Você se machucou? – percebeu a mancha escura no curativo da perna de Dean.

_ Não foi nada – desviou a atenção do outro e auxiliou-o a colocar-se sentado _ Respire e descanse um pouco. Preciso de você acordado.

_Eu estou bem. Sério – apertou os olhos e piscou-os repetidas vezes _ Foi só uma batida – Mais um acesso de tosse.

_ Uma tremenda batida, você quer dizer – Dean sentou-se ao lado do irmão, recostando na parede _ Creio que vamos ter que esperar pelo Bobby, afinal.

_ Posso tentar novamente – o caçula afirmou.

_ Sem chance. Nenhum de nós está em condições de ir a qualquer lugar, muito menos para cima. Valeu a tentativa, mas acho que devemos poupar as energias caso tenhamos que encarar aquela galinha voadora novamente.

_ Está certo – Sam levou a mão à parte de trás da cabeça, recuando ao toque com o corte _ Me desculpe, Dean. Eu meti a gente nessa encrenca e não consegui consertar as coisas.

_ Relaxa, garoto. Nós vamos sair dessa. Sempre saímos, não é?- Dean descansou a cabeça na parede atrás de si e fechou os olhos por um momento.

_ É. Nem sempre inteiros, mas saímos. E ainda há o Bobby.

_ O seu celular ainda está sem sinal? – bufou em resposta ao aceno positivo do outro _ O meu ficou lá em cima, em algum lugar. Tomara o Bobby pense em rastrear o sinal – apertou um pouco o curativo na perna _ Isso se aquela coisa não devorou o aparelho.

_ O que eu não daria por um par de comprimidos agora – o mais moço tinha uma aparência pouco saudável.

_ Está muito ruim? Quantos dedos tem aqui, Sammy?

_ Cara, tira essa mão da minha frente – Samuel reclamou _ Estou bem, só com uma dor de cabeça astronômica, mas nada que não possa suportar.

_ Ótimo, mas se sentir-se estranho trate de falar.

_ Você é o ferido, está lembrado? – Voltou o rosto na direção do mais velho _ Como está a perna?

_ Uma droga, mas vou sobreviver.

_ Está sangrando de novo – os olhos de Sam cresceram.

_ Fica frio, maninho – Dean o empurrou de volta _ Já está tudo sob controle aqui. O pior que pode acontecer agora é a gente ter que lidar com a maldita harpia – apontou o alto da parede _ Percebeu como a passagem lá no alto está mais larga? Se ela voltar é bem capaz de conseguir passar pela abertura e aterrissar bem em cima das nossas cabeças.

_ A gente tem que dar o fora, Dean – olhou ao redor, avaliando a situação _ Só não vejo como.

Num instante, Dean apertou os olhos e apoiou-se em Sam, pondo-se de pé, meio cambaleante.

_ Ali, Sam.

_ O que? Onde?

_ Lá, onde o primeiro bloco se soltou, está vendo? –apontou a direção e deu a mão ao mais moço para que este se levantasse _ Você é mais alto, veja se dá pra ver. Me parece um túnel, ou sei lá o que.

_ Ei, acho que vamos nos mandar daqui – Sam afirmou ao, na ponta dos pés, visualizar a passagem aberta por trás dos blocos de concreto.

_ Vamos nessa! – Dean abriu um grande sorriso _ Você vai e traz ajuda.

_ Nada disso- Sam afirmou sério _ Ou vamos os dois ou não vai ninguém. Não vou deixar você para trás e isso não está em discussão.

_ Eu não vou conseguir escalar, Sam. Nossa única chance é você subir e trazer ajuda.

_ Deixe-me pensar – Samuel andou de um lado para o outro, apertando o lábio inferior _ Venha cá – acenou para que Dean se aproximasse  _ Vou te dar apoio e você sobe primeiro. O tanto que desabou da parede já deve dar para você alcançar a abertura se eu der um impulso. Quando se ajeitar por lá, damos um jeito de eu subir também.

_ E se essa merda toda desabar de uma vez, hein, senhor espertinho?

_ Bom, morrer soterrado não deve ser muito pior do que ser devorado vivo por uma harpia faminta e furiosa.

Dean correu os olhos do irmão para a abertura na parede e de volta para ele. Não gostava do plano, mas tinha que concordar que a alternativa não era nada atraente. Mais cedo ou mais tarde a harpia voltaria e se ainda estivessem ali, a criatura certamente os atacaria. Coçou atrás da cabeça, levantou as sobrancelhas e armou aquele bico de insatisfação todo seu.

Samuel sorriu. Sabia que a expressão no rosto de seu irmão indicava aceitação. Ele estava topando a ideia e, mesmo a contragosto, faria o que pretendia pois não havia mesmo outra escolha.

O rapaz loiro colocou o pé sobre as mãos do mais alto e, impulsionado para cima por este, alcançou a passagem na parede concretada. Segurou firme, buscando forças para erguer o peso de seu corpo, pondo-se todo para dentro do espaço aberto. Segundos depois, surgiu novamente, atirando para baixo, sua jaqueta amarrada ao casaco de Sam.

_ Segura aí, Sammy – enrolou a outra manga no pulso e segurou firme.

_ Você está seguro aí, Dean? – Sam apanhou a manga da jaqueta.

_ Estou bem, venha!

Sam escalou a parede, e em pouco tempo estava entrando pela abertura por onde o irmão tinha passado primeiro. Havia uma espécie de duto largo por onde poderiam se arrastar. Parecia com um daqueles canais de esgoto ou de rede elétrica  inacabado.

Ambos  estavam exaustos. Acomodaram-se como puderam dentro do duto empoeirado e mofado e pararam para respirar. Precisavam dar ao coração e ao cérebro tempo para recarregar a bateria e racionalizar a situação. Com o peito arfando, permaneceram deitados sobre a superfície fria, lado a lado e em direções opostas.

_ Dean, está ouvindo?

_ Estou e não estou gostando nada – Dean empurrou os pés de Sam mais para dentro do túnel _ Vai, Sammy, passa logo que aquela coisa está voltando!

_ Estou indo, mas está apertado aqui – Sam rastejava pela passagem, tentando não machucar seu irmão, espremendo-se entre ele e a parede curva.

_ Vai logo, cara! – o som da revoada as asas da harpia estava mais presente.

_ Venha você também – continuou arrastar-se para longe da entrada_ Anda, Dean, vem logo!

_ Estou indo, mas preciso que você saia do caminho – as garras da harpia passaram a milímetros de distância do mais velho _ Sammy, ela está aqui!

_ Puta merda! – Samuel movia-se o mais depressa que podia para dentro da escuridão _ Você está comigo?

_ Estou bem atrás de você, mas essa coisa parece bem irritada!

Enquanto Dean arrastava-se em marcha ré, a harpia golpeava a abertura na parede para alargar a passagem. Seus olhos vermelhos faiscavam cintilantes de ódio.

A criatura colocou a cabeça e os ombros para dentro do duto, mas as enormes asas a impediram se seguir em frente. Dean podia sentir o hálito animal bafejar seu rosto e os gritos dela o ensurdeciam.

Sam passava pelo caminho estreito como um guerrilheiro atravessa as trincheiras num combate violento. Seus antebraços estavam esfolados pelo contato com  a superfície áspera e, a cada grito estridente, seu coração falhava uma batida. Não podia voltar-se para ajudar o irmão e sequer conferir se ele estava bem. Precisava manter-se focado e seguir em frente porque disso dependia a segurança de Dean. Não havia espaço para os dois ao mesmo tempo. Então, seguir em frente o mais depressa que podia era a única opção para salvar seu irmão.

Um pouco mais atrás, o Winchester mais velho desprendia toda a energia que ainda lhe restava num esforço sobre-humano para manter-se fora do alcance das garras afiadas. A cada golpe da criatura, mais blocos de concreto se desprendiam e se abria o buraco na parede. Sentia que a qualquer momento, toda a lateral despencaria e estariam a mercê da monstruosidade que lutava incansável em busca de suas presas.

Numa avalanche de fúria, a harpia rompeu parte da estrutura do duto e esticou-se ao máximo, passando a uma distância mínima do rosto do mais velho. Suas unhas pontiagudas atravessaram o tecido da camisa e entraram no ombro de Dean, que gritou pelo irmão.

Todos os nervos do corpo de Samuel se retesaram diante da impotência em socorrer o outro. Não havia como dar a volta e muito menos como alcançar seu irmão. Uma corrente de ar tocou sua face esquerda como um suspiro de alívio. Mudou de direção e viu a claridade por entre as grades de um pequeno portão.

A harpia segurou o braço esquerdo de Dean e emitiu mais um trinado assustador como se anunciasse sua vitória. O caçador lutou para desvencilhar-se do violento ataque e continuou sua trajetória para dentro do escuro.

De repente, Dean sentiu um par de mãos arrastando suas pernas. Seu corpo se moveu mais depressa, soltando-se e desaparecendo na escuridão. Sentiu o corpo escorregar e cair em algum lugar mais claro.

Assim que conseguiu puxar Dean para fora, Sam fechou o portão de ferro e atravessou um pedaço de vergalhão esquecido no chão pelo elo do ferrolho. Se a criatura conseguisse passar pelo canal, teria muito trabalho para atravessar o portal metálico e isso lhes daria algum tempo para ganhar distância.

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Alguns minutos se passaram até que qualquer dos rapazes  de Jhon tivesse condições de pronunciar uma palavra.  A secura na garganta e o esgotamento físico eram quase insuportáveis. Ambos, sentados lado a lado, trocaram olhares e nada mais. Mantiveram-se em silêncio, tombaram suas  cabeças  para trás, de encontro à parede lodosa. Necessitavam de uma pausa para desacelerar; permitir que os batimentos cardíacos voltassem ao normal e assim, continuar em sua busca pela segurança e liberdade.

Samuel foi o primeiro a recuperar o fôlego, voltando sua atenção para o irmão. Percebeu o ferimento no ombro de Dean e os três grandes arranhões que desciam do alto do braço esquerdo até quase os dedos da mão.  Observou o peito de Dean arfar. Seu rosto estava coberto daquela mesma palidez de horas atrás.

_Dean?

_ Dá um tempo, Sam – pediu entre uma inspiração e outra.

_ Cara, isso aqui está feio – afastou o tecido que cobria parcialmente o ferimento.

_ E eu não sei? – gemeu _ Eu vou matar aquela coisa, Sammy. Quando puser as minhas mãos nela, vai caber num balde do KFC.

_ Conte comigo nessa, irmão – o mais moço franziu a testa diante da visão

do ferimento que vazava o ombro do caçador de um lado a outro.

_ Onde estamos?

_ Parece uma passagem de nível – olhou ao redor _ Acho que é um duto de drenagem e se continuarmos em frente, provavelmente daremos no esgoto ou na rua.

_ Então vamos continuar antes que eu comece a viajar outra vez.

_ Do que você está falando?

_ Se essa coisa tem mesmo algum tipo de alucinógeno sobrenatural nas garras, não vai demorar para eu voltar pro parque de diversões e dar trabalho a você. Temos que andar o máximo que pudermos antes que eu pire novamente.

_ Não temos certeza a respeito disso, Dean – Samuel apoiou o irmão e guiou-o por um canal mais amplo, onde podiam caminhar juntos, mesmo que meio curvados devido à pouca altura_ Eu só estava divagando a respeito do seu comportamento. Não vi nenhum registro sobre harpias venenosas.

_ Se são venenosas ou não, eu não sei – Dean seguia, segurando-se no mais novo _ o fato é que algo me fez delirar e não estou me sentindo muito bem.

_  Eu estou aqui e não vou deixar você, mano – Samuel segurou o mais velho pelo cós da calça jeans, mantendo-o no caminho _ Vamos andar mais depressa e logo estaremos livres.

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Dez minutos mais tarde, depois de vagarem por galerias abandonadas, Sam e Dean Winchester optaram por parar por alguns minutos para descansar. Já não ouviam os gritos da harpia ou suas batidas nas paredes da construção.

Samuel acomodou Dean junto à parede e sentou-se de frente para ele. Sentiu uma nova corrente de ar e seguiu sozinho pelo duto para conferir se o caminho era seguro. Era urgente achar uma saída segura porque seu irmão já demonstrava sinais da intoxicação que sofrera mais cedo, agora agravada pela perda de sangue nos ferimentos e pela falta da água. Dean jamais seria capaz de lutar com a harpia ou defender-se dela sozinho e sua certeza de que Bobby os resgataria não era mais tão absoluta. Para falar a verdade, sua confiança nos instintos do velho caçador estava começando a ficar seriamente abalada.

 

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CONTINUA


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