Keep Out escrita por Crica


Capítulo 5
Capítulo 5




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Resumo: Algumas pessoas não sabem quando parar. São tão obstinadas que não conseguem enxergar quando o perigo as ronda ou quando afastam aqueles que amam, por mais que avisos em letreiros luminosos gritem diante de seus olhos.

Classificação:  K+, pelas expressões impróprias  muito próprias das personagens.

Categoria/gênero: Sobrenatural, aventura, amizade e humor, um pouco de cada coisa.

Disclaimer: Nada disso me pertence, é tudo gratuito e blá, blá, blá.

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No capítulo anterior...

O jovem Winchester sentou-se ao lado do irmão, mantendo a pressão para conter a hemorragia. Rezava em silêncio para que nenhuma artéria tivesse sido atingida ou o caçador não teria a mínima chance de sobreviver. Estava cansado. Cansado e começando a arrepender-se profundamente de ter insistido naquele trabalho.

Agora era esperar que Dean despertasse para que pudessem escapar.

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De volta ao presente.


_Dean - Samuel bateu levemente no rosto suado _Cara, acorda.

_Não estou dormindo. - Aquilo soou mais com um rosnado.

_Como se sente?

_Não muito bem, eu acho.- Seus olhos rolaram _ Estou com um frio danado, Sammy.

_Eu também - Sam suspirou e olhou para o alto, onde só viu a escuridão _Deve ser madrugada a essa altura.

_Sam - Dean mal podia manter os olhos abertos.

_O que é?

_Você está com medo?

_O que deu em você, Dean?

_Eu estou com medo - Afirmação que deixou o estômago do jovem moreno em pandarecos.

_Mano, você está realmente passando mal.

_Quando o pai descobrir que saímos à noite, vai me matar.

_O pai? - Sam tocou a testa do irmão _Você está delirando?

_Ele vai arrancar o meu couro, Sammy. - Dean abriu um pouco mais as pálpebras, revelando as íris verdes  brilhantes. _ Ele vai, Sammy. Eu deveria estar cuidando de você e nos metemos nessa encrenca.

_Pare com isso, Dean. O pai não está aqui e nem vai chegar, certo? - o jovem  alto estava ficando muito preocupado _Você está confuso. Confie em mim e vai ficar tudo bem.

_Você não entende. Temos que sair daqui. - Dean esforçou-se para levantar o corpo  _Temos que voltar ao motel antes que o pai chegue ou estaremos mesmo ferrados.

_Ouça-me, Dean, você não tem que se preocupar com o papai. Relaxa. Nós estamos juntos nessa, certo?

Sam vestiu seu casaco sobre a jaqueta de Dean e sentou-se mais próximo do irmão que tremia de frio, arrastando-o para junto de si novamente. Ajeitou seus braços ao redor do tronco do mais velho, acomodando a cabeça deste em seu peito. Ele sabia que teria que manter seu irmão aquecido até que alguma ajuda chegasse ou, na pior das hipóteses, o dia amanhecesse e tivessem uma oportunidade de improvisar uma forma de escaparem antes que a harpia lembrasse do lanchinho que tinha caído na abertura, no chão.

Dean continuava balbuciando palavras desconexas, alternando momentos de lucidez e confusão.

Todos os ossos e músculos do corpo de Samuel reclamavam por uma migalha de conforto e sossego. Seus olhos lutavam heroicamente contra o sono e a exaustão porque a prioridade ali era manter Dean longe do chão frio e úmido. Não poderia deixar seu irmão escorregar e, portanto, dormir estava fora de cogitação.

O fogo improvisado com os restos da madeira da obra extinguia-se muito mais depressa do que os ponteiros do relógio giravam. Estava mais frio e mais escuro.

Os longos braços do jovem Winchester apertaram mais o corpo do irmão junto a si. Ele manteria Dean a salvo a qualquer custo e depois poderia até tirar uma com a cara do mais velho por conta de tanta proximidade. Sorriu para si com a perspectiva de tirar  Dean do sério, só pra variar.

_Eu deveria ter dado ouvidos a você - O nó na garganta do rapaz apertou, falando sozinho  _Mas eu tinha que provar que tinha razão -  Sam elevou o olhar mais uma vez e sentiu a visão nublar  _Não sei porque você ainda me ouve e entra nas minhas loucuras. Me desculpe, Dean.

_Sam...- Um fio de voz _Você não vai fugir outra vez, vai?- Dean levantou um pouco a cabeça para ver o mais novo _ Eu não quero ficar sozinho de novo...

_Eu não vou a lugar algum, Dean.

_Se você for embora novamente, não sei se vou conseguir continuar.

_ Não me deixe aqui, Sammy.

_ Já disse que não irei a lugar nenhum sem você, Dean.

_ Você sempre diz isso e acaba indo embora – as palavras saíam  arrastadas, num tom desgastado _ Você e o pai sempre vão embora...

_Quando amanhecer você estará melhor e nós vamos dar o fora desse lugar, certo? – Ouvir o que dizia seu irmão lhe feria o coração profundamente, não pela acusação, mas por ser esta a mais pura verdade: ele e seu pai sempre acabavam deixando Dean para trás.

_Cert... – rolou os olhos e cedeu ao cansaço.

_Tente voltar a dormir e descansar. Eu estou aqui com você. Vai ficar tudo bem.

Toda aquela demonstração de fragilidade não fazia parte do irmão de Samuel e este estava ali, repetindo e implorando para que não fosse deixado só. Isso só provava que Dean não estava consciente, apesar dos olhos abertos e das respostas que dava ao irmão. Mais do que qualquer coisa, Sam estava assustado por ele, por Dean.

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_ Vamos lá, Sammy, jogue a bola! – o menino loiro de não mais de 10 anos corria de costas, sorridente _ Vamos lá, seu molenga, jogue a bola!

_ Está muito longe, Dean! – o menorzinho ajeitava a franja castanha comprida e apertava os olhos, apurando a visão _ Isso não é justo! Você é maior e mais forte. Eu não consigo jogar tão longe!

_ Deixa de frescura, Sam – o outro parou e levou as mãos à cintura _ Faz como eu ensinei a você. Corra e atire a bola!

O pequeno Samuel encheu os pulmões de ar e colocou toda a sua energia nas perninhas curtas, ganhando velocidade no terreno gramado, indo em direção ao irmão mais velho; ergueu  a bola acima da cabeça, ainda correndo e, quando atirou, não percebeu a elevação no chão e tropeçou. Antes que a cabeça de Sam encontrasse o conjunto de pedras que se escondia em meio à grama alta, um par de braços segurou o corpinho do pequeno como se sua vida dependesse disso.

_ Peguei você! – o garoto  de cabelos curtos e grandes olhos verdes, afirmou  satisfeito _ Está tudo bem, Sammy. Peguei você. Está seguro agora. Está tudo bem, maninho.

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Um súbito pensamento tirou Sam de seu devaneio: Ele tinha adormecido. Despertou sobressaltado. Não sentia o peso do corpo do irmão sobre o seu e uma sensação de abandono tomou conta dele. Percebeu-se sozinho dentro do espaço mal iluminado. Todos os alarmes soaram dentro de sua cabeça como um maldito despertador, fazendo-a latejar. Piscou repetidas vezes na tentativa de limpar a visão. Vasculhou o pequeno espaço um tanto desesperado, até que se deparou, num canto ainda coberto pelas sombras, a silhueta enrolada sobre si mesma. Depressa, Sam levantou-se e foi até lá. Reconheceria seu irmão até do lado do avesso.

_Dean, acorda – puxou o corpo e verificou a pulsação, expirando aliviado _ Já amanheceu, vamos, você tem que acordar pra gente se mandar, mano.

_ Sammy? – havia um quê  de confusão no olhar do caçador _ O que ?

_ Venha – Samuel segurou o outro por baixo dos braços e arrastou-o de volta ao lado iluminado _ Está melhor?

_ Esta merda dói como o inferno – Dean apertou a pena junto à região onde havia se ferido, fazendo uma careta.

_ O que é isso no seu pescoço? – um arranhão profundo que quase dava a volta no pescoço do mais velho, chamou-lhe a atenção _ Foi aquela coisa?

_ Acho que sim – levou a mão ao ferimento e reclamou ao contado com a pele esfolada e  inflamada _ Deve ter sido na hora em que me atirou longe. Nem percebi.

_ Nunca soube que  harpias fossem venenosas, mas isso explicaria um bocado do seu comportamento esta noite.

_ Que comportamento? – Dean firmou as duas mãos ao lado do corpo  no chão  e puxou-se para cima, sentando recostado na parede _ O que aconteceu?

_ Deixa pra lá – Sam sorriu _ Depois a gente fala sobre isso. Você deve ter sido intoxicado por alguma espécie de alucinógeno sobrenatural ou qualquer porcaria parecida quando foi atingido pelas garras da harpia ontem à noite, mas  o importante é que  parece melhor e assim, poderemos sair desta droga  de cilada em que nos metemos.

_ Nos metemos? – o mais velho apertou o estômago _ Eu não me lembro de ter feito qualquer questão de entrar nesse trabalho, meu chapa.

_ Está bem, eu admito. Eu nos meti nessa droga toda e vou dar um jeito de sairmos dela.

O filho mais moço de Jhon Winchester pos-se de pé e levou a mão aos lábios finos, apertando-os, em seu tradicional sinal de preocupação.

 _ Essa coisa é funda. Não pensei que fosse tanto – voltou o olhar para o outro _ Acha que pode ficar de pé?

_ Talvez – estendeu a mão, aceitando a ajuda do caçula _ Se  você me der uma mãozinha...

Ao ser elevado por Sam, Dean sentiu o mundo sair do eixo. Todo o seu campo visual se desfez em ondas que giravam em festa diante de seus olhos. Suas pernas falsearam e a frase ficou pela metade.

Samuel percebeu que algo estava errado e amparou o mais velho antes que este perdesse o equilíbrio totalmente, mantendo-o seguro, encostado à parede. Ficou ali, focado nos olhos do irmão, falando com ele, tentando trazê-lo de volta. Não poderia perder Dean agora. Não agora que ele parecia ter melhorado.

Dean puxou o ar com força e inspirou, contendo a ânsia. Apertou os olhos até que seu cérebro parou de girar como um carrossel.

_ Dean? Está me ouvindo? Você está comigo, cara?

_ Fica frio, Sammy – respondeu devagar, quase sussurrando _ Estou aqui. Ainda.

_ Acho melhor você sentar outra vez. Posso dar um jeito sozinho.

_Não, nada disso – empurrou a mão de Sam _ Já estou bem. No que você está pensando?

_ Talvez eu consiga alcançar as frestas entre aqueles blocos de  concreto, vê? – Samuel apontou a carreira de tijolos de cimento que se destacava a uns dois metros e meio, no alto.

_ Você consegue – Dean afirmou _ Venha aqui _ entrelaçou os dedos das mãos  na frente do corpo, fazendo um arreio para Sam subir.

_ Está maluco? Você sequer pode se manter de pé sozinho, Dean!

_ E o que o Doutor Fantástico vai fazer, então? Vai se esticar todo até lá? Não seja idiota. Eu posso suportar o seu peso por dois segundos. E você nem é tão pesado.

_ Dean, o esforço vai abrir o ferimento – Sam passou as mãos por dentro dos cabelos desalinhados _ Tem que haver outro jeito.

_ Não tem. Nós não temos tempo e não vai abrir coisa nenhuma. Você amarrou tudo muito bem aqui.

_ Eu não posso fazer isso, Dean, não dá.

_ Você pode e vai – Dean puxou a camisa do irmão e colocou no rosto sua melhor expressão de bravura _ É isso ou nós vamos morrer aqui. Se aquela coisa não voltar, há sempre a possibilidade do Bobby não ter nos localizado e não temos comida ou água. Quanto tempo você acha que poderemos sobreviver nessa porra de buraco?

Qualquer argumento que Sam tivesse acabara de escorrer pelo ralo. Dean tinha razão. Não estavam com muitas possibilidades a vista. Na verdade, subir parecia a única saída. Decidiu, muito a contragosto, aceitar a oferta do irmão e segurou firme nos ombros dele, apoiando um dos pés em suas mãos para ganhar impulso.

_ Pronto? – o caçula perguntou antes de colocar força nas pernas.

_ Vai nessa!

Um palavrão sonoro ecoou dentro do ambiente quando Sam pisou sobre os ombros do irmão e alcançou a fissura mais próxima.

_ Você está bem? – gritou para baixo, ao perceber com o canto do olho, o corpo do mais velho deslizar, escorregando pela parede de encontro ao chão.

_ Vai! – Dean precisou do resto de suas forças para pronunciar o monossílabo com convicção. Estrelas brilhavam diante de seu rosto e uma nuvem de borboletas dançava em seu estômago, mas ele sabia que se demonstrasse fraqueza, Sam desceria na mesma hora apara socorrê-lo e o nem tão brilhante plano de fuga de seu irmão menor estaria arruinado. Era hora de vestir a máscara do todo poderoso Dean Winchester e afirmar que estava tudo bem, mesmo que sua vontade fosse tomar um vidro inteiro de analgésicos e dormir por uma semana.

Sam manteve os dedos firmes, fincados no pequeno espaço que se abria entre um bloco e outro, apesar de não acreditar nem por um segundo nas palavras de Dean. Porém, como seu irmão havia dito, não tinham outra escolha senão arriscar. Respirou fundo novamente e buscou forças que  sequer imaginava possuir para alcançar a segunda fileira de tijolos, a uns cinquenta centímetros mais para cima. Todos os músculos de seus braços estavam tensionados ao máximo, sustentando o peso de seu corpo. Seus dedos ardiam em busca de mais espaço onde se prenderem.

Lá de baixo, Dean observava o caminho traçado por Sam. Ele já tinha vencido uns dois metros de altura, mas ainda restavam pelo menos mais dois.

_ É isso aí, maninho, para o alto e avante!

_ Já vi que está melhor, não é? – Sam riu, animado.

Faltava pouco  e estaria livre para correr até o Impala e trazer uma corda para resgatar Dean. Finalmente aquele pesadelo estava no fim. Cuidaria dos ferimentos de seu irmão e compraria o maior bacon-x-burguer e a melhor torta de maçã que pudesse encontrar como um pedido oficial de desculpas.

Sam arrastou a perna direita, calcando a ponta da bota numa das frestas entre os blocos. Firmou o peso ali e ergueu a mão direita para mais um lance na subida. De repente, o bloco inteiro falseou e veio para frente, deixando o irmão de Dean totalmente sem apoio.

_Sam! – Dean gritou pelo irmão ao perceber os destroços caírem, pondo a mão diante dos olhos para protegê-los da poeira grossa _ Desce, Sammy!

Não houve tempo para mais nada. Ao tentar apoiar seu peso no buraco deixado pelo bloco que caíra, outros pedaços do concreto cederam, arrastando Samuel junto com eles para baixo.

A centímetros de distância de um Dean Winchester atônito, o baque surdo do choque do corpo de Sam com o fundo fez seu coração tremer. Uma grande quantidade de cascalho e poeira se espalhou pela superfície, enchendo os pulmões dos dois de uma aspereza dolorida.

 

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CONTINUA


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