“Dioniso, filho de Zeus e da mortal Sêmele, nasceu de uma maneira inusitada até mesmo para mim.” Eu começo a explicar para Perséfone, parando para respirar fundo. “Mas antes de ele nascer como Dioniso, ele era uma criança chamada Zagreu.”

Eu a vejo deixa cair a taça, que estava vazia, e empalidecer.

“Meu amor, me perdoe por não ter lhe revelado que eu sabia da existência dele. Mas eu só fui começar a descobrir a verdade quando eu encontrei a alma de Sêmele no Tártaro muito tempo depois de eu ter te encontrado pela primeira vez. Ela foi após ter sido acusada de seduzir Zeus e trair o marido, mas na verdade ela é quem foi seduzida e depois enganada por Hera. Eu descobri o que aconteceu e decidi usar a presença de Zeus no Olimpo para ficar de olho em você e em Zeus.” Eu explico, a abraçando quando ela começa a chorar.

“Eu usei algo que apenas eu posso fazer, e com isso, eu fiz Dioniso crescer com uma aparência semelhante a minha, mas com uma personalidade completamente diferente. Após a nossa união, eu mandei a alma de Sêmele para os Campos Elísios e tornei Dioniso humano, fazendo com que ele agora pudesse viver ao lado da amada, que eu havia reencarnado.”

“O que aconteceu com ela?” Perséfone pergunta, me olhando seriamente.

“Antes de ter se apaixonado por Dioniso, Ariadne - princesa de Creta, filha do rei Minos e da rainha Pasífae -  se apaixonou por Teseu. Teseu foi mandado a Creta, voluntariamente, como sacrifício ao minotauro que habitava o labirinto construído por Dédalo e tão bem projetado que quem se aventurasse por ele não conseguiria mais sair. E seria, então, devorado pelo Minotauro. Teseu resolveu enfrentar o monstro e foi ao renomado Oráculo de Delfos para descobrir se sairia vitorioso. O oráculo disse-lhe que deveria ser ajudado pelo amor para vencer o minotauro. Ariadne, a filha do rei Minos, lhe disse que o ajudaria se este a levasse a Atenas para que ela se casasse com ele. Teseu reconheceu aí a única chance de vitória e aceitou. Ariadne, então, deu-lhe uma espada e um fio de lã, para que ele pudesse achar o caminho de volta, e deste fio ficaria segurando uma das pontas. Teseu saiu vitorioso e partiu de volta à sua terra com Ariadne, embora o amor dele por ela não fosse o mesmo que o dela por ele. No caminho de volta da vitória, passaram na ilha de Naxos, então governada por Smerdius, filho de Naxos. Os habitantes de Naxos receberam Teseu e seus companheiros como convidados mas, de noite. Teseu parte sem Ariadne.”

Eu a vejo me escutar atentamente e, com um sorriso triste no rosto, fico a tocar nos cabelos prateados dela.

“Ariadne desespera-se ao acordar sozinha. A deusa do amor, Afrodite, ao perceber seu desespero, tem pena de Ariadne e promete-lhe um amante imortal, em lugar do ingrato mortal que a enganara. Encontrando Ariadne em desespero, o inconsolável Dioniso trata logo de a consolar e logo a toma como esposa, dando-lhe uma linda coroa de ouro como presente de casamento, cravejada de pedras preciosas, que, a pedido dela, ele atira ao céu quando Ariadne morre. Ariadne permaneceu fiel a Dioniso e mas ela misteriosamente se enforcou em uma árvore.”

“Oh, não.” Ela comenta, triste.

“Como eu disse, agora eles estão vivos e  juntos como mortais. E eu agora posso substituir ele no Olimpo, algo que pretendo fazer enquanto você estiver aqui. Assim eu poderei continuar a estar ao seu lado mesmo não precisando estar no Submundo.” Eu digo, sendo abraçado por ela animadamente.

“Me perdoe por não ter te contado sobre Zagreu…” Ela começa, mas eu a interrompo com meu dedo nos lábios dela.

“Você não tem nada do que me pedir perdão, Minha Rainha. Por favor lembre-se que meu amor por você é maior que tudo.”

Ela abre um sorriso para mim e me beija, se sentando no meu colo.

~x~

Eu acredito que posso ser uma pessoa

Muito melhor do que já sou hoje, sim

Tudo porque eu tenho você ao meu lado

Meu anjo da guarda, meu querido amor

Você acredita que eu sou perfeita assim

Do jeito que eu sou, sendo apenas eu mesma

Isso me deixa muito feliz, ao mesmo tempo

Que me faz querer ser melhor, só pra você

Você me ensinou a não desistir de nada

A sempre lutar pelos meus próprios sonhos

Eu amo você, muito mais do que imagina

Eu amo você, meu único e verdadeiro amor

Não quero nem imaginar como seria viver

Sem você para estar comigo, do meu lado

Apenas você faz minha vida ser perfeita

E não há nada capaz de mudar nada disso

Só você pode encher meu coração

Só você pode me amar de verdade

Só você…

Eu amo você, meu único e verdadeiro amor

~x~

Descubro por Perséfone que meu irmão Poseidon se forçou na mãe dela, Minha irmã Deméter, quando ela estava à procura da filha, e que por causa disso, engravidou e teve dois filhos. Despina, considerada agora a deusa do Inverno e Arion, um cavalo de crinas azuis, que tinha o poder da fala e de ver o futuro.

Eu fico a me perguntar se isso também não poderia ter sido evitado, e fico a lamentar pela minha irmã, que também não merecia passar por esse tipo de coisa.

...

Uma das coisas que eu jamais pensei que iria acontecer era ver minha Perséfone com ciúmes. E isso não aconteceu não só uma vez. Nem duas.

Foram três vezes!

A primeira envolve Minta, uma ninfa que vivia no rio Cocito. 

Segundo minha Perséfone, ela dizia ser minha amante - algo que eu juro nunca ter acontecido - e que, procurando recuperar o amante - O Que?!—, passou a se vangloriar, dizendo ser mais bonita que Perséfone.

Como ela ousa…!

E minha Perséfone, tomada de ciúmes, transformou a ninfa numa planta, destinada a vegetar, na porta de entrada do reino dos mortos. 

A segunda e com Leuce, a mais bonita das ninfas e a filha do titã Oceano, e quem eu acreditava poder se tornar uma boa servente para minha Perséfone, mas Minha Rainha a transformou em uma planta e após perceber que errou novamente, me pediu para levar a planta até os Campos Elísios.

A terceira, para a minha dor de cabeça, foi ninguém menos do que irmã mais nova de Perséfone. Mas esta eu mesma amaldiçoei, a fazendo não só ter seu nome temido, como também ser relacionada à fenômenos invernais como as geadas e a causando destruição e congelamento em tudo o que o inverno toca, inclusive as águas que pertencia ao reino dele.

Ao ser questionado por Minha Rainha, eu apenas digo:

"Ela pode destruir o que você e sua mãe tanto amam sim, mas isso significa que quando o Inverno passar, a Primavera terá um significado ainda mais especial." 

E quando eu mostrei que eu disse a verdade, ela aceitou a situação mais animadamente, desafiando anualmente a irmã mais nova com as suas flores.

Desde então, Perséfone não tem tido mais essas crises.

~x~

Quem diria que eu teria na minha presença Teseu, herói ateniense e o ex de Ariadne. Ele, acompanhado do mortal Pirítoo -  filho de Ixíon, Rei da Tessália, que ousara ultrajar aos deuses, tendo sido portanto condenado a ser amarrado, tendo serpes por cordas, a uma roda de moinho, que um vento fazia girar eternamente no Tártaro -, certamente não esperavam me encontrar ali pelas caras de choque que ambos estão fazendo.

"Posso ajudá-los?" Pergunto, me sentando no meu trono.

"Ah, não. Nós apenas estávamos procurando por Lady Perséfone." Pirítoo comenta, bastante nervoso.

"Ah." Eu digo, abrindo um largo sorriso. "Minha querida rainha no momento se encontra descansando após uma deliciosa noite de prazer comigo." 

Eu, percebendo que eles escondem algo, decido fazer uma brincadeira com eles.

"Por que não se juntam a mim para beber um bom vinho e comer alguma coisa?" Eu pergunto, derramando o líquido em outras duas taças, antes de encher a minha. "Sirvam-se, por favor."

Eles obedecem silenciosamente, cada um comendo das frutas que estão em uma tigela e pegando uma taça, bebendo completamente o vinho servido nelas. Após eu os servir de mais um pouco de vinho, escuto de Pirítoo o verdadeiro motivo de estarem aqui.

"Pouco tempo depois de meu casamento, minha esposa Hipodâmia morreu. Inconsolado, eu prometi viver em celibato, a não ser que conseguisse como esposa uma filha do próprio Zeus." Isso me faz sentir um arrepio percorrer meu corpo, pois significa que minhas suspeitas sobre eram corretas. "Fiz então um pacto com Teseu, também recentemente viúvo, e planejamos inicialmente raptar Helena de Esparta, uma criança que foi decidida na sorte ser de Teseu, que por causa disso, deveria ajudar a buscar outra esposa para mim."

"Perséfone." Eu digo, notando que Teseu adormece por causa da bebida.

"Sim! A belíssima Lady Perséfone! Por isso nós estamos aqui." Ele diz, soluçando bastante.

"Entendo." Eu digo, fechando minhas mãos com força de raiva deles. 

Com os dois já desacordados, eu decido que deveria punir os dois. Eu os deixo em pedras na entrada do submundo, de onde serão incapazes de se locomover. Quando eles acordam, se deparam com não só com isso mas também com a aparição das 3 Erínias - seres que possuem asas de morcego e cabelo em forma de serpente, Tisífone (Castigo), Megera (Rancor) e Alecto (Inominável), primeiras criações de mim e de Minha Rainha e são  encarregadas de castigar os crimes, especialmente os delitos de sangue -, sendo assim forçados à punição eterna. 

Um espetáculo que eu faço questão de mostrar para a minha rainha.

Elas não são fofas?

…

Eu disse que as Erínias são nossas primeiras criações, porque recentemente, Minha Perséfone deu luz a duas meninas. Melinoe - que em breve se tornará deusa dos fantasmas, das oferendas e cerimônias fúnebres - e Macária - a futura deusa da morte feliz.

Eu tenho cinco filhas com a Minha Rainha. E elas são o meu orgulho como pai.

E feliz eu estou quando minha amada anuncia estar trabalhando em algo que represente a nossa união, mas que quer fazer surpresa para mim. No início, eu deduzo que ela quer dizer as flores e a morte, ficando a me perguntar o que ela quis dizer com aquilo, mas eu decidi esperar pela surpresa pois eu sei que ele está trabalhando duro nisso.