Quarta semana, Consultório da Dra. Shay, ás 13h:30min...

P.O.V Da Carly

Quando o casal atravessou a porta, logo notei um certo clima pesado entre eles. O homem estava com cara de poucos amigos, sua mulher também estava carrancuda, eles sentaram longe um do outro, nenhum dos dois me cumprimentaram, e Albert Oliver parecia estar me evitando, em nenhum momento olhou para mim.

Logo percebi que algo deu errado e isto envolvia o meu conselho. Jadelyn deve ter feito algo para irritar o marido. E ele certamente devia estar com raiva de mim porque eu sugeri que ela saísse para se divertir com as amigas.

— Boa tarde, Sr. e Sra. Oliver. - Os saudei com meu tom calmo e formal.

— Boa tarde, doutora. - Minha paciente sorriu para mim, sem mostrar os dentes.

Seu marido apenas cruzou os braços e bufou, demonstrando irritação e desconforto.

— Como foi a semana de vocês? - Perguntei iniciando a sessão.

— Podia ter sido melhor, mas meu marido fez questão de estragar tudo. - Disse com desgosto.

— Sua sugestão foi uma péssima ideia, Dra. Shay! Já deve ter percebido pelo meu estado, desculpe-me se eu soar grosso, mas meu humor hoje não está um dos melhores. - Ele me olhou, sério.

Não me abalei por sua resposta dura, aquilo apenas me intrigou. O que poderia ter acontecido à ponto de deixá-lo tão bravo?

— Contem-me o que houve, estou aqui para ajudá-los a solucionar os problemas. - Fitei minha paciente que assim como ele, estava com um péssimo humor, eu já tinha notado que ela era muito temperamental desde a primeira sessão.

— Ele estragou a minha noite com as minhas amigas! Isso mesmo, doutora! O meu marido é um idiota! Ele me pede confiança, mas sequer confia em mim! A senhora acredita que ele foi na balada disfarçado só para ficar me vigiando? - Ela estava furiosa.

— Disfarçado? - Franzi o cenho.

— Sim, disfarçado. Ele colocou um vestido meu e amarrou um lenço na cabeça, até se maquiou, doutora! Só não calçou meus sapatos porque obviamente não cabem no pé dele. Ele usa tamanho 42. Para a senhora ter noção do quanto foi ridículo! Esse idiota me fez passar vergonha em público e ainda brigou com o bartender, agora sou a chacota das minhas amigas porque o meu marido apareceu como um traveco na balada para poder me vigiar! - Contou indignada e com toda a razão.

Aquilo tudo era cômico, curioso e também um absurdo, apesar de não fugir da realidade. Maridos assim fazem de tudo, ainda mais aqueles ciumentos que estão cismados com as esposas.

— O que te levou ao extremo, Albert? - Eu quis ouvir sua versão.

Após ela relatar sua atitude precipitada, o homem estava nítidamente envergonhado por ter sido dedurado.

— Eu só queria garantir que nenhum marmanjo encostasse nela... Bom, não é que eu não confie nela, mas eu tenho meus motivos para não confiar naqueles babacas que ficam de olho em mulheres casadas! Ela têm direito de ficar brava comigo, assim como eu também tenho o direito de ficar bravo com ela e com toda a razão! - A olhou, irritado. - Agora diz para a doutora o real motivo que me levou a bater naquele bartender. - Ele estava vermelho.

Jadelyn revirou os olhos e fingiu não se importar. E como uma boa observadora, percebi que aquilo a incomodava.

— Quando cheguei lá, minha mulher estava jogando charminho para o bartender metido à gostosão! Agora me diga, que homem gosta de ver a mulher flertando com outro? - Chegamos ao ponto do problema.

— Entendo sua irritação, Sr. Oliver. - Concordei com ele. - E você, Jadelyn, o que tem a dizer sobre isso? - Passei a vez para ela.

— Todo mundo flerta na balada, eu já cansei de pegar ele flertando com outras mulheres, até mesmo no trabalho. - Justificou e virou para ele. - Você está sendo hipócrita, Beck! Eu não te traí, as meninas e eu jogamos charminho para ele cobrar as nossas bebidas pela metade do preço, até parece que você e os seus amigos não fazem o mesmo com aquelas tequileiras peitudas! - Acusou.

— É diferente, eu...

— Você é homem? Porra, nenhuma, Oliver! Os direitos são iguais! Vai se fuder se não pensa o mesmo, estou com a consciência limpa, não fiz nada de errado! - Ela tinha razão.

[...]

— Agora me diga como vê o casamento de vocês daqui à 10 anos? - Aquilo era uma atividade para melhorar as expectativas de ambos.

— Acho que o casamento estará mais sólido, estaremos mais unidos, com dois filhos na escola primária, e com ela grávida, porque eu quero uma família grande e claro, teremos dois cachorros e uma casinha na árvore para as crianças. - Sr. Oliver mostrou o desenho que fez.

Jadelyn olhou o desenho e caiu na gargalhada, o constrangendo.

— Qual é a graça, Jadelyn? - Perguntei.

— Ele está sonhando muito alto se pensa que vou parir três filhos. E eu não quero cachorros, quero um gato. Eu nem mesmo tenho certeza se até lá eu ainda vou estar com ele. - Ela foi franca.

— Como pode dizer isso, Jade? - A olhou chocado.

Ela deu de ombros, e mostrou o desenho representando suas expectativas.

Vi uma casa de frente para uma praia. Eles dois observando o pôr-do-Sol, e um gato no colo dela. O desenho havia ficado melhor que o dele, bem mais caprichado e objetivo.

A mulher deixou claro que não pensava em ter filhos.

— É essa a sua decisão? - Indagou a ela.

— Você sabe o que penso, não me vejo sendo mãe. Mas até lá eu posso mudar de ideia. - Foi sincera.

Sobre aquilo, era uma escolha dela, e eu não poderia fazer nada para mudar seus pensamentos... Cabia somente à ele convencê-la a formar uma família como ele tanto sonhava.

[...]

Quarta semana, Consultório da Dra. Vega, às 14h:40min...

P.O.V Da Tori

Quando o Sr. e a Sra. Benson adentraram o meu consultório, apenas pelas suas posturas e expressões, notei que havia rolado algo bom... Ele parecia mais relaxado, me cumprimentou alegre e sentou no sofá, sorrindo satisfeito e todo descontraído.

Sua mulher estava corada, percebi que ela andou até o sofá de forma estranha e fez uma pequena careta ao sentar-se ao lado dele. A blusa de gola alta também indicava o que me veio em mente... Eu já tinha visto aquilo antes, já fui terapeuta de tantos casais.

A bela loira me cumprimentou sem olhar em meus olhos, parecia até tímida. O que me deu vontade de rir, no entanto, me contive.

— Como foi a semana de vocês? - Fingi que não havia notado nada diferente no comportamento deles.

— Foi boa. - Ela respondeu.

— Foi ótima! - Ele sorriu radiante.

Ambos se entreolharam, pelo balançar das pernas do homem, vi o quanto que ele estava ansioso para compartilhar o que eu queria ouvir.

Esperei calada, aguardando quem tomaria a atitude de falar sobre o que haviam feito... É claro que eu já tinha a ideia, a certeza posso afirmar.

— Vocês sairam para jantar como eu havia sugerido? - Quebrei o silêncio.

— Sim. - Samantha assentiu.

— Devo ressaltar que ocorreu tudo bem, doutora. O jantar foi ótimo. - Ele devia estar com a língua coçando para me contar.

Sua mulher esfregou as mãos na calça jeans, mordendo o lábio inferior.

— Gostaria de me dizer algo, Samantha? - Perguntei.

— Depois do jantar a gente foi para um motel! - Ele disparou.

— Freddie! - Exclamou a loira, corando.

— Pelo visto as coisas ocorreram melhores do que previsto, não? - Sorri.

— É, tivemos uma noite boa. - Por quê ela estava tão contida?

Seu marido estava quase quicando no sofá de tanta euforia.

— Boa? A noite foi incrível! A gente fez de tudo e um pouco mais, não seja tímida, querida. A doutora, Vega quer ouvir de você. - A abraçou de lado.

Ela ficou ainda mais vermelha.

— Está tudo bem, não precisam entrar em detalhes, eu...

— Até ontem ela estava rouca! A noite no motel foi apenas o começo, agora todos os dias a gente...

— Calado, Freddward! - Tapou a boca dele.

— Certo, já entendi tudo. Que bom que voltaram à atividade sexual. Vejo que ambos estão felizes e satisfeitos, isso é maravilhoso. - Eu estava feliz por eles.

— Obrigado, doutora. Sam comprou um exemplar do Kama Sutra e já estamos praticando! - O homem não conseguia se conter.

Eu quis rir da expressão que ela fez. Estava mortificada.

— Chega, querido. Não me faça fazer greve de sexo. - Disse entre dentes.

— Não precisa, não vou mais falar nada... Juro. - Ele repousou uma das mãos sobre a coxa dela.

— E obrigada pelos conselhos, Dra. Vega. Nos ajudaram bastante, eu até fiz uma surpresinha para ele. - Sorriu.

— Uma surpresa que quase me fez cair para trás... - Recebeu um beliscão. - Ah, desculpa. Sem detalhes. - Se reprimiu.

— Que bom, era isso que eu queria ouvir. Vocês estão radiantes. - Comentei, satisfeita.

[...]

— Supunho que queiram filhos. Em algum momento já conversaram sobre isso? - Faltavam 10 minutos para a sessão terminar.

— Certamente, formar uma família já está nos nossos planos, já conversamos sobre ter filhos antes mesmo de casarmos. E eu sinto que ela já está grávida, a gente passou a semana...

— Não mesmo, amor. Estou tomando anticoncepcionais para regular minha menstruação. - Samantha o interrompeu.

— Por quê só estou sabendo disso agora? - Pareceu chateado.

— Não começa, Freddie. Quero muito ter uma misturinha nossa correndo pela casa e tudo mais, mas não agora. Ainda não me sinto pronta. - Esclareceu.

Ele ficou calado, era visível que estava desanimado com a notícia.

— Então, filhos ficam para depois, vocês ainda são novos, não fique chateado com sua esposa, Freddward, tudo ao seu tempo. Planejar ter filhos quase nunca dá certo, digo isso por experiência própria, meu marido e eu queríamos ter filhos meses depois de termos casados, o que acabou não acontecendo, só fui engravidar dois anos depois, e fomos pegos de surpresa. E foi uma surpresa maravilhosa, temos trigêmeos. - Eu acabei me empolgando.

— Trigêmeos? Que legal, doutora. Tenho uma irmã gêmea, ouvi falar que tenho grandes chances de engravidar de gêmeos. - Ela disse animada.

— Isso é ótimo. - Assenti.

— Já terminamos, não é mesmo? - Seu marido checou o relógio.

— Por hoje sim. Nos vemos próxima semana, certo? - Levantei para me despedi com apertos de mãos, formalmente.

— Obrigada, doutora. Temos que ir, já temos compromissos para hoje. - Ela piscou para mim sem ele perceber.

Era tão bom ver que estavam se acertando, pareciam aqueles casais revivendo a lua-de-mel, eles estavam reacendendo o fogo da paixão.

Ainda tínhamos alguns pontos críticos para tratar é claro, faltavam mais duas sessões de terapia.