Terceira semana, Consultório da Dra. Vega, às 14h:40min...

P.O.V Da Tori

— Como se sente quando sua esposa o trata de forma indelicada? - Eu quis usar a palavra 'bruta', mas acabei mudando de ideia.

— Me sinto um verdadeiro saco de pancadas, doutora. Ela só quer resolver as coisas à base da violência, por mais que eu tente sentar e conversar com ela, a minha mulher não dá à mínima. - Desafabou meu paciente frustrado.

— Ei, não é bem assim, você...

— Por favor, Samantha, espere sua vez. Deixe que ele fale o que sente, assim poderemos fazer com que entrem em harmonia. Eu já ouvi você falar o que pensa por 5 minutos, agora é a vez dele. - Eu a interrompi com calma.

A bela loira de olhos azulados revirou os olhos e bufou contrariada, ela apertava a bolsa contra o colo, o encarando com um semblante sério, eu sabia que a mulher tinha o temperamento difícil, e ao longo das sessões eu teria que lidar com aquilo.

— Por favor, prossiga, Freddward. - Me virei para o homem sentado ao lado da esposa, ele parecia um pouco cansado.

O moreno bem arrumado respirou fundo e retomou a fala.

— Desde o começo foi complicado, sua relação com a minha mãe. Elas não se dão muito bem, sabe doutora? - Aquilo era mais um assunto a ser inteirado na terapia.

Relação não afetiva entre sogras e noras.

— A velha se intromete em tudo, e ainda quer mandar na minha casa, a senhora acha...

— Dá para ficar na sua por alguns minutinhos? Poxa, Sam, você nunca colabora. - Reclamou com ela.

— Está me mandando calar a boca, Benson? - Ergueu a bolsa o ameaçando.

Ele se encolheu no canto do sofá, vi naquele momento um marido intimidado, reprimido e sem saída.

A mulher assumia um papel de esposa agressiva, sempre pronta para atacá-lo.

— Nada de violência no meu consultório, Samantha. Peço que mantenha a calma. Ainda não terminei de conversar com o seu marido. - A encarei com firmeza, mantendo meu tom.

A minha paciente praguejou baixinho e abaixou a bolsa, ela me olhou irritada e eu a ignorei, não iria me deixar ser intimidada.

Conversei com Freddward Benson até completar os 5 minutos.

Eu precisava entender o lado de cada um. Só assim começaria a tentar arrumar soluções agradáveis a ambos, para que o casal começasse a compreender um ao outro entrando numa relação saudável e mais passiva.

— O que mais te incomoda nele, Samantha? - A sessão continuava focando nos problemas que envolviam eles.

— Ele trabalha muito, até mesmo em casa não larga a porcaria do notebook. Me sinto deixada de lado, ele nem me dá mais atenção, é frustrante, doutora. - Queixas e mais queixas como aquela eram comuns.

— E o que você diz sobre isso, Freddward? - Passei a vez para ele.

— Me desculpe chegar cansado em casa, prometo que vou mudar isso. Só peço um pouco mais de paciência, amor. - Virou para ela, soando sincero.

— Sei... Promessas e mais promessas. Você está merecendo dormir no sofá. Já estou ficando farta de ser ignorada por você, sendo que você nem me procura mais na cama. - Entrou no assunto sobre a intimidade à dois.

Vi o homem ficar vermelho, ele deu algumas tossidinhas.

— Sam, já conversamos sobre isso em particular. - A repreendeu com um olhar.

— Sabe o que eu acho, doutora? - Ela me encarou. - Acho que ele não sente mais tesão em mim. - Disse inconformada.

— Isso é verdade, Freddward? - A gente precisava focar naquele problema, coisa que estava incomodando bastante sua esposa.

— Não, não é. - Negou. - O problema é que a ouvi falando com as amigas que eu não sou como era antes, se é que me entende... - Contou constrangido.

— O QUÊ? - Exclamou/gritou.

Seu marido a olhou abismado, envergonhado com a minha presença.

— Foi o que acabou de ouvir, Sam. Você falou que eu estava te deixando pouco satisfeita na cama. - Disse magoado.

— Por quê nunca tentou esclarecer as coisas comigo? - Ficou irritada.

— Você que devia ter conversado comigo ao invés de ir correndo para falar da nossa intimidade para as suas amigas. - De certa forma, ele tinha razão.

Fiquei quieta, observando até onde aquela "conversa" iria chegar...

— A culpa é sua, Benson! Quando começamos a namorar, você só vivia me agarrando. A gente transava quase todos os dias lá em casa, e às vezes no seu apartamento durante os plantões da sua mãe. E depois que nos casamos, o tesão foi pro ralo? Ah, me poupe! As últimas melhores transas que tivemos foi na lua-de-mel. Depois a gente dava uma rapidinha, quando acabava você virava para o lado e adormecia me deixando na vontade! - Esbravejou.

E naquele momento percebi que a falta de sexo era o que estava deixando aquela mulher enlouquecida com o marido.

Eles precisavam resolver aquilo urgentemente. A falta de apetite sexual entre casais era um dos maiores problemas.

[...]

Terceira semana, Consultório da Dra. Shay, às 13h:35min...

P.O.V Da Carly

— Fizeram a lista que pedi semana passada? - Perguntei ao casal à minha frente.

— Sim, senhora. - O homem respondeu prontamente.

— Ele fez quando estávamos vindo para cá, inclusive na porcaria da agenda dele. - A bela morena de olhos claros o entregou, indignada.

Olhei incrédula para o seu marido, o homem teve a semana para concluir a simples tarefa que passei a eles.

— Não têm problemas, o importante é que ambos fizeram a tarefa. - Eu disse antes que sua mulher voltasse a reclamar.

Jadelyn Oliver tirou a lista de dentro da bolsa, desdobrou o papel e olhou insatisfeita para o marido que continuava calmo, como se não tivesse feito nada demais.

— Já podemos prosseguir? - Perguntei a ambos.

— Claro. - Ele respondeu e ela apenas assentiu.

— Pode citar o que listou, Jadelyn. - Pedi para ela que já estava ansiosa.

— Okay, vou começar com o que mais me incomoda nele. - Disse fitando o que escreveu. - 1° - Sua mania de fazer bagunça e não arrumar. Isso me tira do sério, doutora. - Começou a citar:

2° - Costuma viajar sem mim.

3° - Dá atenção para as mulheres oferecidas fingindo que não dão em cima dele.

4° - Gasta muito sem me consultar, vive mudando a decoração da nossa casa.

5° - Ele é egoista às vezes, mas nunca admite.

6° - Chega atrasado nos nossos compromissos ou me deixa plantada feita uma palhaça.

7° - Não me ajuda nas tarefas de casa porque têm preguiça.

8° - Dá mais atenção para os amigos.

9° - Têm a droga da mania de arrumar o cabelo toda hora e isso me irrita.

10° - Finge que gosta de ir nos almoços e jantares em família.

Após ela ler, ele começou a rir como se fosse alguma piada hilária.

— Você está exagerando, querida. Agora fiquei curioso para saber o que escreveu de bom sobre mim. - Eu também queria saber.

— Ele é trabalhador, muito determinado e nunca desiste. Sempre foi carinhoso e paciente comigo. Apesar de seus defeitos, eu amo a maneira como ele cuida de mim e me faz sentir segura, porque é o meu porto seguro. - Ela disse sem precisar ler.

Não precisou listar como fez com os defeitos, mas foi o suficiente para tocar o coração do marido.

— Eu te amo, apesar de ser muito ciumenta e mandona. Você é a dona do meu coração, Jade. - Torci para o selinho que não aconteceu.

Eles apenas deram as mãos. Aquilo já era algum progresso, certo?

— Sua vez, Albert. - O incentivei.

Ele tirou a pequena agenda preta do bolso.

— Bom, acho que não preciso ler o que escrevi aqui... Já tenho tudo em mente. - Deu de ombros.

— Certo, apenas prossiga. - Pedi percebendo o quanto sua esposa estava ansiosa para ouvir o que ele tinha para dizer.

— Para mim você é perfeita. - Olhou nos olhos dela. - O problema é que seus ciúmes descontrolados estão me sufocando. Se você não confia em mim, nosso relacionamento nunca vai dar certo. Não pode continuar me controlando o tempo todo, eu nunca mexi no seu celular e nem fucei suas redes sociais, porque sei que você é fiel, e eu confio em você, linda. - Aquilo fez ela soltar a mão dele e se afastar.

— Você me dá motivos para tudo isso, Oliver. Como quer que eu confie em você e me sinta segura se você sai com seus amigos, bebe com outras mulheres durante suas farras e ainda dá bola para que aquelas piranhas das suas redes sociais fazendo com que elas caem em cima de você? - Se indignou e com razão.

— Está ouvindo isso, doutora Shay? Minha mulher não confia em mim! - Disse aborrecido.

— Se você confia tanto nela como diz, deixe que ela também saia e se divirta com as amigas. Prove que também não se importa, só porque é o homem, não significa que têm todo o direito. Direitos são iguais, Sr. Oliver. - Dei uma sugestão para ambos.

— É isso aí, gostei da senhora, doutora! Vejo que também é casada. - Olhou para minha aliança.

— Casada e mãe de duas garotinhas lindas. - Virei meu porta-retrato para que pudessem ver minha família.

Sorri muito orgulhosa do presente que Deus havia me dado.

— Têm uma bela família. Que marido grande. - Comentou sorrindo, vi seu marido se remexer incomodado.

— Obrigada. - Agradeci.

— Eu que agradeço pela ajuda, doutora. Sábado à noite vou para a balada com as minhas amigas e ai de você se reclamar, já estou te avisando. Cansei de bancar a trouxa que te espera em casa acordada enquanto você tá lá enchendo a cara com seus amigos. - Sorriu debochada.

Às vezes eu saia para me divertir sem problemas algum, enquanto meu marido, Gibby, ficava em casa com as meninas. A gente revezava, mas nunca deixamos de sair juntos fazendo nossos programas de casal além de família, quando acontecia, as meninas ficavam nas casas dos avós.

Eu só esperava que Jadelyn o fizesse com responsabilidade.