Paternidade escrita por Auto Proclamada Rainha do Sul, KodS


Capítulo 14
Capitulo 10




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142 A.g

Estava sentada em sua mesa, não havia nem se quer discutido com Lin naquela manhã porque ela simplesmente ignorara a mãe. Não era como se Toph tivesse com qualquer vontade de enfrentar a jovem depois do que havia acontecido, mas se viu obrigada a fazer isso quando a assistente entrou na sala com a cabeça baixa e falou em um tom que lhe parecia muito com um sussurro.

— A detetive Bei Fong está aqui.

Toph levou algum tempo para entender, mas quando as palavras finalmente fizeram sentido a chefe compreendeu o porque da mulher ter entrado e saído mais rápido do que a luz. Parecia que nos últimos dias todo o drama da delegacia girava em torno da família dela e ninguém parecia particularmente empolgado em ser pego no fogo cruzado entre os maiores dominadores de metal do mundo.

Não era difícil encontrar a filha dentro da caixa de metal que era o departamento policial de Cidade República e nem ao menos precisava usar seus sentidos sísmicos para isso.

— Você não deveria estar aqui, detetive Bei Fong — disse Toph, batendo sobre a mesa da filha enquanto os colegas deixavam a sala, evitando olhar para mãe e filha — Você está de licença.

Lin estava tensa a semana inteira, ainda não estava pronta para voltar ao trabalho, o temperamento instável dela levaria a erros e Toph não queria nem pensar em qual tipo de "erro" isso poderia levar. Claro que temia pela sua filha em primeiro lugar, mas era muito mais perigoso para quem quer que resolvesse desafia-la.

— Eu estou bem, Chefe — respondeu, sem tirar os olhos de sua papelada. A mãe conheci a Lin o suficiente para não precisar ver isso.

Ela realmente havia tirado o curativo nos últimos dias pelo que Toph havia ouvido tanto de Sokka, como de Katara e até mesmo de Kya, mas isso não era o suficiente. Também ouvira que tinha ficado uma cicatriz bastante feia na bochecha, mas isso era o de menos para alguém que nem sequer sabia como era o rosto da filha.

— Não, você não está — respondeu enfática — Você tem 15 dias de licença por um motivo, Linny. — ela tentou tocar o rosto da filha, mas a jovem se esquivou e de repente ela havia sido deixada completamente no escuro.

A jovem não falou mais nada depois daquilo, esperando que isso fizesse a mãe ir embora, mas não funcionou do jeito que queria. Toph era mais teimosa do que qualquer um poderia aguentar e sabia lidar com a birra de suas crianças.

— Eu não quero prender a minha própria filha por desacato — ela respondeu, apoiando a mão na mesa mais uma vez.

— Então é só você não fazer — ele respondeu, se levantando da cadeira com as duas mãos firmes na mesa de metal — Não é assim que funciona para a Suyin.

— Isso não é sobre ela, Lin — respondeu, sentindo a mesa tremer entre elas, precisavam maneirar o tom antes que tudo explodisse — é sobre a sua saúde.

Lin soltou uma risada contida por entre os dentes, um tipo de risada incrédula que fez o coração de Toph se partir um pouco, não gostava de vê-la tão descrente e então o metal pareceu parar de tremer entre elas. Toph havia recuado, assumido um outro tom.

— Você não tá bem desde... — ela mesmo se parou por um instante.

Ninguém havia falado sobre o que tinha acontecido entre ela e Tenzin ainda, Su estava simplesmente ocupada demais em seu mundo se quer para perceber que tinha acontecido alguma coisa e Toph apenas ignorava isso como se houvessem coisas melhores a fazer.

A verdade é que Toph era a pior pessoa para aconselhar a filha naquele momento. Lin havia passado quase 7 anos com o dobrador de ar enquanto a mãe nunca tinha passado mais de 5 meses em um relacionamento sério que tinha acabado quando ela se descobriu grávida.

Ela chegara mesmo a pensar que talvez Sokka fosse uma opção para lidar com isso, era mais imparcial que Aang e Katara e tinha passado por um relacionamento longo, mesmo que nunca tenha passado por uma separação. Em algum momento ela pensara que os dois juntos poderiam chegar a um bom consenso com Lin, mas agora tinha certeza que a filha não ia querer vê-los juntos tão cedo. Muito menos para tratar desse tipo assunto.

— Desde... — instigou, Lin.

— Você precisa falar sobre isso, filha. — a mesma risada passou por entre as narinas da jovem, mas agora era mais áspero, mais dolorido.

— Agora você lembra que eu sou sua filha também? Porque quando eu trouxe a Su era só a vilã — respondeu, finalmente tirando as mãos do metal — Eu vou aproveitar a licença.

Ela respondeu, saindo a passos largos e pesados da sala que atingiam a mãe como socos nas plantas dos pés. Ela foi obrigada a sentar por um momento, as mãos nas têmporas enquanto tentava aliviar a dor latente que começava e nem havia recebido a intimação do conselho ainda.

— Chefe? — chamou um dos detetives que acabava de entrar na sala, eles voltavam aos poucos, sondando o local para ter certeza de que nada mais aconteceria — Está tudo bem?

— Sim — respondeu se levantando, só queria se afastar dos olhares curiosos — Dor de cabeça apenas.

~~~~

— A chefe Bei Fong pediu que ninguém entrasse.

Foi como a secretária e leitora de Toph o recebeu quando chegou na delegacia. Sokka achou estranho, mas quando a mulher explicou que ela havia tido uma discussão com Lin soube que o assunto que tinha ido resolver só pioraria a situação.

Então apenas deixou a intimação com a moça e foi atrás da parte mais acessível daquele novo problema. Não se perguntou se seus colegas se preocupariam, já estavam acostumados que suas discussões com Toph durassem um longo tempo, todos conheciam o temperamento da chefe de policia e ficavam mais chocados com o fato de Sokka conseguir dobra-la do que preocupados com quanto tempo isso levava.

Um lema do conselho era: "Quem precisa dominar elementos, quando se consegue dobrar a chefe Toph".

Ele seguiu para o Ginásio da Policia que não ficava muito longe da delegacia de qualquer forma. Era um prédio grande de metal, todo projetado para ser um lugar seguro para treinar novos dobradores de metal da força. Também era um local onde os policiais podiam treinar sem arriscar civis e era lá que ele encontrou Lin.

Estava sentada em uma das arquibancadas, uma perna de cada lado enquanto Kya se sentava a sua frente, usando as mãos cobertas pela dobra para alisar os braços da mais jovem.

— Eu entendo o seu trauma, Linny, mas pense na sua mãe — ela falou com delicadeza, como se segurasse um riso insistente ou como se já tivesse rido demais — Ela só estava distraída demais para saber que você estava chegando.

Foi quando ela tirou a mão do braço de Lin para erguer seu rosto e a fazer olhar diretamente em seus olhos, mas a mais jovem continuava reticente. Ainda tinha uma carranca de incompreensão.

Sokka se aproximou da dupla, subindo as arquibancadas de duas em duas até estar sentado em uma fileira acima delas, havia acariciado as costas da sobrinha que não tinha visto ainda desde que chegara, nem ao menos sabia que ela estava na cidade e essa era a menor das surpresas.

— Bonito colar, Kya — cumprimentou sorrindo, depois de um forte abraço na jovem — Quem é a sortuda?

— Eu — respondeu, erguendo um ombro enquanto sorria brilhante para o tio, ninguém da família conhecia os envolvimentos de Kya e ela sempre preferia deixar assim. — Mas não é como se você estivesse sozinho, não é?

Sokka não respondeu, apenas o resmungo amargo de Lin pode ser ouvido pelo espaço amplo da academia. Ela havia jogado o corpo para trás, deitando as costas no banco e esfregando o rosto com as mãos.

— Eu queria falar a sós com a Lin, querida — ele respondeu, tocando o ombro da afilhada.

— Se conseguir fazer ela parar de distender musculos também, eu agradeceria — ela respondeu, juntando o odre com água para sair, se despedindo dos dois presentes.

Sokka logo ocupou o lugar que da sobrinha, de frente para Lin que logo virou o rosto.

— Você quer me explicar o que aconteceu com sua mãe hoje? — ele perguntou, não controlando o tom paterno que saia junto das palavras.

— Não é você quem tem que explicar o que estava acontecendo com a mamãe hoje? — ela retribuiu a pergunta.

Antes que pudesse ter uma resposta da garota, ela já havia passado a perna pelo banco e se levantado para o campo. Kya não gostaria de saber que Lin começara a atirar discos de metal e rochas assim que ela virara as costas, mas também não seria uma novidade.

— Lin — ele tentou um tom mais conciliador dessa vez, precisava aniquilar o assunto daquela manhã antes de tentar falar sobre o que acontecera na delegacia — Eu e a sua mãe somos adultos e sabemos lidar com isso.

— Sem ofensa — ela respondeu, sem tirar os olhos dos discos que enviava pelo pavilhão — Mas você passou 20 anos em um relacionamento e nunca mais teve outro e a Toph é mãe solteira de duas meninas de pais diferentes.

Havia ouvido pessoas tentarem diminuir sua mãe a vida inteira por conta disso e jurou que nunca julgaria mulheres na mesma situação. Mas estava com tanta raiva que não pensava direito no que fazia.

— Eu sei pelo que você ta passando — ele disse se aproximando — Eu ouvi sobre Tenzin — Lin suspirou, parando o arremesso — Eu sei que sua mãe não é a melhor pessoa para falar sobre isso, eu também não sei se sou — ele disse, abrindo os braços para ela — Mas eu sempre vou ter um abraço para minha Linny.

Ela sorriu, retribuindo o abraço.

— Eu não quero falar sobre isso — ela resmungou, se afastando do abraço, sentando ao lado dele.

— Tudo bem, você pode falar quando tiver pronta — ele fez uma pausa antes de tentar voltar ao outro assunto — Porque você reluta tanto em me ver com a sua mãe.

— Não é nada sobre você, tio — ela respondeu, sorrindo pela primeira vez em um longo tempo — Mas eu não gostaria de ver ninguém com a minha mãe no jeito que vi vocês hoje de manhã. — ele riu, prometendo que tomaria cuidado para não acontecer de novo — Eu to irritada — ela concluiu de repente, os olhos fixos no chão de areia batida — Por que eu sei que a mamãe ainda ama o pai da Su.

Naquele momento ele sentiu as palavras de Lin caírem fundo em sua consciência. Aquele momento da manhã voltando a sua mente quando ela deixou claro que não queria se envolver em algo sério com ele. Então ficou claro como o dia para Sokka que Toph ainda amava outro homem.

— Como você sabe disso? — ele perguntou, tentando entender como ele não chegara a essa conclusão ontem.

— Ela vive protegendo a Su por qualquer besteira, por maior que seja — ele assentiu, mas sabia que isso não era apenas com Su, Lin apenas não conseguia ver as coisas que Toph fazia por ela — E ela protege o nome dele como se fosse o maior tesouro do mundo, quer dizer, todos vocês sabem quem é meu pai, mas quem sabe qual é o pai da Su?

Ele não respondeu aquilo, mas fazia sentido e um nome passou pela cabeça dele no mesmo momento e de repente ele tinha certeza: ele sabia quem era o pai da Su.

~~~~

Toph chegara em casa depois dele. Como na noite anterior, ela tirou as partes de metal do uniforme e se aproximou por trás, mas ao invés de pegar a taça de vinho passara os braços ao redor da cintura e descansara o queixo contra o ombro do homem.

Normalmente ele se preocuparia em beijar a cabeça dela, mas as palavras de Lin ainda estavam rodando em sua mente. E então logo as mãos da mulher estavam no lugar do queixo e ela o apertava com carinho, sentindo que havia algo de diferente do que haviam tido pela manhã.

Ela desistiu de tentar saber o que acontecia com ele e então foi se sentar no sofá, com as duas pernas para cima e só soube que Sokka estava se aproximando por que a voz dele encheu a sala.

— Toph... O pai da Su — ela não podia vê-lo, mas sabia que ele tinha os dedos apertando a ponte do nariz — É o Satoru? Eu não vou saber se você mentir, mas, por favor, seja sincera.

— Satoru? — ela perguntou sorrindo, sempre se divertia com o ciúmes mal disfarçado de seu amigo — Sokka, ele ta casado há anos.

— Eu conversei com a Lin hoje, ela me fez perceber algumas coisas — fez uma pausa, observando o rosto dela baixar em uma pose pensativa, mas como não o interrompeu ele continuou — Não existe razão para você guardar tão bem o nome do pai da Su, a menos que seja alguém que você ainda ama, alguém que você não queria comprometer — ele fez mais uma pausa, mas Toph parecia mais interessada em ouvi-lo do que em rebater — E eu pensei que... Satoru foi seu primeiro amor e vocês dois se encontraram naquela época, alguns meses depois da nossa missão, o que bate com o fato da Su ser prematura.

Ela ficou quieta por um longo tempo, mas então a risada explodiu de seus pulmões. Ele observou quando Toph caminhou lentamente até ele.

— Você não tá errado, em tudo — ela explicou, abandonando a taça sobre a mesa de centro — Eu realmente quis proteger o pai de Su e eu realmente amo ele. — Ela sabia que Sokka estava pronto para interrompe-la, mas ela não deixaria isso acontecer — Mas não é o Saturo, nós só estávamos resolvendo problemas da refinaria, e nem o Kantoo, eu não faria isso com ele — ela fez mais uma pausa, passando os dedos pela camisa que ele usava — E a Su também não é prematura.

Toph não tinha certeza do que esperava que ele dissesse e talvez por isso o mundo parecia em suspensão durante todo o tempo em que ele ficou em silêncio. Tinha medo de que ele não tivesse entendido, que tivesse que ser mais incisiva, não seria a primeira vez que Sokka seria incrivelmente lerdo. Mas então ele pegou as duas mãos e as beijou.

— Porque você mentiu?

— Era cedo demais — ela respondeu, era um resumo das centenas de motivos que ela tinha — Você tinha acabado de perder a Suki o que iam pensar que o cunhado do Avatar não esperava nem a mulher esfriar no tumulo para engravidar outra? E também, a Lin era pequena e... — ela fez mais uma pausa longa, havia perdido o momento em que ele a envolvera em seus braços, um abraço confortável e consolador — Eu tive medo que você fosse embora.

— Toph... — ele chamou em um sussurro complacente e ela soube que Sokka entendia todos os motivos, não que concordasse com eles, mas isso poderiam discutir em outro momento — Eu aturo o seu mau-humor e rabugisse há 40 anos e nunca sai do seu lado — ele respondeu — E acredite que não foi fácil fazer isso quando você tava grávida da Lin.

Ela não resistiu a tentação de socar o lugar no peito em que a mão dela descansava, mas então sentiu os lábios dele sobre os dela e era tudo o que precisava para melhorar o seu dia. Aquele gesto simples e ainda assim tão cheio de promessas fazia anuviar todo o estresse do dia e Toph sabia que não ia deixar mais nada ficar entre eles, nem as inseguranças, nem suas filhas.

— Melhor a gente ir para o quarto — ele respondeu, antes mesmo de permitir que as mãos encontrassem a barra da camisa do uniforme da chefe — Eu meio que prometi para a sua filha que ela não nos pegaria em mais momentos embaraçosos.

Ela riu, descansando a testa sobre o peito dele.

— Eu acho que pode ser uma boa ideia.

 


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