Paternidade escrita por Auto Proclamada Rainha do Sul, KodS


Capítulo 13
Capítulo 9




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176 A.g

Lin ainda estava dormindo quando as batidas insistentes de Su na porta de seu quarto a acordaram. Sentiu o impacto delas muito mais do que ouviu, ainda estava meio anestesiada pela noite anterior e talvez isso explicasse porque o sol estava tão brilhante, ofuscando suas pálpebras fechadas.

Havia dormido demais e já deveria ser quase meio do dia, sentia que seu braço direito estava formigando sob alguma coisa e que sua mão segurava algo que parecia muito com um braço envolto em sua cintura.

Abriu os olhos para encontrar o teto branco acima de sua cabeça e isso a deixou um pouco tonta junto a Su, que continuava a espancar a inocente porta de metal de seu quarto logo ao lado. As ondas que ela enviava chegavam a tremer a cama.

— Lin!? — ouviu a voz da mais nova chamando logo a frente.

Imediatamente os anos de infância e adolescência voltaram em sua mente como um raio. Su pulando na cama ao seu lado e sacudindo os ombros dela com força. Houve uma época em que ela fingia dormir para pegar a irmã desprevenida com cócegas, uma época antes das duas se odiarem e precisarem fazer as pazes.

Essa lembrança trouxe um sorriso ao seu rosto, mas apenas o por um instante antes que senti-se o corpo ao seu lado se mexer e ajeitar, o corpo nu roçando contra o dela de forma delicada.

— Sua irmã vai acordar toda Zaofu se você não levantar — disse a voz ao seu lado, libertando-a do abraço.

Não se lembrava de quando havia sido a última vez que acordara com alguém ao seu lado e então se virou para admirar a pessoa que povoava os seus sonhos por um longo tempo, descansando a mão sobre o quadril a sua frente.

— Acho que você precisa devolver o meu braço antes — sussurrou contra o ouvido mais próximo a sua boca.

Aproveitou a proximidade para raspar os dentes contra o lóbulo, sentindo o corpo tremer enquanto ronronava em seus braços, se aconchegar mais próximo para sentir o calor do corpo da chefe de policia.

— Acho que seu braço é a coisa mais confortável em que dormi nos últimos anos.

Lin duvidava fortemente que o seu braço de músculos duros poderia ser mais confortável do que um travesseiro macio como aqueles que haviam em Zaofu, mas ela preferiu não discutir sobre isso e então apenas levantou, sentindo o ar frio em sua pele nua.

— Posso usar seu roupão? — perguntou, mas nem ao menos esperou uma resposta antes de pegar a peça que havia sido esquecida no chão durante a noite anterior.

— Como quiser, querida — respondeu, cobrindo o rosto com o braço para evitar o sol em seus olhos, Lin tinha certeza que mais um pouco e veria aquela cabeça desaparecer sob as cobertas como se o ar não fosse importante. — Só não esqueça de me trazer o nome do pai da Su essa noite.

Lin se sentou ao lado do corpo ainda meio adormecido, sentindo uma mão descansar sobre sua perna coberta pelo tecido macio e então correu os dedos pelos fios de cabelo ao seu lado, sentindo um arrepio cruzar sua costas e levar um sorriso até seu rosto. Quando havia reagido assim da última vez a qualquer pessoa?

— Então ainda me quer no seu quarto hoje a noite? — quase não reconhecia a própria voz.

Ela sorriu ao dizer aquelas palavras, mirando os olhos ainda brilhantes e meio avermelhados do sono prolongado.

— Ou posso ir para o seu quarto — houve uma pausa enquanto a pessoa se movia na cama, apoiando as costas contra o travesseiro — Você é quem sabe Linny.

Lin sorriu de volta e então beijou os lábios macios antes de se levantar e caminhar em direção a porta para encontrar sua irmã dobrando o metal que dava entrada para o seu quarto.

— Uma reação um pouco extrema não acha? — perguntou, parada na abertura deixada aberta por Su que estava parada no meio do quarto já.

A caçula apenas a olhou de cima abaixo e Lin quase podia ver as engrenagens na cabeça da irmã trabalhando para resolver o problema de sua falta no próprio quarto. Sabia que Su não a deixaria passar sem um interrogatório depois das revelações de Toph na noite anterior e agora ela teria muito mais o que explicar e não estava nenhum pouco ansiosa para isso.

— Onde você passou a noite? — perguntou a caçula, finalmente se dando por vencida ao perceber que não sabia absolutamente nada sobre a vida da irmã.

— Isso não é importante agora — respondeu, passando por ela no caminho para pegar suas roupas.

Precisava tomar um banho, mais para fugir dos questionamentos do que para escapar do cheiro adocicado que ficara no roupão da filha do Avatar.

~~~~

— Vocês duas estão atrasadas — disse Toph, já sentada em sua poltrona enquanto as filhas entravam pela porta. Tinha um pé esticado sobre a mesa e o outro apoiado no chão para acompanhar as meninas.

Estar atrasada era uma surpresa para as duas mulheres que nem ao menos sabiam que tinham marcado uma hora para encontrar a mãe naquela manhã, quanto mais que ela acordaria cedo para esse encontro.

— Resolveu abrir as pétalas hoje, Chefe? — cumprimentou Lin, dando um aberto afetuoso no ombro ossudo da mãe.

— Imaginei que fosse precisar da minha ajuda — respondeu com sinceridade, tocando com carinho a mão da mais velha.

Lin agradeceu em silencio que a mãe decidira não entrar em mais detalhes sobre isso, apesar de que suspeitava que Su não precisava de qualquer outra coisa para concluir o que havia acontecido depois do estranho sumiço da irmã. Ela só ainda não sabia ao certo quem era o eleito.

Su se sentou em uma cadeira ao lado da irmã e de frente para a mãe, se inclinando para a mesa a fim de servir as xícaras de chá que haviam sido deixadas ali antes que as irmãs chegassem, e então entregou uma para cada.

— Onde estávamos ontem? — perguntou a caçula, voltando a se ajeitar na sua própria poltrona.

— No maior trauma da minha vida adulta — disse Lin, colocando uma das mãos sobre a têmpora, enquanto segurava o chá com a outra.

Havia trocado o roupão de tecido macio pelas roupas largas de Zaofu. Havia pego um gosto especial por elas desde a primeira vez que as usou, eram realmente confortáveis apesar de lembrarem muito as roupas da velha Toph.

— Quando minha Linny se tornou tão dramática? Prefiro quando você está de mau humor — perguntou deixando o chá passar pelos lábios enrugados — E eu acho que são suas companhias atuais. Eu ainda sou sua mãe e posso te proibir de se esgueirar pela noite. Seria uma bença aos meus sentidos.

Su encarou as duas outra vez, enquanto Toph levou a xícara ao lábios mais uma vez, sorvendo o liquido quente antes de deitar a cabeça contra o encosto do estofado, satisfeita com a pequena confusão que aprontara.

Tinha os dois pés sobre a mesa de novo, de modo que a única referencia que tinha das filhas era do lugar que as vozes vinham, uma vaga ideia de que Lin estava a sua direita e Su a sua esquerda.

Su logo se inclinou, de repente estava mais inclinada a saber sobre a vida atual de sua irmã do que a vida pregressa de seus pais. Já sabia o que importava, agora podia apenas focar nas fofocas de Cidade República que havia ignorado pelos últimos 35 anos.

— Você não pode simplesmente tirar os pés do chão para dormir? — perguntou Lin, tocando o ombro da irmã e a empurrando de volta para a poltrona, enquanto Toph dava de ombros — Podemos, por favor, voltar a sua história, mãe? Você e o tio Sokka estavam na sala.

Disse Lin, sentindo o rosto ficar vermelho novamente como se estivesse revivendo aquele dia outra vez. Chegou a esfregar os olhos na tentativa de arrancar aquela imagem do fundo de sua mente, mas ela parecia ainda impregnada.

— A é, estávamos na sala — respondeu a idosa da forma mais inocente possível, antes de acrescentar — E você chegou de surpresa.

— ... Na minha casa.

Acrescentou Lin, enquanto observava a irmã correr os olhos de uma para a outra, mas a resposta da mãe fora apenas dar de ombros. Todos sabiam que ela teria visto a filha chegando se estivesse com os pés no chão, então ela não negava a culpa.

~~~~

142 A.g.

Os dois estavam dormindo juntos há quase uma semana agora, enquanto Lin morava na casa de Sokka. Ele havia levado algumas mudas de roupa para a casa dela, ocupando uma parte do roupeiro para que não precisasse passar em sua própria casa todo dia antes e depois do trabalho.

No primeiro ou segundo dia ele havia insistido em dormir na sala ou no quarto das meninas, mas fora Toph quem insistiu que ele deveria dormir com ela.

Era apenas na amizade, cada um do seu próprio lado, até que parou de ser em uma noite que ele havia chegado antes dela do trabalho e então ela parou em frente a porta, analisando a cena lá dentro. Estava apenas parado na cozinha, provavelmente lidando com a panela, também havia uma garrafa de vidro sobre o balcão ao lado de uma taça, ela podia sentir os grãozinhos de quartzo na composição da massa.

Havia sido difícil trabalhar naquela semana, primeiro pela falta que Lin fazia no escritório, era competente e estava escalando rápido para ser o braço direito da mãe ou talvez até a próxima chefe e fazia isso por seu próprio mérito. Mas principalmente por ter que aplacar os bochichos de corredor sobre a prisão de Su e, de repente, ela sabia que não podia dormir outra noite tão longe dele.

— Eu senti o cheiro lá da calçada — resmungou, já retirando as partes de metal de seu uniforme, sentindo os músculos reagirem de forma automática ao se verem livre do peso extra — O que você está fazendo.

Ela sabia que a mão dele ainda estava sobre o vidro da taça, podia sentir como sentia cada pequena ondulação criada por um movimento sobre a pedra, mesmo assim não hesitou em passar a mão sobre a dele para pegar o vidro. Ela dobrava vidro como dobrava metal, era fácil e ele simplesmente respondia ao seu comando, mas naquela noite ela só precisava do contato.

Se sentou em um banco próximo, um pé sob suas pernas enquanto o outro tocava o chão, analisando tudo que acontecia ao redor e a forma como o homem se movia pela cozinha, trazendo a garrafa de vinho para encher a taça.

— Você sabe onde estão as taças na sua casa, não sabe? — ele perguntou, parado a apenas alguns passos a frente dela, meio inclinado antes de se sentar no banco da frente, joelho a joelho com ela.

Nos últimos dias eles vinham fazendo muito isso. Pequenas provocações que raramente passavam de um roçar sutil de pele com pele e que quando passavam disso paravam em cafunés dengosos na cama ou abraços reconfortantes, era aquela lembrança da adolescência que ela havia despertado alguns dias antes, mas muito menos inocente. Sabiam como aquilo havia acabado 20 anos antes e também sabiam que estavam indo pelo mesmo caminho de novo.

Comeram lado a lado em silêncio, roçando os braços toda a vez que se mexiam e os dedos quando passavam aquela única taça de um lado para o outro. Terminaram a garrafa deitados no sofá, ela com as costas no peito dele e o pé pendurado de lado, ainda tocando o chão. Estavam bêbados e, pela primeira vez na semana, conseguiam colocar de lado toda a culpa e tristeza que sentiram durante a semana.

Estavam conversando sobre o dia, reclamando de como as coisas haviam se ajustado e sobre como contornar o conselho. Sokka sempre parecera ter uma tendência a dobrar regras quando estava com a dobradora de terra, desde que Katara não soubesse

— Nós vamos resolver isso — ele sussurrou em seus ouvidos, enquanto tomava a garrafa das mãos dela, aproveitando a proximidade para acariciar mais do que apenas os dedos — Eu prometo.

— Você se importa se não falarmos sobre isso agora? — perguntou a mulher, esticando os braços sobre eles, deixando as mãos roçarem a nuca dele — Nesse momento eu só quero aproveitar a noite para descansar e beber.

— Que pena — respondeu, entornando o resto da garrafa em seus lábios — Mas parece que o seu vinho acabou.

Ele se afastou do corpo dela, sentando-se na parte mais distante do sofá. O choque da falta do calor de Sokka a pegando desprevenida, mas agora ela já estava naquele jogo e não iria recuar.

— Eu não vejo como isso pode ser um problema.

Se erguendo sobre os joelhos, ela tomou os lábios do homem nos seus. Sentindo o gosto do vinho inundar seu paladar enquanto ele envolvia o resto de seus sentidos.

~~~~

Acordou quando o sol tocou seus olhos inúteis, ela nunca soube definir, exatamente, como aquilo acontecia, mas ela sempre sabia quando havia luz e quando não. Era o mesmo vazio dia e noite, mas a noite raramente tinha aquele brilho por traz da escuridão que o dia trazia.

O tecido grosseiro da manta do sofá era áspero contra o seu corpo nu e sentia todos os músculos pareciam doer por ter dormido de mal jeito, estava realmente ficando velha.

— Acordada? — ela ouviu a voz pairando a cima de sua cabeça, enquanto ela se ajeitava, procurando as mãos dele.

— Lembra quando a gente dormia no chão e ainda assim podíamos lutar o dia inteiro? — perguntou, sentindo Sokka se ajoelhar na frente do sofá e correr as mãos por seus braços, até encontrar os ombros.

— Dor? — havia uma risada irônica em sua voz, mas sabia que ele sentia o mesmo. Ele correu os dedos pelos cabelos soltos, acariciando uma mecha especifica no meio dos fios — Realmente você está ficando velha — os lábios dele logo pousaram no espaço entre o pescoço e os ombros — Mas você está ficando linda de cabelos brancos.

Ela não retrucou, sabia que seus cabelos eram muito negros, mas sabia pelo que comentavam então não fazia diferença que alguns fios brancos aparecessem neles ou então que o tomassem de vez.

— Bem, a porta da rua é serventia da casa se não gostar — ela respondeu, sabendo que era apenas uma bravata, não seria tão fácil assim deixá-lo ir.

Deixou que as mãos dele explorassem seu corpo da forma que achassem melhor. Sokka também não havia se vestido ainda e ela ficou espantada com o tanto que gostava de tocar seus ombros e braços, correr as mãos pelas suas costas e apenas se deixar guiar.

Ela beijou-o de volta, correndo os dedos pelos cabelos compridos dele, sentindo a maciez dos fios que ela nunca soube a cor. De repente estava se perguntando se ele também estava ficando grisalho, se o rosto que ela havia memorizado por toque há tantos anos já tinha as marcas do tempo.

— Tem certeza de que ainda consegue senhor, afinal já são 60 anos — ela implicou ao sentir que ele a puxava para o seu colo e então ela estava completamente cega.

— 58 — ele corrigiu, descendo os lábios pela garganta, antes de pairarem sobre a boca dela outra vez — Esses elogios são medo do compromisso?

— Compromisso? — ela riu contra os lábios dele, forçando o corpo contra o chão, assumindo o controle — Não vamos nos apressar.

E então os pés dela finalmente tocaram o chão e o mundo voltou como um flash e algo a distraiu do momento. Estava logo atrás da porta, uma mão sobre a maçaneta de metal, pronta para entrar. Não houve tempo para que se vestissem, apenas enrolou os dois corpos na manta grossa, torcendo para que fosse suficiente.

— Linny — ela explicou rapidamente e no mesmo instante a porta abriu e Sokka entendeu o desespero.

Foi rápido demais.

Lin entrou na sala e deixou que os olhos corressem pela sala, estava pronta para usar o sentido sísmico para ver se a mãe estava em casa quando encontrou a cena que acontecia no tapete em frente ao sofá e então cobriu os olhos com as mãos no mesmo instante.

— Acho que preciso avisar quando vier da próxima vez.

 

 


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