Absinto escrita por madwolve


Capítulo 11
Nem mais um minuto




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Rosalia quase não acreditava em quem estava de pé em frente ao seu portão, parecendo mais um cão caído de um caminhão de  mudança. 

Shura estava lá, parado com sua pequena mochila nas costas, uma colher de absinto e uma foto antiga nas mãos.

Quando conseguiu se recompor do susto e limpar os olhos que já estavam cheios d’água, ela correu até o pequeno portão para abri-lo e ficar de frente para o cavaleiro. Não sabia nem por onde começar o diálogo, mas preferiu ir pelo óbvio.

— Shura, o que você está fazendo aqui?

— Eu...bem...você havia esquecido a sua colher. Eu achei também a foto que você esqueceu com o seu endereço, então eu achei que devia te devolver e…

Shura estava dando voltas de novo, ele não iria se permitir isso depois de ter arrumado toda aquela viagem às pressas e ter mobilizado todos os seus amigos para concretizar este feito. Sentia-se estúpido por não saber o que dizer, ou o que fazer, mas logo passou a mão pelos cabelos, tomou um pouco de ar e olhou sério para aqueles olhos verdes, que ele tanto havia sentido tanta falta.

— Quer saber? Esquece tudo o que eu falei. Não vim aqui para te devolver a colher ou a foto, eu vim porque minha vida fica miserável sem você e nada mais faz sentido! Eu sei que você está feliz aqui, perto da sua família e dos seus amigos. Não vim te pedir para abandonar nada mas eu preciso dizer que te amo. Eu te amo demais e eu não posso viver sem te dizer isso! Eu te amo, Rosalia!

Shura estava ofegante, nervoso e aflito aguardando por qualquer reação da mulher a sua frente, mas ela parecia nem respirar. O cavaleiro já estava quase desistindo daquilo tudo, quando notou que, apesar das lágrimas, ela estava rindo baixinho.

— Você demorou demais para vir me buscar, querido.

Ela tinha razão, ele havia demorado demais mas não perderia nem mais um minuto. O cavaleiro rapidamente foi até ela, para tomá-la em seus braços e beijá-la como deveria ter feito antes. Poder sentir os lábios dela nos seus e aqueles dedos finos lhe acariciando os cabelos era indescritivelmente bom, queria que aquele beijo profundo e apaixonado não acabasse nunca, e só para ter certeza disso, passou a mão lentamente pelas costas dela para segurá-la ainda mais junto de si.

As duas almas apaixonadas finalmente estavam juntas. Tudo estaria perfeito se não fosse um barulho de ‘click’ que os chamou a atenção.

— Hei, cagón! Fica longe da minha filha.

Shura reconheceu o senhor que estava na porta, era o mesmo homem da foto de Rosalia apesar de ter alguns cabelos brancos e rugas a mais. O problema é que ele não parecia feliz como na foto, muito pelo contrário, aparentava estar furioso com sua escopeta velha de dois tiros carregada em mãos.

Pobre Shura, não tinha causado uma boa  primeira impressão.

— Pai, calma! Eu conheço ele, é meu amigo.

Rosalia se virou na mesma hora e bem que tentou acalmar o pobre pai, mas não surtiu muito efeito. Apesar de ter abaixado a arma, o velho parecia ainda querer matar o homem que estava em seu portão.

— Sei, eu tinha uma amiga assim na sua idade, chamava Dulce, sua mãe.

— Pai!

Rosalia parecia refletir a cor das maçãs que estavam caídas pelo chão de tão vermelha, tanto de vergonha quanto de raiva. Shura por outro lado não ousava mover um músculo, já que ele era o único ali que corria algum perigo real.

Depois de olhar o homem que estava no seu portão da cabeça aos pés, o velho Romeo decidiu que não tinha mais nada para fazer ali e se colocou a caminhar para dentro de casa, não sem antes responder a filha.

 O quê? Não vai chamar o seu ‘amigo’ pra entrar?

Shura estava aliviado por não ter sido alvejado e Rosalia continuava tão vermelha quanto antes, mas convidou o cavaleiro a entrar em sua casa.

Depois de tudo o que haviam passado, agora já estavam sentados à mesa.

— Então você é o moço que salvou minha filha? É tão bom te conhecer, você vai ficar para almoçar, não é? É o mínimo que poderíamos fazer depois de ter cuidado da nossa menina. Você aceita café?

— Sim, eu aceito o café, mas acho que não ficarei até o almoço.

Servido do café quente, Shura havia sido apresentado à gloriosa Dulce e finalmente descobriu de onde vinham aqueles olhos verdes de Rosalia. Não se importava com o fato de ela não parar de falar já que ele era um bom ouvinte, o que realmente o incomodava era ter aquele homem velho e robusto na outra ponta da mesa, de cara amarrada, olhando cada movimento dele.

Ainda bem que havia Rosalia entre eles, o cavaleiro temia que a qualquer momento aquele homem tiraria a arma por debaixo da mesa e o mandaria para fora daquela casa, na base da bala.

Shura não se deixaria intimidar. Não depois de toda aquela viagem, de ter se declarado e de quase tomar um tiro.

— Senhor Romeo?

O homem nem respondeu, apenas bufou e continuou olhando para ele. Mais uma vez, Shura não iria se deixar intimidar.

— Eu vim até aqui por um único motivo, eu quero pedir a mão da sua filha em casamento. Me desculpe, mas eu não trouxe nenhum anel, nem planejei nada disso, mas assim que percebi como amo sua filha a primeira coisa que fiz foi comprar uma passagem no próximo voo para Barcelona.

— O quê?!

Como em um coro, mãe e filha responderam juntas, Rosalia mais surpresa e menos feliz que a mãe, já que também estava preocupada com a reação do pai.

Romeo surpreendeu a filha mais do que o próprio pedido, ele apenas soltou o ar dos pulmões em sinal de rendição e olhou para a moça, enquanto alcançava as mãos dela.

— Filha, eu não conheço este homem, nunca o vi na vida e a primeira vez que o encontro já estava te agarrando no portão. Você é meu bem mais precioso e sabe que eu jamais faria qualquer coisa para te machucar.

A essa altura, Shura já estava bem preocupado mas preferiu esperar para ouvir até o final antes de tirar as próprias conclusões.

 Quando quis aprender a cozinhar, eu comprei seu primeiro avental, quando quis estudar no exterior, mesmo com o coração partido de saudade, eu comprei sua passagem e te incentivei. Mais uma vez esta é uma decisão sua, meu amor, e eu confio em você, já que conhece esse homem melhor do que eu. Você quer se casar com ele?

Rosalia estava emocionada, tanto com o pedido quanto com a declaração do pai, assim que ele terminou ela levou as mãos dele aos lábios para depositar um beijo carinhoso antes de responder.

— Pai, obrigada, eu já te disse um milhão de vezes, mas eu te amo, você e a mãe.

Agora sim ela poderia responder o cavaleiro apropriadamente, virando-se para ele e olhando-o nos olhos com aquele sorriso que ele conhecia bem.

— Shura, apesar de toda esta bagunça, eu aceito. O que eu mais quero é me casar com você, querido!

Agora toda a tensão havia saído do corpo do cavaleiro de uma só vez e ele havia relaxado, parecia que até podia voltar a respirar agora.

— Obrigado, não que você já não soubesse mas eu te daria a lua se me pedisse. Prometo te fazer feliz pelo restante dos nossos dias.

Shura finalizou a declaração e alcançou a mão de Rosalia para beijar-lhe os dedos delicadamente. A moça sentia como se quisesse chorar de novo com toda aquela emoção, ainda bem que sua mãe foi mais rápida pousando a mão no ombro do cavaleiro.

— Então, Shura, posso te chamar assim? Como já é quase da família agora, você aceita meu convite para o almoço? Estava pensando em preparar anchoas de l’escala.

— Bom, se é assim, eu aceito o convite.

Pouca gente sabia, mas o ponto fraco de Shura definitivamente era o estómago.

E que almoço foi aquele! Mais uma vez ele nem se lembrava do gosto das anchovas e, apesar da ideia inicial ser se controlar e não passar uma má impressão, ele não seguiu o plano à risca, comeu três vezes com o incentivo de Dulce.

Depois de estarem satisfeitos, Rosalia e Shura decidiram aproveitar a tarde. A moça o levou para conhecer a cidade, a igreja, as belas paisagens, e também para namorar um pouco. Ele ouviu todas as histórias que ela tinha pra contar. Definitivamente era um bom ouvinte, e amava ver como ela ficava bonita enquanto apontava alguma coisa e começava a falar animada, sentiu  como se pudesse fazer aquilo pelo resto da vida.

Com toda essa felicidade, a noite chegou rápido e logo todos jantaram juntos exatamente como fizeram no almoço, conversando e contando histórias. 

Após algum tempo, eram apenas os dois juntos na varanda da casa, observando as estrelas sentados no banco de madeira que o pai de Rosalia havia feito a alguns anos atrás. Estavam em silêncio, até ela decidir tocar em um ponto importante de toda aquela história.

— Então, senhor cavaleiro de ouro, já que veio até aqui depois de arrumar toda essa bagunça, quando deveríamos nos casar?

— O mais rápido possível? Não quero correr o risco de você sair da minha vida de novo.

Os dois riram um pouco mas depois de Shura depositar um carinhoso beijo sobre sua testa, ele complementou.

— Estou falando sério, por mim amanhã de manhã já podemos assinar os papéis e viver felizes para sempre.

— Sei que sim, mas eu tenho uma ideia melhor para um casamento.

Rosalia começou a contar sobre sua ideia mirabolante e Shura sinceramente achou a ideia genial.

— Ótimo! mas agora, que tal irmos dormir? Temos um dia longo amanhã.

— Sim, senhora!

Já caminhavam para dentro da casa quando Shura a parou para beijar-lhe os lábios mais uma vez de forma apaixonada e sem pressa antes de dizerem boa noite um para o outro. 

Obviamente o pai de Rosalia tinha preparado um quarto especial para ele, bem longe do quarto dela.

Shura não teve problema nenhum com isso, estava feliz demais para qualquer coisa lhe estragar o humor e amanhã começaria a preparar seu casamento junto com Rosalia.

O que poderia dar errado, não é?

Continua...


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Notas finais do capítulo

SAIU! O BEIJO FINALMENTE SAIU!

Gente, vocês são incríveis e sem vocês eu nem escreveria mais, obrigada por estarem comigo sempre então vocês merecem este mimo, deste capitulo especial sair mais cedo ♥

Pobre Shurinha, mesmo quando faz a coisa certa, ainda da quase errado hahahaha Nunca teve familia e agora ja ganhou uma sogra e um sogro hahaha

E este casamento,hein? Agora é esperar hahaha



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